Candidíase vaginal: como se pega, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

31 Comentários

candidíase vaginal

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

O que é candidíase vaginal?

A candidíase vaginal, também chamada monilíase vaginal, é uma infecção ginecológica provocada pelo fungo Candida albicans. Essa micose é tão comum que 3 em cada 4 mulheres terão pelo menos um episódio de candidíase vaginal ao longo da vida.

A Candida albicans provoca um quadro de inflamação na vagina e na vulva (parte exterior da vagina), motivo pelo qual ela também é conhecida como vulvovaginite por Candida. A inflação genital da candidíase caracteriza-se pelos sinais e sintomas de vermelhidão local, intensa coceira e corrimento vaginal.

A monilíase vaginal pode ser facilmente tratada com medicamentos antifúngicos, mas algumas mulheres com episódios recorrentes de vulvovaginite podem precisar de tratamento prolongado para conseguirem se livrar da infecção.

Neste artigo, explicaremos o que é a vulvovaginite por Candida, quais são as suas causas, sintomas e tratamento. Falaremos também dos casos de candidíase recorrente, que podem ser difíceis de serem eliminados.

Causas

Conforme explicado na introdução do artigo, a candidíase vaginal é uma infecção da vagina e da vulva causada pelo fungo do gênero Candida. Dentre todas as espécies de Candida, a Candida albicans é a mais comum, sendo responsável por até 90% dos casos. A candidíase vulvovaginal também pode ser causada pelas espécies Candida glabrata ou Candida parapsilosis, mas esses casos são incomuns e tendem a ter um quadro clínico mais brandos.

A Candida é um fungo que existe naturalmente na nossa flora biológica, estando presente na boca e no sistema digestivo de até 50 a 80% das pessoas, dependendo da população estudada. Em situações normais, o nosso sistema imunológico e a presença dos outros microrganismos da nossa flora natural impedem que a Candida se multiplique exageradamente, mantendo sua população sob controle. Portanto, estar colonizado pelo fungo Candida não é sinônimo de ter uma infecção por Candida. A Candida é apenas um ente os milhões de germes que fazem parte da nossa flora natural de microrganismos.

Isso significa que a Candida é um germe oportunista, ou seja, um micróbio que pode viver inocentemente em nosso corpo sem causar doenças, mas que, ao menor sinal de fraqueza do nosso sistema imunológico ou distúrbio na nossa flora natural de germes, pode multiplicar-se e provocar infecções.

Entre 20 a 50% das mulheres têm a sua vagina colonizada pelo fungo Candida sem que isso, porém, signifique haver uma infecção pela Candida. Essas mulheres são completamente assintomáticas, pois o pH ácido da vagina, o sistema imunológico e a presença da flora bacteriana vaginal impedem que a Candida consiga se multiplicar. A vulvovaginite por Candida só surge se houver algum distúrbio em pelo menos um desses três fatores de proteção citados.

Como se pega candidíase?

A pergunta acima é muito comum, mas ela é conceitualmente errada, pois, na maioria dos casos, não se pega candidíase de ninguém; a vulvovaginite surge porque a Candida albicans, que já existia no seu organismo, encontrou formas de ultrapassar as defesas do nosso corpo e conseguiu multiplicar-se descontroladamente.

Habitualmente, a Candida albicans que coloniza a vagina das mulheres tem sua origem na região perianal. A Candida que existe no trato gastrointestinal e coloniza a região perianal pode migrar pelo períneo, alcançar a vagina e se estabelecer nessa nova região.

Uma forma comum disso ocorrer é através da limpeza incorreta do ânus após a evacuação. Se a mulher se limpa de trás para a frente, ela acaba trazendo germes da região perianal em direção à vagina. Isso favorece não só a colonização vaginal pela Candida, como também a ocorrência de infecção urinária por bactérias do trato gastrointestinal.

Eventualmente, a Candida albicans pode ser transmitida de uma pessoa para outra. Como a boca e trato gastrointestinal são os habitats mais comuns da Candida no nosso organismo, o sexo oral e o sexo anal são possíveis fontes de transmissão. O sexo vaginal também pode ser uma forma de transmissão, caso o pênis do parceiro ou a vagina da parceira estejam colonizados.

Cabe aqui uma ressalva, a transmissão da Candida por via sexual não necessariamente indica que a mulher irá desenvolver candidíase. A Candida recém-adquirida terá de enfrentar os mesmos fatores de defesa que uma Candida do próprio organismo precisa enfrentar. Como já vimos, ter o fungo Candida albicans não é sinônimo de ter infecção pelo fungo Candida albicans.

Portanto, apesar de a Candida poder ser transmitida pela via sexual, a monilíase vaginal em si não é considerada uma doença sexualmente transmissível, pois a imensa maioria dos casos de vulvovaginite por Candida não tem relação com o ato sexual. O número de parceiros que uma mulher tem na vida não interfere no risco dela desenvolver candidíase, e mulheres que praticam o celibato podem desenvolver vulvovaginite pela Candida albicans.

Fatores de risco

Em geral, a Candida albicans prolifera-se nas seguintes situações: redução da acidez vaginal (aumento do pH vaginal), alterações na flora microbiana da vagina, alterações hormonais ou fraqueza do sistema imunológico.

