Descolamento de retina: sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dr. Renato Oliveira

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Descolamento de retina

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O que é a retina?

A retina é uma membrana sensível à luz localizada na parte posterior do olho. Ela é composta por multicamadas de neurônios primorosamente organizados de forma a converter fótons (unidades de energia de luz) em impulsos neurais que viajam para o cérebro.

Quando a luz passa pelo olho, o cristalino focaliza a imagem na retina, como se ela fosse uma tela de projeção. A retina converte essa imagem em sinais que são enviados ao cérebro por meio do nervo óptico. A retina funciona com a córnea, o cristalino e outras partes do olho e do cérebro para produzir uma visão normal.

A retina é, portanto, a estrutura ocular responsável pela captação da luz e formação das imagens. Em cada retina há cerca de 120 milhões de células fotorreceptoras, chamadas cones e bastonetes. Esses fotorreceptores retinais são algumas das células mais metabolicamente ativas do corpo.

Cristalino focando a luz na retina
Cristalino focando a luz na retina

Os fotorreceptores chamados bastonetes detectam o movimento, fornecem visão em preto e branco e funcionam bem com pouca luz. Já os cones são responsáveis pela visão central, pela visão de cores e têm melhor desempenho em luz média e forte.

A parte neurosensorial da retina fica colada ao epitélio pigmentar da retina, que por sua vez fica acima da coroide (ver ilustração abaixo). A circulação da coroide tem a maior taxa de fluxo sanguíneo por centímetro cúbico de tecido no corpo humano e fornece um suprimento crítico de oxigênio para os fotorreceptores retinais.

Anatomia da retina
Anatomia da retina

O que é o descolamento da retina?

O descolamento da retina ocorre quando as camadas da retina neurossensorial se separam do epitélio pigmentar da retina e da coroide. A separação da retina da circulação coroidal resulta em isquemia, com degeneração rápida e progressiva dos fotorreceptores.

A gravidade da degeneração de fotorreceptores e a perda de visão podem ser minimizados quando o diagnóstico e o tratamento são feitos rapidamente.

Sem tratamento, a maioria dos descolamentos de retina periféricos progride para envolver a retina central e levar à perda de visão permanente.

Descolamento de retina
Descolamento de retina

Tipos

Existem três tipos de descolamento de retina:

  • Regmatogênico.
  • Tracional.
  • Exsudativo.

Descolamento de retina regmatogênico

Os descolamentos regmatogênicos são causados por um orifício ou rasgo na retina que permite que o fluido de dentro do olho, chamado vítreo, passe pela abertura e se acumule sob a retina.

O vazamento do vítreo separa a retina do epitélio pigmentar, fazendo com que ela se descole. Este é o tipo mais comum de descolamento de retina.

As áreas onde a retina se descola perdem o suprimento de sangue, deixam de receber oxigênio, entram em isquemia e param de funcionar, causando a perda de visão.

Essa forma de descolamento de retina é a mais comum em pessoas míopes ou com trauma ocular.

Descolamento retiniano tracional

Esse tipo de descolamento pode ocorrer quando um tecido cicatricial cresce na superfície da retina, contraindo o tecido, fazendo com que a retina se afaste da parte de trás do olho.

Este é a forma menos comum de descolamento. Geralmente afeta pessoas com diabetes mellitus. O diabetes mal controlado causa doença no sistema vascular da retina, provocando dano ao tecido normal e formação de cicatrizes.

Descolamento exsudativo

Nesse tipo de descolamento, um fluido purulento se acumula sob a retina, mas não há orifícios ou rasgos.

O descolamento exsudativo pode ser causado por degeneração macular relacionada à idade, lesões oculares, tumores, doenças inflamatórias ou infecciosas.

Causas e fatores de risco

O descolamento de vítreo posterior é uma das condições mais comuns que levam ao surgimento de rasgos ou buracos na retina.

Descolamento de vítreo
Descolamento de vítreo

O vítreo é uma estrutura semelhante a um gel transparente que fica no interior do olho, colado à retina. Com o passar dos anos, o vítreo vai lentamente se tornando menos gelatinoso e mais líquido, sofrendo retração no seu volume.

O vítreo pode se decolar da retina, causando tracionamento da mesma. A retina ao ser tracionada pode sofrer um rasgo, criando as condições para o descolamento de retina regmatogênico.

O descolamento do vítreo é muito mais comum que o descolamento da retina e nem todos os pacientes com o primeiro evoluem para o segundo. Quando o descolamento do vítreo ocorre sem provocar lesão à retina, o paciente não apresenta maiores problemas visuais e não precisa de nenhum tratamento.

