Obesidade infantil: causas, riscos e como evitar

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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obesidade infantil

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

O que é obesidade?

A definição mais simples possível de obesidade é excesso de gordura no corpo. Porém, essa definição é um pouco subjetiva. Quanto exatamente é gordura demais?

Existem algumas ferramentas e exames que nos ajudam a estimar o percentual de gordura do corpo, tais como método das dobras cutâneas, ressonância magnética, densitometria e bioimpedância elétrica. Essas técnicas, porém, requerem treinamento e ferramentas específicas que não costumam estar facilmente disponíveis.

Na prática, a forma mais simples e difundida para avaliar a obesidade é através do índice de massa corporal (IMC), que é um índice que relaciona o peso à altura.

O IMC não é uma ferramenta perfeita, mas ela é de fácil utilização e tem uma acurácia bastante boa para a maioria da população.

O cálculo é simples: IMC = Peso (em quilos) ÷ altura² (em metros).

Exemplo: uma pessoa de 75 kg e 1,80 m:
Cálculo do IMC: 75 kg ÷ (1,80 m x 1,80 m) = 23,14 kg/m².

Após o cálculo do seu IMC, basta ver em que faixa você se encontra.

  • Baixo peso – IMC menor que 18,5 Kg/m².
  • Peso normal – IMC entre 18,5 e 24,9 Kg/m².
  • Sobrepeso – IMC entre 25 e 29,9 Kg/m².
  • Obesidade grau I – IMC entre 30 e 34,9 Kg/m².
  • Obesidade grau II – IMC entre 35 e 39,9 Kg/m².
  • Obesidade mórbida – IMC maior que 40 Kg/m².

O paciente do nosso exemplo encontra-se dentro da faixa de peso normal. Consideramos obesos apenas os adultos que apresentam IMC acima de 30 Kg/m².

Calculadora do IMC

Para facilitar seu trabalho, use nossa calculadora online para calcular seu IMC:


O que é obesidade infantil?

Como as crianças estão constantemente crescendo e ganhando peso, as normas para o IMC precisam variar consoante a idade e o sexo.

O processo deve ser efetuado da seguinte forma: primeiro você deve calcular o IMC através da fórmula tradicional (pode utilizar a calculadora acima). Depois, é preciso consultar uma tabela de idade e sexo que apresenta o percentil conforme o IMC calculado, como a que fornecemos mais abaixo.

Exemplos:

  • Um menino de 10 anos com IMC de 20 kg/m² está na faixa amarela, entre o percentil 85 e 90.
  • Uma menina de 6 anos com IMC de 19 kg/m² está na faixa vermelha, acima do percentil 95.
IMC para meninos
IMC para meninas

Os resultados devem ser interpretados da seguinte forma:

  • Baixo peso: abaixo do percentil 5.
  • Peso normal: entre o percentil 5 e 85.
  • Sobrepeso: entre o percentil 85 e 95.
  • Obesidade: acima do percentil 95.

Quando uma criança está acima do percentil 95 isso significa dizer que ela tem um IMC maior que 95% de todas as crianças. Ou seja, ela encontra-se nos 5% das crianças com maior peso para a mesma idade e altura.

Fornecemos mais explicações, assim como as tabelas infantis e calculadoras de IMC no artigo: Calcule o seu peso ideal e IMC.

Qual é o índice de obesidade infantil no Brasil e no mundo?

Nas últimas décadas, a prevalência da obesidade infantil aumentou de forma alarmante em todo o mundo.

Segundo estudo divulgado pela revista médica The Lancet, a prevalência de obesidade infantil nas meninas saltou de 0,7% em 1975 para 5,6% em 2016. Nos meninos, a alta foi ainda maior, saindo de 0,9% em 1975 para 7,8% em 2016. Como consequência, atualmente, cerca de 124 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos ao redor de todo o mundo apresentam critérios para obesidade.

No Brasil, a tendência é semelhante. De 1975 a 2016, o índice de obesidade infantil saltou de 0,93% para 12,7% entre os meninos e de 1,0% para 9,37% entre as meninas.

Portugal apresentava em 2017 uma taxa de obesidade infantil de cerca de 11,7% da população, mas, ao contrário de boa parte do mundo, a tendência tem sido de queda, pois a prevalência em 2008 era de 15,3%.

Nos EUA, 13.7% das crianças em idade pré-escolar, 18,7% em idade escolar e 20,6 dos adolescente estão obesos.

Crianças obesas serão adultos obesos?

Crianças obesas frequentemente tornam-se adolescentes e adultos obesos. Essa tendência é mais forte se os pais também tiverem obesidade ou sobrepeso.

Grandes estudos realizados nos últimos anos chegaram aos seguintes dados:

  • Crianças que são obesas durante o jardim de infância apresentam risco 4 vezes maior de chegarem à 8ª série ainda obesos.
  • Quase 50% das crianças obesas, acima do percentil 95, durante o jardim de infância chegam obesas à 8ª série.
  • Cerca de 70% das crianças com obesidade severa, acima do percentil 99, durante o jardim de infância chegam obesas à 8ª série.
  • Entre as crianças obesas aos seis anos de idade, e com um pai obeso, 50% permaneceram obesas quando adultas.
  • Entre as crianças obesas de 10 a 14 anos, e com um pai obeso, 80% permaneceram obesas quando adultas.
  • 2/3 dos adolescentes obesos tornam-se adultos obesos.

