Introdução
O nascimento de um filho(a) é habitualmente retratado como um momento de grande alegria para a família, principalmente para a mãe.
O que muita gente não sabe, porém, é que entre 40 a 80% das mães podem desenvolver quadros de rebaixamento do humor logo após o parto, que comumente incluem episódios de choro, ansiedade, medo de não ser uma boa mãe, melancolia e dificuldade para dormir. Essas alterações do humor costumam aparecer nos primeiros dois a três dias após o parto e podem durar até duas semanas.
Quando a alteração do humor após o nascimento do bebê é muito intensa e dura mais do que 14 dias, podemos estar diante de um quadro chamado de depressão pós-parto.
A depressão pós-parto não é um sinal de fraqueza, falha de caráter ou de incompetência para o papel de mãe. As mulheres que desenvolvem essa forma de depressão não devem subestimar a sua capacidade de ser uma boa mãe, mas devem entender que estão sofrendo de um transtorno psiquiátrico e que precisam de ajuda profissional para superar o problema.
Neste artigo falaremos especificamente do quadro de depressão que surge logo antes ou após o parto.
Se você procura informações gerais sobre a depressão, acesse o seguinte artigo: Depressão – Causas, Sintomas e Tratamento.
Informações em vídeo
Antes de seguirmos em frente com o artigo, assista a esse curto vídeo que resume o que é a depressão pós-parto.
O que é a depressão pós-parto?
Apesar desta forma de depressão ser chamada de pós-parto, ela é um quadro que pode surgir ainda durante a gravidez em até metade dos casos. Quando a depressão surge após o parto, ela geralmente manifesta-se dentro das 4 primeiras semanas após o nascimento do bebê.
Estudos clínicos nos mostram que a depressão pós-parto (DPP) acomete cerca de 10% das mulheres, mas esse número provavelmente está subestimado, porque, muitas vezes, o diagnóstico nem sequer é feito, já que a mãe depressiva não procura ajuda médica. Estima-se que apenas metade das mães com DPP acaba por receber um diagnóstico e, consequentemente, tratamento adequado.
O aparecimento da depressão pós-parto costuma ocorrer na seguinte forma:
- 20% das mulheres desenvolvem DPP durante a gravidez.
- 38% desenvolvem quando o parto está próximo.
- 42% desenvolvem após o parto.
Entre as mães que desenvolvem depressão após o nascimento do bebê, o momento de abertura do quadro costuma ser:
- Nas primeiras 4 semanas para 54% das mulheres.
- Entre 4 e 16 semanas para 40% das mães.
- Após 16 semanas para 6% das mulheres.
É interessante notar que a depressão pós-parto não é uma doença exclusiva das mães. Pais também podem ter DPP. Tal como acontece com as mulheres, os sintomas depressivos podem fazer com que eles tenham dificuldade em cuidar de si e de seus filhos.
Causas e fatores de risco
A depressão pós-parto é um distúrbio desencadeado por múltiplos fatores. A queda nos níveis de hormônios que ocorre logo após o fim da gravidez, associado ao cansaço físico pela privação do sono e o estresse emocional que um bebê recém-nascido gera, costumam ter grande peso na alteração de humor da mãe.
Alguns fatores aumentam o risco de a mãe desenvolver DPP. São eles:
- História de depressão pós-parto em gravidez anterior.
- Conflitos conjugais.
- Dificuldade financeira.
- Mães com idade menor que 25 anos.
- Mães solteiras.
- História familiar de depressão.
- Problemas de saúde do bebê.
- Gravidez indesejada.
- Dificuldade para amamentar.
- Bebês de temperamento difícil.
- Mulheres com história de tensão pós-menstrual grave.
Sintomas
Os sintomas da DPP são semelhantes aos sintomas da depressão major que pode ocorrer em qualquer indivíduo (leia: Sintomas da depressão).
Como já referido, a maioria das mulheres apresenta quadros de tristeza e melancolia nas primeiras 2 semanas pós-parto, mas não chegam a desenvolver depressão propriamente.
Os sinais e sintomas da melancolia pós-parto incluem:
- Mudanças frequentes de humor.
- Ansiedade.
- Tristeza.
- Irritabilidade
- Choro fácil.
- Falta de concentração.
- Perda do apetite.
- Dificuldade para dormir
A depressão pós-parto pode ser confundida com a melancolia pós-parto, mas os seus sinais e sintomas são mais intensos, duradouros e frequentemente interferem com sua capacidade de cuidar do seu bebê e lidar com outras tarefas diárias.
