Ivermectina (Bula): para que serve e posologia

A ivermectina é medicamento com ação antiparasitária, muito utilizado tanto na medicina humana quanto na veterinária.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Ivermectina

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O que é a ivermectina?

A ivermectina é um medicamento com ação antiparasitária, muito utilizado tanto na medicina humana quanto na veterinária.

A ivermectina foi descoberta na década de 1970 como um derivado da avermectina, um produto da fermentação pela bactéria Streptomyces avermitilis. Seus descobridores, William C. Campbell e Satoshi Uramura, ganharam o prêmio Nobel de Medicina em 2015.

O fármaco começou a ser comercializado em 1981 e atualmente faz parte da Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde.

Inicialmente, a ivermectina foi comercializada para uso veterinário pela Merck & Co. Inc, sendo usada amplamente para controle de nematoides e da sarna em bovinos, cavalos, porcos e cães. A formulação injetável para gados, chamada Ivomec, tornou-se o medicamento veterinário mais rentável do mundo.

Com o posterior reconhecimento da sua utilidade também em humanos, a ivermectina tornou-se um fármaco revolucionário que ajudou diversos países a controlar parasitoses graves, como a filariose, popularmente chamada de elefantíase, e a oncocercose, conhecida como cegueira dos rios, doença comum na África Ocidental.

O medicamento apresenta ação contra helmintos e artrópodes, sendo eficaz para o tratamento de verminoses intestinais e para parasitoses externas, como piolhos e sarna.

Para que serve a ivermectina?

A ivermectina é atualmente indicada para o tratamento de uma série de infecções parasitárias. As principais são:

Além da ação antiparasitária, a ivermectina também é um agente com propriedades anti-inflamatórias, motivo pelo qual a sua forma em creme a 1% pode ser utilizada para o tratamento de lesões inflamatórias da rosácea, que é uma doença que nada tem a ver com parasitos.

Ivermectina serve para tratar ou prevenir COVID-19?

Não, até o momento não há nenhum ensaio clínico ou metanálise de alta qualidade demonstrando que a ivermectina tenha qualquer efeito benéfico para os pacientes com COVID-19. O que existem são alguns estudos laboratoriais demonstrando eficácia invitro para alguns tipos de vírus RNA, como o SARS-CoV-2, e alguns estudos clínicos pequenos com metodologia problemática.

Identificar efeito invitro de um fármaco sobre algum vírus é algo extremamente comum e, na maioria das vezes, esse efeito benéfico acaba não sendo reproduzido nos testes clínicos em animais ou humanos.

Estudos clínicos com poucas dezenas de voluntárias, principalmente se não forem randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo não permitem tirar conclusões. Servem apenas como gerador de hipóteses. Esses resultados precisam sempre ser confirmados por grandes ensaios clínicos.

Portanto, atualmente, não há absolutamente nenhuma evidência que autorize a prescrição da ivermectina para pacientes com COVID-19, seja para tratamento ou para prevenção. O grau de evidência a favor do fármaco é muito baixo.

Entre as principais agências de saúde e sociedades internacionais que desaconselham o uso da ivermectina para tratamento da Covid-19 podemos citar:

  • OMS – Organização Mundial de Saúde.
  • FDA – U.S. Food and Drug Administration (EUA).
  • NIH – National Institutes of Health (EUA).
  • EMA – European Medicines Agency (Europa).
  • INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Portugal).
  • Sociedade Brasileira de Pneumologia.
  • Sociedade Brasileira de Infectologia.

Além de todas as entidades de saúde, o próprio laboratório Merck, fabricante da Ivermectina, afirma que o medicamento não deve ser utilizado para o tratamento da Covid-19.

Nomes comerciais

A ivermectina pode ser encontrada na forma de medicamento genérico ou através dos seguintes nomes comerciais:

  • Ivermec.
  • Iverneo.
  • Leverctin.
  • Plurimec.
  • Revectina.
  • Soolantra (creme dermatológico).
  • Uciose.
  • Vermectil.

A ivermectina é habitualmente comercializada na forma de comprimidos de 6 mg, loção de cabelo ou creme tópico.

