Relação entre HPV e câncer do colo do útero

O HPV é a principal causa do câncer do colo do útero, uma doença prevenível com vacinação e rastreamento. Este artigo aborda a relação entre HPV e câncer cervical, explicando diagnóstico, fatores de risco, prevenção e a importância do exame de Papanicolau.
Dr. Pedro Pinheiro
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HPV

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Introdução

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical ou câncer de cérvix uterina, é um dos tipos mais comuns de neoplasia maligna entre as mulheres, sendo a quarta principal causa de morte por câncer no sexo feminino ao nível global. No Brasil, trata-se de um problema significativo de saúde pública, com milhares de novos casos diagnosticados anualmente.

Estima-se que mais de 90% dos casos de câncer do colo do útero sejam causados pela infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV), um vírus sexualmente transmissível. O HPV possui diferentes subtipos, sendo que alguns deles apresentam alto risco oncogênico, ou seja, têm maior capacidade de causar alterações celulares precursoras do câncer.

Felizmente, o câncer cervical é amplamente prevenível por meio de estratégias como a vacinação contra o HPV, o rastreamento regular com o exame de Papanicolau e o tratamento precoce das lesões precursoras, como a neoplasia intraepitelial cervical (NIC).

Neste artigo, abordaremos a relação entre o HPV e o câncer do colo do útero, discutindo a fisiopatologia da infecção, os métodos de prevenção e diagnóstico, além das formas de tratamento disponíveis.

O que é HPV?

O papilomavírus humano (HPV) é um vírus altamente prevalente que possui mais de 200 subtipos identificados, sendo que cerca de 40 podem infectar a região anogenital e a mucosa oral. O HPV é exclusivo dos seres humanos e pode causar desde lesões benignas, como verrugas comuns na pele, até lesões precursoras de câncer.

Entre as manifestações do HPV, destacam-se as verrugas genitais, também chamadas de condilomas acuminados, que afetam a região anogenital. No entanto, a principal preocupação médica em relação ao HPV está na sua associação com o câncer do colo do útero, além de outros tipos de câncer, como os de vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe.

Quando falamos da relação entre o HPV e o câncer, referimo-nos, sobretudo, aos subtipos de alto risco oncogênico, que têm maior capacidade de provocar alterações celulares malignas. Destes, HPV-16 e HPV-18 são os mais relevantes, estando presentes em mais de 70% dos casos de câncer do colo do útero. Outros subtipos de alto risco incluem o HPV-31, HPV-33, HPV-45, HPV-52 e HPV-58.

É importante ressaltar que a infecção pelo HPV não implica automaticamente no desenvolvimento do câncer. Em muitos casos, o sistema imunológico consegue eliminar o vírus de forma espontânea ao longo do tempo.

No entanto, quando a infecção persiste por anos e há falhas na resposta imune, o HPV pode induzir alterações celulares progressivas, resultando em lesões pré-cancerígenas e, eventualmente, no câncer cervical.

Transmissão do HPV

O HPV é um vírus de transmissão predominantemente sexual, sendo considerada a infecção sexualmente transmissível (IST) mais comum do mundo. O contato direto com a pele ou mucosas infectadas, incluindo relações sexuais com ou sem penetração, é a principal via de transmissão. Embora o uso do preservativo reduza significativamente o risco de contágio, ele não é 100% eficaz, pois o vírus pode estar presente em áreas não cobertas pelo preservativo.

Estima-se que até 80% da população sexualmente ativa terá contato com o HPV em algum momento da vida. Apesar dessa alta prevalência, a maioria das infecções é transitória e não leva a complicações graves, sendo eliminadas pelo organismo em até dois anos. Entretanto, nos casos em que a infecção persiste, há um maior risco de evolução para lesões precursoras do câncer.

A prevenção do HPV envolve estratégias como vacinação, rastreamento com exames ginecológicos e o uso de preservativos, os quais ajudam a reduzir a transmissão, mas não a eliminam completamente.

HPV tem cura?

