O que acontece com os pacientes internados em UTI?

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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UTI

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Introdução

Ter um parente ou amigo internado em um hospital é uma experiência desagradável. Quanto essa internação é em uma unidade de tratamento intensivo (UTI), o sentimento é ainda pior.

Estar internado em uma UTI indica que o caso inspira cuidados. O paciente que precisa de uma unidade de tratamento intensivo é aquele que necessita de monitorização constante dos seus sinais vitais, do estado hemodinâmico e da função respiratória.

A quantidade de máquinas ligadas e de procedimentos médicos invasivos, associados ao pouco tempo permitido de visita, costumam deixar os familiares muito confusos, assustados e estressados.

Quando a causa da internação em CTI são doenças infectocontagiosas, como o covid-19, o estresse familiar é ainda maior, pois a necessidade de isolamento impede qualquer tipo de contato direito com o paciente.

Para tentar diminuir esse trauma, explicarei o princípio das máquinas acopladas aos pacientes de um UTI e os procedimentos mais usados pelos médicos.

Monitor cardíaco

Todo paciente internado em uma UTI precisa estar monitorizado. O monitor serve para a equipe médica avaliar de modo contínuo e “ao vivo” os sinais vitais do paciente.

Por meio de eletrodos, aparelhos de pressão automatizados e sensores ligados ao paciente é possível acompanhar a frequência cardíaca e respiratória, a pressão arterial e a saturação de oxigênio do sangue.

O monitor cardíaco também nos fornece um traçado simples de eletrocardiograma, onde é possível identificar o surgimento de arritmias cardíacas.

O monitor é programado para alarmar sempre que houver:

  • Acelerações ou desacelerações da frequência cardíaca.
  • Picos hipertensivos ou hipotensão.
  • Queda da saturação de oxigênio no sangue.

Bombas infusoras

Pacientes internados em unidades de terapia intensiva frequentemente necessitam de drogas infundidas de modo contínuo. A bomba infusora permite a administração venosa de drogas em ritmo constante.

Essas bombas podem ser usadas para administração de insulina, antibióticos, diuréticos, aminas vasopressoras (drogas usadas para aumentar a pressão arterial em caso de hipotensão persistente), sedativos, anti-hipertensivos, etc.

É muito comum os uso de bombas infusoras em pacientes em choque circulatório que apresentam uma pressão arterial muito baixa, insuficiente para a perfusão de órgãos e tecidos.

O tratamento do choque visa o aumento da pressão arterial, de modo a garantir uma boa perfusão de sangue para os órgãos. Esta elevação da pressão arterial é feita através da infusão de fármacos que aumentam a pressão arterial. As mais usadas são a noradrenalina e a dopamina. Como ambas são drogas muito potentes e de curtíssima duração, elas precisam ser administradas continuamente e com velocidade estável.

Assim como podemos tratar hipotensões com medicamentos, um pico hipertensivo de difícil controle também pode ser controlado pela administração de venosa de drogas através de uma bomba infusora. Deste modo, conseguimos administrar drogas muito potentes para uma redução gradual e controlada da pressão arterial, sem risco de causar uma hipotensão.

A bomba infusora também é usada nos casos em que precisamos manter os pacientes sedados, como naqueles que estão em ventilação mecânica (explico a ventilação mecânica mais abaixo). Esta sedação é conhecida popularmente como coma induzido (leia: Coma induzido). As drogas mais usadas para sedação são os benzodiazepínicos (ex: Midazolan), Fentanil ou Propofol.

Em doente diabéticos com níveis de glicose descontrolados, também podemos usar a bomba para uma lenta e contínua administração de insulina.

Punção de veia central

O paciente que precisa de UTI costuma não estar em condições de tomar comprimidos. Além disso, muitos dos medicamentos usados em situações graves só existem na forma de administração venosa. Isto significa que o paciente em uma unidade de terapia intensiva recebe diariamente dezenas de medicamentos através de suas veias.

Cateter venoso central na veia subclávia
Cateter venoso central na veia subclávia

Nem todas as drogas podem ser administradas nas pequenas veias periféricas que temos nos braços. Dois exemplos comuns são as drogas para aumentar a pressão arterial, usadas no choque circulatório, e a nutrição parenteral, usada quando os pacientes são incapazes de se alimentar.

Nestas situações, o tratamento só pode ser administrado em veias de grande calibre, que costumam ficar em áreas profundas do corpo. As veias profundas mais utilizadas são a veia subclávia (exemplo na foto ao lado), a veia jugular interna ou a veia femoral. O médico escolhe uma destas veias e implanta um cateter para poder administrar as drogas necessárias.

O cateter venoso profundo também pode ser usado nos casos em que não se consegue mais puncionar uma veia periférica dos braços ou das pernas. Se o paciente precisa de drogas intravenosas e não apresenta veias adequadas nos braços, uma veia profunda pode ser a solução.

