Câncer de testículo: causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Câncer do testículo

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

Introdução

O câncer de testículo é um tipo de câncer exclusivo do sexo masculino, que habitualmente surge nos adultos jovens, com menos de 45 anos.

Felizmente, câncer testicular é uma das formas de câncer com melhor taxa de sobrevida a longo prazo e com grande possibilidade de cura, mesmo quando o paciente já apresenta metástases.

Neste artigo, vamos explicar o que é o câncer de testículo, quais são os seus fatores risco, sintomas e opções de tratamento.

Tipos de câncer testicular

O câncer de testículo é pouco comum, representando apenas 1% de todos os casos de câncer no sexo masculino. Porém, como ele surge em uma época da vida dos homens na qual ter um câncer é um evento bem raro, ele acaba sendo a principal causa de tumor maligno na faixa etária entre os 20 e 35 anos.

95% dos cânceres de testículo têm origem nas células germinativas, que são as células imaturas dos testículos que dão origem aos espermatozoides.

Existem dois tipos de tumores das células germinativas:

  • Seminomas.
  • Não-seminomas.

Aproximadamente metade dos casos de câncer testicular são provocados por seminomas e a outra metade por tumores não-seminomas. Essa distinção é feita através da avaliação histológica do tecido testicular, conforme veremos mais à frente na discussão do diagnóstico.

Saber o tipo de tumor de testículo é importante porque cada um deles tem um grau de agressividade diferente e podem interferir na modalidade de tratamento.

Seminomas

Os seminomas são menos agressivos e tendem a crescer e a se espalhar mais lentamente que os não-seminomas. A imensa maioria dos casos ocorre entre os 25 e os 45 anos de idade.

80% dos pacientes com seminoma são diagnosticados ainda no estadio I, 15% no estadio II e apenas 5% no estadio III (ver estadiamento mais à frente).

Existe um subtipo mais raro de seminoma, chamado seminoma espermatocítico, que costuma ser ainda mais indolente que o seminoma clássico e acomete homens mais velhos, ao redor dos 65 anos.

Alguns seminomas podem provocar aumento dos níveis sanguíneos da proteína gonadotrofina coriônica humana (HCG), a mesma que é dosada para fazer o diagnóstico de gravidez nas mulheres.

Não-seminomas

Os tumores não-seminoma geralmente surgem nos homens entre os 15 e os 30 anos.

Os 4 principais tipos histológicos de tumores não-seminoma são:

  • Carcinoma embrionário.
  • Carcinoma do saco de vitelino ou orquidoblastoma.
  • Coriocarcinoma.
  • Teratoma

A maioria dos tumores não-seminoma é composto por uma mistura desses diferentes tipos, às vezes até com um componente de seminoma também. A classificação do tumor é dada de acordo com o tipo histológico predominante.

As formas puras de tumor não-seminoma são mais raras e costumam ser mais agressivas.

Carcinoma embrionário – até 40% dos tumores não-seminoma apresentam algum componente de carcinoma embrionário. Apenas 3 a 4% dos tumores são carcinoma embrionário puro.

Tumores com predomínio de carcinoma embrionário tendem a crescer rapidamente e têm grande chance de gerar metástases.

Uma característica deste tipo histológico é a elevação dos níveis sanguíneos das proteínas alfa-fetoproteína (AFP) e gonadotrofina coriônica humana (HCG).

Carcinoma do saco de vitelino (orquidoblastoma) – É o tipo de tumor não-seminoma mais comum nas crianças.

Este subtipo costuma ser mais agressivo nos adultos que nas crianças, mas tem uma elevada taxa de resposta à quimioterapia, mesmo nos casos em que já há metástases.

Na grande maioria dos pacientes, há elevação dos níveis sanguíneos da alfa-fetoproteína.

Coriocarcinoma – É a forma mais rara, porém também a mais agressiva.

Quanto maior for a predominância do componente coriocarcinoma no tumor, pior costuma ser o prognóstico. Mas mesmo sem predominância, a simples presença deste tipo histológico já costuma tornar o tumor mais agressivo.

Na grande maioria dos casos, há elevação dos níveis sanguíneos de gonadotrofina coriônica humana.

Teratoma – São raros como tumores puros, mas frequentemente estão presentes nos tumores mistos.

Os tumores com predomínio de teratomas são ainda divididos em dois grupos: teratoma maduro, que costuma ser mais indolente, e teratoma imaturo, que é mais comum e costuma ser mais agressivo.

Os teratomas não costumam provocar elevação dos níveis sanguíneos da alfa-fetoproteína nem da gonadotrofina coriônica humana.

Tumores do estroma gonadal

Os 5% restantes dos tumores de testículo, que não têm origem nas células germinativas, são tumores dos tecidos de suporte, conhecidos como tumores do estroma gonadal.

Esse tipo de câncer testicular é bem incomum e costuma ter um comportamento benigno, com lenta evolução e baixo risco de metástases.

Esse tipo de tumor é dividido em dois tipos: tumores de células de Sertoli e tumores de células de Leydig. Ambos são mais comuns nas crianças que nos adultos.

Fatores de risco

Existem diversos fatores de risco conhecidos para o câncer testicular, o mais relevante deles é a criptorquidia.

Habitualmente, os testículos desenvolvem-se dentro do abdômen do feto e descem para a bolsa escrotal antes do nascimento. Em cerca de 3% dos meninos, um ou ambos os testículos não descem, ficando alojados dentro do abdômen ou presos no meio do caminho, na altura da virilha.

