Dieta na Gravidez: o que a grávida não deve comer (e o que pode)

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Dieta na gravidez

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Introdução

Alimentos podem ser fonte de toxinas perigosas ao desenvolvimento do feto e de infecções potencialmente causadoras de malformações, como, por exemplo, toxoplasmose. Por isso, a maioria das gestantes precisa adaptar sua dieta para minimizar a ocorrência de intoxicações que possam provocar efeitos negativos a curto e a longo prazo na vida do bebê.

Não são só os tipos de alimentos que precisam ser trocados, mas também a forma como os mesmos são preparados. Quando a grávida come os alimentos errados, ela está colocando a saúde do seu bebê em risco.

Neste artigo, abordemos, à luz do atual conhecimento científico, as dúvidas mais comuns em relação aos tipos de alimentos que podem ou não ser consumidos pelas grávidas, incluindo, entre outros, carnes, sushi, camarão, chocolate, queijos e amendoim.

Alimentos que requerem cuidados na gravidez

É essencial que as gestantes façam escolhas alimentares equilibradas e nutritivas para garantir o fornecimento dos nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento fetal, além de manter a saúde materna. A alimentação durante a gravidez deve ser variada e balanceada, incluindo uma ampla gama de alimentos ricos em nutrientes essenciais. Entre os nutrientes mais importantes estão o ácido fólico, o ferro, o cálcio, as proteínas, as fibras e as vitaminas.

No entanto, alguns cuidados precisam ser tomados. Abaixo, discutimos os alimentos mais polêmicos na gravidez:

Carne mal passada

Uma das grandes preocupações na gravidez é em relação ao consumo de carnes cruas ou mal passadas, pois elas podem ser fonte de ovos do Toxoplasma gondii, parasito causador da toxoplasmose. A toxoplasmose é uma das infecções mais perigosas de se adquirir na gravidez, pois o risco de gerar malformações no feto é elevadíssimo.

Qualquer carne crua, seja de vaca, porco, frango, pato, peru, etc., pode estar contaminada com ovos do parasito. Felizmente, esses ovos não resistem ao processo de cozimento. Portanto, carnes ao ponto ou bem passadas podem ser consumidas normalmente pelas gestantes.

As pessoas que já tiveram toxoplasmose durante a vida encontram-se imunizadas e não correm risco de ter a doença durante a gravidez. Como a toxoplasmose é uma doença que não provoca sintomas na maioria dos casos, a maioria das pessoas só descobre que já foi contaminada através de exames de sangue. Portanto, se durante o exame pré-natal você descobrir que nunca teve toxoplasmose, isso significa que você é uma grávida susceptível, que deve redobrar os cuidados com o consumo de carnes.

Mesmo que você tenha sorologia positiva para toxoplasmose, indicando imunidade contra a doença, sugerimos que evite carnes cruas ou mal passadas, pois, além da toxoplasmose, existem outras infecções que podem ser adquiridas pelo consumo de carnes mal cozidas.

Para saber mais sobre a toxoplasmose, leia:

Embutidos ou enchidos

Alimentos como linguiças, chouriços, salame, calabresa, presuntos, etc., são feitos com carne crua e, por isso, podem ser também fontes de ovos da toxoplasmose. Portanto, eles não devem ser consumidos sem serem antes cozinhados.

Uma das formas de reduzir o risco de transmissão da toxoplasmose é através do congelamento dessas carnes, uma vez que os ovos do Toxoplasma gondii não resistem a temperaturas muito baixas. O ideal é manter as carnes congeladas por pelo menos 4 a 5 dias antes de consumi-la.

Outro risco dos embutidos é a contaminação pela bactéria Listeria, que pode provocar intoxicação alimentar e maior risco de aborto ou parto prematuro. É importante salientar que a infecção por Listeria é pouco comum, correspondendo à apenas 1% dos casos de intoxicação alimentar.

Nas grávidas com sorologia negativa para toxoplasmose, o ideal é não consumir embutidos crus. Se o desejo for muito grande, pelo menos consuma somente as carnes que tenham sido previamente congeladas.

Sushi

A carne de peixe não é uma fonte habitual de transmissão da toxoplasmose, mas a contaminação pode ocorrer se água na qual o peixe foi pescado encontra-se contaminada com fezes de gatos. Apesar do risco de toxoplasmose ser baixo, assim como qualquer outra carne mal cozida, os peixes podem ser também fonte de intoxicações alimentares, principalmente se forem mal conservados ou preparados de forma pouco higiênica.

Há muita controvérsia quanto à segurança do consumo de peixo cru, tipo sushi. Em geral, se o peixe for conservado em temperaturas abaixo de zero grau, o frio elimina grande parte das bactérias e parasitos que possam existir, inclusive os ovos de Toxoplasma gondii. Se você quiser ir ao um restaurante de sushi, opte por um com alto padrão de higiene e converse com o gerente sobre as condições de preservação do peixe cru. Os bons restaurantes japoneses optam por congelar os peixes e depois os mantêm em baixas temperaturas para minimizar os risco de intoxicação alimentar nos seus clientes.