A ingestão do medicamento com estômago vazio reduz a incidência de efeitos colaterais.

Posologia

As doses e as formas de aplicação da ivermectina variam de acordo com a doença.

Ascaridíase, escabiose, estrongiloidíase, filariose, larva migrans

A dose de ivermectina é 200 mcg por kg de peso, por via oral em dose única.

Para facilitar o cálculo do número de comprimidos, utilize a tabela abaixo.

Peso corporal (kg)Dose oral única
15 a 24½ comprimido
25 a 351 comprimido
36 a 501 ½ comprimidos
51 a 652 comprimidos
66 a 792 ½ comprimidos
80 a 953 comprimidos
≥ 96200 mcg/kg
Dosagem de Ivermectina para Ascaridíase, escabiose, estrongiloidíase, filariose, larva migrans ou pediculose

Piolhos

O tratamento da pediculose capitis (piolhos) é feito com a mesma dosagem da tabela acima. Após a toma da medicação, as lêndeas aderidas aos cabelos devem ser removidas manualmente com um pente fino.

Se após 7 dias, ainda houver lêndeas, o tratamento pode ser repetido com nova dose única de 200 mcg/kg.

O tratamento da pediculose também pode ser feito com loção capilar de 0,5% (geralmente feito em farmácia de manipulação).

A loção deve ser aplicada no cabelo seco, por toda extensão dos fios e couro cabeludo, em aplicação única com enxague após 10 minutos. Não é preciso repetir a aplicação.

A loção de ivermectina é indicada apenas para crianças acima de 6 anos.

Oncocercose

A dosagem recomendada de ivermectina para o tratamento da oncocercose é de 150 mcg por quilo de peso corporal por via oral em dose única.

Peso corporal (kg)Dose oral única
15 a 25½ comprimido
26 a 441 comprimido
45 a 641 ½ comprimidos
65 a 842 comprimidos
≥ 85150 mcg/kg
Dosagem de Ivermectina para a oncocercose

Rosácea

A ivermectina em creme a 1% deve ser usada uma vez ao dia. Uma quantidade do tamanho de uma ervilha pode ser aplicada a cada área afetada da face (por exemplo, testa, queixo, nariz, bochechas) e espalhada em uma camada fina.

Efeitos colaterais

Na maioria dos casos, o tratamento com ivermectina não provoca efeitos colaterais e quando o fazem, eles costumam ser leves e transitórios. Diarreia, náuseas com ou sem vômitos, astenia, dor abdominal, anorexia e constipação intestinal são os efeitos adversos mais comuns.

Insuficiência hepática pode ocorrer quando doses elevadas, acima das recomendadas, são utilizadas.

Reação do tipo Mazzotti

Comum na oncocercose, a reação do tipo Mazzotti é o efeito adverso mais grave da ivermectina.

Essa reação de hipersensibilidade (tipo reação alérgica) não ocorre pela medicação em si, mas pela reação imunológica resultante da morte das microfilárias. Os sintomas mais comuns são: dor nas articulações, dor abdominal, aumento e sensibilidade dos linfonodos, principalmente os axilares, cervical e inguinal, coceira, edema, erupções na pele, urticária e febre.

Contraindicações

A ivermectina não deve ser utilizada em pacientes com história de reação alérgica a qualquer um dos componentes do medicamento, em pacientes com meningite ou outros problemas agudos do sistema nervoso central.

A ivermectina também deve ser evitada em grávidas, durante o aleitamento materno e em crianças com menos de 15 kg.

Interações medicamentosas

Existem poucas interações medicamentosas relevantes. Das poucas que valem ser mencionadas, podemos citar:

  • Azitromicina: azitromicina pode aumentar a concentração sérica de ivermectina.
  • BCG (Intravesical): a ivermectina pode diminuir o efeito terapêutico do BCG.
  • Vacina contra a cólera: a ivermectina pode diminuir o efeito terapêutico da vacina contra a cólera.
  • Varfarina: a ivermectina pode aumentar o efeito anticoagulante dos antagonistas da vitamina K.

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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