A pneumonia é uma doença contagiosa?
De modo geral, a pneumonia não é uma doença contagiosa. Entretanto, existem exceções. Há alguns tipos específicos de pneumonia que podem ser transmitidos de uma pessoa para outra, como as de origem viral e algumas de origem bacteriana.
É importante destacar, porém, que a maioria das pessoas que entra em contato com algum paciente que esteja doente com uma forma contagiosa de pneumonia não contrairá a doença.
Neste artigo explicaremos como se “pega pneumonia” e quais são os tipos que são contagiosos.
Se você quiser saber mais sobre a pneumonia, incluindo os seus sintomas, diagnóstico e tratamento, acesse o seguinte link: Pneumonia – causas, sintomas e tratamento.
Como se pega pneumonia?
Pneumonia é o nome dado à infecção do tecido pulmonar, principalmente dos alvéolos, microscópicas bolsas de ar responsáveis pela passagem do oxigênio dos pulmões para o sangue.
Cada pulmão possui milhões de alvéolos, que são estruturas completamente estéreis, ou seja, livres da presença de qualquer microrganismo causador de doenças.
Para que alguém desenvolva pneumonia é preciso que um fungo, vírus ou bactéria chegue até os alvéolos. Em geral, isso é muito difícil, pois o trato respiratório possui um complexo sistema de defesa, que incluem desde cílios que “varrem” constantemente as vias respiratórias até milhões de anticorpos e células do sistema imunológico espalhadas por toda a sua superfície. O próprio espirro e o reflexo da tosse são mecanismos de defesa, ativados para expulsar qualquer estrutura das porções mais internas do sistema respiratório.
Os indivíduos que contraem pneumonia são geralmente expostos a dois fatores: um germe altamente virulento e uma falha no sistema de defesa das vias respiratórias.
A pneumonia pode ser transmitida pelo ar após o contato com secreções de pessoas contaminadas. Essa via de transmissão, porém, é uma das menos comuns e só ocorre com alguns germes específicos, conforme veremos mais adiante.
Na maioria dos casos, o germe que provoca a infecção pulmonar vem da cavidade nasal ou da orofaringe do próprio paciente. São as bactérias que habitualmente colonizam as vias aéreas superiores as responsáveis pela maioria dos casos de pneumonia. Enquanto o sistema imunológico do paciente encontra-se forte, essas bactérias são impedidas de migrarem para o pulmão. Porém, ao primeiro sinal de fraqueza, elas podem conseguir ultrapassar a barreira de defesa e se instalar no tecido pulmonar.
Existem mais de 100 germes, entre vírus, bactérias, parasitos e fungos, que podem provocar pneumonia. Contudo, a imensa maioria dos casos é provocada por apenas 4 ou 5 germes, que habitualmente colonizam nossas vias respiratórias superiores.
Pessoas idosas, crianças muito pequenas, fumantes, indivíduos desnutridos, portadores de doenças crônicas, portadores de doenças pulmonares ou pacientes imunossuprimidos são o grupo com maior risco de desenvolverem essa forma de infecção pulmonar, pois costumam apresentar um sistema imunológico mais fraco e/ou um pulmão cronicamente doente.
Viroses respiratórias, como aquelas causadas pelo vírus da gripe ou do resfriado, também aumentam o risco de pneumonia (leia: Diferenças entra gripe e resfriado).
Papel da gripe na transmissão
A gripe e outras viroses respiratórias aumentam o risco de pneumonia de duas formas: a primeira é através da inflamação das vias aéreas, que atrapalha o funcionamento das células de defesa e favorece a invasão do pulmão por bactérias da orofaringe. Uma das complicações mais comuns da gripe é exatamente a pneumonia bacteriana, que surge geralmente dias após o início dos sintomas da gripe.
Nesses casos, o que costuma ocorrer é um paciente que, passados alguns dias de virose, começa a apresentar sinais de melhora da gripe, mas, subitamente, volta a piorar, com subida febre, agravamento da tosse e queda do estado geral.
A segunda forma na qual a gripe aumenta o risco de pneumonia é por meio de uma infecção pulmonar pelo próprio vírus Influenza. Na maioria dos casos, o Influenza se restringe às vias áreas superiores, mas em determinados indivíduos, o próprio vírus da gripe pode ser a origem da pneumonia.
Portanto, a gripe é um fator de risco tanto para pneumonia bacteriana quanto viral.
Para saber mais sobre a gripe, acesse os seguintes artigos:
Tipos de pneumonia contagiosa e não contagiosa
Como já referido, existem pneumonias contagiosas e não contagiosas. As pneumonias provocadas por fungos ou parasitos não são transmitidas diretamente de uma pessoa para outra. Já as pneumonias virais são habitualmente contagiosas. As de origem bacteriana não são contagiosas na maioria dos casos, mas existem algumas exceções.
