Pterígio e pinguécula (“carne no olho”): o que é, sintomas e cirurgia

O pterígio é uma lesão benigna do olho. Geralmente causada pela exposição ao sol e poeira, pode causar irritação, vermelhidão e, em casos graves, afetar a visão.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dr. Renato Oliveira

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pterigio

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O que é pterígio?

Damos o nome de pterígio a uma fina membrana fibrovascular do tecido da conjuntiva, em formato triangular, que surge na parte branca do olho, geralmente na região lateral mais próxima do nariz, e pode se estender até a córnea (mais abaixo explicaremos as estruturas anatômicas dos olhos com ilustrações e fotos).

Pterígio é um termo de origem grega, da palavra pterygion, que significa “asa”. A aparência triangular da lesão costuma lembrar as asas de insetos, motivo pelo qual a doença recebeu esse nome.

Embora benigno no sentido de que a lesão nada tem a ver com câncer, o pterígio pode ter efeitos adversos importantes na visão, principalmente se a proliferação se aproximar ou atingir a córnea.

O que é pinguécula?

Pinguécula é o nome dado a uma pequena elevação amarelada, às vezes com alguns vasos sanguíneos, localizada habitualmente na mesma região do pterígio. A pinguécula é um depósito de cálcio, gordura e proteínas na conjuntiva, que se expande, mas não costuma atingir a região da córnea. Ao contrário do pterígio, que costuma ficar restrito à porção nasal dos olhos, a pinguécula pode surgir na porção nasal, temporal ou ambos os lados.

Explicação com imagens

Se você acha que os termos estão confusos, observe a ilustração e as fotos abaixo.

A parte branca dos olhos é a esclera. Por cima dela há uma fina camada de tecido chamada conjuntiva. A parte colorida dos olhos chama-se iris. Por cima da íris fica a córnea, uma estrutura de formato elíptico que, junto com o cristalino, têm a função de focar a luz através da pupila para a retina.

Anatomia do olho
Anatomia do olho

Como já dissemos, tanto o pterígio como a pinguécula surgem na região da esclera. Repare na imagem abaixo como as lesões costumam ser diferentes. À esquerda, a pinguécula é uma lesão que pode nascer na porção temporal do olho (mais próximo da têmpora), é amarelada, mais elevada e não invade a região da córnea. À direita, vemos o pterígio, uma lesão mais plana, vascularizada, que nasce quase sempre na porção nasal do olho (mais próximo do nariz) e frequentemente invade a região da córnea, podendo afetar a visão.

Diferenças entre pterígio e pinguécula
Diferença entre pterígio e pinguécula

Causas

A causa exata do pterígio e da pinguécula ainda não é conhecida. Uma das hipóteses mais prováveis é que a exposição excessiva à luz ultravioleta (raios UV) possa levar a esses crescimentos. Ambas as lesões ocorrem com mais frequência em pessoas que vivem em climas tropicais e passam muito tempo ao ar livre em ambientes ensolarados ou ventosos. Homens com mais de 30 anos são os mais afetados.

Pessoas cujos olhos são expostos a certos elementos regularmente também apresentam maior risco de desenvolver essas condições. Esses elementos incluem:

  • Pólen.
  • Poeira.
  • Areia.
  • Fumaça.
  • Vento.

Sintomas

Pterígio

Os sintomas mais comuns provocados ​​pelo pterígio são: vermelhidão, irritação e sensação de corpo estranho no olho afetado. Lacrimejamento, fotofobia e dificuldade para usar lentes de contato também podem ocorrer. Alguns pacientes não relatam sintomas, mas conseguem notar uma alteração na aparência da esclera do olho ao se olharem no espelho.

Embora comuns, a vermelhidão e a irritação associadas ao pterígio são geralmente leves. A maioria dos pacientes não procura atendimento médico inicialmente, à espera de melhora espontânea da lesão. A avaliação por um oftalmologista só costuma ser feita quando os sintomas ficam mais intensos ou quando a lesão se torna esteticamente relevante.

