Amaurose fugaz (cegueira súbita e transitória)

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dr. Renato Oliveira

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Amaurose fugaz

Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é amaurose fugaz?

Amaurose fugaz é o termo médico utilizado para descrever o quadro de perda súbita e transitória de visão em um ou ambos os olhos.

A amaurose fugaz também pode ser chamada de perda visual monocular transitória, quando acomete apenas um dos olhos, ou perda visual binocular transitória, quando a perda abrupta e temporária da visão ocorre em ambos os olhos.

A perda visual transitória, tanto monocular quanto binocular, pode ser provocada por um grupo heterogêneo de distúrbios, alguns relativamente benignos, como a enxaqueca, mas outros com potenciais implicações neurológicas ou oftalmológicas, como obstruções da artéria carótida.

Causas

Nos adultos, a maior parte dos casos tem origem vascular, sendo resultado de uma oclusão ou estenose da artéria carótida interna. Embolia da carótida para a artéria central da retina também é uma causa comum.

Se você não está familiarizado com os termos embolia, trombose e tromboembolismo, sugerimos também a leitura dos artigos:

Os casos de perda de visual monocular costumam ter origem em eventos tromboembólicos da artéria carótida, enquanto a perda visual binocular geralmente ocorre por um distúrbio da artéria vertebral ou basilar.

Seja por oclusão, estenose ou embolia, a perda temporária de visão surge devido à falta de fluxo sanguíneo na retina ou no nervo óptico. A retina é a camada de tecido sensível à luz que fica localizada na parte posterior do globo ocular. Já o nervo óptico é o nervo que leva ao cérebro as informações captadas pelos cones e bastonetes presentes na retina quando estes são estimulados pela luz.

Sem aporte adequado de sangue, a retina e o nervo óptico sofrem isquemia e o paciente apresenta perda parcial ou completa da visão.

Retina - anatomia simplificada do olho
Retina – anatomia simplificada do olho

Em muitos pacientes, o episódio de amaurose fugaz é um prenúncio de um acidente vascular cerebral (AVC) iminente.

Portanto, a amaurose fugaz não deve ser encarada como uma doença em si, mas sim como um sinal clínico de alguma condição, geralmente de origem vascular com repercussão oftalmológica ou neurológica.

Além das causas vasculares já descritas, a amaurose fugaz também pode ocorrer por causa de outras condições, tais como:

Nas crianças, enxaqueca, epilepsia e traumatismo craniano são as principais causas de perda visual transitória.

Fatores de risco

Amaurose fugaz geralmente ocorre em pacientes com mais de 50 anos que apresentam fatores de risco para doenças vasculares, incluindo hipertensão, hipercolesterolemia, tabagismo, episódios anteriores de ataque isquêmico transitório (AIT) e doença vascular dos membros inferiores.

Em resumo, os principais fatores de risco para amaurose fugaz incluem:

Sintomas

Os pacientes com amaurose fugaz se queixam de perda repentina da visão que pode durar de 1 a 30 minutos, dependendo da causa.

Eventos tromboembólicos com origem na artéria carótida costumam provocar perda de visão que dura de 1 a 10 minutos, enquanto a perda visual pela enxaqueca pode durar até meia hora. Ao final do episódio, a visão retorna ao normal espontaneamente.

A perda de visão pode envolver todo o campo visual ou pode ser parcial. Os pacientes costumam descrever a amaurose fugaz como uma “cortina descendo” na frente de seus olhos ou como um escurecimento ou sombra generalizada. Os pacientes podem ter um ou vários episódios ao longo da vida.

Diagnóstico

A isquemia é a causa mais comum de perda visual transitória. Como muitas das causas de isquemia da retina e do nervo óptico também podem causar infarto da retina, infarto do nervo óptico ou AVC, é imperativo avaliar os pacientes com urgência para que as medidas preventivas apropriadas sejam instituídas antes que o paciente sofra uma lesão irreversível.

Os principais exames e testes feitos para avaliação de um quadro de amaurose fugaz são:

  • Exame oftalmológico, como o fundo de olho para avaliação da retina e do nervo óptico.
  • Ultrassonografia com doppler das artérias carótidas para investigação de estenose.
  • Avaliação cardiológica, com eletrocardiograma e ecocardiograma, para avaliar o coração como fonte de êmbolos.
  • Exames de sangue, como dosagem do VHS e da PCR para avaliar possíveis doenças inflamatórias sistêmicas, como vasculites ou doenças autoimunes.
  • Ressonância magnética cerebral para avaliar outras causas de perda visual.
  • Avaliação com neurologista, caso haja suspeita de enxaqueca.

Tratamento

O episódio de amaurose fugaz tem resolução espontânea. Por isso, quando o paciente chega ao médico, ele já apresenta a visão normal.

O tratamento, portanto, visa prevenir novos episódios e complicações maiores, como AVC, especialmente se o quadro tiver sido causado por um coágulo sanguíneo ou uma placa em uma artéria importante, como a carótida.

As seguintes medidas podem ajudar a prevenir um acidente vascular cerebral:

  • Dieta saudável com baixo teor de gordura.
  • Evite consumir bebidas alcoólicas com frequência.
  • Pratique exercícios regularmente: 30 minutos por dia se você não estiver acima do peso; 60 a 90 minutos por dia se você estiver acima do peso.
  • Parar de fumar.
  • Controlar a pressão arterial.
  • Controlar o colesterol.
  • Controlar os níveis de açúcar no sangue.
  • Medicamentos para “afinar o sangue” podem ser prescritos pelo seu médico, como clopidogrel, aspirina ou varfarina.

Se uma grande parte da artéria carótida estiver bloqueada, a cirurgia de endarterectomia carotídea pode ser realizada para remover esse bloqueio.

Se a cegueira transitória não for de origem vascular, a causa precisa ser identificada e o tratamento será direcionado para a doença em questão.

Prognóstico

O risco de AVC em pacientes com amaurose fugaz é estimado em 3% ao ano para aqueles que apresentam sinais de êmbolos retinais ao exame oftalmológico.

Já os pacientes com placas significativas na artéria carótida, geralmente com mais de 70% de obstrução da artéria, apresentam elevado risco de desenvolver um acidente vascular cerebral dentro de 12 meses.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

O Dr. Renato Oliveira é medico oftalmologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização em Córnea e Doenças Externas Oculares pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Faz parte do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa

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