Além disso, muitos restaurantes de sushi recebem o seu salmão vindo de “fazendas” de peixes. Nestes locais, o peixe é criado em cativeiro, e o risco da água estar contaminada com ovos de Toxoplasma gondii é praticamente nulo. O “salmão cultivado” é seguro para o consumo na gravidez.

Portanto, apesar de ser muito comum encontrarmos sites que afirmam que o consumo de sushi é proibido na gravidez, falta embasamento científico para essa proibição. Na Inglaterra, por exemplo, o site do NHS (o sistema nacional de saúde de lá) deixa bem claro que o consumo de sushi na gravidez não é contraindicado, desde que as condições acima sejam respeitadas.

Peixes defumados costumam ser seguros, porém, esse tipo de preparo não elimina o risco de contaminação pela bactéria Listeria, que, como já dissemos, pode aumentar o risco de aborto.

Anisaquíase (verme do sushi)

A anisaquíase (ou anisakíase), uma infecção parasitária causada por larvas de nematoides do gênero Anisakis, é contraída através do consumo de peixes e frutos-do-mar crus ou malcozidos. Apesar dessa parasitose ser conhecida por causar sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, náuseas e vômitos, as evidências sobre os riscos específicos para gestantes e fetos são limitadas.

Não há indicação de que a anisaquíase tenha efeitos diretos no feto, uma vez que o parasita não atravessa a placenta. No entanto, a infecção pode resultar em complicações significativas para a saúde da gestante, como inflamação grave do trato gastrointestinal, perfuração intestinal, e, em casos raros, reações alérgicas severas. Essas complicações podem indiretamente afetar o bem-estar fetal devido ao impacto negativo na saúde geral da mãe.

Para ler sobre a anisaquíase, acesse: Anisaquíase (verme do sushi): como se pega e tratamento

Peixe

A ingestão de peixes, principalmente se forem bem cozidos, não costuma ser um problema na gravidez. Porém, alguns tipos de peixe contêm altas concentrações de mercúrio, uma substância altamente tóxica ao sistema nervoso no feto.

O consumo de peixes habitualmente ricos em mercúrio é proibido durante a gestação. Tubarão, peixe-espada, cavala e alguns tipos de atum são alguns exemplos. Em alguns países, como os Estados Unidos, o consumo de peixes na gravidez, mesmo atum enlatado, sardinha e salmão, que possuem baixos teores de mercúrio, costuma ser limitado a 2 refeições por semana. Esta restrição, porém, é vista por muitos médicos como excessivamente cautelosa. Em geral, se o peixe não tiver origem em regiões com alta incidência de contaminação por mercúrio, o seu consumo não precisa ser limitado.

Camarão ou frutos-do-mar

Camarão, lagosta e outros frutos-do-mar não costumam ter níveis elevados de mercúrio, sendo, portanto, seguros na gravidez. É importante salientar, contudo, que mariscos se contaminam com bactérias com muita facilidade. Logo, é importante certificar-se que os mesmos estejam muito bem cozidos antes de comê-los. Nenhum tipo de marisco cru deve ser consumido durante a gravidez.

Verduras e legumes

Verduras e legumes crus podem estar contaminados com ovos da toxoplasmose. Qualquer vegetal que venha a ser comido cru deve ser bem lavado antes de ir à mesa. Se o vegetal for bem limpo ou cozinhado, ele pode ser consumido sem problemas.

Ovos

Ovos são frequentemente contaminados pela bactéria Salmonella, que pode causar formas graves de intoxicação alimentar.

As orientações quanto ao consumo de ovos são as mesmas que as das carnes. O seu consumo é permitido, contando que o ovo esteja bem cozido. A grávida deve lembrar-se que alguns molhos, sorvetes ou maioneses caseiros podem ser feitos com ovo cru. Maionese e sorvetes comerciais são feitos com alimentos pasteurizados, o que elimina o risco de contaminação por bactérias.

Queijos ou derivados de leite

Laticínios podem estar contaminados com a bactéria Listeria. Queijos, como Brie, Camembert, Roquefort, Feta e Gorgonzola, se feitos de forma caseira, devem ser evitados. Qualquer leite não industrializado também. Queijos e leites industrializados são seguros, pois eles são pasteurizados, um procedimento que destrói os germes presentes nos alimentos.

Chocolate

O consumo de chocolate não é contraindicado na gravidez. Não há nenhuma substância em quantidades relevantes no chocolate que seja nociva para a grávida ou seu bebê, exceto pelo açúcar. Na verdade, o único problema do consumo livre de chocolate durante a gestação é exatamente a grande quantidade de calorias e carboidratos que a grávida acaba ingerindo, o que pode levar a um ganho de peso excessivo e às suas consequentes complicações, como diabetes gestacional e hipertensão (leia: Diabetes gestacional).

