Ceratocone: o que é, causas, sintomas e tratamento

Ceratocone é uma doença ocular caracterizada por afinamento da córnea, que perde a sua forma original arredondada e passa a ter um formato de cone.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dr. Renato Oliveira

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Ceratocone

Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é ceratocone?

Ceratocone (do grego kerato: córnea; konus: em forma de cone) é uma doença ocular caracterizada por afinamento da córnea, que perde a sua forma original arredondada e passa a ter um formato de cone.

A córnea fina e em forma de cone provoca visão embaçada e perda da acuidade visual, geralmente por astigmatismo ou miopia.

O ceratocone surge, por norma, na puberdade ou no início da vida adulta e parece ser mais comum em asiáticos, latinos e afrodescendentes.

A doença afeta normalmente os dois olhos, mas ela costuma ser mais avançada em um deles.

O que é a córnea?

A córnea é uma estrutura transparente e em formato arrendondado que fica localizada na parte anterior do olho, à frente da iris, pupila e cristalino.

Além de permitir a entrada de luz para dentro do olho, a córnea é responsável também por até 75% da nossa capacidade de focar objetos. O restante do poder de foco é fornecido pelo cristalino, uma lente natural que fica localizada diretamente atrás da pupila.

Anatomia do olho
Estruturas do olho

A córnea não possui vasos sanguíneos, suas células recebem oxigênio e nutrientes por difusão através das lágrimas.

Apesar de não possuir vascularização, a córnea tem terminações nervosas que são sensíveis à dor, temperatura, substâncias químicas e ao toque. Basta um leve toque na córnea para que o reflexo involuntário de piscar seja ativado.

Córnea normal x córnea com ceratocone
Córnea normal x córnea com ceratocone

Causas

O ceratocone é uma doença não inflamatória da córnea de causa ainda desconhecida.

Fatores ambientais e genéticos estão envolvidos, mas apenas 1 em cada 10 pacientes com ceratocone apresentam algum familiar próximo com o mesmo problema.

Algumas doenças parecem aumentar o risco do paciente desenvolver ceratocone, incluindo síndrome de Down, síndrome de Ehlers-Danlos, retinite pigmentosa e osteogênese imperfeita.

Outro fator de risco importante é o ato de coçar ou esfregar os olhos com frequência. Esfregar os olhos de forma vigorosa e frequente pode causar trauma na córnea e pode levar ao seu afinamento.

No entanto, ainda não está totalmente claro se a fricção leva ao ceratocone ou se o paciente com ceratocone em fases iniciais tem mais coceira nos olhos. Se a fricção ocular não estiver diretamente envolvida no desenvolvimento do ceratocone, ela ao menos contribui para o agravamento da condição.

Aproximadamente um terço dos indivíduos com ceratocone tem algum distúrbio alérgico, embora não esteja claro como eles estejam relacionados ao desenvolvimento do ceratocone. A hipótese é óbvia é de que as alergias causam coceira ocular e fazem com que o paciente coce os olhos com frequência.

Sintomas

No estágio inicial, os sintomas do ceratocone podem incluir:

  • Visão levemente embaçada.
  • Visão ligeiramente distorcida, na qual linhas retas parecem dobradas ou onduladas.
  • Aumento da sensibilidade à luz.
  • Vermelhidão nos olhos.

Já nos estágios mais avançados, os sintomas geralmente são:

  • Visão bem embaçada e distorcida.
  • Miopia ou astigmatismo que agravam rapidamente.
  • Olhos em forma de cone.
  • Incapacidade de usar lentes de contato, pois elas não se encaixam corretamente e são desconfortáveis.

Os primeiros sintomas da doença costumam surgir na puberdade ou no início da idade adulta e progridem até a quarta década de vida.

Embora o ceratocone seja uma doença bilateral, os pacientes podem apresentar sintomas assimétricos, pois um olho pode ser muito mais gravemente afetado que o outro.