Vários fatores de risco para candidíase vulvovaginal já são bem conhecidos, sendo os mais importantes:

  • Diabetes Mellitus: mulheres diabéticas, principalmente aquelas com glicemia cronicamente mal controlada, são indivíduos particularmente propensos a desenvolver vulvovaginite por Candida (leia: Primeiros sintomas do diabetes).
  • Uso recente de antibióticos: cerca de 25 a 30% das mulheres que precisam fazer  um curso de antibióticos de largo espectro acabam desenvolvendo um episódio de candidíase vaginal. Isso ocorre porque os antibióticos agem contra as bactérias naturais da flora vaginal, mas são inertes contra os fungos.
  • Alterações hormonais: níveis muito elevados ou muito baixos de estrogênio interferem no meio vaginal e aumentam o risco de candidíase. Isso explica porque situações como gravidez, reposição hormonal, menopausa, uso de anticoncepcionais hormonais e até o período ovulatório podem facilitar o aparecimento da vulvovaginite por Candida.
  • Imunossupressão: mulheres imunossuprimidas, seja por doenças, como o HIV, ou por uso de drogas imunossupressoras, apresentam maior risco de desenvolverem candidíase.

Situações de risco ainda não comprovadas

Os fatores de risco listados acima são aqueles que comprovadamente influenciam no risco da mulher desenvolver uma candidíase. Há muitos outros, mas estes não apresentam resultados consistentes nos estudos clínicos realizados. Portanto, é possível, mas não é definitivamente correto que afirmar que os seguintes fatores aumentam o risco de candidíase:

  • Roupas apertadas.
  • Biquíni molhado
  • Métodos anticoncepcionais intravaginais, tais como DIU, diafragma ou esponja vaginal (leia: 20 métodos anticoncepcionais comuns).
  • Ducha vaginal.
  • Absorvente interno.

Como esses possíveis fatores de risco, apesar de não serem comprovados, podem ser evitados, faz sentido que as mulheres que apresentam candidíase recorrente tentem se resguardar. No entanto, quem nunca teve candidíase vulvovaginal ou teve somente um ou dois episódios ao longo de vários anos não precisa se preocupar com esses possíveis fatores de risco, pois eles não são assim tão relevantes.

Candidíase vaginal recorrente

Cerca de 5% das mulheres têm candidíase vaginal recorrente, que se caracteriza pela ocorrência de mais de 4 episódios de candidíase por ano. As recorrências habitualmente ocorrem pela falta de eficácia no tratamento de uma infecção anterior, o que permite que a mesma cepa de candidíase volte a crescer após algum tempo. Raramente, a recorrência da candidíase se dá por uma nova infecção, provocada por uma cepa diferente de Candida albicans.

Estudos sugerem que as mulheres que apresentam candidíase vaginal recorrente podem ser geneticamente mais susceptíveis à infecção pela Candida albicans, por alterações no sistema de defesa da região vaginal.

Sintomas

Prurido vulvar (coceira vaginal) é o sintoma mais importante da candidíase. Ardência ou dor na região vaginal também são comuns e podem ser acompanhadas por disúria (dor ao urinar) ou dispareunia (dor durante o ato sexual).

Outros sinais frequentes são a vermelhidão na região da vulva e o corrimento vaginal. O corrimento da candidíase vaginal é habitualmente leitoso, ou tipo queijo cottage, e sem odor.

Os sintomas da monilíase vaginal podem se agravar nos dias que antecedem a descida da menstruação.

Diagnóstico

Nenhum dos sintomas descritos acima é exclusivo da vulvovaginite pela Candida. Várias infecções ginecológicas, tais como a tricomoníase e vaginose bacteriana, podem causar sintomas semelhantes. Na verdade, de todas as mulheres que procuram o ginecologista com queixa de coceira vaginal, menos de 50% têm candidíase. A maioria apresenta outras causas de infecção ginecológica.

Portanto, o diagnóstico da candidíase vulvovaginal só pode ser estabelecido com certeza através da avaliação laboratorial do corrimento. Para tal, o ginecologista precisa realizar um exame ginecológico no qual ele utiliza uma espécie de cotonete para colher material da parede da vagina. Esse material é enviado para o laboratório, para que o germe causador da vaginite possa ser identificado.

Tratamento

Os casos mais simples de candidíase vulvovaginal podem ser tratados com pomadas antifúngicas de aplicação vaginal, entre elas o clotrimazol, nistatina e miconazol. Outra opção é o fluconazol comprimido de 150 mg em dose única. Ambas formas de tratamento têm taxas de sucesso acima de 90%, mas a posologia por via oral é mais confortável por ser simples e curta, sendo atualmente a forma mais utilizada.

Nos casos de candidíase recorrente, o tratamento é habitualmente feito com fluconazol por via oral por até 6 semanas.

Se você quiser saber mais detalhes sobre o tratamento da monilíase vaginal, temos um artigo exclusivo sobre o assunto: Opções de tratamento da candidíase vaginal.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Saiba mais

Artigos semelhantes

Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas

Leave a Comment