Forma correta de tomar a pílula anticoncepcional

Se tomada de forma correta, a pílula anticoncepcional tem uma taxa de falha de apenas 0,1%. Na vida real, entretanto, por erros na forma de tomar o medicamento, cerca de 9% das mulheres que usam pílula acabam engravidando, principalmente no primeiro ano de uso do medicamento.
Dr. Pedro Pinheiro

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Como tomar a pílula

Tempo de leitura estimado do artigo: 5 minutos

Introdução

A pílula anticoncepcional, também chamada de contraceptivo oral ou anticoncepcional oral, é um método de controle de natalidade existente no mercado desde a década de 1960.

Se tomada corretamente, a pílula anticoncepcional tem uma taxa de falha de apenas 0,1%. Na vida real, entretanto, por erros na forma de tomar o medicamento, cerca de 9% das mulheres que usam pílula acabam engravidando, principalmente no primeiro ano de uso do medicamento.

Portanto, para que a pílula anticoncepcional seja um método contraceptivo confiável é preciso que as mulheres saibam perfeitamente como usá-la e tenham disciplina para tomá-la corretamente, sem falhas.

O que é a pílula anticoncepcional?

Existem no mercado vários tipos de pílula anticoncepcional. As mais comuns são os chamados anticoncepcionais orais combinados, que são pílulas compostas por dois hormônios femininos:

  • Estrogênio: na imensa maioria dos casos o estrogênio sintético usado é o Etinil estradiol.
  • Progestina: nome que se dá à forma sintética da progesterona. Há vários tipos no mercado, como Levonorgestrel, Ciproterona, Noretisterona, Desogestrel, Drospirenona, Linestrenol, entre outros.

Os anticoncepcionais orais combinados são, em geral, uma combinação de Etinil estradiol com uma das progestinas citadas acima. Exemplos de marcas de anticoncepcionais orais combinados:

  • Yaz®.
  • Minesse®.
  • Yasmin®.
  • Diane®.
  • Marvelon®.
  • Mercilon®.
  • Selene®.
  • Dalyne®.

Há também pilulas compostas apenas por progestina (sem estrogênio) conhecidas como minipílula. Exemplos de minipílula no mercado:

  • Cerazette®.
  • Micronor®.
  • Minipil®.
  • Nortrel®.

O efeito contraceptivo da pílula anticoncepcional ocorre de várias formas. O principal se dá através da interferência no ciclo menstrual, impedindo que a mulher tenha as variações hormonais naturais que estimulam a ovulação.

Mas os hormônios da pílula também provocam outros efeitos, como tornar o muco produzido pelo colo do útero mais espesso, tornando-o impermeável aos espermatozoides, diminuir a motilidade das trompas e tornar o útero um meio inóspito para a implantação de um óvulo fecundando.

Para a pílula funcionar sem risco de falhas, ela precisa ser tomada diariamente, pois mesmo uma breve alteração nos níveis de estrogênio e progesterona pode ser suficiente para o ovário ser estimulado a ovular.

Se você quiser saber mais detalhes sobre o ciclo menstrual, leia:

Como tomar

Existem algumas formas diferentes de tomar a pílula anticoncepcional. A escolha do melhor método é feita pelo ginecologista de forma a se adaptar melhor ao histórico clínico e às atividades de vida de cada mulher.

Tentarei explicar as formas mais comuns de se tomar a pílula, mas é importante que a despeito das orientações fornecidas aqui, você siga as orientações do médico e da bula do medicamento.

Pílulas combinadas: estrogênio e progestina

O ciclo menstrual de quem toma pílula é de 28 dias. Na maioria dos casos, em cada ciclo, as mulheres tomam a pílula durante 21 dias seguidos e fazem uma pausa por 7 dias.

Durante a pausa, como cessam os hormônios, a menstruação costuma descer. A pausa deve ser sempre de 7 dias, independente do tempo de duração da menstruação.

Mesmo que a mulher ainda esteja menstruada, a pílula deve ser recomeçada invariavelmente no oitavo dia. Da mesma forma, se a menstruação for bem curta e já tiver desaparecido no terceiro dia, a pausa permanece de 7 dias.

A maioria das pílulas anticoncepcionais vem em caixas com 21 comprimidos, mas há marcas com 28 comprimidos, sendo os últimos 7 compostos apenas por açúcar ou qualquer outra substância inócua.

As caixas com 28 comprimidos servem para que a mulher não tenha que todo mês ficar contanto 7 dias sem tomar a pílula. Deste modo, ela pode emendar uma caixa na outra sem maiores preocupações.

Alguns anticoncepcionais têm um período de pausa diferente, como é o caso do Yaz®, cuja pausa é de apenas 4 dias. Neste caso, a mulher toma a pílula por 24 dias e pausa por 4 dias.

Existem também outra duas formas de tomar a pílula anticoncepcional: regime contínuo e regime estendido:

  • No regime contínuo, a mulher toma pílulas com hormônios ininterruptamente. Todas as pílulas da caixa têm hormônios e a mulher não menstrua nunca.
  • No regime estendido, a mulher toma pílulas durante 84 dias seguidos e depois faz uma pausa de 7 dias. Deste modo, a menstruação só desce uma vez a cada 3 meses.

