Vitamina A: para que serve, alimentos e carência

Dra. Renata Campos

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Vitamina A

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O que são as vitaminas?

Chamamos de vitaminas as substâncias orgânicas que não são produzidas pelo nosso organismo, mas que são essenciais ao funcionamento do mesmo, de forma que é preciso adquiri-las regularmente através de fontes externas.

As vitaminas são divididas em dois grupos: hidrossolúveis e lipossolúveis.

As lipossolúveis são armazenadas no tecido adiposo (gorduras) para que o organismo possa usá-las em caso de escassez. Praticamente não há excreção pela urina dessas vitaminas, tudo que é ingerido e não aproveitado no momento, é estocado nas reservas de gordura do corpo. São vitaminas lipossolúveis as A,D,E e K.

As vitaminas hidrossolúveis, como o próprio nome indica, diluem-se na água e são facilmente excretadas na urina. Praticamente não há armazenamento destas no organismo e todo o excesso é eliminado. São vitaminas hidrossolúveis a família da vitamina B e a vitamina C.

Falamos sobre as vitaminas em geral com mais detalhes no artigo: Vitaminas: mitos, carência e superdosagem.

O que é a vitamina A?

Apesar do nome, o termo vitamina A não é utilizado para nomear uma única substância, mas sim uma família de vitaminas lipossolúveis chamada de ácidos retinoicos ou retinoides. Ela tem ação anti-oxidante, é necessária para o funcionamento normal da visão e do sistema imunológico, além de ser importante para o crescimento e desenvolvimento celular, bem como para manter a integridade da pele e mucosas. 

A sua descoberta e descrição oficial ocorreu em 1913, mas existem relatos muito antigos, de 1500 BCE, de que os egípcios ingeriam fígado como forma de tratamento para a cegueira noturna, uma das manifestações clínicas da deficiência de vitamina A, como veremos a seguir. 

Existem dois tipos principais de vitamina A disponíveis na dieta humana: a vitamina A pré-formada, que já se encontra pronta nos alimentos (na forma de retinol e ésteres de retinil) e a pró-vitamina A (na forma de beta-caroteno, alfa-caroteno e beta-criptoxantina) que precisa ser convertida em vitamina A no nosso organismo para se tornar funcionante.

No corpo humano, a forma predominante da vitamina A é o retinol, que também é a mais ativa. Toda vitamina A pré-formada e pró-vitamina A ingeridas são transformadas em retinol através do nosso metabolismo. A maior parte da vitamina A, cerca de 50 a 85%, fica armazenada no fígado e é transportada para os tecidos à medida que é necessário. 

Vitaminas lipossolúveis e não lipossolúveis 

Como já referido na introdução do texto, as vitaminas lipossolúveis, como é o caso da vitamina A, não são eliminadas pela urina. Elas ficam armazenadas no organismo. Por isso, seus níveis vão se acumulando, podendo levar a complicações médicas, caso estejam acima do nível recomendado.

As vitaminas, da mesma forma que os medicamentos, possuem doses específicas que devem ser respeitadas para evitar a intoxicação por excesso.

Além disso, para haver absorção das vitaminas lipossolúveis é necessário estarem presentes produtos da digestão de gorduras e sais biliares no intestino. São estes compostos que promovem a solubilidade do retinol e dos carotenoides, de modo que possam passar pela mucosa intestinal e atingir a corrente sanguínea.

Pessoas que seguem dietas com restrição muito intensa de gorduras ou então que possuem dificuldades de digerir e absorver gorduras têm maior risco de apresentar deficiência vitamínica de qualquer uma das vitaminas lipossolúveis. 

Fontes de vitamina A nos alimentos

A vitamina A pré-formada encontra-se exclusivamente em alimentos de origem animal, como laticínios, carnes e peixes, enquanto a pró-vitamina A encontra-se nos alimentos de origem vegetal.

A forma mais importante e mais conhecida da pró-vitamina A é o beta-caroteno.

Fontes de Vitamina A pré-formada:

  • Queijo.
  • Ovos.
  • Leite.
  • Iogurte.
  • Manteiga.
  • Carnes.
  • Fígado, incluindo patê de fígado.
  • Peixes oleosos.
  • Óleo de fígado de bacalhau.

Fontes de Pró-Vitamina A:

  • Cenoura.
  • Abóbora.
  • Batata-doce.
  • Espinafre e outros vegetais folhosos.
  • Pimentão vermelho.
  • Frutas amarelas como manga, mamão papaya e damasco.

Sintomas da deficiência de vitamina A

Visão

A vitamina A é necessária para o funcionamento normal das células responsáveis pela visão noturna e pela detecção de movimento, além de agir nos pigmentos visuais da retina.

Desta forma, uma das queixas mais características ligadas à carência de vitamina A é a baixa adaptação da visão ao escuro, ou cegueira noturna. As crianças com cegueira noturna costumam tropeçar quando passam um ambiente claro para um menos iluminado e evitam atividades ao fim da tarde e durante a noite.

