Introdução
O adesivo anticoncepcional é uma forma de contracepção hormonal semelhante à pílula anticoncepcional, porém mais cômoda por ser feita através de adesivos transdérmicos que precisam ser aplicados à pele apenas uma vez por semana. Essa forma de contracepção oferece uma solução prática para mulheres que desejam evitar a ingestão diária de comprimidos, aumentando a adesão ao método.
O mecanismo de ação do adesivo é igual ao da pílula, com a vantagem de não ser necessário tomar comprimidos diariamente.
Neste artigo, faremos uma revisão sobre o adesivo contraceptivo, incluindo suas vantagens, eficácia, mecanismo de ação, forma de uso, efeitos colaterais e contraindicações.
Se você quiser conhecer outros métodos contraceptivos além do adesivo, acesse o seguinte artigo: 20 métodos anticoncepcionais comuns.
O que é o adesivo anticoncepcional?
O adesivo contraceptivo, também conhecido como patch contraceptivo, é um método anticoncepcional baseado na administração dos hormônios estrogênio e progesterona através de um adesivo que precisa ser aplicado à pele. O adesivo anticoncepcional é basicamente a pílula anticoncepcional com administração transdérmica sob a forma de adesivo para a pele.
Ele funciona liberando continuamente pequenas doses dos hormônios que são absorvidos pela pele e entram na corrente sanguínea, inibindo a ovulação, espessando o muco cervical e dificultando a passagem dos espermatozoides. Exceto pela via de administração dos hormônios, o adesivo e a pílula são métodos quase idênticos, com taxa de eficácia, mecanismo de ação, efeitos colaterais e contraindicações semelhantes.
O adesivo contraceptivo encontra-se no mercado desde 2002, sendo vendido sob o nome comercial Evra®. No Brasil este é o único adesivo contraceptivo disponível. Em outros países, há mais opções no mercado, como o Xulane e o Zafemy, que contêm etinilestradiol e norelgestromina, e o Twirla, que contém etinilestradiol e levonorgestrel.
O Evra® é um adesivo com uma área de superfície de 20 cm² (4,5 cm x 4,5 cm), que foi desenvolvido para proporcionar a liberação de norelgestromina (progesterona) e de etinilestradiol (estrogênio) de forma contínua na corrente sanguínea. Cada adesivo de Evra® contém 6 mg de norelgestromina e 0,6 mg de etinilestradiol.
O adesivo é composto por três camadas: a camada exterior, que é resistente à água e protege as camadas subjacentes; a camada do meio, que é a parte que contém a medicação e o adesivo em si; e a camada interna, que é um revestimento protetor que deve ser removido antes da aplicação do adesivo na pele.
Como usar o adesivo contraceptivo?
O adesivo deve ser aplicado à pele, preferencialmente no primeiro dia do ciclo menstrual, ou seja, no primeiro dia da menstruação. Isso garante que o início do uso coincida com o ciclo natural da mulher, proporcionando eficácia imediata no controle da fertilidade. O dia da semana deve ser memorizado, pois a cada sete dias, o adesivo deve ser retirado e substituído por um novo.
Para facilitar a memorização do dia, alguns médicos sugerem o início do tratamento no primeiro domingo após o início do ciclo menstrual. O único porém nesta forma é que, se o primeiro domingo cair depois do 5º dia de menstruação, o efeito contraceptivo do adesivo só será pleno após o 7º dia de uso do método. Portanto, nos primeiros 7 dias de uso, será necessário o uso de outro método contraceptivo complementar caso a mulher tenha relações. Quando o adesivo é colocado no primeiro dia da menstruação, a sua eficácia contraceptiva é imediata.
O adesivo pode ser aplicado em diversas áreas do corpo, contanto que a pele esteja limpa, seca e não haja muitos pelos. A presença de óleos, loções ou cremes pode interferir na aderência do adesivo, por isso recomenda-se evitar essas substâncias na área de aplicação.
Em geral, os locais mais utilizados são a face externa do braço, abdômen, coxa, nádegas ou tronco. As mamas devem ser evitadas, pois a absorção local de estrogênio pode causar mastalgia (dor nas mamas). O patch pode ser usado durante o exercício, banho, natação, sauna ou mesmo na praia.
A capacidade de aderência do adesivo é muito grande e ele não costuma sair espontaneamente. Estudos mostram que condições de umidade ou atividades físicas intensas raramente afetam a adesão do adesivo, com taxas de descolamento parcial ou total em menos de 3% dos casos.
Cada adesivo é projetado para fornecer um nível constante de hormônios por sete dias, e a eficácia é mantida mesmo com pequenas variações de temperatura corporal e exposição à água.
Uma vez aplicado o adesivo anticoncepcional, o mesmo deve ser substituído por um novo após 1 semana. Esse processo se repete por 3 semanas. Na 4ª semana, a mulher faz uma pausa, ficando 1 semana inteira sem adesivo (ciclo é de 21 dias de uso + 7 dias de pausa).
Geralmente, é nessa semana de pausa que a menstruação desce, porém, nem todas as mulheres menstruam durante este período. Após 7 dias de pausa, um novo adesivo deve ser colocado, iniciando-se um novo ciclo, mesmo que a menstruação ainda esteja presente.