Pílulas de progestina – minipílula

A minipílula, uma forma de pílula anticoncepcional que contém apenas progestina, costuma vir em caixas com 35 comprimidos. Esta forma de pílula deve ser usada todos os dias, ininterruptamente. Não há pausas.

A minipílula tem doses muito mais baixas de hormônios, por isso deve ser tomada diariamente sempre na mesma hora. Basta um atraso de mais de 3 horas para que a eficácia contraceptiva fique prejudicada.

Como o uso da minipílula é contínuo, a mulher não costuma menstruar. Porém, dada a baixa dose de hormônios, alguns sangramentos de escape podem eventualmente ocorrer. Todavia, se os escapes de sangue forem muito frequentes, procure orientações do seu ginecologista, pois a pílula pode não estar funcionando adequadamente.

Para saber mais detalhes sobre a minipílula, leia: Minipílula – Anticoncepcional de progesterona

Como tomar a pílula pela primeira vez?

Pílulas combinadas – estrogênio e progestina

Mulheres que vão iniciar a pílula pela primeira vez na vida, ou que vão reiniciar o uso após alguns meses ou anos de pausa, costumam ser orientadas a começar a caixa no primeiro dia da menstruação.

Essa forma de iniciar o anticoncepcional é a mais eficaz e garante segurança contraceptiva imediata, não havendo necessidade de usar camisinha durante os primeiros dias de uso, já que a proteção contra a gravidez ocorre desde o primeiro comprimido.

Na verdade, a pílula pode ser iniciada em qualquer momento do ciclo. Porém, esta forma de iniciar apresenta a desvantagem de não conferir proteção imediatamente. A paciente só estará plenamente protegida contra a gravidez após 7 dias de uso da pílula.

Se a paciente tem risco de estar grávida, este modo de início também não é o mais adequado. Se há esta suspeita, é melhor esperar pela menstruação antes de iniciar a pílula (os testes de gravidez só ficam positivos após pelo menos 1 ou 2 dias de atraso menstrual – leia: Teste de gravidez: saiba como e quando fazer).

Uma vez iniciada a pílula, a mulher deve tomá-la conforme lhe foi prescrita, sejam 21 dias contínuos e pausa de 7 dias, 24 dias contínuos e pausa de 4 dias ou uso contínuo sem pausas.

Não se deve trocar de marcas de um ciclo para o outro. Por exemplo, não adianta comprar Diane® num mês e no seguinte trocar para Yasmin®. Não é a forma correta de tomar a pílula.

Pílulas de progestina – minipílula

A minipílula pode ser iniciada em qualquer momento do ciclo, mas nos primeiros 7 dias não há garantias de que ela previna uma gravidez. Após 7 dias de uso correto, a mulher já pode ter relações sem preservativos sem haver risco de engravidar.

Assim como a pílula combinada, se a minipílula for iniciada no primeiro dia do ciclo, ou seja, no primeiro dia da menstruação, a sua ação contraceptiva é imediata, não havendo necessidade de uso de outro método anticoncepcional desde o primeiro comprimido.

O que fazer se esquecer a hora de tomar a pílula?

Pílulas combinadas – estrogênio e progestina

Nos casos dos anticoncepcionais orais combinados, a pílula não precisa ser tomada exatamente na mesma hora todo dia. Porém, não é bom atrasar a toma por mais de 12 horas. Se você tomou uma pílula às 9h, o ideal é que no dia seguinte não a tome depois das 21h.

Se o atraso for maior que 12 horas, tome a pílula assim que se lembrar, mas mantenha o horário da próxima inalterado, mesmo que isso signifique tomar duas pílulas no mesmo dia.

Por exemplo, você deveria ter tomado a pílula às 19h, mas sé se lembrou no dia seguinte de manhã, às 9h. Neste caso, tome uma pílula às 9h e outra normalmente às 19h.

Atrasos de apenas 1 comprimido (1 dia) não costumam causar falhas no efeito da pílula, principalmente se a mulher já estiver usando o anticoncepcional há algum tempo.

O perigo de falha é alto se a mulher esquecer de tomar 2 ou mais pílulas seguidas (mais de 48 horas de atraso), principalmente se for nos primeiros dias do ciclo. Neste caso, entre em contato com o seu ginecologista para receber orientações. Em geral, ele irá lhe sugerir a seguinte conduta:

  • Se ainda faltarem 7 ou mais comprimidos na cartela, interrompa o uso da pílula, faça uma pausa de 7 dias e então recomece com uma nova cartela.
  • Se faltarem menos de 7 comprimidos na cartela, despreze esta cartela e comece uma nova, sem fazer a pausa de 7 dias neste ciclo.

Se for ter relações sexuais, use camisinha até ter pelo menos 7 dias seguidos de uso da nova cartela.