O descolamento de vítreo posterior é raro antes dos 40 anos, mas a sua prevalência aumenta progressivamente após os 50 anos.

Outros fatores que aumentam o risco de descolamento de retina são:

  • Episódio anterior de descolamento de retina em um dos olhos.
  • História familiar de descolamento de retina.
  • Miopia elevada (geralmente acima de 3 graus).
  • História de cirurgia ocular, como para tratamento de catarata, glaucoma ou miopia.
  • História de lesão ocular grave, por trauma ou doenças dos olhos.

Sintomas

Quando ocorre descolamento do vítreo, o paciente pode notar pequenos pontos pretos flutuantes no campo de visão chamados moscas volantes. Fotopsia, que são flashes de luz, também podem ocorrer.

A presença de moscas volantes e fotopsia, principalmente quando surge de forma súbita, deve ser encarado como um sinal de alerta e um oftalmologista deve ser procurado para que ele possa fazer um mapeamento da retina e um ultrassom ocular para avaliar se houve dano à retina no momento do descolamento do vítreo.

Se houver sinais de rasgo na retina, a lesão deve ser tratada antes que evolua para um descolamento da retina.

Quando o paciente já apresenta descolamento de retina, ele começa a notar uma diminuição do campo de visão, como uma sombra ou cortina escura, no centro ou na periferia do campo visual.

A velocidade de progressão do descolamento de retina pode variar de poucos dias, no caso de rasgos grandes na retina, a semanas ou meses, nos casos de descolamentos não regmatogênicos.

O descolamento de retina não causa dor nem vermelhidão nos olhos.

Tratamento

Quando a laceração ou orifício na retina ainda não progrediu para descolamento, são duas as opções mais utilizadas para prevenir o descolamento de retina e preservar a visão:

  • Cirurgia a laser (fotocoagulação): essa forma de tratamento é atualmente a mais utilizada. O oftalmologista direciona um feixe de laser para o olho através da pupila. O laser faz queimaduras ao redor da lesão da retina, criando cicatrizes que geralmente “unem” a retina ao tecido subjacente.
  • Congelamento (criopexia): é uma forma de tratamento antiga e já em desuso. Após aplicar um anestésico local para anestesiar o olho, o cirurgião usa uma sonda de congelamento diretamente sobre a laceração. O congelamento causa uma cicatriz que ajuda a fixar a retina.

Ambos os procedimentos são realizados em regime ambulatorial. Após o tratamento, você será aconselhado a evitar atividades que possam perturbar os olhos, como correr, por algumas semanas.

Se a retina já tiver se descolado, o paciente precisará de uma cirurgia para repará-la, de preferência o mais breve possível.

O tipo de cirurgia que seu oftalmologista recomendará dependerá de vários fatores, incluindo a gravidade do descolamento.

A cirurgia mais utilizada atualmente é a vitrectomia via pars plana. Na vitrectomia, o oftalmologista remove o vítreo junto com qualquer tecido que esteja puxando a retina. Gás ou óleo de silicone são então injetados no espaço vítreo para ajudar a achatar a retina. Com o tempo, o gás será absorvido e o espaço vítreo se encherá de fluido corporal. Se o óleo de silicone foi usado, ele pode ser removido cirurgicamente meses depois.

Outras opções de tratamento disponíveis, mas que atualmente são menos utilizadas, são:

  • Retinopexia pneumática: neste procedimento, o médico injeta uma bolha de gás na parte central do olho (na cavidade vítrea). A bolha empurra a área da retina que contém o orifício contra a parede do olho, interrompendo o fluxo de vítreo para o espaço atrás da retina. O médico também usa criopexia durante o procedimento para reparar a ruptura da retina. A bolha e o líquido vazado são naturalmente reabsorvidos pelo organismo com o tempo.
  • Introflexão escleral: neste procedimento, o oftalmologista costura um pedaço de material de silicone na parte branca do seu olho (esclera) sobre a área afetada. Esse silicone provoca pressão no olho, reduzindo a tração na retina, permitindo que ela se reconecte à parede interna do olho.

Prevenção

Todo paciente com miopia acima de 3 graus deve fazer um mapeamento da retina anual para avaliar a presença de rasgos assintomáticos na retina.

O mapeamento da retina também está indicado para pacientes com trauma ocular, que vão realizar cirurgias oftalmológicas ou que apresentam moscas volantes e/ou fotopsia.

Ler no carro, no ônibus ou em qualquer outro veículo em movimento não é um fator de risco para descolamento de retina. Apesar dessa crença ser muito popular, isso não passa de mito.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

O Dr. Renato Oliveira é medico oftalmologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização em Córnea e Doenças Externas Oculares pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Faz parte do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa

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