Falta de ar (dispneia): causas, sintomas e tratamentos

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Falta de ar

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

Introdução

O cansaço e a falta de ar são sintomas que frequentemente ocorrem juntos, mas não são a mesma coisa. A falta de ar, ou dispneia, é a sensação de dificuldade para respirar — como se o ar que entra nos pulmões fosse insuficiente ou como se houvesse dificuldade em expulsar o ar já respirado.

Por outro lado, o cansaço ou fadiga refere-se à dificuldade em realizar esforços, mesmo mínimos, como escovar os dentes ou pentear os cabelos. É geralmente descrito como falta de força, desânimo ou falta de energia para executar tarefas que requerem esforço físico ou mental.

Outros termos também usados para descrever o cansaço são: exaustão, letargia, sonolência, fraqueza, astenia, falta de energia ou cansaço mental.

Embora o cansaço e a falta de ar possam ocorrer simultaneamente, é importante distingui-los, pois suas causas e tratamentos podem ser diferentes.

Para saber mais sobre as causas de cansaço, leia: Cansaço – Principais causas.

Dispneia

A dispneia é a percepção de dificuldade respiratória. Essa sensação pode ser resultado de uma real dificuldade na oxigenação do sangue ou pode ser apenas uma percepção subjetiva, como ocorre em crises de ansiedade, onde o paciente sente falta de ar, mas não há comprometimento efetivo na oxigenação dos tecidos.

Como funciona a respiração?

Para entender as causas da dispneia, é importante compreender o processo respiratório:

  1. Entrada de ar: o ar entra pelas vias aéreas superiores (nariz e boca), desce pela traqueia e chega aos pulmões.
  2. Trocas gasosas: nos alvéolos pulmonares, ocorre a troca de gases: o oxigênio (O₂) passa para o sangue, e o dióxido de carbono (CO₂) é eliminado na expiração.
  3. Transporte de oxigênio: o oxigênio é transportado pelo sangue ligado às hemácias (glóbulos vermelhos) até os tecidos.
  4. Produção de energia: as células utilizam o oxigênio para produzir energia, gerando CO₂ como subproduto, que é então transportado de volta aos pulmões para ser eliminado.

Mecanismos da Falta de Ar

A falta de ar verdadeira ocorre quando o cérebro detecta que os tecidos não estão recebendo oxigênio suficiente ou quando há acúmulo excessivo de CO₂. Isso pode acontecer por vários motivos:

  • Baixo nível de oxigênio no ar ambiente, como no caso de grandes altitudes.
  • Obstrução das vias aéreas, impedindo a respiração adequada.
  • Problemas cardíacos que comprometem o bombeamento de sangue oxigenado.
  • Doenças pulmonares que impedem as trocas gasosas nos alvéolos.
  • Anemias ou alterações nas hemácias que prejudicam o transporte de oxigênio.

Uma vez estabelecida que a queixa de falta de ar realmente indica uma má oxigenação tecidual, é preciso quantificá-la para avaliar a gravidade do caso.

Sintomas da falta de ar

Quando o cérebro detecta a falta de oxigenação, iniciam-se os mecanismos compensatórios:

Aumento da frequência respiratória (taquipneia)

A frequência respiratória normal em adultos é de 12 a 20 incursões por minuto. Frequências acima de 20 são consideradas taquipneia.

O aumento da frequência respiratória é um processo de adaptação que ocorre a todo momento. Por exemplo, quando corremos precisamos gerar mais energia e por consequência, nossas células precisam de mais oxigênio. O que o cérebro faz? Aumenta a frequência respiratória e cardíaca. Mais oxigênio chega aos pulmões e mais sangue é transportado para os tecidos, resolvendo-se o problema.

Portanto, a primeira coisa que se faz frente a uma queixa de falta de ar, é contar a frequência respiratória do paciente. Não se espera que uma verdadeira falta de ar não venha acompanhado de aumento da frequência respiratória.

É importante salientar que uma pessoa com crise de pânico ou muito ansiosa pode perfeitamente estar respirando mais rápido pelo nervosismo, sem que isso indique falta de oxigenação real.

Batimento de asa do nariz

Quando a falta de ar começa a se intensificar, surgem alguns sinais de esforço respiratório. Um deles é o aumento e diminuição do diâmetro das narinas enquanto puxamos o ar. Este sinal é chamado de batimento de asa do nariz. Indica esforço para respirar.