Café

Apesar de também ser um tópico controverso, alguns estudos demonstraram que o consumo exagerado de cafeína pode provocar aborto, parto prematuro e atraso no crescimento fetal.

Não é preciso cortar radicalmente as suas fontes de cafeína, mas, atualmente, a maioria dos médicos sugere um consumo máximo de 200 a 300 mg de cafeína por dia.

Apenas como referência, uma xícara de café de 50 ml contém cerca de 60 a 70 mg de cafeína. Uma lata de Coca-Cola tem entre 40 e 50 mg de cafeína. Uma barra de chocolate tem menos de 10 mg.

Bebidas alcoólicas

Outro tema controverso. Historicamente, o consumo de bebidas alcoólicas sempre foi contraindicado na gravidez. Sabemos que o consumo moderado a pesado de álcool na gestação está relacionado a diversos problemas no desenvolvimento do feto. O Álcool é reconhecidamente uma droga teratogênica (causadora de malformações). Porém, nos últimos anos alguns estudos mostram que o consumo leve ou apenas ocasional de álcool não parece provocar relevantes alterações no desenvolvimento do bebê.

O problema é que não sabemos qual é a fronteira entre o que pode ser considerado consumo seguro e consumo danoso. Na verdade, o mais provável é que a resposta seja individual. O que pode ser seguro para algumas gestantes, pode levar a problemas gestacionais em outras. Por isso, as principais Sociedades de Obstetrícia do mundo mantêm a orientação de evitar complemente o consumo de álcool na gravidez.

Se você acabou de descobrir que está grávida e lembrou-se que bebeu uma taça de vinho à refeição ou um copo de cerveja ontem à noite, não se preocupe, o risco desse consumo lhe trazer algum mal é praticamente inexistente.

Para saber sobre os efeitos maléficos do álcool na gravidez, leia: Álcool na gravidez: existe limite seguro?

Amendoim

Até pouco tempo atrás os médicos orientavam suas gestantes a evitar alimentos que contivessem amendoim. Imaginávamos que com essa medida a incidência de bebês com alergia ao amendoim fosse reduzida.

Trabalhos recentes, porém, mostraram que o consumo de amendoim na gravidez não tem influência nenhuma no risco do bebê vir a ser alérgico.

Na verdade, nenhum estudo conseguiu demostrar qualquer relação entre a dieta da mãe e a ocorrência de alergia nos bebês. Impedir que a grávida consuma alimentos com elevada prevalência de alergia, tais como amendoim, frutos-do-mar, leite, ovos, etc., não afeta em nada o risco do bebê vir a ter alergia alimentar.

Para saber mais sobre alergia alimentar, leia: Alergia à comida.

Nutrientes que a gestante deve procurar consumir

  • Ácido fólico: fundamental para a prevenção de defeitos do tubo neural no feto, o ácido fólico pode ser encontrado em vegetais de folhas verdes, feijões, ervilhas e cereais fortificados (leia: Ácido Fólico na Gravidez).
  • Ômega-3: os ácidos graxos ômega-3 são essenciais para a saúde durante a gravidez, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento fetal, especialmente no desenvolvimento cerebral e ocular. Os dois principais tipos de ômega-3 são o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosaexaenoico (DHA), encontrados principalmente em peixes gordurosos (leia: Ômega 3: fontes, suplementos e benefícios).
  • Ferro: essencial para a formação de hemoglobina, que transporta oxigênio para as células, o ferro é encontrado em carnes magras, frango, peixe, feijões, lentilhas e espinafre. A absorção de ferro é melhorada quando consumido junto com alimentos ricos em vitamina C, como laranjas, morangos e pimentões.
  • Cálcio: importante para o desenvolvimento dos ossos e dentes do bebê, além de manter a saúde óssea da mãe, o cálcio pode ser obtido através de leite e derivados, vegetais de folhas verdes escuras, tofu e alimentos fortificados como sucos e cereais.
  • Proteínas: essenciais para o crescimento e reparação dos tecidos do corpo, as proteínas devem ser consumidas em quantidades adequadas, presentes em carnes magras, frango, peixe, ovos, nozes e leguminosas.
  • Fibras: cruciais para a saúde digestiva e a prevenção da constipação, as fibras são abundantes em frutas, vegetais, grãos integrais e leguminosas.
  • Vitaminas: as vitaminas A, C, D e E desempenham papéis importantes na visão, imunidade, saúde da pele, absorção de cálcio e função antioxidante. Essas vitaminas podem ser encontradas em frutas, vegetais, produtos lácteos e oleaginosas (leia: Vitaminas: mitos, carência e superdosagem).

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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