Essa condição é chamada de criptorquidia e é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de testículo.

É importante destacar que a maioria dos pacientes que desenvolvem tumores no testículo não apresentam história de criptorquidia.

Outros fatores conhecidos para o câncer testicular são:

  • História familiar de câncer de testículo.
  • Ser de raça branca.
  • Já ter tido câncer em um testículo (maior risco de ter no outro).
  • Ser HIV positivo.
  • Ter entre 15 e 35 anos.

Não há evidências de que vasectomia, andar a cavalo, ciclismo ou traumas na bolsa escrotal sejam fatores de risco para o surgimento de tumores testiculares.

Sintomas

Na maioria dos pacientes, o primeiro sintoma do câncer testicular é o aparecimento de um nódulo em um dos testículos. É possível que o paciente tenha câncer nos dois testículos, mas é muito mais comum que a doença acometa apenas um.

Outro sinal comum é o aumento de tamanho de um dos testículos. Mas atenção: é normal que um testículo seja ligeiramente maior do que o outro e que um deles possa estar mais baixo do que o outro dentro da bolsa escrotal.

Na maioria dos casos, o tumor de testículo é indolor, mas alguns pacientes podem referir uma leve dor, um incômodo ou uma sensação de peso na bolsa escrotal ou na parte baixa do abdômen.

Os pacientes que desenvolvem tumores produtores de gonadotrofina coriônica humana (HCG) podem apresentar ginecomastia (crescimento da mama). Impotência e perda da libido são outros sintomas possíveis neste tipo de tumor.

Em cerca de 10% dos pacientes com câncer de testículo, os primeiros sinais e sintomas perceptíveis são os das suas metástases. Alguns exemplos:

  • Uma massa do pescoço (metástase dos linfonodos).
  • Tosse ou falta de ar (metástase pulmonar).
  • Dor lombar (metástases para o retroperitônio).
  • Dor óssea (metástase esquelética).
  • Inchaço nos membros inferiores (obstrução ou trombose venosa).

Autoexame dos testículos

Assim como as mulheres são estimuladas a fazer o autoexame das mamas, os homens também devem ter o costume de periodicamente examinar a sua bolsa escrotal. A hora do banho costuma ser o melhor momento.

Cada testículo deve ser gentilmente palpado à procura de pequenos e novos nódulos. É importante estar ciente de que cada testículo tem na sua porção superior um tubo pequeno e enrolado chamado epidídimo, que à palpação pode se parecer com um nódulo. Os testículos normais também contêm vasos sanguíneos e pequenos tubos que transportam esperma e se parecem com um cordão ao serem palpados.

Se o paciente estiver habituado a palpar seus testículos com frequência, ele saberá identificar essas estruturas anatômicas normais e terá mais facilidade de reconhecer quando algo de errado surgir.

Diagnóstico

Nos casos de suspeita de tumor no testículo, o exame mais utilizado para o diagnóstico é a ultrassonografia, que é capaz de detectar nódulos tão pequenos quanto 1 a 2 mm de diâmetro.

As dosagens sanguíneas de alfa-fetoproteína (AFP) e da gonadotrofina coriônica humana (HCG) também são frequentemente solicitadas.

Com o ultrassom e as análises de sangue, o urologista consegue ter uma boa ideia sobre o risco de o paciente ter um tumor.

Estadiamento

Se a suspeita for elevada, o mais comum é levar o paciente para a cirurgia, visando a remoção do testículo.

A cirurgia chama-se orquiectomia radical e consiste na remoção do testículo e do cordão espermático, que contém parte do canal deferente, assim como vasos sanguíneos e linfáticos que poderiam atuar como caminhos para o câncer se espalhar pelo corpo.

Todo o material removido é enviado ao laboratório, onde um patologista examina para confirmar a presença de células cancerígenas e o seu tipo histológico.

Uma vez confirmada a existência de um câncer de testículo, o próximo passo é o estadiamento do tumor, que consiste na avaliação da extensão do câncer. Para tal, o exame mais utilizado é a tomografia computadorizada de pelve, abdômen e tórax.

O estadiamento completo do câncer de testículo é complexo, mas pode ser resumido da seguinte forma:

  • Estadio I – O câncer está limitado ao testículo.
  • Estadio II – O câncer se espalhou para os linfonodos.
  • Estadio III – O câncer tem metástases e se espalhou para outras partes do corpo.

Tratamento

O tratamento do câncer de testículo depende do estadiamento e do tipo histológico do tumor.

Estadio I

Na maioria dos casos, quando o tumor é detectado no estadio I, a própria cirurgia de remoção do testículo costuma ser suficiente, principalmente nos casos de seminoma.

Os pacientes com estadio I de tumores não-seminoma que apresentem predomínio histológico de carcinoma embrionário ou que não apresentem redução dos níveis de alfa-fetoproteína ou da gonadotrofina coriônica humana após a retirada do tumor são candidatos à quimioterapia.

Estadio II

Tumores de testículo no estadio II ou III são habitualmente tratados com radioterapia ou quimioterapia. Em alguns casos, a ressecção cirúrgica dos linfonodos retroperitoneais também costuma ser realizada para reduzir o risco de mestastização da doença.

Estadio III

O tratamento dos tumores avançados é feito com quimioterapia.

Prognóstico

Após 5 anos, as taxas de sobrevidas do câncer testicular são as seguintes:

  • 99,2% para pacientes com câncer testicular estadio I.
  • 96,1% para pacientes com câncer testicular estadio II.
  • 73,2% para pacientes com câncer testicular estadio III.

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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