O que é calor excessivo?
O termo calor excessivo refere-se a uma condição ambiental em que a temperatura do ar, frequentemente associada à alta umidade, ultrapassa a capacidade fisiológica do corpo humano de dissipar o calor e regular sua própria temperatura. Essa sobrecarga térmica impede que o organismo mantenha a homeostase, ou seja, o equilíbrio interno necessário para o funcionamento adequado das células, tecidos e órgãos.
Do ponto de vista clínico, o calor excessivo não se resume à sensação subjetiva de desconforto térmico, mas representa um fator de risco concreto para uma série de condições médicas, especialmente em situações de exposição prolongada, esforço físico em ambientes quentes ou ausência de medidas adequadas de resfriamento corporal.
A principal via de dissipação de calor pelo organismo é a evaporação do suor pela pele. No entanto, esse mecanismo torna-se ineficaz quando a umidade relativa do ar está elevada, ou quando o ambiente é mal ventilado. Nessas situações, o corpo retém calor, a temperatura corporal se eleva e surgem os primeiros sinais de estresse térmico, que, se não tratados, podem evoluir para quadros graves, como a intermação (explicaremos mais adiante).
As mudanças climáticas têm aumentado a frequência e a intensidade das chamadas ondas de calor, fenômenos meteorológicos que expõem grandes populações a temperaturas extremas por dias consecutivos, com impacto direto na saúde pública.
Como o corpo regula a temperatura?
O organismo humano mantém sua temperatura interna dentro de limites estreitos, normalmente entre 36,5 °C e 37,5 °C, por meio de um processo conhecido como termorregulação. Esse equilíbrio térmico é essencial para o funcionamento adequado de enzimas, processos metabólicos e sistemas vitais.
A termorregulação é controlada por uma região do cérebro chamada hipotálamo, que atua como um termostato natural. Quando o corpo percebe variações na temperatura interna ou no ambiente externo, o hipotálamo ativa mecanismos compensatórios para dissipar ou conservar calor, dependendo da necessidade.
Falamos mais sobre o controle da temperatura corporal no artigo: Febre: o que é, causas, sintomas e tratamento.
Em situações de calor excessivo, os principais mecanismos de perda de calor incluem:
- Sudorese (transpiração): a produção de suor pelas glândulas sudoríparas permite que o calor seja dissipado pela evaporação. Esse é o mecanismo mais eficiente, mas depende de fatores ambientais, como a umidade do ar e a ventilação.
- Vasodilatação periférica: os vasos sanguíneos da pele se dilatam, permitindo maior fluxo de sangue para a superfície corporal, o que facilita a transferência de calor para o ambiente. É por causa desta vasodilatação que ficamos “vermelhos” quando está muito quente.
- Aumento da ventilação pulmonar: o aumento da frequência respiratória ajuda a eliminar parte do calor através do ar que entra e sai dos pulmões. Ao inspirar, o ar mais frio entra no corpo e, ao expirar, o ar quente sai, funcionando como um mecanismo de troca de calor. No entanto, nos seres humanos, esse mecanismo tem importância secundária, sendo menos eficaz que a transpiração.
- Comportamento adaptativo: o próprio comportamento humano — como buscar sombra, remover roupas ou ingerir líquidos frios — também faz parte da resposta fisiológica ao calor.
Entretanto, quando a temperatura ambiente está muito elevada, especialmente em locais com alta umidade relativa, esses mecanismos se tornam menos eficazes.
A evaporação do suor é prejudicada quando o ar já está saturado de umidade, o que reduz drasticamente a capacidade do corpo de resfriar-se. Essa falha na termorregulação pode levar ao acúmulo progressivo de calor no organismo, desencadeando quadros como exaustão térmica e, em casos mais graves, a intermação.
Populações de risco: quem sofre mais com o calor extremo?
Fatores como idade, uso de medicamentos, presença de doenças crônicas e condições ambientais extremas podem comprometer os mecanismos de defesa citados acima, tornando certos grupos mais vulneráveis às consequências do calor excessivo.
Entre os principais grupos de risco, destacam-se:
- Pessoas em situação de vulnerabilidade social: indivíduos em situação de rua, moradores de habitações precárias ou sem acesso à ventilação adequada, enfrentam maior dificuldade em proteger-se do calor, agravando os efeitos da exposição prolongada.
