O que é apraxia da fala?
A fala é uma forma de comunicação humana que envolve o uso de palavras e sons vocais para expressar pensamentos e emoções. Para falar, precisamos de uma complexa e precisa interação entre os músculos da língua, lábios, palato e mandíbula para formar sons de fala precisos e distintos. Toda essa precisão é feita através da comunicação do cérebro com as estruturas da fala.
A apraxia da fala, também conhecida como apraxia verbal, é um distúrbio neurológico que afeta a capacidade de planejar e coordenar os movimentos necessários para a fala. Na apraxia verbal, o paciente pensa nas palavras que quer falar, mas o cérebro não consegue transmitir corretamente os impulsos elétricos para ocorrer a devida articulação entre as estruturas responsáveis pela fala, como lábios, mandíbula e língua. Mesmo que saibam o que querem dizer, as pessoas com apraxia têm problemas para pronunciar sons, sílabas e palavras.
A apraxia da fala é diferente da disartria e da afasia:
- Na disartria, o cérebro consegue pensar na palavra, os impulsos elétricos chegam normalmente às estruturas responsáveis pela fala, mas há uma fraqueza nos músculos usados para falar, impedindo o seu funcionamento adequado.
- Na afasia, os músculos da fala e a capacidade do cérebro de se comunicar com eles estão normais. O problema é que o cérebro tem dificuldade em pensar nas palavras.
- Na apraxia da fala, o cérebro consegue gerar as palavras, os músculos da fala estão funcionando, mas a comunicação entre o cérebro e esses músculos está com problemas.
Se você tiver apraxia da fala, terá problemas para pronunciar os sons corretamente. Isso pode fazer com que você diga algo muito diferente do que pretendia dizer. Você pode até inventar palavras. Por exemplo, você pode dizer “angu” em vez de “frango” ou “oía” em vez de “cozinha”.
O paciente tem dificuldade para imitar e dizer sons por conta própria. Ele pode acrescentar novos sons, omitir sons ou dizê-los da maneira errada. Ele pode até dizer algo da maneira correta em um momento, mas da maneira errada no momento seguinte. Nos casos mais graves, o paciente pode não conseguir emitir som nenhum.
Tipos de apraxia
Apraxia da fala é dividida em duas formas:
- Apraxia da fala na infância: é um distúrbio de fala raro, mas grave, em que uma criança nasce com problemas severos de fala. A criança entende a linguagem e sabe o que quer dizer, mas seu cérebro tem dificuldade em coordenar os movimentos musculares necessários para falar. As causas da apraxia da fala na infância ainda não são bem entendidas.
- Apraxia da fala adquirida: diferentemente da apraxia na infância, a apraxia da fala em adultos é frequentemente adquirida. Ela costuma surgir em consequência de uma lesão ou doença cerebral.
Causas
A apraxia da fala é considerada um distúrbio raro, especialmente na infância. Estima-se que a prevalência seja de cerca de 1 a cada 1.000 crianças, embora esses dados possam variar.
As causas da apraxia da fala variam dependendo se estamos falando de apraxia da fala na infância ou da apraxia adquirida. Embora as causas não sejam totalmente compreendidas, algumas teorias e fatores conhecidos ajudam a entender melhor essa condição.
Apraxia da fala na infância
A apraxia da fala na infância é considerada um distúrbio do desenvolvimento neurológico. As causas exatas ainda não são claras, mas acredita-se que fatores genéticos desempenhem um papel significativo.
Estudos sugerem que crianças com apraxia da fala têm maior probabilidade de ter história familiar de distúrbios de linguagem ou fala, o que indica uma possível predisposição genética. Além disso, problemas no desenvolvimento de certas áreas do cérebro envolvidas no planejamento motor também são considerados uma possível causa.
Algumas crianças com apraxia também podem ter outros distúrbios do desenvolvimento, como autismo, o que pode indicar uma sobreposição de causas.
