10 Sintomas da Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo progressivo que afeta a memória, o raciocínio e o comportamento. É a principal causa de demência em idosos. Aprenda a reconhecer os seus sintomas.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Introdução

O mal de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva e incurável, isto é, uma doença que provoca destruição progressiva e irreversível dos neurônios. O Alzheimer acomete habitualmente pessoas com mais de 65 anos, sendo a causa mais comum de demência na população idosa.

Por ser uma doença de lenta evolução e com sinais e sintomas iniciais que podem ser facilmente confundidos com o processo natural de envelhecimento, muitos pacientes demoram, às vezes anos, para ter o diagnóstico do seu Alzheimer estabelecido.

Apesar de não haver cura e dos tratamentos não serem capazes de alterar o curso da doença a longo prazo, o diagnóstico precoce do mal de Alzheimer pode trazer algumas vantagens para o paciente, tais como uma maior capacidade de prever e planejar o futuro nas fases mais avançadas da doença, quando o paciente estará incapacitado para tomar decisões profissionais e financeiras. O início precoce do tratamento ajuda a melhorar a qualidade de vida, pois os medicamentos são mais eficazes nas fases iniciais deste mal.

Neste artigo falaremos sobre 10 sintomas mais comuns na doença de Alzheimer, muitos deles presentes nas fases iniciais, e que devem servir de alerta para o paciente e para a sua família.

Se você quiser saber mais detalhes sobre a doença de Alzheimer, incluindo causas, diagnóstico e tratamento, leia: Doença de Alzheimer: sintomas, causas e tratamento.

10 sintomas que podem indicar uma doença de Alzheimer em fase inicial

Como já referido na introdução do artigo, a doença de Alzheimer é a principal causa de demência na população idosa. Chamamos de demência um conjunto de sinais e sintomas relacionados à deterioração das capacidades intelectuais, que incluem, entre outros, perda da memória, dificuldades com raciocínio lógico, alterações da linguagem, dificuldade com a escrita, problemas de organização do pensamento e alterações do comportamento.

A demência é uma síndrome de instalação lenta e progressiva, que pode demorar anos até que seus sinais e sintomas tornem-se óbvios. Como ela ocorre habitualmente em pacientes idosos, os seus sintomas iniciais costumam ser negligenciados, tanto pela família quanto pelo próprio paciente, sendo tratadas como alterações normais da velhice.

O que explicamos a seguir são 10 sinais e sintomas típicos do Alzheimer, que devem ser encarados como sinais de alerta. Muito desses sinais podem surgir nas fases iniciais da doença, numa época na qual o paciente ainda é completamente independente e capaz, e o diagnóstico é mais difícil de ser estabelecido.

Perda de memória

A perda de memória para fatos recentes é o sintoma mais típico do mal de Alzheimer e costuma estar presente em fases precoces da doença. Mesmo quando a perda de memória não é um sintoma do qual o paciente ou seus familiares se queixam, ainda assim, se corretamente pesquisada pelo médico, é possível detectá-la.

A principal característica da perda de memória do Alzheimer é o esquecimento de fatos recentes e a dificuldade de aprender coisas novas. Nas fases iniciais, o paciente consegue se lembrar de uma festa que ocorreu há 20 anos, mas não sabe dizer o que comeu no café da manhã. Com o avançar da doença, porém, a perda de memória atinge os fatos antigos, e o paciente pode começar a se esquecer até do nome de familiares próximos.

Uma pessoa esquecer que marcou uma reunião e lembrar-se depois, é normal. Esquecer que marcou uma reunião e não se lembrar nunca mais, mesmo depois de ver na própria agenda a marcação da reunião feita com a própria letra, é um sinal de alerta.

Da mesma forma, é normal entrar num quarto, esquecer do iria fazer lá, mas depois de um tempo voltar lembrar e conseguir terminar a tarefa que havia planejado inicialmente. Por outro lado, não é normal que uma pessoa ao longo do dia entre várias vezes num quarto, sempre com o mesmo objetivo, e esqueça-se do iria fazer antes de completar a tarefa.

