Infecção urinária na gravidez: riscos e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Infecção urinária na gravidez

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Introdução

A infecção urinária, principalmente a infecção da bexiga, chamada de cistite, é uma complicação relativamente comum nas gestantes.

A gravidez provoca mudanças hormonais e físicas no corpo da mulher que, junto à dificuldade com a higiene devido a uma barriga distendida, aumentam a frequência de infecções do trato urinário. Neste texto falaremos sobre a infecção urinária na gravidez.

Chamamos de infecção urinária qualquer infecção que acometa rins, bexiga e/ou uretra. A infecção dos rins recebe o nome de pielonefrite, a infecção da bexiga chama-se cistite e infecção da uretra é a uretrite.

Infecção urinária ou bacteriúria?

O nosso trato urinário habitualmente é estéril, ou seja, não contém germes. Todavia, algumas pessoas podem ter bactérias detectáveis em seu exame de urina, chamada de bacteriúria, sem que isso necessariamente indique uma infecção urinária.

A presença de bactérias na urina sem a ocorrência de sintomas de infecção urinária é chamada de bacteriúria assintomática. Na maioria das pessoas, a bacteriúria assintomática não possui relevância clínica e não precisa ser tratada. Entretanto, a gravidez é uma das poucas exceções a esta regra.

Mulheres grávidas apresentam um maior risco de desenvolverem infecção urinária quando apresentam bacteriúria. Alterações hormonais e da musculatura dos órgãos urinários favorecem o refluxo de urina e a dilatação dos ureteres, fatos que aumentam o risco de bactérias da bexiga chegarem aos rins, provocando pielonefrite.

Além do maior risco de pielonefrite, a bacteriúria assintomática na gravidez tem sido associada a um risco aumentado de nascimento prematuro, baixo peso do feto e aumento da mortalidade perinatal.

Portanto, ao contrário do que ocorre nas mulheres não grávidas, nas gestantes indica-se a pesquisa de bactérias na urina mesmo que as mesmas não apresentem queixas urinárias.

Se for detectada bacteriúria, mesmo que não haja uma cistite ou pielonefrite, antibióticos estão indicados para esterilizar o trato urinário e evitar complicações na gravidez. Se não tratadas a tempo, cerca de 40% das gestantes com bacteriúria assintomática desenvolverão pielonefrite.

Informações em vídeo

Antes de prosseguir, assista a esse curto vídeo preparado pela equipe do MD. Saúde sobre os 5 sintomas mais comuns da infecção urinária (ao clicar na imagem, o vídeo será carregado em outra janela).

YouTube video

Cistite na gravidez

A cistite, infecção da bexiga, ocorre em aproximadamente 1 a 2% das mulheres grávidas. Como o risco de ascensão das bactérias em direção aos rins é maior nas gestantes, a cistite da grávida é considerada um quadro mais grave que as cistites das mulheres não grávidas.

A cistite na gestante é causada pelas mesmas bactérias das cistites comuns, com especial ênfase para a bactéria E.coli. O mecanismo de contaminação do trato urinário por bactérias é semelhante ao que ocorre em mulheres não gestantes, com o agravante de que o aumento do útero atrapalha o esvaziamento da bexiga, favorecendo o acúmulo de urina por mais tempo que o habitual, o que aumenta o risco de multiplicação de bactérias.

Os mecanismos, os fatores de risco e a prevenção da cistite, tanto em grávidas como em não grávidas, podem ser lidos no texto: Infecção urinária – Sintomas da cistite.

Os sintomas da cistite na grávida são os clássicos:

O diagnóstico da cistite é feito através da urocultura (leia: Urocultura – Quando fazer e como colher).

Pielonefrite aguda na gravidez

A pielonefrite é a complicação mais comum do trato urinário em mulheres grávidas, ocorrendo em aproximadamente 2% de todas as gestações.

Assim como na cistite, a pielonefrite é geralmente causada pela bactéria E.coli. Como já explicado, as alterações hormonais e físicas da gravidez favorecem a ascensão de bactérias da bexiga para os rins, provocando infecção dos mesmos. A pielonefrite é uma infecção bem mais grave que a cistite e pode levar à sepse grave, com choque circulatório e insuficiência respiratória.

Os sintomas pielonefrite são febre, calafrios e dor no flanco. Náuseas, vômitos e ardência ao urinar também podem estar presentes.

Assim como na cistite, o diagnóstico da pielonefrite também é feito através da urocultura.

Se quiser mais informações sobre pielonefrite, leia: Infecção urinária – Sintomas da pielonefrite.

Tratamento

Toda grávida deve colher uma urocultura na primeira visita ao obstetra ou entre a 12ª e 16ª semana de gestação. Também é comum o obstetra solicitar nova urocultura no terceiro trimestre.

Toda gestante com urocultura positiva deve ser tratada com antibióticos, independentemente de ter sintomas ou não. Na grávida, a bacteriúria assintomática é encarada como uma cistite.

Antibióticos

Antibióticos da classe quinolonas, como ciprofloxacino, norfloxacino e ofloxacino, muito usados para tratar infecção urinária, são contraindicados na gravidez. O Bactrim também não deve ser usado como primeira opção.

Atualmente as opções seguras para tratar bacteriúria assintomática ou cistite na grávida são:

* A FEBRASGO indica um intervalo de 6/6h, porém algumas fontes internacionais sugerem cefalexina 500 mg de 12/12h por 3 a 7 dias.

Uma semana após o término do tratamento deve-se repetir a urocultura para se confirmar a eliminação da bactéria. Se a urocultura se mantiver positiva, o tratamento deve ser repetido, desta vez por mais tempo.

Após a comprovada eliminação da bactéria, a urocultura deve ser repetida todo mês até o final da gestação.

Pacientes com mais de dois episódios de bacteriúria durante a gravidez podem se beneficiar de um tratamento profilático com macrodantina, um comprimido de 100 mg diariamente, até o fim da gravidez.

Em mulheres com história de cistite de repetição antes da gravidez, o uso de antibióticos profiláticos também pode ser usado. Nas mulheres com aumento da incidência de cistite após relação sexual, indica-se uma dose de antibióticos pós-coito como medida profilática.

Pielonefrite

Com base no maior risco de complicações em mulheres grávidas, a pielonefrite tem sido tradicionalmente tratada com hospitalização e antibióticos intravenosos até que a paciente se encontre assintomática e afebril por pelo menos 48 horas. Após este período a paciente pode ter alta hospitalar com antibióticos por via oral visando completar 14 dias de tratamento.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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