Prolapso da válvula mitral: o que é, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Prolapso mitral

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

Introdução

O prolapso da válvula mitral (PVM) é um defeito congênito do coração que afeta a função da válvula mitral.

A válvula mitral é uma das quatro válvulas do coração, e a sua principal função é regular o fluxo de sangue entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. Este defeito tem origem durante a formação da válvula mitral no útero e pode variar em gravidade.

Enquanto algumas pessoas com PVM podem não apresentar sintomas ou complicações a longo prazo, outras podem necessitar de tratamento médico ou intervenção cirúrgica para resolver o problema.

A importância de compreender o prolapso da válvula mitral é que este pode levar a uma série de complicações se não for tratado adequadamente. Estas complicações podem incluir insuficiência cardíaca, arritmias e outras condições que podem afetar negativamente a qualidade de vida do paciente.

Por isso, é crucial compreender a anatomia das válvulas cardíacas e como o coração funciona normalmente para compreender o prolapso da válvula mitral e como esta pode ser tratada eficazmente.

Coração normal

Conhecer a anatomia das válvulas cardíacas é essencial para entender o prolapso mitral.

O coração possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. O coração também possui quatro válvulas ou valvas: válvula aórtica, válvula mitral, válvula tricúspide e válvula pulmonar. As válvulas são estruturas localizadas na saída de cada uma das quatro câmaras cardíacas e impedem que o sangue bombeado retorne para a câmara que o expulsou. As válvulas agem como comportas.

A válvula mitral, objeto de explicação deste texto, fica localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo.

Quando o átrio esquerdo se contrai, a válvula mitral se abre, permitindo a passagem do sangue para o ventrículo esquerdo. Quando este está repleto de sangue, é sua vez de contrair, empurrando o sangue em direção à artéria aorta. Nesse momento, a válvula mitral se fecha, impedindo que o sangue volte para o átrio esquerdo. Desse modo, o sangue segue sempre em uma direção apenas.

Prolapso válvula mitral

A válvula mitral é composta por dois folhetos. Estes folhetos se abrem como aquelas portas de saloon em filmes de Velho Oeste. Quando o sangue termina de passar, se fecham, encostando firmemente um folheto no outro, vedando completamente a passagem.

  • Quando há algum problema no fechamento de uma das válvulas, permitindo retorno de sangue para uma das câmaras, chamamos de regurgitação ou insuficiência. No caso de um problema no fechamento da válvula mitral, damos o nome de regurgitação mitral.
  • Quando o problema é uma deficiente abertura da válvula, não permitindo a livre passagem de sangue, chamamos de estenose. Portanto, se a válvula mitral estiver calcificada e já não conseguir se abrir totalmente, estamos diante de uma estenose mitral.

O que é o prolapso da válvula mitral?

O prolapso mitral é um defeito congênito no tamanho dos folhetos, fazendo com que a válvula não consiga se fechar corretamente. Um folheto empurra o outro, fazendo a válvula assumir a forma de um paraquedas, causando o prolapso da mesma em direção ao átrio esquerdo.

Prolapso da válvula mitral
Prolapso da válvula mitral

O prolapso da válvula mitral é uma das causas de regurgitação mitral, pois os folhetos se empurram e não vedam completamente a passagem de sangue.

Até recentemente, achava-se que o prolapso mitral era uma alteração muito comum, que acometia de 5% a 10% da população. Com o advento de ecocardiogramas mais avançados, observou-se que muitas pessoas diagnosticadas com prolapso da válvula mitral, na realidade, apresentavam apenas pequenas alterações na anatomia normal da válvula, sem que estas configurassem um verdadeiro prolapso. Atualmente, estima-se que a prevalência real do prolapso da válvula mitral seja inferior a 2,5% da população.

Classificação

  • O prolapso mitral é considerado primário quando não está associado a nenhuma outra doença e surge sem razão aparente.
  • O PVM é chamado familiar quando está relacionado com anomalias cromossômicas hereditárias e mais do que um membro da família tem o defeito.
  • O PVM é chamado secundário quando está ligado a outras doenças, tais como a síndrome de Marfan, síndrome de Ehlers-Danlos, osteogênese imperfeita ou doença renal policística.