- Idosos: com o envelhecimento, há uma redução natural na sensibilidade do centro termorregulador do hipotálamo, diminuição da sudorese e menor percepção da sede. Esses fatores, associados a doenças crônicas e ao uso frequente de medicamentos, tornam essa população especialmente suscetível à desidratação, à exaustão térmica e à intermação.
- Crianças e lactentes: o sistema de termorregulação ainda está em desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Crianças suam menos, produzem mais calor por quilo corporal e dependem de adultos para regular sua exposição ao ambiente e garantir hidratação adequada. Isso as coloca em alto risco durante episódios de calor intenso.
- Gestantes: durante a gravidez, ocorrem alterações hormonais, aumento do metabolismo basal e maior retenção hídrica, o que eleva a temperatura corporal. A exposição ao calor excessivo pode representar risco não somente para a gestante, mas também para o feto, podendo desencadear contrações uterinas prematuras e restrição de crescimento intrauterino.
- Pessoas com doenças crônicas: portadores de doenças cardiovasculares, pulmonares, renais, neurológicas e metabólicas, como diabetes mellitus, apresentam maior dificuldade em responder ao estresse térmico. Isso se deve tanto à limitação física quanto ao uso de medicamentos que interferem na sudorese, na pressão arterial ou na função renal.
- Usuários de certos medicamentos: substâncias como diuréticos, betabloqueadores, antipsicóticos, antidepressivos tricíclicos e anticolinérgicos podem prejudicar os mecanismos de termorregulação, seja por reduzir a sudorese, alterar o fluxo sanguíneo ou interferir na percepção da sede.
- Trabalhadores expostos ao calor: pessoas que atuam em ambientes externos sob sol intenso (como operários da construção civil, agricultores, garis e carteiros) ou em locais fechados e mal ventilados (como cozinhas industriais, fábricas e galpões) estão constantemente expostas ao risco de sobrecarga térmica, muitas vezes sem intervalos adequados ou hidratação suficiente.
Importância da umidade relativa do ar
A umidade relativa do ar é um fator ambiental frequentemente negligenciado, mas que exerce papel decisivo na forma como o corpo humano responde ao calor excessivo. Ela representa a quantidade de vapor de água presente no ar em relação ao máximo que ele poderia conter naquela temperatura, sendo expressa em porcentagem. Tanto níveis muito altos quanto muito baixos de umidade podem comprometer os mecanismos de termorregulação, elevando o risco de complicações à saúde.
Quando a umidade está elevada, o ar encontra-se saturado de vapor de água, o que dificulta a evaporação do suor — principal mecanismo de resfriamento do corpo. Nessas condições, mesmo que a pessoa esteja transpirando, o calor não é dissipado de forma eficiente, levando à retenção de calor corporal. Isso favorece o surgimento de estresse térmico, com aumento progressivo da temperatura interna, sensação de abafamento, exaustão e, em casos graves, intermação.
Por outro lado, quando a umidade está muito baixa, como ocorre em regiões secas ou durante longos períodos de estiagem, o suor evapora rapidamente, favorecendo a dissipação de calor. No entanto, essa perda contínua de água pela pele e pelas vias respiratórias pode causar desidratação, especialmente em idosos, crianças e gestantes, que possuem maior vulnerabilidade fisiológica à perda hídrica.
O valor ideal de umidade relativa do ar para o conforto térmico e funcionamento adequado do organismo situa-se entre 40% e 60%. Valores abaixo de 30% são considerados críticos e podem causar ressecamento das mucosas, irritações respiratórias, fadiga e maior risco de descompensações clínicas. Já valores acima de 70%, quando combinados com altas temperaturas, intensificam a sensação térmica e os riscos à saúde.
Por isso, recomenda-se:
- Monitorar a umidade do ambiente com higrômetros, principalmente em ambientes fechados;
- Utilizar umidificadores de ar em períodos de baixa umidade, com atenção especial à hidratação;
- Priorizar a ventilação natural ou mecânica e o uso de desumidificadores em ambientes muito úmidos e quentes. O ar-condicionado atua de duas formas benéficas em ambientes quentes e úmidos: reduz a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar, pois o processo de refrigeração remove vapor de água, melhorando a eficiência da evaporação do suor.
- Acompanhar o índice de calor (heat index), que combina temperatura e umidade para estimar o risco real de estresse térmico. Por exemplo, uma temperatura de 34 °C com umidade de 70% pode equivaler a uma sensação térmica de mais de 45 °C.