A proteção contra gravidez é contínua, não desaparecendo durante os 7 dias de pausa.
Problemas na aplicação do Evra®
O adesivo anticoncepcional deve ser utilizado exatamente como foi explicado acima. Qualquer problema com a sua aplicação pode provocar falhas no seu efeito contraceptivo.
A mulher deve sempre verificar a integridade do adesivo após aplicá-lo para garantir que ele esteja totalmente aderido à pele.
Atraso no reinício do ciclo
Quando, por esquecimento, um novo ciclo do adesivo não é iniciado no dia correto, as usuárias são instruídas a aplicar um novo patch assim que se lembrarem. Esse dia da semana passa a ser o novo dia para as trocas. Quando ocorre um atraso no reinício do ciclo, é preciso utilizar nos primeiros 7 dias um método contraceptivo alternativo, como a camisinha, caso haja relação sexual.
Atraso no início do segundo ou do terceiro adesivo do ciclo
O correto é trocar o adesivo anticoncepcional a cada 7 dias. Porém, o adesivo ainda é capaz de liberar quantidades satisfatórias de hormônios até o 9º dia de uso. Portanto, há uma janela de 48 horas em que a troca pode ser atrasada sem compromisso do efeito contraceptivo. O dia original de mudança do adesivo se mantém.
Se o atraso for maior que 48 horas, o novo adesivo deve ser aplicado assim que possível, mas o uso de um método contraceptivo alternativo será necessário nos próximos 7 dias. O dia em que a paciente se lembrar de aplicar o patch se tornará o novo dia de mudança.
Atraso na remoção do adesivo antes da pausa
Esquecer-se de remover o terceiro patch a tempo é menos grave que esquecer de remover o primeiro ou segundo adesivos do ciclo. Neste caso, a usuária deve remover o patch assim que se lembrar, não havendo necessidade de alterar o dia do reinício do ciclo (a pausa será mais curta desta forma).
Descolamento do adesivo
O descolamento parcial ou total do adesivo é raro, ocorrendo em menos de 3% dos casos. Em geral, os melhores locais para se aplicar o adesivo são aqueles mais visíveis, para que a mulher possa detectar descolamentos de forma rápida.
Se o adesivo tiver se soltado, total ou parcialmente, por menos de 24 horas, ele pode ser recolocado no mesmo local, contando que a cola ainda esteja funcionando. Neste caso, certifique-se de que a área esteja limpa e seca antes de recolocar o adesivo.
Se o adesivo não se fixar totalmente à pele, um novo adesivo deve ser utilizado. Como o intervalo foi menor que 24 horas, o dia da próxima troca continua a ser o mesmo.
Nunca se deve utilizar esparadrapos ou qualquer outro tipo de fita adesiva comum para tentar segurar um adesivo anticoncepcional que não está se fixando à pele. Se o adesivo contraceptivo perdeu a capacidade de grudar na pele, ele também perdeu a capacidade de ser um contraceptivo.
Caso o adesivo tenha se descolado, parcial ou totalmente, da pele há mais de 24 horas, um novo adesivo deve ser utilizado, e o uso de um método contraceptivo alternativo será necessário nos próximos 7 dias. O dia da semana no qual o novo adesivo é aplicado passa a ser o novo dia de troca.
Em situações de dúvida sobre a duração do descolamento, recomenda-se agir de forma mais cautelosa e considerar a aplicação de um novo adesivo e uso de método de barreira, como a camisinha, por 7 dias.
Eficácia
O adesivo anticoncepcional é um método contraceptivo extremamente eficaz, com taxas de sucesso semelhantes às da pílula anticoncepcional. Se utilizado de forma correta, isto é, sem atrasos nas trocas e erros na aplicação à pele, a eficácia do método é de 99,7%.
Na prática, porém, muitas mulheres acabam esquecendo a data da troca do adesivo, fato que compromete a eficácia do método. Estudos mostram que a cada 100 mulheres que utilizam o Evra® durante um ano inteiro, 8 acabam engravidando (taxa de 92% de sucesso). As falhas ocorrem exatamente por erros na hora de trocar um adesivo por outro.
Estudos apontam que a eficácia do adesivo é mais baixa em mulheres obesas, principalmente naquelas que pesam mais de 90 quilos. Nesta população, outro método contraceptivo deve ser escolhido.
Outro ponto a ser considerado é que a eficácia do adesivo não é afetada por problemas gastrointestinais, como diarreia ou vômitos, uma vez que a absorção é feita pela pele. Isso representa uma vantagem significativa em comparação com a pílula anticoncepcional.
O uso concomitante de medicamentos indutores de enzimas, como alguns antiepilépticos e antivirais, pode reduzir a eficácia do Evra®, sendo aconselhável considerar métodos alternativos para essas pacientes.
Antibióticos cortam o efeito do adesivo anticoncepcional?