Outra situação que deve ligar o sinal de alerta é quando você nota que o paciente repete uma pergunta várias vezes por dia (ex: a que horas é a consulta amanhã?), apesar de você já lhe ter respondido mais de uma vez.

Muitas vezes, a perda de memória nas fases inicias do Alzheimer é sutil e só é detectada se os familiares estiverem muito atentos. Um teste utilizado para testar a memória a curto prazo é apresentar ao paciente uma série de 3 palavras ou objetos simples (ex: chave, fósforo e lápis) e após 5 a 10 minutos pedir para ele repetir o que lhe foi dito ou mostrado. O paciente com Alzheimer não consegue se lembrar dos nomes ou dos objetos mesmo quando o familiar tenta lhe ajudar dando dicas.

O que é normal: esquecimentos pontuais ao longo do dia, mas que o indivíduo consegue se recordar ao ser alertado ou após algum tempo puxando pela memória. E mesmo que a pessoa não se lembre completamente, ela consegue ter uma vaga lembrança de determinado fato.

Perder objetos pessoais

O paciente com Alzheimer perde objetos pessoais com facilidade, não só porque ele não se lembra onde os guardou, mas também porque é comum que objetos sejam guardados em locais bizarros, como, por exemplo, deixar a chave do carro dentro da geladeira.

Pessoas sadias podem perder objetos e, às vezes, até deixá-los em locais não usuais por engano. A diferença é que a pessoa sadia consegue reconstruir mentalmente os caminhos e locais recentes onde esteve, acabando por descobrir onde o objeto perdido está, mesmo que este esteja em um local não apropriado, como quando esquecemos as chaves de casa dentro do banheiro.

O paciente com Alzheimer não só não consegue refazer mentalmente o percurso recente, como ele não coloca os objetos em locais bizarros apenas por engano, ele coloca as chaves dentro da geladeira porque se encontra confuso em relação à real utilidade da geladeira ou das chaves (ver item 7: agnosia).

Em fases mais avançadas da doença, o paciente com Alzheimer perde a capacidade de possuir dinheiro, pois ele o perde facilmente e já não dá mais o seu devido valor.

O que é normal: esquecer onde deixou objetos pessoais, mas conseguir achá-los depois de um tempo procurando nos locais onde esteve recentemente.

Dificuldade para completar tarefas

O paciente com Alzheimer pode notar progressiva dificuldade para realizar tarefas mais complexas, como manter as contas de casa em dia, aprender as regras de um novo jogo, aprender a mexer em um novo software de computador ou seguir instruções para chegar a um determinado local.

Executar múltiplas tarefas ao mesmo tempo também torna-se inviável. Os pacientes em posição de chefia podem ter dificuldade de montar planejamentos, criar estratégias ou organizar eventos.

Como o passar do tempo, as dificuldades vão se tornando mais comuns, e tarefas mais simples, tais como dirigir carros, ligar a televisão ou exercer as tarefas habituais do seu emprego, podem se tornar complicadas.

Os pacientes podem notar que as dificuldades estão aumentando, mas eles, em geral, criam álibis para tentar justificar essas novas dificuldades. Muitas vezes, o paciente começa a evitar determinadas situações sociais de forma a esconder as suas limitações.

Nas fases avançadas da doença, o paciente já não consegue efetuar tarefas básicas do dia a dia, como se alimentar, vestir-se ou tomar banho, sem a ajuda de um amigo ou familiar.

O que é normal: idosos saudáveis podem ter dificuldades com aparelhos eletrônicos, principalmente se eles não estiverem acostumados a mexer com tecnologia ou o manuseamento do aparelho for pouco intuitivo. A perda dos reflexos e a queda da acuidade visual e auditiva também são comuns com a idade, motivo pelo qual muitos idosos começam a ter dificuldade de dirigir, sem que isso seja necessariamente um sinal de demência.

Desorientação temporal e espacial

Os pacientes com Alzheimer podem perder a noção do tempo, o que lhes causa confusão com datas, estações e o próprio passar das horas. Esse problema chama-se desorientação temporal. Uma forma de saber se o paciente está orientado temporalmente é lhe perguntar sobre a data de hoje, incluindo dia, mês e ano.