A cegueira noturna provocada pela vitamina A melhora rapidamente com a reposição dos níveis de vitamina A, em 1 ou 2 dias.   

Também pode ocorrer cegueira devido ao acometimento da retina. Juntamente com estas alterações, a falta de vitamina A promove o mau funcionamento das glândulas lacrimais, levando à secura da córnea e da conjuntiva, com consequente aparecimento das manchas de Bitot.

Mancha de Bitot
Mancha de Bitot

A deficiência de vitamina A é uma das principais causas de cegueira prevenível nas crianças.

Em idosos, o uso de determinadas vitaminas, incluindo a vitamina A, parece prevenir o avanço da degeneração macular relacionada à idade, outra forma de doença da visão.

Crescimento e desenvolvimento

A falta de níveis adequados de vitamina A pode levar a redução do crescimento e alterações ósseas, com aumento do risco de fraturas.

Apesar de na maior parte das crianças desnutridas com redução do crescimento haver concomitantemente carência de diversas outras vitaminas, sabe-se que a vitamina A é necessária para o crescimento normal e saudável dos ossos.

Imunidade

A carência de vitamina A está ligada ao aumento da ocorrência de infecções. Isto se deve a mudanças na produção de anticorpos e outras células que atuam na primeira linha de defesa do organismo contra micro-organismos invasores.

A alteração do crescimento e diferenciação das células presentes na pele e nas mucosas levam à diminuição da produção de secreções e a perda da integridade da pele, o que também aumenta o risco de infecções.

Problemas dermatológicos

A vitamina A interfere com a função normal das células epiteliais que estão presentes na pele e nas mucosas. Portanto, muitas alterações dermatológicas podem acontecer quando há escassez de vitamina A, tais como:

  • Pele seca.
  • Coceira na pele.
  • Cabelo seco.
  • Unhas quebradiças.
  • Hiperceratose folicular (frinoderma).

Anemia

A falta de vitamina A pode afetar o metabolismo do ferro quando a deficiência desses dois componentes coexistem.

O ferro é um elemento necessário para a produção dos glóbulos vermelhos. A vitamina A pode interferir com a utilização normal do ferro ao dificultar a liberação deste componente dos locais onde fica armazenado. O resultado é uma menor disponibilidade de ferro para a fabricação de células sanguíneas. 

Doses Recomendadas

Antigamente, a unidade de medida utilizada para as doses de vitamina A eram as UI (unidades internacionais). Atualmente, no entanto, os valores são expressos em equivalente da atividade de retinol (RAE, do inglês retinol activity equivalent). Isso porque, como já foi dito, o termo vitamina A inclui uma série de compostos, com bioatividades diferentes no organismo.

De um modo bem simplificado podemos dizer que algumas formas são “mais fortes” que outras. Como todas são convertidas em retinol, que é a forma mais ativa, utiliza-se a atividade do retinol como parâmetro.

Por exemplo, são precisos 24 microgramas de alfa-caroteno para se obter a mesma atividade biológica de 1 micrograma de retinol no organismo.

  • 1 RAE = 1 μg retinol ou 3,33 Unidades Internacionais.
  • 1 RAE = 12 μg β-caroteno.
  • 1 RAE = 24 μg α-caroteno.
  • 1 RAE = 24 μg β-cryptoxantina.

A conversão de Unidades Internacionais em Equivalente da Atividade de Retinol está descrita abaixo:

  • 1 UI retinol = 0,3 μg RAE.
  • 1 UI de beta-caroteno em suplemento = 0,3 μg RAE.
  • 1 UI de beta-caroteno em dieta = 0,05 μg RAE.
  • 1 UI de alfa-caroteno ou beta-criptoxantina em dieta = 0,025 μg RAE.

A ingestão diária recomendada para homens adultos é de 3000 Unidades Internacionais ou 900 microgramas de retinol e para mulheres adultas, de 2300 unidades internacionais ou 700 microgramas de retinol.

As doses recomendadas e as doses máximas diárias para todos os grupos etários estão descritas abaixo:

  • 0 a 6 meses: 400 μg de retinol (dose máxima 600 μg).
  • 7 a 12 meses: 500 μg de retinol (dose máxima 600 μg).
  • 1 a 3 anos: 300 μg de retinol (dose máxima 600 μg).
  • 4 a 8 anos: 400 μg de retinol (dose máxima 900 μg).
  • 9 a 13 anos: 600 μg de retinol (dose máxima 1700 μg).
  • 14 a 18 anos: 900 μg de retinol para homens e 700 μg para mulheres (dose máxima 2800 μg).
  • 19 anos ou mais: 900 μg de retinol para homens e 700 μg para mulheres (dose máxima 3000 μg).

Quem está sob risco de deficiência de vitamina A?

As doenças que interferem com a digestão e absorção normal de gorduras podem provocar deficiência de vitaminas lipossolúveis.