Sintomas

Nem todos os pacientes com prolapso mitral apresentam sintomas. Na verdade, boa parte das pessoas com PVM são assintomáticas. Quando ocorrem sintomas, estes normalmente são:

A presença de um ou mais destes sinais e sintomas, associados a um sopro cardíaco, indica a síndrome do prolapso da válvula mitral. Portanto, nem todo mundo com prolapso mitral tem a síndrome do prolapso mitral. Para se ter a síndrome é preciso ter o defeito na válvula, apresentar sintomas e ter sopro cardíaco.

Apesar de ser uma alteração benigna na maioria dos casos, até 10% dos pacientes com prolapso de válvula mitral vão apresentar piora progressiva da lesão, precisando de cirurgia de troca valvar no futuro. Quanto maior for o prolapso, maior o risco de evolução para um quadro de regurgitação mitral grave.

Outras duas complicações possíveis, mas pouco comuns, do prolapso mitral são a endocardite infecciosa (infecção das válvulas) e arritmias cardíacas.

O diagnóstico do prolapso mitral é confirmado facilmente pelo ecocardiograma.

Tratamento

Mudanças no estilo de vida, como praticar exercícios aeróbicos, cortar cafeína, reduzir o consumo de álcool e levar uma vida menos estressante, melhoram muito os sintomas da síndrome do prolapso mitral. Pacientes com palpitações frequentes podem se beneficiar do uso de um betabloqueador (medicamento que controla os batimentos cardíacos).

Pessoas com prolapso mitral têm maior risco de desenvolverem crises de pânico e ansiedade, devendo, nestes casos, serem encaminhadas à consulta com psiquiatra, para controle adequado dos sintomas.

A princípio, não há limitações dietéticas (exceto as descritas acima) nem restrições à prática de atividade física para pessoas com prolapso mitral. Porém, uma consulta com um cardiologista é essencial para se ter certeza de que o prolapso não está causando nenhuma regurgitação relevante.

Como já referido, pacientes com regurgitação grave da válvula mitral frequentemente precisam de cirurgia de troca valvar.

Mulheres com prolapso mitral, sem insuficiência mitral importante, não apresentam problemas quando engravidam.

Dúvidas comuns

Prolapso mitral aumenta o risco de endocardite?

Não. Segundo as orientações mais recentes da Sociedade Americana de Cardiologia (American Heart Association), ao contrário do que ocorre em pacientes com outras doenças das válvulas do coração, não há indicação de profilaxia (uso de antibióticos preventivamente) para endocardite em pacientes com prolapso mitral que irão se submeter a procedimentos dentários.

Prolapso da válvula mitral provoca ansiedade?

É comum que pessoas com PVM apresentem episódios de ansiedade, especialmente em situações em que as palpitações são mais evidentes, o que pode causar preocupações excessivas sobre o funcionamento cardíaco, mesmo que o risco de complicações graves seja baixo na maioria dos casos.

A relação entre PVM e ansiedade é complexa, pois ambos podem desencadear sintomas semelhantes, como sensação de aperto no peito, tontura e dificuldade para respirar. A ansiedade pode intensificar as percepções dos sintomas cardíacos, fazendo com que o indivíduo se sinta mais vulnerável ou preocupado com sua saúde. Por isso, é importante que pessoas com prolapso mitral, especialmente aquelas que sofrem de ansiedade, recebam orientações médicas adequadas para diferenciar os sintomas benignos do prolapso da válvula mitral de condições mais graves e para aprender técnicas de controle da ansiedade, como terapias cognitivo-comportamentais ou práticas de relaxamento. A gestão da ansiedade pode reduzir a percepção dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Prolapso da válvula mitral é perigoso?

Na maioria dos casos, o prolapso da válvula mitral não é considerado perigoso. Ele geralmente é uma condição benigna e assintomática, afetando muitas pessoas sem causar complicações significativas. A válvula mitral, localizada entre o átrio e o ventrículo esquerdo do coração, não fecha adequadamente em pessoas com PVM, mas, na maioria das vezes, o refluxo de sangue é pequeno e não gera problemas importantes para o funcionamento cardíaco.

Entretanto, em casos mais raros, o PVM pode evoluir e causar complicações, como insuficiência mitral significativa (quando há um refluxo maior de sangue), arritmias ou, em casos muito graves, endocardite (uma infecção da válvula). É importante que pessoas diagnosticadas com prolapso da válvula mitral façam acompanhamento regular com um cardiologista, para monitorar a evolução da condição e garantir que não haja complicações. Na grande maioria das vezes, o PVM não afeta a expectativa de vida ou a qualidade de vida das pessoas, desde que devidamente acompanhado.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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