Principais causas do calor excessivo
O calor excessivo é resultado da interação de diversos fatores ambientais, climáticos e urbanos, que contribuem para elevações anormais da temperatura em determinadas regiões ou períodos do ano. A seguir, destacam-se as principais causas que favorecem a ocorrência de calor extremo e seus efeitos sobre a saúde humana:
Ondas de calor
As ondas de calor são fenômenos meteorológicos caracterizados por períodos prolongados de temperaturas acima da média histórica para determinada região. Esses eventos têm se tornado mais frequentes e intensos nas últimas décadas, como consequência das mudanças climáticas globais, e representam risco elevado de mortalidade por doenças relacionadas ao calor, especialmente em populações vulneráveis.
Urbanização e ilhas de calor
O crescimento desordenado das cidades, associado à redução de áreas verdes, ao uso excessivo de concreto e asfalto, e à concentração de edificações, favorece a formação das chamadas ilhas de calor urbanas. Nessas áreas, a temperatura pode ser até 7 °C mais alta do que em regiões periurbanas ou rurais próximas, devido à absorção e retenção de calor pelos materiais de construção e à escassez de vegetação.
Mudanças climáticas e aquecimento global
A elevação contínua da temperatura média do planeta, impulsionada pela emissão de gases de efeito estufa, contribui diretamente para o aumento da frequência de episódios de calor excessivo. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ondas de calor que antes eram raras passaram a ocorrer com maior regularidade, afetando inclusive regiões historicamente mais temperadas.
Ambientes fechados e mal ventilados
Espaços como galpões industriais, cozinhas comerciais, transporte coletivo, academias e escolas sem ventilação adequada podem atingir temperaturas muito elevadas, principalmente quando combinados com alta densidade de pessoas e ausência de mecanismos de climatização. Nestes locais, o calor gerado por fontes internas (máquinas, iluminação, aglomeração) se acumula e eleva rapidamente o desconforto térmico.
Atividade física em horários inadequados
Praticar exercícios físicos ou realizar trabalhos manuais intensos sob sol forte, especialmente entre 10h e 16h, amplia o risco de exaustão térmica e intermação. Durante o esforço, a produção interna de calor aumenta, e se os mecanismos de dissipação estiverem comprometidos (por temperatura e umidade elevadas), há risco de colapso térmico.
Uso de roupas inadequadas
Vestuário com tecidos sintéticos, escuros, pouco respiráveis ou apertados pode dificultar a troca de calor com o ambiente e prejudicar a evaporação do suor. Em climas quentes, é fundamental usar roupas claras, leves e de fibras naturais, como algodão ou linho, que favoreçam a ventilação e a dispersão do calor.
Baixa ingestão hídrica
Manter a hidratação é essencial para que o mecanismo de sudorese funcione adequadamente. A ingestão insuficiente de líquidos reduz o volume circulante no corpo e compromete a termorregulação, aumentando o risco de desidratação, hipotensão e exaustão pelo calor. A percepção da sede, por sua vez, pode ser reduzida em idosos e em ambientes climatizados.
Leitura sugerida: Quantos litros de água devemos beber por dia?
Sintomas de exposição ao calor excessivo
A exposição prolongada ao calor excessivo pode provocar uma ampla gama de sintomas, que variam em intensidade consoante a temperatura ambiente, o grau de umidade relativa do ar, a duração da exposição e a condição física do indivíduo.
O surgimento dos sinais e sintomas indica sobrecarga do sistema de termorregulação e o início de alterações fisiológicas potencialmente graves.
Os sintomas iniciais, geralmente associados à desidratação leve e esforço físico sob calor intenso, incluem:
- Sensação de calor extremo e desconforto.
- Sudorese abundante.
- Fadiga intensa.
- Dor de cabeça (cefaleia).
- Fraqueza muscular.
- Tontura ou sensação de desmaio iminente.
- Náuseas e, em alguns casos, vômitos.
- Irritabilidade ou sensação de mal-estar geral.
Com a progressão do quadro, especialmente quando não há medidas adequadas de hidratação e resfriamento, os sintomas podem evoluir para formas mais graves de estresse térmico, como a exaustão pelo calor. Nessa fase, é comum observar:
- Palidez.
- Taquicardia (aumento da frequência cardíaca).
- Hipotensão arterial (pressão baixa).
- Confusão mental leve.
- Diminuição da diurese (urina escassa e escura).
