Qual é a definição de obesidade?
A obesidade é uma das principais epidemias do mundo moderno e deve ser encarada como uma doença crônica com impacto significativo na saúde. O excesso de gordura corporal está diretamente associado ao aumento da morbidade e mortalidade, estando relacionado a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, entre outras condições de risco.
Engana-se quem a considera somente uma questão estética ou de aceitação social. Trata-se de uma doença crônica, cuja gravidade e taxa de mortalidade aumentam proporcionalmente ao grau de excesso de peso. Quanto maior o sobrepeso, mais sérias são as consequências para a saúde.
A simples presença de sobrepeso já pode reduzir a expectativa de vida, mas quando há obesidade severa, o risco de morte pode ser até três vezes maior em comparação a indivíduos com IMC normal.
A avaliação adequada do sobrepeso e da obesidade é essencial para identificar pacientes de alto risco e possibilitar intervenções precoces.
Métodos de avaliação
Atualmente, os principais métodos utilizados para diagnosticar e classificar a obesidade incluem o índice de massa corporal (IMC), a medida da circunferência abdominal e a relação cintura-quadril. As três são ferramentas importantes para determinar o risco cardiometabólico associado ao excesso de peso.
IMC
O IMC é o método mais amplamente utilizado para avaliar a relação entre peso e altura. A fórmula para cálculo é:
IMC = Peso (em quilos) ÷ altura² (em metros)
Exemplos:
- Uma pessoa de 110 kg e 1,60 m: IMC = 110 ÷ (1,60 x 1,60) = 42,96 kg/m²
- Uma pessoa de 75 kg e 1,80 m: IMC = 75 ÷ (1,80 x 1,80) = 23,14 kg/m²
Se você quiser calcular seu IMC rapidamente, utilize a calculadora abaixo.
Calculadora de IMC
A classificação baseada no IMC é a seguinte:
- Baixo peso: IMC menor que 18,5 Kg/m².
- Peso normal: IMC entre 18,5 e 24,9 Kg/m².
- Sobrepeso: IMC entre 25 e 29,9 Kg/m².
- Obesidade grau I: IMC entre 30 e 34,9 Kg/m².
- Obesidade grau II: IMC entre 35 e 39,9 Kg/m².
- Obesidade grau III (mórbida): IMC maior que 40 Kg/m².
É importante destacar que o IMC pode superestimar a gordura corporal em indivíduos muito musculosos, como atletas, e subestimar em idosos devido à perda de massa muscular.
Para saber mais sobre o IMC, acesse o seguinte artigo: Calcule seu peso ideal e IMC.
Medida da circunferência abdominal
A distribuição da gordura corporal também influencia no risco para doenças. Indivíduos com acúmulo de gordura na região abdominal (obesidade central) apresentam maior risco de doenças metabólicas, independentemente do IMC.
Homens e mulheres com cintura maior que 102 cm e 88 cm, respectivamente, apresentam maiores riscos de desenvolver doenças relacionadas à obesidade. Métodos mais precisos, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, também podem ser utilizados para avaliar a quantidade e a distribuição da gordura abdominal.
Em indivíduos com IMC entre 25 e 35 kg/m², a medida da circunferência abdominal é fundamental para avaliar o risco cardiometabólico.
Pessoas com acúmulo de gordura na região abdominal apresentam a chamada gordura visceral, que corresponde ao excesso de tecido adiposo depositado ao redor dos órgãos internos, como fígado, pâncreas e intestinos. Diferente da gordura subcutânea, que se encontra logo abaixo da pele, a gordura visceral está profundamente localizada no abdômen e tem impacto direto no funcionamento do organismo.
Esse tipo de gordura é metabolicamente ativa e está fortemente associada ao aumento do risco de diversas doenças, incluindo diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. Além disso, a gordura visceral contribui para um estado de inflamação crônica de baixo grau, favorecendo a resistência à insulina e o desenvolvimento de complicações metabólicas.
Relação cintura-quadril
A relação cintura-quadril (RCQ) é uma medida antropométrica utilizada para avaliar a distribuição da gordura corporal e identificar indivíduos com maior acúmulo de gordura visceral, um fator de risco importante para doenças metabólicas e cardiovasculares. Diferente do Índice de Massa Corporal (IMC), que avalia apenas o peso em relação à altura, a RCQ permite distinguir entre pessoas com maior concentração de gordura na região abdominal e aquelas com um padrão de distribuição mais uniforme.

A RCQ é calculada dividindo-se a circunferência da cintura (medida na altura do umbigo) pela circunferência do quadril (medida na parte mais larga dos glúteos). Valores mais elevados indicam maior acúmulo de gordura visceral, o que está associado a um risco aumentado de diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e doenças cardiovasculares.
Valores de referência para risco aumentado
Os valores de corte geralmente utilizados para indicar risco metabólico elevado são:
- Padrão de gordura central em homens: relação cintura-quadril maior que 1,0.
- Padrão de gordura central em mulheres: relação cintura-quadril maior que 0,8.
Indivíduos com valores acima desses limites apresentam maior propensão a desenvolver complicações metabólicas, pois a gordura visceral é metabolicamente ativa e promove inflamação crônica, resistência à insulina e disfunção lipídica.
O acúmulo de gordura concentrado nas coxas e no quadril representa um risco menor à saúde, pois tem impacto reduzido sobre os órgãos internos. Esse padrão de distribuição é frequentemente comparado ao formato de uma pera, em contraste com o acúmulo predominante na região abdominal, característico do corpo em forma de maçã, que está associado a um risco metabólico mais elevado.
Apesar de ser um indicador útil para avaliação da distribuição da gordura corporal, a RCQ apresenta algumas limitações. Em indivíduos com IMC acima de 35 kg/m², seu valor torna-se menos relevante, pois a obesidade grave já é, por si só, um fator de risco elevado para complicações metabólicas, independentemente da distribuição da gordura. Além disso, fatores como idade, sexo e etnia podem influenciar os valores da RCQ, exigindo uma análise mais individualizada.
O que é a síndrome metabólica?
A síndrome metabólica, também conhecida como síndrome X, é um conjunto de condições interligadas que aumentam significativamente o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e outras complicações metabólicas. Essa síndrome é caracterizada pela presença de alterações metabólicas que refletem uma disfunção no metabolismo energético do organismo.
Para ser diagnosticado com síndrome metabólica, o indivíduo precisa apresentar pelo menos três dos cinco critérios abaixo:
- Circunferência abdominal aumentada:
- Homens: maior que 102 cm.
- Mulheres: maior que 88 cm.
- Triglicerídeos elevados:
- Níveis acima de 150 mg/dL.
- Baixos níveis de colesterol HDL (“colesterol bom”):
- Homens: menor que 40 mg/dL.
- Mulheres: menor que 50 mg/dL.
- Pressão arterial elevada:
- Maior que 130/85 mmHg (leia sobre valores da pressão arterial em Hipertensão arterial – Sintomas, causas e tratamento).
- Glicemia de jejum elevada
- Maior que 100 mg/dL (indicando resistência à insulina ou pré-diabetes).
Falamos mais da síndrome metabólica no artigo: Síndrome metabólica – O que é, Causas e Tratamento.
Referências:
- Obesity in adults: Prevalence, screening, and evaluation – UpToDate.
- Overweight and obesity in adults: Health consequences – UpToDate.
- A Review of Current Guidelines for the Treatment of Obesity – AJMC.
- Obesity – World Health Organization.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.