A imensa maioria dos antibióticos pode ser administrada nas mulheres que usam o adesivo contraceptivo sem nenhum risco. Assim como ocorre na pílula anticoncepcional, os antibióticos não provocam perda do efeito contraceptivo do patch. A única exceção é o antibiótico rifampicina (e o seu derivado rifabutina).
Portanto, exceto pela rifampicina, qualquer outro antibiótico pode ser administrado sem preocupações nas pacientes que usam o patch contraceptivo.
Para saber mais detalhes sobre as interações dos antibióticos com os métodos contraceptivos hormonais, leia: Antibióticos cortam o efeito dos anticoncepcionais?
Efeitos colaterais
Nos primeiros meses de uso, o efeito colateral mais comum do adesivo contraceptivo é a alteração no padrão da menstruação, que pode ser desde aumento no volume menstrual a pequenos sangramentos fora de época ou ausência de menstruação em alguns ciclos. Em geral, os dois primeiros meses são os piores, havendo regularização do quadro após 6 meses na maioria das mulheres. Cerca de 18% das mulheres notam alguma perda de sangue inesperada nos primeiros meses de uso do Evra®, mas após 6 meses, menos de 5% ainda se queixam deste problema.
Na verdade, após alguns ciclos, o que a maioria das mulheres nota é uma melhora do padrão menstrual, com regularização da menstruação, redução do volume de sangue perdido e menos sintomas pré-menstruais.
Outros efeitos colaterais comuns do adesivo são a mastalgia, dor de cabeça, reação alérgica no local do adesivo, náuseas e cólicas menstruais. Exceto pela dor mamária e pela irritação local na pele, que são mais comuns no adesivo, a frequência dos outros efeitos colaterais é semelhante nas mulheres que tomam a pílula anticoncepcional.
Para diminuir a incidência de irritação na pele, sugere-se que a cada troca o novo adesivo seja colado em um local diferente da pele.
Mulheres com pele sensível ou propensas a reações alérgicas devem consultar um médico antes de iniciar o uso do adesivo para avaliar possíveis alternativas e estratégias para reduzir a irritação local.
Assim como ocorre na pílula anticoncepcional, o adesivo contraceptivo não provoca ganho de peso. Um estudo com mais de 800 mulheres demonstrou que, após 9 meses de uso do adesivo contraceptivo, o ganho de peso foi semelhante ao grupo controle de mulheres que não usavam o patch. Para saber mais sobre ganho de peso com a pílula anticoncepcional, leia: Tomar anticoncepcional engorda?
Há relatos isolados de alterações na libido e humor em algumas mulheres, mas a incidência é baixa e similar à encontrada em outros métodos hormonais.
Riscos
Por ser a versão em adesivo da pílula anticoncepcional, o adesivo contraceptivo possui basicamente os mesmos riscos da pílula. Apesar de incomuns, os eventos trombóticos ou cardiovasculares, como infartos e AVC, são as complicações mais temidas do uso de anticoncepcionais hormonais.
Habitualmente, recomendamos que mulheres com fatores de risco para doenças cardiovasculares, tais como diabetes, obesidade, hipertensão, tabagismo, etc. , evitem o uso prolongado de métodos contraceptivos hormonais, incluindo a pílula e o adesivo anticoncepcional.
Nas mulheres jovens e sem fatores de risco, o risco de eventos trombóticos é bem baixo, sendo cerca de 10 casos a cada 10.000 mulheres (0,1%). No caso dos eventos cardiovasculares, o risco é ainda menor, sendo cerca de 2 casos a cada 10.000 mulheres (0,02%). Portanto, os métodos contraceptivos hormonais são bastante seguros se o seu uso for indicado de forma prudente.
Estudos farmacocinéticos demonstram que a exposição ao etinilestradiol em usuárias de adesivos é cerca de 60% maior em comparação com usuárias de pílulas de 35 mcg, o que pode estar associado a um risco aumentado de eventos tromboembólicos venosos. Na prática, porém, não há evidências de que a incidência de eventos trombóticos seja claramente maior.
Para saber mais sobre os efeitos colaterais e riscos dos anticoncepcionais hormonais, leia: Efeitos colaterais dos anticoncepcionais hormonais.
Contraindicações
As contraindicações para o uso do adesivo anticoncepcional são semelhantes às de outros contraceptivos hormonais combinados. Mulheres com histórico de tromboembolismo venoso, tumores dependentes de estrogênio ou função hepática anormal devem evitar o uso do adesivo.
Além disso, mulheres com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m² têm contraindicação ao uso do adesivo devido ao aumento do risco de eventos tromboembólicos e, no caso do adesivo de etinilestradiol/levonorgestrel, pela eficácia reduzida nesta população.
Referências
- Contraception: Transdermal contraceptive patches – UpToDate.
- Risk of nonfatal venous thromboembolism in women using a contraceptive transdermal patch and oral contraceptives containing norgestimate and 35 Ag of ethinyl estradiol – Contraception.
- Comparison of ethinylestradiol pharmacokinetics in three hormonal contraceptive formulations: the vaginal ring, the transdermal patch and an oral contraceptive – Contraception.
- Transdermal ethinylestradiol/norelgestromin: a review of its use in hormonal contraception – Treatments in endocrinology.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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