Ventilador mecânico

Uma das principais indicações de internação em uma UTI é a insuficiência respiratória, com necessidade de ventilação mecânica (respirador artificial). Se o paciente tem uma doença pulmonar e/ou cardíaca que dificulte sua respiração, o mesmo precisa de auxílio mecânico para não evoluir para parada respiratória.

Ventilador mecânico
Ventilador mecânico

O ventilador mecânico é uma máquina que garante a entrada de oxigênio nos pulmões dos pacientes que apresentam insuficiência respiratória, isto é, incapacidade de manter boa oxigenação dos tecidos. O respirador mecânico é capaz de fornecer oxigênio mesmo que o paciente já não consiga respirar por conta própria.

Para se acoplar o paciente a um ventilador mecânico é necessário primeiro que o mesmo seja submetido a intubação das vias respiratórias. A intubação orotraqueal consiste na introdução pela vias aéreas de um tubo plástico semirrígido, para que este possa ser ligado ao respirador.

Pacientes que necessitam de ventilação mecânica por vários dias são normalmente submetidos a uma traqueostomia. Deste modo, o tubo pode ser ligado diretamente à traqueia, não precisando mais passar pela boca. Este procedimento reduz os riscos de complicações, como lesões das cordas vocais, pneumonias e extubações involuntárias.

Cateterismo vesical

Todo paciente com sinais de instabilidade hemodinâmica é submetido ao cateterismo da bexiga. Deste modo, conseguimos aferir precisamente o débito urinário do paciente.

Além de ajudar na avaliação do funcionamento dos rins, que é um dos primeiros a sofrer quando há instabilidade, a quantidade de urina produzida em 24 horas nos auxilia no planejamento do volume de líquidos que será infundido ao longo do dia.

Pacientes graves, com instabilidade dos sinais vitais, costumam apresentar insuficiência renal aguda, ou seja, uma ausência de funcionamento dos rins. Um dos sinais de sofrimento dos rins é a diminuição da diurese, ou seja, da produção de urina. Quando o paciente está com uma sonda urinária é possível medir a produção horária de urina, sendo fácil detectar alterações da diurese.

Hemodiálise

A insuficiência renal aguda é uma complicação comum nos pacientes em estado crítico internados em um CTI. Quando os rins param de funcionar, é preciso iniciar um tratamento chamado hemodiálise (leia: Hemodiálise – Entenda como ela funciona).

A máquina de hemodiálise visa fazer o papel dos rins, retirando as toxinas do organismo e controlando o volume de água e os níveis de eletrólitos (sais minerais) do sangue.

O paciente ficará fazendo hemodiálise até que os seus rins mostrem sinais de recuperação. As sessões de hemodiálise podem ser contínuas, isto é, por 24h ininterruptas, ou por apenas algumas horas durante o dia, dependendo da gravidade do caso.

Existem vários outros procedimentos médicos invasivos realizados em uma UTI. Os que foram descritos aqui neste texto são apenas os mais comuns. É importante frisar que o paciente que necessita de uma unidade de tratamento intensivo normalmente apresenta falência de um ou mais órgãos vitais. Os procedimentos descritos acima visam monitorar e substituir essas funções até que o organismo seja novamente capaz de desempenhar esse trabalho por conta própria.

Por que os pacientes na UTI ficam inchados?

Uma das coisas que mais assusta e chama a atenção dos familiares é o edema (inchaço) generalizado que os pacientes internados apresentam. O edema é nada mais do que excesso de água na pele.

Pacientes com doenças graves costumam apresentar um quadro de inflamação em todo o organismo. Nossos vasos sanguíneos apresentam poros microscópicos que permitem a passagem de água de dentro para fora e de fora para dentro, conforme o organismo ache necessário. Quando estamos com um estado de inflação sistêmica, esses poros aumentam de tamanho, permitindo a passagem além do desejado de água do sangue para os tecidos, principalmente para a pele.

Além da inflamação dos vasos sanguíneos, mais três fatores contribuem para o edema:

  • Redução da produção de urina, o que provoca retenção de líquidos.
  • Administração excessiva de líquidos através de soros e medicamentos.
  • Diminuição das proteínas no sangue, que ajudam a segurar a água dentro dos vasos.

Apesar de assustar, o edema da pele por si só não traz grandes riscos. Ele é basicamente uma consequência do estado grave do paciente. Conforme há melhora do quadro clínico, o organismo consegue restaurar a distribuição normal da água corporal. Em geral, quando recebem alta hospitalar, os pacientes já não estão mais inchados.

Por que os pacientes ficam desorientados na UTI?

É muito comum os pacientes graves e com longo tempo de internação apresentarem o que chamamos de delirium. O delirium é um quadro de confusão mental aguda, que provoca várias alterações do estado mental do paciente. O quadro é transitório é costuma desaparecer conforme o estado geral do paciente melhora. Falamos sobre delirium em detalhes neste texto: Delirium – Confusão mental.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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