Mesotelioma e asbestose: doenças causadas pelo amianto (asbesto)

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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O que é o amianto (asbesto)?

O asbesto (nome de origem grega) ou amianto (nome de origem latina) é uma fibra de origem natural, muito usada pela indústria devido a sua elevada resistência ao calor (até 1000ºC), aos químicos e à tração, grande flexibilidade, durabilidade, isolamento sonoro e pelo seu baixo custo.

O amianto é usado em várias áreas, como na mineração, construção civil, construção de navios, construção de ferroviária, indústria química, indústria automobilística, encanamentos, revestimentos à prova de fogo, isolamento acústico, fabricação de telhas de fibrocimento e mais de 2500 outros produtos.

Entre os profissionais com maior risco de exposição ao amianto encontram-se:

  • Encanadores.
  • Soldadores.
  • Zeladores.
  • Eletricistas.
  • Carpinteiros.
  • Trabalhadores da construção civil e naval.
  • Mineradores.
  • Pessoas que trabalham com materiais isolantes.

O amianto foi uma das principais matérias-primas durante o processo de industrialização mundial no final do século XIX e primeira metade do século XX, período em que as doenças associadas ao contato com o pó de asbesto e as fibras microscópicas começaram a ser identificadas. Deste então, o asbesto passou a ser conhecido como a poeira assassina.

Os materiais à base de amianto foram proibidos em toda União Europeia e Austrália, porém, apesar de todo conhecimento dos riscos à exposição do asbesto, interesses econômicos ainda mantêm a produção de asbesto elevada em alguns países, principalmente Rússia, China, Cazaquistão, Canadá e Brasil, os cinco maiores produtores do mundo.

No Brasil, o amianto foi banido apenas parcialmente. A crisotila (amianto branco) ainda é explorada em vários estados do país. Apenas Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul aboliram todas as formas de amianto.

A exploração do amianto do tipo crisotila sofre grande defesa no Senado e na câmara dos deputados pela chamada “bancada do amianto”. Este grupo alega que não existem dados científicos que comprovem que esta forma de amianto (crisotila) seja nociva à saúde e, portanto, sua proibição prejudicaria uma indústria que movimenta algo em torno de 2,5 bilhões de reais por ano.

Realmente o amianto crisotila é menos nocivo, porém, de modo algum é inofensivo. O grande problema é que as doenças causadas pelo asbesto atingem anualmente uma parcela muito pequena da população, enquanto os lucros que esta atividade gera são exorbitantes.

Asbestose

A asbestose é uma doença pulmonar causada pela aspiração de pó de asbesto. O mineral quando inalado e absorvido pelos pulmões desencadeia uma reação inflamatória que, em última análise, leva a fibrose do pulmão, substituindo o tecido pulmonar saudável e funcionante por cicatrizes.

Os sintomas da asbestose só costumam aparecer após 2 ou 3 décadas da sua exposição, o que faz com que em alguns países a sua incidência esteja aumentando, dado que os pacientes estão manifestando hoje sintomas de uma doença que se iniciou nas décadas de 1970 e 1980, período em que ainda não havia um grande controle sob a exploração do asbesto.

O desenvolvimento da asbestose depende do tempo de exposição, do tipo de asbesto exposto e da quantidade de pó inalada. Todos os tipos de amianto podem causar asbestose.

Sintomas da asbestose

Os primeiros sintomas da asbestose são a falta de ar e a intolerância aos esforços, causados pela fibrose pulmonar. Com a progressão da doença, surgem a tosse seca e dor torácica ao respirar. A falta de ar tende a piorar com o tempo, e em fases avançadas, está presente mesmo quando o paciente encontra-se em repouso.

O surgimento de baqueteamento digital (dedos em forma de baquetas) é um sinal de doença pulmonar e má oxigenação crônica (leia: Falta de ar | Causas e tratamento).

O aparecimento de placas nas pleuras e o derrame pleural são outras manifestações comuns da asbestose.

A destruição do tecido pulmonar pode levar a hipertensão pulmonar, que por sua vez, leva ao cor pulmonale, que é a insuficiência cardíaca causada por doenças do pulmão.

Tratamento da asbestose

Não existe tratamento para curar asbestose. A fibrose que ocorre nos pulmões é irreversível e o tratamento se limita a descontinuar a exposição ao amianto, evitar o tabagismo — que acelera a destruição dos pulmões — e administração de oxigênio naqueles com falta de ar importante.

Mesotelioma maligno

O mesotélio é um tipo de tecido que compõe as finas membranas que envolvem algum dos nossos órgãos como o pericárdio com o coração, a pleura no caso dos pulmões e o peritônio que envolve nossos órgãos intra-abdominais.

O mesotelioma é câncer que surge a partir destas células.

O mesotelioma pleural é a forma mais comum de mesotelioma maligno, seguido pelo mesotelioma peritonial, mesotelioma pericárdico e, por último, pelo mesotelioma testicular.

O mesotelioma é um tipo de câncer raro, cuja associação é praticamente exclusiva às pessoas expostas ao asbesto. Mais de 70% dos casos apresentam clara relação com o amianto. Boa parte destes 30% sem causa estabelecida, provavelmente também estão relacionados ao asbesto, porém, como o câncer costuma ocorrer décadas depois da exposição, nem sempre é possível estabelecer uma relação causal entre o amianto e o mesotelioma maligno.

Aproximadamente 8% dos trabalhadores que têm contato com o asbesto, irão desenvolver mesotelioma maligno.

Sintomas do mesotelioma maligno

Os sintomas do mesotelioma maligno dependem do mesotélio afetado. As duas formas mais comuns são o mesotelioma pleural e o mesotelioma peritonial. Seus sintomas mais comuns são:

Mesotelioma pleural: falta de ar, dor torácica pleurítica (que ocorre à respiração profunda), perda de peso, febre e suores noturnos são os principais sintomas. Na radiografia de tórax é comum encontrarmos derrame pleural no pulmão acometido.

Mesotelioma peritonial: Ascite, dor abdominal, náuseas, emagrecimento e, em casos avançados, sinais de obstrução intestinal.

Tratamento do mesotelioma maligno

Não há cura para o mesotelioma maligno e a sobrevida média desde o diagnóstico é de apenas 9 meses. Os tratamentos atuais visam o aumento da sobrevida e incluem a cirurgia para ressecção do tumor associado a quimioterapia e radioterapia.

Câncer de pulmão

Além do mesotelioma, um câncer típico e praticamente restrito aqueles com exposição ao asbesto, outros tipos de câncer também ocorrem com mais frequência devido ao amianto. O principal é o câncer de pulmão, cujo risco eleva-se até 60 vezes após exposição ao asbesto.

Outros cânceres provocados pelo amianto

Além do câncer de pulmão e do mesotelioma, a exposição ao amianto também pode causar câncer de laringe e ovário. As evidências atuais também sugerem que a exposição ao amianto pode causar câncer de faringe, estômago e colorretal.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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