8 vírus que causam câncer em humanos

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Vírus e câncer

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Relação entre câncer e infecções virais

Não sabemos exatamente todas as causas do câncer, mas alguns fatores ambientais e biológicos já estão bem reconhecidos. Os mais importantes são:

Fatores ambientais: exposição a substâncias químicas nocivas ao DNA, tais como cigarro, formaldeído e amianto, desempenham um papel importante no desenvolvimento de vários tipos de câncer, principalmente do trato respiratório.

Fatores genéticos: alguns cânceres apresentam nítida predileção familiar, sendo muito comum haver mais de um caso na família. Os principais exemplos são: câncer de mama, cólon, endométrio e ovário.

Doenças infecciosas: infecções microbianas podem causar cânceres, tais como linfoma, carcinomas e leucemia.

Dentre as doenças infecciosas, os vírus são os que apresentam maior importância, sendo responsáveis por até 20% de todos os cânceres.

O papel das infecções virais no desenvolvimento de determinados tipos de câncer foi descoberto em 1911 pelo virologista francês Peyton Rous.

O Dr. Rous mostrou que era possível induzir o surgimento de câncer em galinhas saudáveis que eram infectadas por um tipo específico vírus, que acabou sendo nomeado Vírus do sarcoma de Rous, em sua homenagem. Essa descoberta rendeu-lhe o Prêmio Nobel de Medicina em 1966.

Desde então, pelo menos 8 vírus já foram identificados como causadores de câncer. É sobre eles que falaremos neste artigo.

Papilomavírus Humano (HPV)

O Papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, é um vírus que possui mais de 150 subtipos, sendo alguns deles responsáveis pelo surgimento de cânceres.

Mais de 90% dos cânceres do colo do útero são causados pelo vírus HPV, que costuma ser adquirido pela via sexual.

Cerca de 12 subtipos do HPV podem causar câncer do colo uterino, porém, em mais de 70% dos casos, os subtipos responsáveis são o HPV-16 e HPV-18.

Além do câncer do colo do útero, o HPV pode também provocar câncer nos seguintes órgãos:

  • Pênis.
  • Ânus.
  • Vagina.
  • Vulva.
  • Orofaringe.
  • Boca.

Felizmente, já existe vacina contra o HPV, e espera-se que em poucas décadas esses tipos de cânceres tornem-se pouco comuns.

Explicamos a relação do HPV com o câncer com mais detalhes no artigo: HPV e câncer do colo do útero.

Vírus da hepatite B (HBV)

O vírus da hepatite B (HBV), como o próprio nome já diz, é o vírus responsável pela hepatite B, uma infecção do fígado.

A hepatite B é uma pandemia que acomete entre 250 a 300 milhões de pessoas em todo mundo e provoca a morte de mais de 600 mil todos os anos.

As principais formas de transmissão do HBV são o sexo desprotegido, compartilhamento de agulhas infectadas e a contaminação de bebês durante a gravidez através da placenta.

Cerca de 5% dos pacientes que se contaminam com o HBV desenvolvem a hepatite B crônica, que é uma forma permanente de infecção do fígado pelo vírus.

A hepatite B crônica é um dos principais fatores de risco para o hepatocarcinoma, câncer das células do fígado.

Felizmente, já existe vacina contra hepatite B e ela faz parte do calendário vacinal na infância. Adultos que nunca foram vacinados, podem procurar um posto saúde para receber a vacina.

Explicamos a hepatite B em detalhes no artigo: Hepatite B – Causas, sintomas, transmissão e vacina.

Vírus da hepatite C (HCV)

O vírus da hepatite C (HCV) é outro vírus que também provoca hepatite, sendo também responsável por cerca de 1/3 dos casos de hepatocarcinoma.

O risco de câncer do fígado por hepatite C é ainda mais alto que na hepatite B, pois mais de 80% dos pacientes infectados evoluem para forma crônica da doença, e quase metade destes desenvolvem cirrose após algumas décadas.

Cerca de 3% dos pacientes com cirrose por HCV acabam desenvolvendo o hepatocarcinoma.

Apesar de ainda não existir uma vacina contra a hepatite C, já existe tratamento eficaz e a taxa de cura atual é maior que 90%.

Para saber mais sobre a hepatite C, leia: Hepatite C – Sintomas, transmissão e tratamento.

Epstein-Barr virus (EBV)

O EBV é um vírus da família do herpes. Ele é o agente responsável pela mononucleose infecciosa, também conhecida como “doença do beijo”.

Além de beijo, o Epstein-Barr pode ser transmitido de pessoa para pessoa através da tosse, espirro ou compartilhamento de copos e talheres.

A imensa maioria das pessoas tem contato com o vírus ainda nos primeiros anos de vida e desenvolvem um quadro bem brando, que é indistinguível de um resfriado simples.