Os sintomas de depressão pós-parto incluem todos aqueles citados anteriormente, mais:
- Dificuldade de ligação com seu bebê.
- Redução do interesse em tarefas que antes eram prazerosas.
- Afastamento da família e amigos.
- Pensamentos de prejudicar a si ou ao seu bebê.
- Fadiga abrupta ou perda de energia.
- Intensa irritabilidade e raiva.
- Intenso medo de não ser uma boa mãe.
- Sentimentos de inutilidade, vergonha, culpa ou inadequação.
- Ansiedade grave e ataques de pânico.
- Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
Apesar dos pensamentos suicidas e das ideias de fazer mal ao bebê, raros são os casos em que as duas situações se tornam realidade. As taxas de suicídios ou infanticídios pós-parto são de apenas 0,002%.
Psicose pós-parto
Apesar de raro, tanto o suicídio materno quanto o infanticídio são situações que podem ocorrer, principalmente se mãe desenvolver um quadro de psicose pós-parto, que é como se fosse a forma mais grave de depressão pós-parto.
A psicose pós-parto acomete cerca de 0,1% das mães e costuma surgir nas primeiras 2 semanas após o parto. Os seus sinais e sintomas são:
- Confusão mental e desorientação.
- Pensamentos obsessivos sobre o bebê.
- Alucinações e delírios.
- Paranoia.
- Tentativas de prejudicar a si mesma ou o seu bebê.
A psicose pós-parto é uma emergência médica. Se você pensa em fazer mal a si mesma ou ao bebê, ou tem algum familiar que se encontre nessa situação, procure ajuda médica imediatamente.
Para entender melhor a psicose, leia: Sintomas da psicose.
Diagnóstico
A depressão pós-parto pode ser classificada como leve ou grave, consoante os seus sintomas. Se a paciente tiver 5 a 6 dos sinais e sintomas listados abaixo, ela é classificada como portadora de depressão pós-parto leve a moderada. Se tiver de 7 a 9 sintomas, a sua depressão é classificada como grave.
- Humor deprimido na maior parte do dia, em praticamente todos os dias.
- Perda de interesse em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias.
- Perda de peso significativa de forma involuntária ou aumento de peso em poucas semanas (por exemplo, uma mudança de mais de 5% do peso corporal, para mais ou para menos, em um intervalo de um mês).
- Insônia ou excesso de sono quase todos os dias.
- Agitação ou letargia quase todos os dias.
- Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
- Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, muitas vezes sem causa real, quase todos os dias.
- Diminuição da capacidade de concentração ou de tomar decisões quase todos os dias.
- Pensamentos recorrentes de morte (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente ou uma tentativa de suicídio fracassada.
Para ser depressão, os sintomas precisam interferir com a vida da mulher de forma pessoal, social e profissional, e não podem ser atribuídos a efeitos adversos de medicamentos nem estar relacionados a problemas de saúde previamente conhecidos.
Tratamento
O tratamento da depressão pós-parto costuma ser feito com sessões de psicoterapia e uso de medicamentos antidepressivos.
Com tratamento adequado, a depressão pós-parto geralmente desaparece dentro de seis meses. Em alguns casos, o quadro pode durar mais tempo, tornando-se depressão crônica. Pacientes não tratados de forma adequada têm maior risco de evoluir para depressão crônica.
Os antidepressivos mais utilizados são:
- Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) – por exemplo: sertralina, escitalopram, fluoxetina, citalopram ou paroxetina.
- Inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (ISRSN) – por exemplo: venlafaxina ou duloxetina.
- Bupropiona.
- Mirtazapina.
A melhora dos sintomas surge dentro de 1 a 3 semanas, mas é importante que a mãe entenda que a sua boa resposta não autoriza a interrupção do tratamento. A suspensão precoce dos medicamentos geralmente leva a episódios de recaída da doença.
Referências
- Postpartum Depression Facts – The National Institute of Mental Health Information Resource Center.
- Postpartum Depression – American College of Obstetricians and Gynecologists.
- Postpartum Depression – U.S. National Library of Medicine.
- Postpartum depression – Office on Women’s Health.
- Postpartum unipolar major depression: Epidemiology, clinical features, assessment, and diagnosis – UpToDate.
- Mild to moderate postpartum unipolar major depression: Treatment – UpToDate.
- Depressive disorders. In: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders DSM-5. 5th ed. Arlington, Va.: American Psychiatric Association; 2013.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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