O que é a bronquiolite?
A bronquiolite é a inflamação dos bronquíolos, uma das regiões mais profundas das vias aéreas dos pulmões. A doença é habitualmente causada por uma infecção viral e acomete, principalmente, crianças com menos de dois anos.
O ar que inspiramos entra pela boca/nariz e segue o seguinte trajeto: faringe » laringe » traqueia » brônquio » bronquíolo » alvéolo (veja a ilustração mais abaixo para melhor entender).
Conforme avançamos ao longo da árvore respiratória, as estruturas vão se tornando cada vez mais ramificadas e finas. Os bronquíolos são a última porção da árvore respiratória antes dos alvéolos, que são as estruturas que entregam o oxigênio respirado para o sangue.
Os bronquíolos são estruturas quase microscópicas, com diâmetro menor que 1 mm. São através de canais tão pequenos que o ar precisa passar para chegar nos alvéolos.
Qualquer processo inflamatório que acometa os bronquíolos causa inchaço na parede dos mesmos, fechando a passagem de ar e aumentando a produção de muco dentro das vias aéreas.
A bronquiolite — inflamação dos bronquíolos — se traduz clinicamente por broncoespasmo (chiado no peito) e tosse com expectoração.
Nota: A bronquiolite obliterante e a bronquiolite obliterante com pneumonia organizada (BOOP) são doenças diferentes da bronquiolite e não serão abordadas neste texto.
Causas e fatores de risco
A bronquiolite é habitualmente causada por uma infecção viral, na maioria dos casos por um vírus chamado vírus sincicial respiratório (VSR). Outros vírus também podem ser os responsáveis, como Rinovírus, Influenza, Parainfluenza e Adenovírus. A transmissão é feita de forma semelhante a qualquer outra virose respiratória, como gripes e resfriados (leia: Diferenças entre gripe e resfriado).
A bronquiolite é uma infecção altamente contagiosa, que ataca preferencialmente crianças menores de 2 anos. Os bebês com menos de 6 meses são as principais vítimas.
O VSR é muito comum e existe no mundo inteiro. Praticamente todas as crianças terão tido contato com ele até os três anos de idade. Algumas desenvolvem quadros brandos, semelhantes a resfriados, enquanto outras, geralmente as mais novas, podem ter quadros graves, com necessidade de hospitalização.
Habitualmente, as crianças acima dos 2 anos que entram em contato com o VSR não desenvolvem a bronquiolite, apenas um quadro de resfriado simples. É possível se infectar com o vírus sincicial respiratório mais de uma vez, porém, em geral, as infecções subsequentes são mais brandas que a infecção inicial, principalmente nas crianças mais velhas.
Os principais fatores de risco para desenvolver bronquiolite são:
- Prematuridade.
- Baixo peso ao nascer.
- Idade inferior a 3 meses.
- Crianças com doença pulmonar, neurológica ou cardíaca prévia.
- Imunodeficiência.
- Fumo passivo.
- Frequentar creche.
- Ter irmãos mais velhos que frequentemente trazem infecções respiratórias para casa.
- Morar em casa amontoado com muitas pessoas.
- Ambientes frios (o vírus costuma circular com mais facilidade no inverno).
Sintomas
O período de incubação do VSR costuma ser de 2 a 5 dias. Os primeiros sintomas são inespecíficos, típicos de qualquer resfriado, com coriza, espirros, tosse e febre baixa. Na maioria das crianças, o vírus fica restrito às vias aéreas superiores e o quadro não evolui muito a partir daí. Nas crianças mais novinhas, porém, o vírus pode alcançar áreas mais profundas da árvore respiratória, atacando os brônquios e bronquíolos, levando à bronquiolite.
Na bronquiolite os sintomas surgem após 2 a 5 dias de resfriado, apresentando o seguinte quadro:
- Recusa alimentar.
- Cansaço para mamar.
- Letargia e sonolência.
- Broncoespasmo (chiado no peito).
- Tosse persistente, que pode durar por mais de 2 semanas.
Nos casos de bronquiolite grave, a criança pode apresentar:
- Dificuldade respiratória, caracterizada por frequências respiratórias elevadas, geralmente acima de 60 incursões por minuto e uso da musculatura abdominal e intercostal durante a respiração.
- Cianose (ponta dos dedos e lábios arroxeados).
- Rebaixamento do nível de consciência.
Em crianças menores de 2 meses, um dos sintomas da bronquiolite pode ser pausas respiratórias (apneia) de até 20 segundos.
Na maioria dos casos, a bronquiolite é uma doença autolimitada, com resolução espontânea após alguns dias. O pico dos sintomas costuma ocorrer entre 5 a 7 dias. A recuperação completa geralmente se dá em 1 ou 2 semanas, mas pode demorar até 4 semanas em alguns casos.
Os casos mais graves são aqueles nos quais o bebê apresenta dificuldade respiratória, principalmente quando há sinais de esforço para respirar. Em geral, apenas 3% dos casos precisam de hospitalização.
Diagnóstico
O diagnóstico da bronquiolite é clínico, baseado nos sintomas e no exame físico. Na maioria dos casos, não há necessidade de exames laboratoriais ou radiológicos.
Tratamento
Por segurança, todo bebê menor que 6 meses com quadro de infecção respiratória deve ser avaliado pelo pediatra.
Assim como na gripe, não há um tratamento específico para a bronquiolite. Nos casos mais leves, o tratamento pode ser feito em casa, com repouso, antipiréticos e soro nasal. Nebulização com soro também pode ajudar. Se houver algum grau de broncospasmo, a nebulização com broncodilatadores está indicada.
Não se deve usar anti-histamínicos, descongestionantes ou antibióticos para tratar bronquiolite.
Os bebês que ainda mamam costumam ficar mais cansados, não conseguindo mamar com a mesma eficiência. Nestes casos, ofereça o peito com mais frequência para que o mesmo mantenha-se sempre bem hidratado e alimentado.
Nunca fume perto de uma criança, principalmente durante um quadro de infecção respiratória.
Referências
- Bronchiolitis in infants and children: Treatment, outcome, and prevention – UpToDate.
- Bronchiolitis in infants and children: Clinical features and diagnosis – UpToDate.
- Bronchiolitis: Recommendations for diagnosis, monitoring and management of children one to 24 months of age – Canadian Paediatric Society.
- Clinical Practice Guideline: The Diagnosis, Management, and Prevention of Bronchiolitis – Pediatrics.
- Australasian bronchiolitis guideline – Journal of Paediatrics and Child Health
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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