O paciente com desorientação temporal também pode ter dificuldade para compreender situações que não estejam acontecendo no exato momento. Narrativas no futuro ou no passado podem ser confusas. Se o paciente já estiver em algum local há algumas horas, ele pode não conseguir dizer há quanto tempo já está lá.

Outra forma de desorientação comum na doença de Alzheimer é a desorientação espacial, isto é, o paciente tem dificuldade de reconhecer o local onde está. Se estiver no hospital, ele pode dizer que está em casa ou simplesmente dizer que não sabe onde está. Além disso, se questionado, ele também não saberá dizer quando e como chegou lá.

Em fases avançadas da doença, a desorientação espacial associada à perda de memória aumenta o risco do paciente se perder na rua e não conseguir voltar para casa.

O que é normal: confundir datas simples, como o dia da semana ou o dia do mês, é normal. Confundir o ano nos primeiros meses do ano também é comum. Anormal é dizer que estamos em 1989 em pleno ano de 2016 ou que estamos em abril quando, na verdade, é dezembro.

Problemas de linguagem

A doença de Alzheimer também pode causar distúrbios na área de linguagem. O paciente não só começa a ter problemas de vocabulário, como também pode ter dificuldade de manter uma conversa, por não conseguir entender ou dizer algumas palavras. O indivíduo pode parar no meio de uma frase e não ter a menor ideia de como continuar.

Também é comum ele começar a se repetir ou chamar as coisas por nomes alternativos, como, por exemplo, chamar o celular de telefone de mão.

Acompanhar narrativas mais longas, como assistir a filmes ou peças de teatro, por exemplo, também pode ser difícil.

E os problemas de linguagem não se resumem à fala, o paciente também passa a ter dificuldade para ler, escrever e até desenhar.

O que é normal: é comum e normal eventualmente esquecer uma ou duas palavras ao longo de uma conversa, mas de forma que isso não atrapalhe nem a fluência da conversa, nem lhe impeça de ser compreendido.

É importante lembrar também que idosos podem ter problemas de audição que dificultam o estabelecimento de conversas (leia: Surdez – Perda auditiva no idoso). Esse problema não deve ser confundido com os distúrbios de linguagem da demência.

Alterações de comportamento

Quando o paciente começa a apresentar os sinais e sintomas da doença de Alzheimer, mas ainda é capaz de reconhecer que algo está errado com as suas funções intelectuais, ele pode começar a agir de forma defensiva, tendendo a se afastar de familiares e eventos sociais. Muitos desenvolvem depressão (leia: Sintomas da depressão).

Conforme a doença avança, o indivíduo perde a capacidade de reconhecer os seus problemas. Na maioria das vezes, o paciente chega ao médico através dos seus familiares e não por iniciativa própria.

Nas fases mais avançadas, o doente pode começar a ter comportamentos bizarros, tais como perda da inibição e alterações do humor. Agressividade em relação aos amigos e parentes ou exposição em público da genitália são duas situações relativamente comuns. Sintomas neuropsiquiátricos, como alucinações, delírios, agitação, ansiedade e sinais de psicose também podem ocorrer.

O paciente também pode mudar de personalidade, pessoas alegres e expansivas podem se tornar retraídas e apáticas, enquanto pessoas mais reservadas podem ficar desinibidas.

O que é normal: idosos podem se tornar pessoas com algumas manias e vícios, tornado-se menos tolerantes à quebra da rotina. Porém, nada que se assemelhe aos comportamentos bizarros dos quadros demenciais.

Agnosia

A agnosia é a uma alteração da percepção, que faz com que o paciente deixe de reconhecer a utilidade de objetos ou o significado de símbolos ou comportamentos. Isso significa, por exemplo, que o paciente deixa de saber para que serve uma cadeira ou um lápis. Ele também pode se assustar com sons banais, tais como o tocar do telefone ou da campainha de casa. Urinar na pia ou evacuar no sofá podem ser situações decorrentes da agnosia.