Se você tiver tido relações sexuais durante este período de 2 ou mais dias de esquecimento, use a contracepção de emergência, conhecida popularmente como pílula do dia seguinte (leia: Pílula do dia seguinte: como tomar e efeitos adversos).

Pílulas de progestina – minipílula

Como a minipílula possui quantidades muito menores de hormônios, o conceito de atraso é bem mais rigoroso.

A minipílula deve ser tomada sempre na mesma hora do dia. Um simples atraso demais de 3 horas é suficiente para a pílula perder o efeito. Caso você perca a hora, tome a minipílula assim que se lembrar, mantendo a dose seguinte no horário habitual, mesmo que isso signifique tomar 2 comprimidos no mesmo dia. Nos próximos 2 dias, toda relação sexual deve ser feita com preservativos, pois não há garantias de que o anticoncepcional esteja funcionando neste período.

Já há no mercado minipílulas, como o Cerazette®, cujo atraso nas tomadas pode ser de até 12 horas. Se houver atrasos maiores que 12 horas na ingestão do comprimido, tome a minipílula assim que se lembrar, mantendo a dose seguinte no horário habitual, mesmo que isso signifique tomar 2 comprimidos no mesmo dia. Da mesma forma, durante os próximos 2 dias, toda relação sexual deve ser feita com preservativos, para evitar uma gravidez não desejada.

Dúvidas comuns

No caso da pílula combinada de 21 ou 24 dias, se eu tiver relações desprotegidas durante a pausa posso engravidar?

Não, mesmo nos 7 ou 4 dias de pausa programada, o anticoncepcional continua agindo normalmente. Só há risco de falha se a pílula não estiver sendo tomada corretamente.

Qual é a pílula mais eficaz, a minipílula ou a pílula combinada?

Se tomadas corretamente, ambas têm eficácia acima de 99%. Porém, como o intervalo de tolerância da minipílula é bem mais curto, na prática, vemos as mulheres tomando a minipílula de forma errada com mais frequência e, consequentemente, tendo mais gravidezes indesejadas.

Posso tomar antibióticos durante o uso da pílula?

Sim, isto é um mito. Excetuando-se a rifampicina, que realmente corta o efeito do anticoncepcional, nenhum estudo conseguiu comprovar que outros antibióticos trazem riscos de falha da pílula. Para saber mais, leia: Antibiótico Corta o Efeito do Anticoncepcional?

Tomo a pílula combinada de 21 dias e por motivos pessoais quero neste mês atrasar minha menstruação por alguns dias. Posso continuar a tomar a pílula continuamente, de forma a não menstruar?

O ideal é conversar com o seu ginecologista antes de tomar essa decisão. Algumas pílulas são feitas para serem usadas com pausas (algumas das pílulas na cartela não contém hormônios). Outras podem ser usada com ou sem pausas.

Há atualmente pílulas no mercado desenvolvidas especificamente para serem usadas continuamente, sem que haja pausa para menstruação. Converse com o seu ginecologista para encontrar um anticoncepcional oral que melhor se adapta ao seu estilo de vida (para mais informações, leia: Uso contínuo da pílula para não menstruar).

Tomar a pílula durante muitos anos faz mal? É melhor suspender a pílula de tempos em tempos para descansar os ovários?

Não. Não há nenhuma vantagem em suspender a pílula temporariamente por alguns meses após anos de uso.

Tomei a pílula anticoncepcional e vomitei logo depois. Devo tomá-la novamente neste dia?

Se a pílula tiver sido tomada há menos de 1 hora, é possível que ela tenha saído no vômito. Neste caso, a mulher deve tomar um novo comprimido, sim. No dia seguinte, o próximo comprimido deve ser tomado na hora habitual. Se o episódio de vômito ocorreu mais de 1 ou 2 horas após a ingestão da pílula, não é preciso repetir a dose.

Nota: diarreias, a não ser em casos muito agressivos, não interferem na eficácia da pílula.

Por distração tomei a pílula duas vezes no mesmo dia. O que fazer?

Não faça nada. Continue a tomar a pílula da mesma forma no dia seguinte.  Não é preciso pular um dia para compensar.

Posso tomar anticoncepcionais orais durante a amamentação?

Em geral, a mulher não ovula durante o período de aleitamento. Se a mãe quiser ter uma maior segurança, e não está disposta a usar preservativos, o ideal é usar a minipílula, que não possui efeitos sobre a produção de leite.

Existe uma idade mínima para começar a tomar a pílula?

Não. A partir do momento que a adolescente tenha tido sua primeira menstruação, ela pode engravidar. Portanto, toda adolescente com vida sexual ativa pode usar anticoncepcionais, sem risco de atrapalhar o crescimento ou causar redução da fertilidade no futuro.

A pílula anticoncepcional faz mal?

Não. O risco de problemas em mulheres jovens e saudáveis é muito baixo. O risco de trombose é de 0,1% e de eventos cardiovasculares é de apenas 0,02%. Para saber mais, leia: 10 Efeitos colaterais da pílula anticoncepcional.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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