Apraxia da fala adquirida
Diferentemente da forma infantil, a apraxia da fala adquirida resulta de uma lesão no cérebro que afeta a capacidade de planejar e programar os movimentos necessários para a fala. As causas mais comuns incluem:
- Acidente vascular cerebral (AVC): o AVC é a causa mais comum da apraxia da fala adquirida. Quando ocorre um AVC em regiões do cérebro envolvidas no planejamento motor, como a área de Broca, isso pode comprometer a capacidade de coordenar os movimentos para falar.
- Traumatismo cranioencefálico: lesões causadas por impactos graves na cabeça podem danificar regiões específicas do cérebro e levar ao desenvolvimento de apraxia da fala. Esses traumas podem comprometer tanto a área de planejamento motor quanto as vias de comunicação entre o cérebro e os músculos da fala.
- Tumores cerebrais: tumores que afetam regiões do cérebro responsáveis pelo controle motor da fala podem resultar em apraxia da fala adquirida. Tumores cerebrais podem pressionar ou lesar áreas essenciais para o planejamento e coordenação dos movimentos de fala.
- Doenças neurodegenerativas: algumas doenças que provocam demência, como a demência frontotemporal e a doença de Alzheimer, podem afetar a capacidade do cérebro de planejar e coordenar movimentos motores, incluindo a fala. Embora menos comum, a apraxia da fala pode surgir como um dos sintomas dessas doenças.
Além dessas causas, a apraxia pode ocorrer em conjunção com outras condições neurológicas, como afasia, o que torna o diagnóstico e o tratamento ainda mais complexos.
Diagnóstico da apraxia da fala
O diagnóstico da apraxia da fala é geralmente feito por um neurologista ou um fonoaudiólogo especializado, que utiliza uma série de testes para avaliar a capacidade da pessoa de imitar sons, palavras e frases, bem como para verificar a consistência dos erros cometidos durante a fala.
É importante realizar um diagnóstico diferencial para descartar outras condições de fala e linguagem, como disartria e afasia. O diagnóstico precoce, especialmente em crianças, é fundamental para maximizar as chances de uma melhora significativa através da intervenção terapêutica.
Prognóstico
Em alguns casos, pessoas com apraxia da fala adquirida podem se recuperar parcial ou totalmente de suas habilidades de fala por conta própria, dependendo da extensão da lesão e da plasticidade cerebral.
No entanto, crianças com apraxia geralmente não superam o problema sozinhas e não adquirem os fundamentos da fala apenas estando ao redor de outras crianças, como em uma sala de aula.
Pessoas com apraxia da fala podem sofrer impactos psicológicos significativos, como frustração e ansiedade. As dificuldades em se comunicar podem levar ao retraimento social, especialmente em crianças, que podem evitar situações em que precisem falar. Por isso, é importante que familiares e amigos sejam compreensivos e incentivem a pessoa com apraxia a se expressar, valorizando cada tentativa de comunicação.
A terapia de fala e linguagem é necessária tanto para crianças quanto para pessoas com apraxia adquirida que não se recuperam espontaneamente de todas as suas habilidades de fala.
Tratamento
A terapia de fala e linguagem é essencial para o tratamento da apraxia da fala. O tratamento é feito por fonoaudiólogos e inclui técnicas como a prática motora repetitiva, pistas visuais e táteis, e atividades de estimulação verbal.
Em casos mais graves, dispositivos de comunicação aumentativa e alternativa podem ser utilizados para auxiliar o paciente a se expressar. A terapia deve ser individualizada e frequente, especialmente em crianças, para garantir o desenvolvimento adequado da fala.
O trabalho conjunto entre fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros especialistas também pode ser benéfico, pois ajuda a melhorar o controle motor global e o bem-estar emocional da pessoa com apraxia. Apoio psicológico também é importante, uma vez que as limitações de comunicação podem causar frustração, ansiedade e isolamento social.
Referências
- Speech and language impairment in children: Etiology – UpToDate.
- Apraxia of Speech – National Institutes of Health (NIH).
- Apraxia – StatPearls (NIH).
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.