A agnosia também colabora com as alterações de comportamento do paciente. É possível que o paciente não reconheça o seu reflexo ao espelho. Às vezes, ele nem sequer entende que aquilo é um espelho, acha simplesmente que há um estranho em sua casa. Parentes também podem se tornar pessoas estranhas, o que costuma provocar quadros de agitação e ansiedade.

O que é normal: pessoas sadias não se esquecem da utilidade de objetos banais, como vaso sanitário, cadeiras ou um relógio. Quando estamos muito distraídos ou executando múltiplas tarefas, podemos até fazer uma besteira ou outra, como derramar café na mesa ou guardar algo em um local inapropriado. A diferença é que, nesses casos, o erro é imediatamente reconhecido. Qualquer sinal de agnosia é um grande sinal de alerta para demência.

Alterações visuais

Para ser uma agnosia real, o paciente precisa ter a capacidade de ver o objeto, mas não saber interpretar a sua utilidade. Pacientes com Alzheimer, porém, podem ter agnosia, mas também problemas visuais que os impeçam de ver adequadamente. Dificuldades em distinguir cores, reconhecer contrastes e identificar distâncias podem ser tarefas difíceis.

O que é normal: idosos habitualmente tem problemas de visão. Dificuldade para ler para perto (presbiopia) ou perda da acuidade visual por catarata são muito comuns na população e nada têm a ver com demência.

Problemas de discernimento ou julgamento

Os pacientes com demência começam a ter sua capacidade de julgamento afetada. Isso inclui situações como: sair de casa com roupas e combinações extravagantes, sair de casa com roupas completamente amarrotadas, deixar de tomar banho, distribuir dinheiro inconsequentemente, usar roupas de verão no inverno ou vice-versa, ficar de cuecas quando há visita em casa, não ter discernimento em relação às coisas que diz, etc.

O que é normal: com o passar dos anos, podemos começar a dar menos importância ao que os outros pensam de nós mesmos. Porém, pessoas sadias sempre mantêm um determinado grau de civilidade e de respeito às regras de etiqueta. Dependendo das circunstâncias, você pode até receber um vendedor que bata à sua porta de pijamas, mas não vai recebê-lo nu ou somente de cueca.

Insônia

A insônia não é um sintoma típico ou exclusivo da doença de Alzheimer, mas é mais comum neste grupo do que na população em geral.

A insônia pode ser um dos sintomas mais precoces, estando presente naqueles pacientes que já possuem os biomarcadores de deposição cerebral de beta-amiloide positivos, mas ainda não apresentam sintomas clínicos da demência.

A insônia pode ser manifestar como uma dificuldade para começar a dormir, fazendo com que o paciente fique acordado na cama durante muito tempo, ou uma incapacidade de manter um sono contínuo, levando ao sono fragmentado e não restaurador. Explicamos o que é insônia em um artigo à parte: Insônia: causas e tratamento.

O que é normal: ter insônia é comum e não significa obrigatoriamente um sinal de demência. Todavia, o surgimento de uma insônia após a velhice associado a outros sinais e sintomas descritos anteriormente é mais um fator que corrobora com o diagnóstico do mal de Alzheimer.

Como evolui a doença de Alzheimer

O Alzheimer é uma doença de evolução lenta, mas que pode ser mais rápida em determinados casos. A sobrevida após o diagnóstico pode variar de 3 a 20 anos, dependendo, obviamente, do quão demorado foi esse diagnóstico, do estado clínico do paciente no momento e da capacidade da família de prover cuidados médicos continuados. Em média, a esperança de vida média de um paciente com Alzheimer é de 8 a 10 anos.

Os pacientes que só desenvolvem sintomas claros de Alzheimer após os 80 anos de idade costumam ter uma evolução mais lenta da doença do que os pacientes que já são diagnosticados com 60–65 anos.

A presença de sintomas neuropsiquiátricos no início do quadro, incluindo psicose, agitação e agressividade, tem sido associada com uma evolução mais rápida da doença.

A doença de Alzheimer leva ao óbito em fases avançadas porque torna o paciente completamente dependente. Os pacientes habitualmente sucumbem porque param de se alimentar, ficam desidratados, não conseguem mais se mover e ficam muito suscetíveis a infecções, principalmente pneumonia e infecção urinária.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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