Em casos ainda mais críticos, quando ocorre falência dos mecanismos de termorregulação e a temperatura corporal ultrapassa 40 °C, instala-se a intermação (golpe de calor), caracterizada por:
- Pele quente, seca e avermelhada (sudorese ausente ou mínima)
- Delírio, confusão mental grave ou comportamento incoerente.
- Convulsões.
- Perda de consciência ou coma.
- Insuficiência respiratória ou cardiovascular.
É importante destacar que a presença de sintomas neurológicos, como alterações da consciência, fala arrastada, desorientação ou crises convulsivas, indica gravidade e requer atendimento médico imediato.
Mesmo em casos menos severos, os sintomas decorrentes da exposição ao calor devem ser valorizados, especialmente em idosos, gestantes, crianças e pessoas com doenças crônicas, pois nesses grupos os mecanismos compensatórios são menos eficientes e as complicações se instalam mais rapidamente.
Complicações do calor excessivo
Quando os mecanismos de termorregulação falham diante de uma exposição prolongada ao calor excessivo, o organismo pode sofrer uma série de complicações clínicas, que vão desde desconfortos leves até condições potencialmente fatais.
A gravidade dessas manifestações depende de fatores como idade, estado de saúde prévio, nível de hidratação, intensidade da exposição térmica e resposta individual ao estresse ambiental.
Desidratação
A desidratação é uma das primeiras e mais comuns consequências do calor excessivo. Ela resulta da perda aumentada de líquidos e eletrólitos pela sudorese, especialmente quando não há reposição adequada.
Os sintomas incluem boca seca, fadiga, urina escura, tontura e taquicardia. Em casos mais severos, pode comprometer a função renal e cardiovascular.
Distúrbios hidroeletrolíticos
A sudorese intensa também provoca desequilíbrios nos níveis de sódio, potássio, cloro e outros eletrólitos, essenciais para o funcionamento celular e muscular. A hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue), por exemplo, pode causar náuseas, cefaleia, confusão mental e, em casos graves, convulsões e coma.
Exaustão pelo calor
A exaustão térmica é uma condição intermediária entre o desconforto térmico e o golpe de calor. Caracteriza-se por fraqueza intensa, sudorese profusa, hipotensão, náuseas, tontura e confusão leve. A temperatura corporal costuma estar elevada, mas geralmente permanece abaixo de 40 °C. O quadro exige interrupção da exposição ao calor, hidratação oral ou venosa e monitoramento clínico.
Rabdomiólise
A exposição ao calor intenso, especialmente durante atividade física extenuante, pode causar rabdomiólise, uma condição na qual há destruição das fibras musculares e liberação de mioglobina na circulação. Essa proteína pode se acumular nos rins, levando à insuficiência renal aguda. Os sinais incluem dores musculares, urina escura (cor de “chá” ou “Coca-Cola”) e fraqueza generalizada.
Para mais informações, leia: Rabdomiólise: o que é, causas, sintomas e tratamento.
Insuficiência renal aguda
Tanto a desidratação quanto a rabdomiólise podem desencadear insuficiência renal aguda, caracterizada pela redução súbita da capacidade dos rins de filtrar o sangue. A ausência de tratamento pode levar a complicações graves, incluindo necessidade de hemodiálise de urgência.
Para mais informações, leia: Insuficiência renal aguda.
O que é intermação?
A intermação, também conhecida como golpe de calor (heat stroke), é a forma mais grave de estresse térmico causado pela exposição prolongada ao calor excessivo. Trata-se de uma emergência médica caracterizada pela elevação da temperatura corporal central acima de 40 °C, acompanhada de disfunção neurológica e falência dos mecanismos fisiológicos de regulação térmica.
Diferentemente da febre, em que a temperatura do corpo aumenta por regulação interna (geralmente por resposta imunológica), a intermação ocorre quando o calor ambiental é tão intenso que o organismo perde a capacidade de dissipar o calor acumulado. Isso compromete o funcionamento celular e pode levar rapidamente à lesão de múltiplos órgãos, incluindo o cérebro, o coração, os rins e o fígado.
Os principais sinais clínicos de intermação incluem:
- Pele quente, seca e avermelhada (sudorese ausente ou reduzida).
- Confusão mental, delírio, fala arrastada ou comportamento anormal.
- Cefaleia intensa.
- Náuseas e vômitos.
- Convulsões ou coma.
- Taquicardia e pressão arterial instável.