Algumas destas condições clínicas estão listadas abaixo:

  • Insuficiência pancreática (fibrose cística, síndrome de Shwachman-Diamond ou pancreatite crônica).
  • Doença hepática crônica.
  • Cirurgia bariátrica.
  • Doença de Crohn.
  • Síndrome do intestino curto.
  • Doença celíaca recém-diagnosticada e ainda não tratada.

Durante a gravidez e a lactação há um aumento da necessidade diária de vitamina A, devido ao crescimento e desenvolvimento fetal, bem como aumento do metabolismo da gestante e produção de leite. 

Nos países em desenvolvimento, em que há insegurança alimentar, há aumento do risco de deficiência de vitamina A em mulheres grávidas ou que amamentam.

Bebês prematuros também estão sob maior risco porque nascem sem estoques adequados de vitamina A no fígado e a quantidade de vitamina A presente no leite materno pode não ser suficiente para suprir as suas necessidades.

Bebês prematuros com deficiência de vitamina A apresentam maior risco de doenças visuais, gastrointestinais e pulmonares.

Por outro lado, bebês nascidos a termo amamentados até os seis meses de idade podem apresentar deficiência de vitamina A quando a amamentação termina, uma vez que não adquirem a quantidade suficiente de vitamina A através da dieta. 

Nas situações descritas acima, pode ser necessário recorrer a suplementação vitamínica, sempre orientada por um profissional de saúde habilitado para tal. 

Para que serve a vitamina A?

Além, obviamente, de ser o tratamento recomendado para indivíduos com carência, medicamentos à base de vitamina A também pode ser utilizados nas seguintes situações:

  • Condições dermatológicas: a vitamina A tem sido utilizada para diversas condições clínicas na dermatologia, sob forma tópica ou via oral. Algumas doenças em que o uso de vitamina A é indicado incluem acne, psoríase, hiperpigmentação provocada pelo sol, redução do envelhecimento provocado pelo sol e redução de rugas. 
  • Leucemia Pro-mielocítica aguda: a utilização de vitamina A em associação à quimioterapia parece ter bons resultados no tratamento deste tipo de neoplasia.
  • Sarampo: em países onde a deficiência de vitamina A é comum, a suplementação de vitamina A em crianças está associada a quadros menos graves de sarampo, levando a menos complicações e menor mortalidade. 

Efeitos não comprovados

A indústria multi-bilionária da suplementação vitamínica tem obviamente interesse em vender o máximo possível, de forma que o marketing sobre o potencial benefício das vitaminas é bastante poderoso, levando as pessoas a acreditarem em efeitos que nunca foram comprovados cientificamente. Este é o caso do consumo de multivitamínicos para prevenção de doenças cardiovasculares e de câncer. 

Sabemos que o stress oxidativo exerce um efeito considerável no desenvolvimento de doenças como câncer, doença cardiovascular e até no envelhecimento. Como os carotenóides têm efeito antioxidante, postulou-se que pudessem exercer alguma proteção na prevenção da doença coronariana. 

No entanto, os estudos que avaliaram o uso de betacaroteno com este objetivo não evidenciaram benefício, pelo contrário. Existem evidências de que a suplementação pode estar ligada ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares. 

Já no caso do câncer, há estudos que sugerem redução do risco com dietas ricas em carotenóides, no entanto o uso de suplementos vitamínicos até o momento não apresenta qualquer efeito na diminuição da incidência. Por outro lado, existe evidência de que os suplementos podem estar associados a aumento do risco de desenvolvimento de câncer de pulmão. 

Hipervitaminose A

O consumo excessivo de vitamina A pode levar ao seu acúmulo e consequentemente, a efeitos clínicos indesejados.

A maior parte dos casos de hipervitaminose A acontece com a ingestão crônica de suplementos vitamínicos com doses elevadas, em torno de 10 vezes a dose diária recomendada.

Existem três síndromes associadas ao excesso de vitamina A:

  • Intoxicação aguda: quando uma única dose maior que 660.000 UI é ingerida. O paciente se queixa de náuseas, vômitos, visão turva e vertigem. Esta situação já foi descrita com exploradores do ártico que ingeriram fígado de urso polar.
  • Intoxicação crônica: quando há consumo de quantidades altas de vitamina A (cerca de 33.000 Ui), por um grande período de tempo. Pode haver queda de cabelo, irritação da pele, alterações visuais, aumento da pressão intracraniana, tontura, dor de cabeça, náuseas, dor muscular e nas articulações e lesão hepática. O acometimento do fígado pode ser grave o suficiente para levar a cirrose, especialmente nos alcoólatras.
  • Teratogenicidade: o ácido retinoico pode provocar aborto espontâneo e malformações fetais quando utilizado em doses maiores do que o recomendado no primeiro trimestre da gravidez. Durante a gravidez, o limite que se mostrou seguro para ingestão de vitamina A é de no máximo 10.000 UI por dia.

Referências


Autor(es)

Dra. Renata Campos

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade do Porto. Nefrologista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pelo Colégio de Nefrologia de Portugal.

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