Conjuntivite alérgica: causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dr. Renato Oliveira

10 Comentários

Conjuntivite alérgica

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

O que é conjuntivite?

Conjuntivite é o nome que damos à inflamação da conjuntiva, que é a fina membrana que recobre a parte frontal dos nossos olhos.

A conjuntivite pode ter várias causas, sendo as infecções virais ou bacterianas, a irritação por corpo estranho, a irritação por produtos químicos e a alergia as principais.

Neste artigo falaremos exclusivamente da conjuntivite de origem alérgica, abordando suas causas, sintomas e formas de tratamento.

Se você procura informações mais amplas sobre a conjuntivite, acesso o seguinte artigo: Conjuntivite – Sintomas, Causas, Transmissão e Tratamento.

O que é a conjuntiva?

A conjuntiva é uma fina membrana transparente que recobre a esclera (parte branca dos nossos olhos) e região interna das pálpebras.

A conjuntiva é altamente vascularizada; aqueles pequenos vasos sanguíneos que conseguimos ver na parte branca dos olhos e na parte de dentro das pálpebras não estão no globo ocular, mas sim na conjuntiva.

Em condições normais, a esclera apresenta coloração branca e a região interna das pálpebras é rosada. Em ambas é possível identificar a presença de alguns microvasos sanguíneos. Quando a conjuntiva inflama-se, a situação muda bastante, os minúsculos vasos da conjuntiva tornam-se mais proeminentes, deixando tanto a esclera quanto as pálpebras bem avermelhadas, o que provoca o característico aspecto de olhos vermelhos da conjuntivite.

Foto de conjuntivite
Conjuntivite

Tipos

A conjuntivite alérgica é causada por alérgenos aéreos (substâncias presentes no ar que são capazes de causar alergia) que ao entrar em contato com os nossos olhos desencadeiam uma cascata de reações imunológicas que levam aos sintomas da alergia.

A alergia ocular pode surgir de forma isolada, mas está frequentemente associada a outras doenças alérgicas, particularmente à rinite alérgica, asma e dermatite atópica.

Esta forma de conjuntivite ocorre predominantemente em adultos jovens, com uma idade média de início de 20 anos. Os sintomas tendem a diminuir com o passar dos anos, mas não é incomum que adultos mais velhos continuem a ter sintomas relevantes.

A conjuntivite alérgica pode ser dividida de três formas:

Conjuntivite alérgica aguda

É uma conjuntivite alérgica que surge de forma súbita após a pessoa entrar em contato com algum alérgeno conhecido, tal como pelo de gato. Esse tipo de conjuntivite só acontece pontualmente e o quadro se resolve dentro de 24 horas após o paciente deixar de ter contato com o alérgeno.

Conjuntivite alérgica sazonal

É uma forma de alergia ocular que costuma provocar sintomas mais suaves, porém persistentes, e que surgem todos os anos numa mesma época, geralmente durante a primavera, período em que há mais pólen no ar. Em algumas regiões, há tipos de pólen que surgem em outras estações do ano, motivo pelo qual a conjuntivite alérgica sazonal não é obrigatoriamente um quadro que surge somente na primavera.

Conjuntivite alérgica perene

É uma conjuntivite alérgica leve, crônica, que está presente de forma persistente e ao longo de todo ano. Essa forma de conjuntivite costuma estar relacionada a alérgenos ambientais comuns, tais como ácaros, poeira, pelo de animal (se o paciente for dono de um) ou mofo.

Estima-se que, anualmente, 20% da população tenha pelo menos um dos 3 tipos descritos acima de alergia ocular.

Existem ainda outras formas de conjuntivite alérgica, que são mais graves e mais raras, como:

  • Ceratoconjuntivite atópica: é uma forma de conjuntivite que surge em cerca de 20 a 40% dos pacientes com dermatite atópica.
  • Conjuntivite primaveril ou ceratoconjuntivite vernal: é uma conjuntivite mais grave, que geralmente afeta crianças do sexo masculino que vivem em climas quentes, secos e subtropicais.
  • Conjuntivite papilar gigante: é uma forma de conjuntivite relacionada à intolerância a lentes de contato.

Essas formas mais raras de conjuntivite não serão abordadas neste artigo.

Sintomas

A coceira nos olhos é o sintoma mais proeminente da alergia ocular, de tal forma que, se a coceira não fizer parte das queixas do paciente, devemos pensar em outras doenças que não a conjuntivite alérgica. O ato de coçar os olhos deve ser evitado, pois ele pode agravar os sintomas.

Vermelhidão nos olhos (hiperemia ocular) é também um sinal quase universal. Na alergia ocular, a vermelhidão é difusa por toda a área coberta pela conjuntiva. Se a hiperemia estiver apenas ao redor da íris (parte colorida dos olhos), outros diagnósticos devem ser levados em conta.

Inchaço na pálpebra associado à vermelhidão é bastante comum, assim como lacrimejamento e algum grau de fotofobia (intolerância à luz) também costumam estar presentes. Em casos extremos, a conjuntiva edemaciada pode ultrapassar os limites da pálpebra, tornando-se visível de forma espontânea.

Apesar do olho poder ficar bem avermelhado, não costuma haver dor ocular na conjuntivite alérgica. No máximo, uma leve sensação de queimação. Se o paciente refere relevante dor nos olhos, o médico deve pensar em distúrbios mais graves, como glaucoma ou episclerite.