A intermação requer intervenção imediata. O paciente deve ser removido do ambiente quente e o resfriamento corporal deve ser iniciado o mais rápido possível, por meio de banhos com água fria, compressas geladas ou ventilação forçada. O tratamento definitivo deve ser realizado em ambiente hospitalar, muitas vezes em unidade de terapia intensiva (UTI), dada a gravidade do quadro.
Sem tratamento rápido e adequado, a intermação pode evoluir para falência múltipla de órgãos e morte. A taxa de mortalidade em casos não tratados pode ultrapassar 50%.
Por sua gravidade e potencial letalidade, a intermação representa uma das principais urgências médicas relacionadas ao calor excessivo e exige atenção especial em épocas de ondas de calor ou em populações expostas a ambientes muito quentes, como trabalhadores ao ar livre, atletas e idosos.
O que é insolação?
A insolação é uma condição causada pela exposição direta e prolongada à radiação solar, especialmente em horários de alta intensidade ultravioleta, como entre 10h e 16h. Diferentemente do golpe de calor (intermação), que pode ocorrer mesmo em ambientes fechados muito quentes, a insolação está relacionada especificamente à ação direta do sol sobre o corpo e o sistema nervoso central.
Durante a insolação, o organismo sofre com a elevação da temperatura corporal, desidratação progressiva e danos causados pela radiação ultravioleta, levando a um quadro que combina estresse térmico com efeitos sistêmicos da exposição solar intensa.
Os principais sintomas incluem:
- Temperatura corporal elevada (geralmente entre 39 °C e 41 °C).
- Dor de cabeça intensa.
- Vermelhidão e queimação da pele.
- Tontura, fraqueza e mal-estar.
- Náuseas e vômitos.
- Olhos irritados ou sensíveis à luz.
- Confusão mental ou desorientação.
- Ausência de suor (em casos graves).
A insolação pode evoluir rapidamente para um quadro de intermação, principalmente em idosos, crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas. Se não for tratada com agilidade, pode haver comprometimento neurológico, colapso cardiovascular e até óbito.

Como se proteger do calor excessivo
A prevenção é a principal estratégia para reduzir os riscos associados à exposição ao calor excessivo, especialmente em períodos de ondas de calor ou em regiões com alta temperatura e umidade relativa do ar.
A seguir, apresentam-se as medidas mais eficazes para proteger a saúde em ambientes quentes, tanto em contextos domiciliares quanto ocupacionais ou urbanos:
Hidratação adequada
- Beba água com frequência ao longo do dia, mesmo que não sinta sede.
- Dê preferência à água, água de coco ou bebidas isotônicas em caso de atividade física.
- Evite bebidas alcoólicas, energéticos e excesso de cafeína, pois favorecem a perda de líquidos.
Evite exposição solar nos horários críticos
- Procure evitar sair ao ar livre entre 10h e 16h, período de maior radiação solar e temperatura elevada.
- Se for inevitável, use chapéus de aba larga, óculos escuros com proteção UV e protetor solar com FPS igual ou superior a 30, reaplicando a cada 2 horas.
Utilize vestuário apropriado
- Use roupas claras, leves e de tecidos naturais, como algodão ou linho, que favorecem a ventilação e a evaporação do suor.
- Evite tecidos escuros, sintéticos ou muito ajustados ao corpo, que retêm calor e dificultam a transpiração.
Procure ambientes ventilados e climatizados
- Prefira locais com ventilação natural ou ar-condicionado, principalmente nos momentos mais quentes do dia.
- Em ambientes fechados, mantenha janelas abertas e use ventiladores para promover a circulação de ar.
- Quando necessário, utilize umidificadores ou desumidificadores para ajustar a umidade relativa do ar ao intervalo ideal (40% a 60%).
Alimentação leve
- Prefira refeições mais leves, ricas em frutas, vegetais e alimentos de fácil digestão.
- Evite refeições pesadas, frituras e excesso de sal, que aumentam a carga metabólica e favorecem a retenção de calor.
Evite atividades físicas intensas durante o calor extremo
- Evite exercícios ao ar livre nos horários de maior calor.
- Reduza a intensidade dos treinos e aumente os intervalos de descanso.
- Em academias ou espaços fechados, certifique-se de que o ambiente esteja adequadamente ventilado.
Atenção a grupos de risco
- Idosos, crianças, gestantes, pessoas com doenças crônicas e trabalhadores expostos ao sol devem receber atenção redobrada.
- Monitore sinais precoces de desidratação ou estresse térmico nessas populações.
- Em escolas, instituições de longa permanência ou ambientes de trabalho, é fundamental garantir acesso constante à água, sombra e períodos de pausa.