Pneumonia viral
As quatro formas de pneumonia viral mais comuns são provocadas pelos vírus Influenza, Parainfluenza, Adenovírus e Vírus sincicial respiratório. O primeiro é o agente infeccioso da gripe, já os três restantes são vírus que provocam resfriado.
Em pacientes susceptíveis, essas viroses podem ir além de uma virose respiratória simples, provocando uma pneumonia viral. Esta situação é muito comum em idosos, crianças pequenas e pessoas imunossuprimidas.
Consideramos as pneumonias virais como de origem contagiosa, mas, na verdade, quem é contagioso é a virose. Se você tiver contato com um paciente portador de pneumonia por Influenza, por exemplo, o seu grande risco é de ficar gripado. Agora, se você tiver um sistema imunológico fraco, pode também desenvolver pneumonia viral, mas isso será uma complicação da virose que você adquiriu.
Pneumonia bacteriana
A maioria dos casos de pneumonia bacteriana não é contagiosa. Os principais agentes bacterianos que provocam pneumonia são: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. Nenhuma dessas bactérias é habitualmente transmitida de uma pessoa para outra, são bactérias já presentes no nosso organismo.
Em algumas situações, porém, germes como o Streptococcus pneumoniae podem ser contagiosos. Apesar de não ser a forma mais comum de contaminação, crianças pequenas e pacientes imunossuprimidos podem adquirir pneumonia após o contato direto com pessoas infectadas.
É importante salientar que o Streptococcus pneumoniae é muito menos contagioso que qualquer um dos vírus respiratórias descritos anteriormente, sendo necessário contato próximo e prolongado para haver transmissão.
Tuberculose
A tuberculose é uma forma de infecção pulmonar altamente contagiosa, mas ela não é classificada como uma pneumonia (leia: Diferenças entre pneumonia e tuberculose).
Pneumonias atípicas
Existe também um grupo de bactérias que são responsáveis por um tipo de pneumonia conhecida como pneumonia atípica. Essa forma de pneumonia é chamada de atípica porque as manifestações clínicas são habitualmente diferentes.
O quadro clínico costuma ser mais brando e arrastado que o da pneumonia tradicional. Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae são duas bactérias desse grupo, que podem ser transmitidas diretamente de uma pessoa para outra através de secreções respiratórias, da mesma forma que viroses comuns são transmitidas.
Apesar do Mycoplasma pneumoniae ser uma bactéria bastante contagiosa, a maioria das pessoas que a adquire não desenvolve doença ou apresentam apenas sintomas respiratórios brandos. A infecção dos pulmões só costuma ocorrer em pacientes clinicamente mais vulneráveis e com fatores de risco.
Explicamos a pneumonia atípica com mais detalhes no artigo: Pneumonia atípica.
Isolamento do paciente
Grande parte dos pacientes internados com pneumonia não precisa ficar em isolamento respiratório, pois o risco de transmissão para a equipe médica ou para outros pacientes é muito baixo.
Medidas simples de higiene, como lavar as mãos e evitar o contato direto de um paciente com o outro são suficientes. Apenas nos casos provocados pela bactéria Mycoplasma pneumoniae é que se sugere que o paciente fique em quarto separado e a equipe médica deve vestir máscaras respiratórias.
Pacientes com pneumonia por gripe, principalmente quando a infecção ocorre durante quadros de epidemias de novas cepas, como ocorreu recentemente com a Influenza H1N1, também costumam ficar em isolamento. Máscaras devem ser utilizadas pela equipe de saúde e pelos familiares que vêm para visita.
No caso da tuberculose, a transmissão de uma pessoa para outra é bem mais comum, e o isolamento respiratório deve ser ainda mais rigoroso. O paciente precisa ficar isolado em um quarto especial, com pressão atmosférica negativa e renovação do ar. A equipe médica só pode entrar no quarto vestindo máscaras com filtros.
Referências
- Pneumonia in children: Epidemiology, pathogenesis, and etiology – UpToDate.
- Epidemiology, pathogenesis, and microbiology of community-acquired pneumonia in adults – UpToDate.
- Is pneumonia contagious? – National Health Service Website (NHS).
- Mycoplasma pneumoniae Infections – National Center for Immunization and Respiratory Diseases, Division of Bacterial Diseases.
- Pneumonia – The National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI).
- Goldman L, et al., eds. Overview of pneumonia. In: Goldman-Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia, Pa.: Saunders Elsevier; 2016.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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