O comprometimento visual não é comum, só ocorre se houver atingimento da córnea e costuma ser leve inicialmente. Um pterígio que se estende por mais de alguns milímetros na córnea pode prejudicar a visão porque provoca deformação corneana e consequente astigmatismo. O astigmatismo é um erro de refração no qual a superfície corneana deformada faz com que os raios de luz que entram nos olhos ao longo de planos diferentes sejam focalizados de maneira desigual (explicamos o astigmatismo com mais detalhes no artigo: Astigmatismo: causas, sintomas e tratamento).

Um pterígio que invade a córnea e cobre pelo menos 1/4 do diâmetro da pupila pode provocar grave astigmatismo e visão turva. Um pterígio que se estende mais centralmente pode afetar diretamente o eixo visual, com a opacidade resultante bloqueando a visão de forma relevante.

Pterígio grande, com atingimento importante da pupila
Pterígio grande com atingimento importante da pupila

A evolução do pterígio é bem lenta, ao longo de meses ou anos. No começo, a lesão é pequena e transparente, passando frequentemente despercebida. Com o tempo, o pterígio pode evoluir, tornando-se mais espesso e com vasos sanguíneos mais visíveis, criando claro contraste em relação ao branco da esclera. Em alguns pacientes, a lesão avança por meses pela esclera e só é identificada quando atinge a córnea, fazendo contraste com a cor da íris.

O pterígio pode ficar ativo ou inativo. Quando ativo, ele pode crescer por um período de vários meses a anos. A atividade é marcada clinicamente por vermelhidão e espessamento localizado, que provavelmente representam inflamação ativa. Quando inativo, o pterígio pode permanecer transparente e estático por décadas, sem aumento mensurável no tamanho ou significado clínico. Não está claro como o pterígio se transforma de ativo em inativo ou se pode ser reativado.

Pinguécula

A pinguécula apresenta sintomas muito semelhantes aos do pterígio, como irritação, vermelhidão, sensação de corpo estranho e incômodo ao usar lentes de contato. No entanto, a pinguécula não cresce através da córnea e, portanto, não é capaz de afetar a visão.

É importante destacar, porém, que alguns casos de pinguécula podem evoluir e se transformar em pterígio, podendo assim, provocar deformidades da córnea e alterações visuais.

Diagnóstico

O diagnóstico do pterígio deve ser feito através de uma consulta com oftalmologista. O diagnóstico é fácil quando a lesão apresenta a aparência clássica triangular e vascularizada. No entanto, o pterígio nem sempre se manifesta em sua forma clássica, e outras condições podem ter uma aparência semelhante, incluindo lesões malignas.

Tratamento

Pacientes com pterígio pequeno devem ser tratados sintomaticamente para vermelhidão e irritação com lágrimas artificiais ou outros lubrificantes oculares.

O manejo de pacientes com lesões maiores que prejudicam a acuidade visual geralmente envolve a excisão cirúrgica do pterígio. A decisão de realizar a cirurgia deve levar em conta a taxa de crescimento documentada e o grau de astigmatismo induzido.

Exceto em situações mais graves, a cirurgia deve ser evitada apenas por razões estéticas, já que o pterígio pode reaparecer após a cirurgia e pode ter sintomas mais intensos que na primeira vez.

As indicações para correção cirúrgica do pterígio costumam ser:

  • Astigmatismo induzido que causa deficiência visual.
  • Opacidade atingindo a região da pupila.
  • Crescimento contínuo documentado que ameaça afetar a visão por meio de astigmatismo ou opacidade da córnea.
  • Restrição do movimento dos olhos.
  • Impacto cosmético significativo.
  • Irritação ocular que não responde ao tratamento com colírios.

A cirurgia do pterígio deve ser feita em centro cirúrgico, com anestesia local, e dura em média 15 a 30 minutos. O paciente pode ir para casa no mesmo dia com curativo no olho. Nos primeiros dias, o olho fica bem avermelhado e irritado, mas com o uso dos colírios, ele vai voltando ao normal após algumas semanas.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

O Dr. Renato Oliveira é medico oftalmologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização em Córnea e Doenças Externas Oculares pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Faz parte do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa

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