Acompanhe previsões e alertas climáticos
- Fique atento a boletins meteorológicos, especialmente durante o verão.
- Em caso de alerta de onda de calor, reorganize sua rotina, evite deslocamentos desnecessários e oriente pessoas próximas sobre os cuidados necessários.
Perguntas frequentes
O que fazer ao notar sinais de intermação ou insolação?
Interrompa imediatamente a exposição ao calor, leve a pessoa para um local arejado e fresco, aplique compressas frias e ofereça água (se estiver consciente). Em casos de confusão mental, convulsões, pele muito quente e seca ou perda de consciência, procure atendimento médico de urgência.
Qual é a temperatura considerada perigosa para a saúde?
Temperaturas corporais acima de 38 °C já indicam estresse térmico. Quando ultrapassam 40 °C, há risco iminente de intermação. Em termos ambientais, valores superiores a 32–35 °C com alta umidade relativa do ar aumentam significativamente o risco de complicações, especialmente para grupos vulneráveis.
Qual é a diferença entre insolação e intermação?
A insolação é causada pela exposição direta e prolongada ao sol, resultando em desidratação, queimaduras e sintomas como tontura, náuseas e dor de cabeça. Já a intermação (ou golpe de calor) é um quadro mais grave, que pode ocorrer mesmo sem exposição direta ao sol, caracterizado por falência dos mecanismos de regulação térmica, temperatura corporal acima de 40 °C e sintomas neurológicos como confusão, convulsões e coma.
Quais aparelhos ajudam a reduzir os efeitos do calor dentro de casa?
Além do ar-condicionado, ventiladores e climatizadores evaporativos podem ajudar a aliviar o calor. Em ambientes muito secos, o uso de umidificadores auxilia na manutenção do conforto térmico. Já em locais úmidos, ventiladores de exaustão e desumidificadores podem melhorar a sensação térmica e facilitar a evaporação do suor.
O que significam as cores dos alertas de calor?
Os alertas de calor são emitidos por órgãos meteorológicos, como o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), e utilizam um sistema de cores para indicar o nível de perigo à saúde:
— Alerta amarelo (perigo potencial): indica possibilidade de calor intenso, com risco leve para a saúde, especialmente em pessoas mais sensíveis.
— Alerta laranja (perigo): há risco significativo de problemas de saúde em função da elevação da temperatura, com recomendação de evitar exposição prolongada e redobrar os cuidados com hidratação.
— Alerta vermelho (grande perigo): representa uma condição crítica, com ameaça à vida em algumas regiões, exigindo medidas urgentes de proteção e atenção médica, principalmente para grupos vulneráveis.
Esses alertas são divulgados por meios de comunicação e plataformas digitais, e devem ser monitorados com atenção durante os períodos de calor intenso.Existe uma temperatura limite para suspensão de atividades físicas ou trabalho ao ar livre?
Embora não exista uma norma única para todos os países, muitos especialistas recomendam suspender ou adiar atividades físicas ao ar livre quando a sensação térmica ultrapassa 40 °C, especialmente com umidade elevada. Em ambientes ocupacionais, a Norma Regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho prevê limites de tolerância para exposição ao calor, que variam conforme o tipo de atividade e uso de EPI.
O calor excessivo pode afetar a qualidade do sono?
Sim. Altas temperaturas, especialmente durante a noite, podem interromper os ciclos do sono, dificultar o início do sono profundo e aumentar a frequência de despertares. Ambientes abafados e úmidos reduzem a eficiência do resfriamento corporal, prejudicando o descanso. Dormir em local ventilado, com roupas leves e boa hidratação, pode amenizar esse impacto.
Pessoas com transtornos mentais correm mais riscos durante o calor extremo?
Sim. Estudos mostram que indivíduos com transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e depressão, têm maior risco de complicações durante períodos de calor excessivo. Isso ocorre por diversos fatores: alterações no controle térmico cerebral, uso de medicamentos que interferem na sudorese e percepção de sede, além de barreiras sociais que dificultam o autocuidado.
Referências
- Heatstroke – New England Journal of Medicine.
- Heat and health – World Health Organization (WHO).
- Management of heatstroke and heat exhaustion – American Academy of Family Physicians.
- The effects of extreme heat on human mortality and morbidity in Australia: implications for public health – Asia-Pacific journal of public health.
- Nonexertional (classic) heat stroke in adults – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.