Uso de músculos acessórios

Outro sinal de esforço é quando podemos notar a contração dos músculos do pescoço, peito e da barriga enquanto se respira. O uso dos músculos acessórios da respiração é um sinal de desespero do organismo tentando aumentar de qualquer maneira o aporte de oxigênio para os pulmões.

Esses sinais podem ser vistos após exercícios extenuantes. Nesse caso, não há problemas, pois após o repouso, em questão de minutos, a oxigenação adequada se restabelece.

Cianose (extremidades arroxeadas)

Um sinal de gravidade da falta de ar é a presença de cianose, que é a tonalidade arroxeada das pontas dos dedos, lábios e nariz.

Quando as hemácias possuem pouco oxigênio, podemos notar esse tom mais roxo nas regiões mais finas da pele, indicando baixa oxigenação do sangue.

Cianose das pontas dos dedos, boca e ponta do nariz.
Cianose das pontas dos dedos, boca e ponta do nariz

Baqueteamento digital

O baqueteamento digital, também conhecido como hipocratismo digital, é uma deformidade nas extremidades dos dedos das mãos e dos pés. Caracteriza-se pelo alargamento das falanges distais e pela curvatura aumentada das unhas, dando aos dedos uma aparência de “baquetas de tambor”.

O baqueteamento digital é geralmente um sinal de doenças sistêmicas subjacentes, muitas vezes relacionadas a problemas pulmonares, cardíacos, gastrointestinais ou outras condições.

O baqueteamento digital pode ser um sinal de má-oxigenação crônica.

Baqueteamento digital
Baqueteamento digital e cianose nas pontas dos dedos

Avaliação da Dispneia

Nem todo mundo com dispneia apresenta os sinais de gravidade descritos acima, como cianose ou esforço respiratório. Pode-se ter apenas falta de ar e o único sinal ser a taquipneia. Para se saber então se a dispneia indica alguma doença ou não, temos que avaliar qual o grau de oxigenação do sangue.

Para avaliar a gravidade da dispneia e sua causa, podem ser utilizados:

  • Oximetria de pulso: mede a saturação de oxigênio no sangue. Valores normais são acima de 95%; valores abaixo de 90% indicam insuficiência respiratória.
  • Gasometria arterial: exame de sangue arterial que mede diretamente os níveis de O₂ e CO₂, ajudando a distinguir dispneia verdadeira de causas psicológicas.

Causas de falta de ar

As principais causas de dispneia incluem:

Tratamento da falta de ar

O tratamento da falta de ar depende da causa. Se for devido a uma pneumonia, tratamos com antibióticos; se for por insuficiência cardíaca, usamos diuréticos; se for anemia, tratamos com transfusão de sangue, e assim por diante.

Em resumo:

  • Doenças pulmonares: uso de broncodilatadores, corticosteroides, antibióticos (no caso de infecções) e oxigenoterapia.
  • Doenças cardíacas: medicamentos para melhorar a função cardíaca, diuréticos para reduzir o acúmulo de fluidos, entre outros.
  • Anemia: suplementação de ferro ou transfusão de sangue, conforme a gravidade.
  • Ansiedade: técnicas de relaxamento, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, medicação.

Enquanto a causa da dispneia não for resolvida, é importante assegurar que o paciente tenha sempre saturações de oxigênio adequadas para não entrar em colapso.

Quando a saturação de O₂ está reduzida, o tratamento deve ser feito com oxigênio suplementar. Se mesmo com oxigênio em volumes altos o paciente ainda não for capaz de manter boas saturações, faz-se necessária a intubação e adaptação a um ventilador mecânico.

Alguns pacientes com doença pulmonar crônica, tipo enfisema, precisam de oxigênio suplementar com frequência, e às vezes, passam mais de 12 horas por dia com O₂ em máscara.

Falta de ar na gravidez

A dispneia é comum durante a gravidez, especialmente a partir do segundo trimestre. Cerca de dois terços das gestantes relatam sensação de falta de ar. As causas incluem:

  • Alterações hormonais: a progesterona aumenta a frequência respiratória.
  • Anemia fisiológica da gravidez: diminuição relativa da concentração de hemoglobina, que é normal durante a gravidez.
  • Compressão diafragmática: o crescimento do útero eleva o diafragma, reduzindo a capacidade pulmonar.

Embora seja geralmente uma condição fisiológica, é importante que gestantes com dispneia sejam avaliadas para descartar causas patológicas, como doenças cardíacas ou pulmonares.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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