Sinal de Munson - Ceratocone
Sinal de Munson

O Sinal de Munson é típico do ceratocone avançado. Esse sinal consiste no recuo em forma de V da pálpebra inferior provocado pelo olho em forma de cone quando o paciente olha para baixo.

Fotos de ceratocone

Ceratocone grau 4
Foto de olho com ceratocone
Ceratocone: córnea em forma de cone
Ceratocone ocular

Diagnóstico

Um oftalmologista pode desconfiar do diagnóstico de ceratocone no exame de refração, principalmente se ele tiver dificuldade de encontrar uma lente que corrija totalmente a miopia ou astigmatismo. O exame na lâmpada de fenda também pode mostrar sinais iniciais do ceratocone.

Para a confirmação do diagnóstico dois exames complementares são fundamentais: topografia de córnea e paquimetria.

A topografia mede curvatura da córnea e é capaz de identificar a formação do cone. A paquimetria, por sua vez, mede a espessura da córnea, que costuma ser mais fina nos pacientes com ceratocone.

Tratamento

O tratamento para o ceratocone depende da gravidade e da rapidez com que a doença está progredindo.

Ceratocone leve a moderado pode ser tratado com óculos ou lentes de contato. Para muitas pessoas, a córnea se torna estável após alguns anos. Se esse for o seu caso, provavelmente você não terá problemas visuais graves ou precisará de tratamento adicional.

Os óculos habitualmente não corrigem a visão em 100%, mas podem ser uma solução aceitável nos casos leves.

As lentes de contato para o ceratocone são especiais e devem ser rígidas para regularizar a superfície da córnea. Uma grande parte dos pacientes pode ser tratada de forma conservadora com lentes de contato por um longo período. Porém, nos casos mais graves, com córneas muito em cone, o paciente costuma não tolerar o uso das lentes.

Crosslinking de córnea

O Crosslinking de córnea é um tratamento relativamente novo, cujo objetivo é estabilizar o quadro e evitar que a doença continue progredindo.

O crosslinking é feito com gotas oculares de riboflavina e irradiação de um feixe de luz ultravioleta (UV-A). Esse tratamento aumenta a quantidade de ligações entre as fibras de colágeno que formam a córnea, tornado-a mais rígida, mais forte e mais resistente às deformações provocadas pelo ceratocone.

O Crosslinking de córnea é feito sob anestesia local. Após pingar o colírio anestésico, a porção mais superficial da córnea é removida. O segundo passo é pingar as gotas de riboflavina, uma substância fotossensível. Após 30 minutos, o oftalmologista aplica o feixe de luz ultravioleta diretamente sobre córnea por outros 30 minutos.

Ao final do procedimento, é colocada uma lente de contato gelatinosa que funciona como um curativo. Não há necessidade de fazer curativo ou ocluir o olho.

O paciente deve usar colírios antibióticos e anti-inflamatórios por um período de 15 a 30 dias.

O objetivo do crosslinking não é curar a doença, mas sim impedir sua progressão. Pacientes com quadros avançados ou córneas muito finas já não bons candidatos a esse procedimento.

Anel de Ferrara (anel corneano)

Essa cirurgia é feita sob anestesia local e consiste na colocação de uma estrutura rígida (um arco) de acrílico dentro da córnea, de forma a esticá-la, alterando a sua curvatura e reduzindo o ceratocone.

A correção da curvatura da córnea melhora a visão. Metade dos pacientes têm uma melhora tão grande a ponto de nem precisarem mais de óculos ou lente depois da cirurgia.

Transplante de córnea

O transplante de córnea é o tratamento de escolha nos casos mais avançados.

O transplante de córnea tem uma taxa de sucesso acima de 90% e, ao contrário do que ocorre nos outros tipos de transplante de órgãos, o paciente não precisa tomar continuamente medicamentos imunossupressores.

A rejeição da córnea transplantada ocorre em cerca de 20 a 30% dos pacientes após 12 meses, mas a maioria dos casos responde bem ao uso de corticoides.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

O Dr. Renato Oliveira é medico oftalmologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização em Córnea e Doenças Externas Oculares pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Faz parte do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa

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