Os sintomas da conjuntivite alérgica são geralmente bilaterais; entretanto, um olho pode ser afetado mais do que o outro. Os pacientes podem relatar a presença de crostas (remelas secas) ao despertar, mas a secreção das conjuntivites alérgicas é caracteristicamente aquosa, ao contrário da conjuntivite bacteriana, que provoca uma secreção purulenta.

Conjuntivite alérgica bilateral
Conjuntivite alérgica bilateral

Diagnóstico

Além da identificação dos sinais e sintomas descritos acima, a história clínica do paciente costuma ajudar muito no diagnóstico. Pacientes com conjuntivite alérgica têm frequentemente história de atopia, alergia sazonal ou alergias específicas (por exemplo, a pelo de gatos, pólen ou ácaros).

Na grande maioria dos casos, não é necessário nenhum exame complementar para o médico conseguir estabelecer o diagnóstico da conjuntivite alérgica. Bastam a história clínica e os sintomas.

Tratamento

Medidas iniciais

Existem várias medidas gerais úteis para a maioria dos pacientes com conjuntivite alérgica; são elas:

  • Os pacientes não devem esfregar os olhos porque a fricção pode causar agravamento dos sintomas.
  • Compressas frias podem ajudar a reduzir o edema das pálpebras.
  • Lágrimas artificiais refrigeradas aplicadas ao longo do dia ajudam a diluir e remover alérgenos presentes nos olhos.
  • Não usar lentes de contato, dada a propensão dos alérgenos a aderir às superfícies das lentes.
  • Evitar ou reduzir ao máximo o contacto com alérgenos conhecidos.

Para os pacientes com conjuntivite alérgica perene, a prevenção inclui medidas específicas para evitar alérgenos específicos. Por exemplo, para os alérgicos aos ácaros da poeira, as medidas úteis incluem a substituição frequente de roupas de cama, travesseiros e cobertores, redução da umidade na casa, aspiração frequente dos cômodos, remoção de tapetes, cortinas e até móveis antigos.

Tratamento com colírios

Existem no mercado dezenas formas de colírios para desenvolvidos para o tratamento da conjuntivite alérgica, citaremos apenas algumas das opções:

Colírios que contêm anti-histamínicos e vasoconstritores: são colírios que devem ser usados apenas a curto prazo, geralmente por menos de 2 semanas, pois podem piorar o quadro a longo prazo. Esse tipo de colírio realmente melhora a coceira, a vermelhidão e o edema palpebral, porém, os sintomas costumam voltar quando medicamento é interrompido, não sendo, portanto, uma boa opção para quadros de conjuntivite mais prolongados. Este tipo de colírio é mais indicado para o tratamento de quadros agudos e de curta duração.

Exemplos de colírios que se enquadram nessa classe são: cloridrato de nafazolina (Lerin®) e o maleato de feniramina (Claril®).

Colírios que contêm anti-histamínicos com estabilizadores de mastócitos: são uma nova geração de colírios para a conjuntivite alérgica, sendo mais eficazes que os seus antecessores e úteis no tratamento das formas agudas, sazonais ou perenes.

Apesar do início de ação desses fármacos ocorrer dentro de poucos minutos após a sua aplicação, o seu efeito máximo só é alcançado dentro de 2 semanas de uso contínuo.

Os colírios com anti-histamínicos e estabilizadores de mastócitos também podem ser usados preventivamente, caso o paciente consiga saber com antecedência que irá entrar brevemente em contato com algum alérgeno. Nestes casos, o colírio pode começar a ser administrado no dia anterior ao início da exposição ao alérgeno.

Nos pacientes com conjuntivite alérgica sazonal, o colírio pode ser iniciado até 2 a 4 semanas antes do início da temporada de alergia.

Exemplos de colírios que se enquadram nessa classe são: cloridrato de olopatadina (Patanol S®), cloridrato de epinastina (Relestat®), alcaftadina (Lastacaft®), cloridrato de azelastina (Rino Lastin®), fumarato de cetotifeno (Zaditen®) e difumarato de emedastina (Emadine®).

Colírios que contêm corticoides: esses colírios são muito eficazes no controle dos sintomas, porém, o seu uso deve ser limitado a apenas 2 semanas, pois o risco de efeitos colateiras graves, como desenvolvimento de catarata, glaucoma ou infecção ocular é muito alto.

Em geral, os colírios com corticoides são indicados apenas para uso de curta duração nos pacientes com sintomas relevantes que não responderam adequadamente aos colírios com anti-histamínicos e estabilizadores de mastócitos.

Exemplos de colírios que se enquadram nessa classe são: loteprednol (Loteprol® ou Alrex®), prednisolona (Pred Fort®, Pred mild® ou Ster®), fluormetolona (florate®).

Tratamento com comprimidos

Os anti-histamínicos em comprimidos são uma boa opção para os pacientes que apresentam outros sintomas alérgicos além da conjuntivite. No entanto, quando a alergia acomete exclusivamente os olhos, os colírios devem ser a forma preferida de tratamento, já que eles são mais eficazes, têm início de ação mais rápida e são menos propensos a causar efeitos colaterais sistêmicos.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

O Dr. Renato Oliveira é medico oftalmologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização em Córnea e Doenças Externas Oculares pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Faz parte do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa

Saiba mais

Artigos semelhantes

Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas

Leave a Comment