Essas crianças contaminadas curam-se espontaneamente e adquirem imunidade para o resto da vida. Menos de 10% das crianças que se contaminam com o Epstein-Barr desenvolvem sintomas relevantes, como febre ou dor de garganta.

Tal como acontece com outras infecções pelo vírus do herpes, a infecção pelo EBV não é completamente eliminada do organismo, embora os pacientes permaneçam assintomáticos. O vírus Epstein-Barr infecta e permanece “escondido” nos linfócitos B, um dos tipos de glóbulos brancos.

O vírus é capaz de provocar alterações no código genético dos linfócitos B, aumentando o risco do surgimento de cânceres ligados a essas células. Os principais são:

  • Linfoma de Burkitt.
  • Linfomas Hodgkin e não-Hodgkin.
  • Linfoma das células T.
  • Carcinoma nasofaringeal.
  • Algumas formas de câncer de estômago.

Esses cânceres relacionados ao EBV são mais comuns na África e no sudeste da Ásia. No geral, poucas pessoas infectadas com o EBV irão desenvolver câncer. A maioria delas possui algum tipo de imunossupressão que facilita o surgimento das neoplasias.

Para saber mais sobre o vírus Epstein-Barr e a mononucleose, leia: Mononucleose (doença do beijo) – Causas, sintomas e tratamento.

Herpesvírus humano 8 (HHV-8)

O Herpesvírus humano 8 (HHV-8) é mais um vírus da família do herpes que está associado ao surgimento de tumores. É possível identificar o vírus em quase todos os tumores do sarcoma de Kaposi.

O sarcoma de Kaposi é um câncer raro, de crescimento lento, que frequentemente se apresenta como tumores roxo-avermelhados na pele, como na foto acima.

Apenas 0,03% das pessoas saudáveis contaminadas pelo HHV-8 desenvolvem o sarcoma de Kaposi. Essa baixíssima taxa se deve ao fato do nosso sistema imune ser capaz de controlar o vírus. Esse tipo de tumor sempre foi muito raro.

Porém, desde o surgimento da AIDS na década de 1980 e do desenvolvimento de tratamentos que envolvem fármacos imunossupressores, como nos casos de transplantes de órgãos, o número de pessoas vivendo com o seu sistema imune comprometido tem aumentado progressivamente, trazendo consigo uma gama de novas doenças que antes eram raras, entre elas, o sarcoma de Kaposi.

Não se sabe bem como é feita a transmissão do HHV-8 de uma pessoa para outra, porém, parece que o sexo e a transmissão através da saliva são as principais vias.

Temos um texto específico sobre o sarcoma de Kaposi, que pode ser acessado através do link: Sarcoma de Kaposi – Câncer do HIV.

Vírus linfotrópico da célula T humana tipo 1 (HTLV-1)

O HTLV-1 é um vírus que provoca leucemia das células T em cerca de 2 a 5% dos adultos. Essa forma de leucemia só costuma surgir após mais de 20 anos de contaminação.

O HTLV-1 pode ser transmitido através da amamentação, compartilhamento de agulhas ou seringas, transplantes de órgãos ou sexo desprotegido. Não há risco de transmissão através do contato casual.

Na maioria das pessoas infectadas, o vírus não provoca sintoma algum.

O HTLV-1 é mais prevalente no Japão, no Caribe e no Oriente Médio, com uma estimativa de até 10 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo.

HIV – Vírus da imunodeficiência humana

O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é o vírus responsável pela síndrome da imunodeficiência adquirida, mais conhecida pela sigla AIDS.

O HIV infecta e destrói os linfócitos, células de defesa do nosso sangue, enfraquecendo, assim, o sistema imunológico do paciente.

O HIV não provoca câncer diretamente, mas o enfraquecimento do sistema imunológico aumenta o risco de infecção pelos vírus descritos acima e do aparecimento de diversos tipos de câncer, tais como:

  • Câncer do colo do útero.
  • Câncer ocular.
  • Linfoma.
  • Câncer anal.
  • Sarcoma de Kaposi.
  • Câncer de pele não melanoma.
  • Câncer de pênis.
  • Câncer vaginal e vulvar.

Para mais informações sobre o HIV, leia: Principais sintomas do HIV e da AIDS, Formas de Transmissão do vírus HIV – Como se pega AIDS? e Exame de HIV – Janela imunológica, teste rápido e ELISA.

Poliomavírus de células de Merkel (MCV)

O MCV foi descoberto em 2008 em amostras de um tipo raro e agressivo de câncer de pele chamado carcinoma de células de Merkel.

A maioria das pessoas encontra-se infectada com esse vírus, mas ele raramente provoca sintomas.

Ainda não está claro como as pessoas são infectadas, mas o vírus já foi encontrado em vários locais do corpo, incluindo pele e saliva.

Pessoas idosas, imunossuprimidas e com elevada exposição solar à pele são as que apresentam maior risco de desenvolverem esse câncer.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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