Síndrome das Pernas Inquietas: sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Pernas inquietas

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Resumo do artigo

  • O que é a síndrome das pernas inquietas: a síndrome das pernas inquietas é uma doença de origem neurológica na qual o paciente sente uma incontrolável necessidade de movimentar as pernas.
  • Principais causas: deficiência de ferro, insuficiência renal, diabetes mellitus de longa data e doenças neurológicas são as principais causas. Na metade dos pacientes, porém, a origem é genética e não há outras doenças associadas.
  • Sintomas: o principal sintoma é um desejo incontrolável de mexer as pernas, geralmente provocado por uma sensação de desconforto, que costuma ser descrito como agonia, inquietação, incômodo ou tensão nas pernas. Movimentos involuntários dos membros durante o sono também é muito comum.
  • Tratamento: apesar de não haver cura para os casos mais graves, é possível haver remissão espontânea nos casos leves e intermitentes. Na maioria dos casos crônicos, o tratamento com reposição de ferro, exercícios físicos e fármacos, como os agonistas dopaminérgicos, costuma apresentar boa resposta.

O que é a síndrome das pernas inquietas?

A síndrome das pernas inquietas, também conhecida como doença de Willis-Ekbom, é uma condição de origem neurológica na qual o paciente sente um inexplicável desconforto e uma incontrolável necessidade de movimentar as pernas.

Esses episódios costumam ocorrer no final da tarde ou à noite, enquanto o paciente encontra-se sentado ou deitado. A mudança de posição e a movimentação das pernas alivia o desconforto temporariamente. Os sintomas são comuns durante o sono ou quando o paciente encontra-se inativo por muito tempo.

Durante o sono, o paciente com síndrome das pernas inquietas também pode apresentar uma condição chamada movimentos periódicos dos membros durante o sono, caracterizada por movimentos repetidos e estereotipados dos membros inferiores, que surgem, em média, a cada 40 segundos e duram apenas cerca de 2 a 4 segundos.

A síndrome das pernas inquietas acomete até 15% da população, mas muitos casos não são diagnosticados. É frequente encontramos pacientes que só foram devidamente diagnosticados mais de 10 ou 20 anos depois do surgimento dos sintomas.

A doença de Willis-Ekbom pode surgir em qualquer idade, mas ela é mais comum nos adultos após os 40 anos.

Causas

As causas da doença de Willis-Ekbom ainda não estão completamente esclarecidas, embora diversos estudos tenham identificado uma variedade de anormalidades no sistema nervoso central e periférico dos pacientes com esse transtorno.

A relação mais consistentemente relatada é com a redução das reservas de ferro em determinadas regiões do sistema nervoso central. Alterações no funcionamento de alguns neurotransmissores, tais como a dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato também parecem ter papel relevante.

Cerca de 50% dos pacientes com a síndrome das pernas inquietas apresentam história familiar positiva, o que sugere a existência de um componente genético na gênese da doença.

Fatores de risco

Nem todos os pacientes, porém, apresentam história familiar positiva. Nestes, a síndrome das pernas inquietas costuma ser provocada por outras doenças ou condições. As mais importantes são:

Existe também a doença de Willis-Ekbom de origem primária, que surge sem uma causa definida e sem que o paciente tenha história familiar.

Sintomas

O sintoma típico da síndrome das pernas inquietas é um desejo incontrolável de mexer as pernas, geralmente provocado por uma sensação de desconforto que é sentida profundamente dentro das pernas, entre os joelhos e os tornozelos.

O paciente frequentemente apresenta dificuldade para descrever com detalhes essa sensação de desconforto. Os termos habitualmente utilizados são: “incômodo”, “agonia”, “desconforto”, “formigamento”, “a perna quer se mexer”, “câimbras”, “choques elétricos”, “pontadas”, “tensão”, “agonia nas pernas”, “coceira nos ossos”, “insetos caminhando pelas pernas” ou “pernas que se mexem sozinhas”.

Apesar de ser desagradável, a maioria dos pacientes não sente dor. Quando a dor está presente, ela geralmente ocorre devido à existência de neuropatia periférica associada, e não pela síndrome das pernas inquietas em si.

Os sintomas surgem durante períodos de inatividade, sendo mais proeminentes à noite. A movimentação das pernas alivia temporariamente o desconforto. Caminhar, alongamentos, massagens nas pernas ou aplicação de água quente também costumam causar alivio transitório.

A doença de Willis-Ekbom tende a ser uma condição crônica, principalmente nos pacientes com sintomas moderados a graves. Remissão espontânea pode ocorrer em 30 a 60% dos casos, mas ela é bem mais comum nos casos brandos e intermitentes.

Além da gravidade dos sintomas, os fatores que aumentam a probabilidade da doença se tornar crônica são a história familiar positiva ou o início do quadro após os 45 anos.

Nos casos mais graves, o paciente pode ter uma redução relevante da sua qualidade de vida, apresentando dificuldade para dormir, viajar, ir ao cinema ou ficar muito tempo sentado durante o trabalho ou reuniões.

Movimentos periódicos dos membros durante o sono

A síndrome das pernas inquietas e os movimentos periódicos durante o sono podem atrapalhar o sono do paciente, provocando insônia, privação do sono, sonolência intensa durante o dia, distúrbios de ansiedade e até depressão.

Os movimentos periódicos durante o sono se caracterizam por movimentos involuntários dos membros inferiores que surgem de forma regular e estereotipada, durando cerca de 1 a 10 segundos e em ciclos com intervalo máximo de até um minuto e meio (média de 20 a 40 segundos) entre cada movimento.

Tratamento

Apesar de não haver cura para os casos crônicos, a síndrome das pernas inquietas é uma doença tratável e que geralmente responde bem à terapia farmacológica.

Os objetivos principais do tratamento são reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida e de sono do paciente.

O primeiro passo costuma ser a dosagem dos níveis de ferro sanguíneo do paciente. Caso o nível de ferritina esteja abaixo de 75 mcg/L, a reposição de ferro por via oral é recomendada.

Também é importante suspender o uso de fármacos ou substâncias que possam agravar os sintomas da doença de Willis-Ekbom. Os mais comuns são:

  • Cafeína.
  • Cigarro.
  • Antidepressivos (exceto bupropiona).
  • Antipsicóticos.
  • Metoclopramida.
  • Anti-histamínicos com ação sedativa.

A prática de exercício físico, ioga, meditação, alongamentos e massagens regulares também ajudam nos casos mais leves.

Nos pacientes em hemodiálise, a troca de estratégia dialítica para sessões diárias e mais curtas também costuma resultar.

Se nenhuma das medidas acima tiver sucesso, o tratamento farmacológico deve ser iniciado.

Medicamentos mais indicados

As drogas mais utilizadas são os agonistas da dopamina, havendo preferência por aqueles que têm uma meia-vida mais longa (quatro a seis horas), como pramipexol, ropinirol ou rotigotina. A levodopa é uma opção menos eficaz, pois sua meia-vida é mais curta (90 minutos). Este fármaco costuma ser usado apenas nos pacientes com sintomas mais brandos e pouco frequentes.

A gabapentina e a pregabalina também são medicamentos eficazes e podem ser usadas como primeira opção de tratamento farmacológico.

Nos pacientes com sintomas pouco frequentes, o clonazepam pode ser usado.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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