Causas

A causa fundamental do sobrepeso e da obesidade na infância é o desequilíbrio entre as calorias consumidas e as calorias gastas ao longo dos dias. Ou seja, as crianças estão comendo mais calorias e se exercitando menos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a epidemia mundial de obesidade infantil podem ser atribuídas a vários fatores, incluindo:

  • Mudança ao nível global na dieta das crianças, com aumento da ingestão de alimentos que são ricos em gordura e açúcares, mas pobres em vitaminas, minerais e outros micronutrientes saudáveis.
  • Tendência de diminuição dos níveis de atividade física devido à natureza cada vez mais sedentária das formas de recreação das crianças e das mudanças dos modos de transporte. Cada vez mais as crianças jogam vídeo-games, assistem televisão e se locomovem de carro.

Entre os fatores que mais estão relacionados à obesidade infantil podemos citar:

  • Sedentarismo (pouca atividade física e excesso de tempo em frente à TV, vídeo-games ou computador).
  • Consumo de refrigerantes ou outras bebidas açucaradas.
  • Dieta rica em calorias e pobre em vegetais.
  • História familiar (fatores genéticos e hábitos de vida da família colaboram para obesidade).
  • Pobreza (comidas de má qualidade são mais baratas).
  • Estresse psicológico.
  • Menor tempo de sono durante a noite.

Medicamentos

Alguns medicamentos podem causar ganho de peso em crianças e adolescentes Os mais comuns são:

  • Glicocorticoides.
  • Antidiabéticos da classe Sulfonilureia.
  • Antidiabéticos da classe Tiazolidinediona.
  • Antidepressivos tricíclicos (ADTs)
  • Inibidores da monoamina oxidase (IMAOs).
  • Insulina.
  • Risperidona.
  • Olanzapina.
  • Clozapina.

Doenças

Algumas doenças aumentam o risco da criança desenvolver obesidade. Porém, elas estão presentes apenas em um percentual pequenos dos pacientes.

As principais síndromes genéticas associadas à obesidade infantil são:

  • Síndrome de Prader-Willi.
  • Pseudo-Hipoparatireoidismo.
  • Síndrome de Laurence-Moon-Biedl (Bardet-Biedl).
  • Síndrome de Cohen.
  • Síndrome de Down.
  • Síndrome de Turner.

Os principais distúrbios hormonais associados à obesidade infantil são:

  • Deficiência de hormônio de crescimento.
  • Resistência ao hormônio de crescimento.
  • Hipotireoidismo.
  • Deficiência de leptina ou resistência à ação da leptina
  • Síndrome de Cushing.
  • Puberdade precoce.
  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP).
  • Tumores secretores de prolactina.

Complicações

As doenças associadas à obesidade na infância e adolescência incluem anormalidades nos sistemas endócrino, cardiovascular, gastrointestinal, pulmonar, ortopédico, neurológico, dermatológico e psicológico.

Certas doenças, como diabetes mellitus tipo 2 e a esteato-hepatite, que antes eram consideradas doenças do adulto, são agora vistas com frequência em crianças obesas.

A obesidade durante a adolescência também aumenta o risco de doenças e morte prematura durante a idade adulta, mesmo que o paciente consiga emagrecer. Como exemplo podemos citar o maior risco de câncer de mama nas mulheres que estiveram acima do peso durante a infância. Já os homens que tinham excesso de peso quando crianças apresentam um risco maior de morte por doença cardíaca isquêmica na vida adulta.

Abaixo listaremos as principais doenças e complicações que as crianças e os adolescentes obesos estão sujeitos:

Tratamento

O objetivo do tratamento é simples: diminuir o IMC do paciente. A forma como esse objetivo será alcançado é mais complexa.

Nos pacientes com sobrepeso ou obesidade leve, não é estritamente obrigatório haver perda de peso, pois se a criança mantiver o seu peso estável enquanto cresce, a longo prazo o seu IMC tenderá a ficar normal.

Nos pacientes com obesidade mais grave (percentil acima de 99) ou já com alguma das doenças listadas anteriormente, o objetivo costuma ser perder de 0,5 a 1 kg por mês.

Para atingir os objetivos descritos acima, mudanças de hábitos de vida são essenciais. A criança/adolescente precisa ter uma dieta mais equilibrada e deve praticar exercícios com regularidade.

Em geral, a inclusão de um nutricionista no processo costuma facilitar a perda de peso. Dietas muito restritivas e pular refeições devem ser desencorajados. A criança não precisa comer menos, ela precisa comer melhor, ou seja, ter uma alimentação saudável.

É importante que toda a família mude de hábitos alimentares e não só a criança. Todos devem comer melhor e todos devem praticar exercícios.

Dormir cedo também é importante. Estudos mostram que as crianças que vão para cama até às 20h costumam ter mais facilidade em controlar o peso do que aquelas que dormem somente depois das 21h.

Seja paciente, evite falar coisas negativas sobre o peso da criança e comemore com ela qualquer pequena conquista.

Lembre-se que os pais são sempre os modelos que as crianças seguem. Tente ser o melhor modelo possível para ela.

Medicamentos

Não se indicam medicamentos para as crianças, mas eles podem ser usados criteriosamente nos adolescentes.

Explicamos o tratamento farmacológico da obesidade no artigo: Remédios para emagrecer.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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