A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é, na maioria dos casos, transitória e assintomática. Estudos mostram que entre 80% e 90% das infecções pelo HPV são eliminadas espontaneamente pelo sistema imunológico em um período de até dois anos, sem necessidade de tratamento. Portanto, para a maioria das pessoas, o HPV não causa complicações de longo prazo e pode ser considerado “curado” naturalmente.

No entanto, entre 10% e 20% dos casos, o organismo não consegue eliminar o vírus, resultando em uma infecção persistente. Esses casos exigem maior atenção, pois a permanência do vírus por longos períodos pode levar ao desenvolvimento de lesões precursoras do câncer, especialmente no colo do útero.

A infecção persistente pelo HPV de alto risco pode levar a alterações celulares progressivas, resultando em neoplasia intraepitelial cervical (NIC), que pode evoluir para câncer do colo do útero ao longo dos anos. O tempo médio estimado para essa progressão é de 10 a 20 anos.

Existe tratamento para o HPV?

Não há um medicamento específico que elimine o HPV diretamente. O tratamento, quando necessário, foca na remoção das lesões causadas pelo vírus, seja na forma de verrugas genitais ou lesões precursoras do câncer. Métodos incluem:

  • Uso de agentes tópicos (ácido tricloroacético, podofilina, imiquimode) para verrugas genitais.
  • Procedimentos cirúrgicos (cauterização, laser, crioterapia, conização) para remoção de lesões pré-cancerígenas.

O acompanhamento ginecológico regular é essencial para monitorar possíveis alterações e intervir precocemente, quando necessário.

Para saber mais detalhes sobre a cura do HPV, leia: O vírus HPV tem cura ou tratamento.

Associação entre HPV e o câncer do colo do útero

A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Estima-se que mais de 90% dos casos dessa neoplasia estejam associados ao HPV, sendo que pelo menos 15 subtipos do vírus são classificados como de alto risco oncogênico.

Entre esses, os mais relevantes são o HPV-16 e o HPV-18, responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer cervical. Outros subtipos também associados ao câncer incluem HPV-31, HPV-33, HPV-45, HPV-52 e HPV-58.

A persistência da infecção pelo HPV é o principal fator determinante para o desenvolvimento do câncer. Quanto mais tempo uma mulher permanece infectada por um subtipo de alto risco, maior a probabilidade de que ocorra a progressão para lesões pré-cancerígenas e, eventualmente, para o câncer invasivo.

Fatores que aumentam o risco de progressão para o câncer cervical

Embora a infecção pelo HPV seja muito comum, a maioria das mulheres consegue eliminá-lo espontaneamente em até dois anos. No entanto, em alguns casos, o vírus persiste e pode levar a alterações celulares que evoluem para câncer. Alguns fatores aumentam o risco dessa progressão:

  • Tabagismo: o cigarro prejudica a resposta imunológica contra o HPV e aumenta a agressividade das lesões. Mulheres fumantes com infecção pelo HPV têm um risco significativamente maior de desenvolver câncer cervical.
  • Imunossupressão: pacientes com o sistema imunológico debilitado, como aquelas em tratamento com imunossupressores ou que vivem com HIV, apresentam um risco muito maior de persistência do HPV e progressão para o câncer. Além disso, nesses casos, os tumores tendem a ser mais agressivos e rápidos na sua evolução.
  • Múltiplos parceiros sexuais e início precoce da atividade sexual: a exposição precoce e frequente ao HPV aumenta as chances de infecção por subtipos de alto risco.
  • Uso prolongado de contraceptivos hormonais: alguns estudos sugerem que o uso contínuo da pílula anticoncepcional por mais de cinco anos pode aumentar a vulnerabilidade das células cervicais à infecção pelo HPV.

Papanicolau e o diagnóstico do câncer de colo do útero

O exame de Papanicolau, também conhecido como preventivo ginecológico, é a principal estratégia de rastreamento para a detecção precoce do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras. Esse exame é fundamental para reduzir a mortalidade por câncer cervical, pois permite a identificação e o tratamento precoce de alterações celulares antes que evoluam para um tumor invasivo.

O Papanicolau diagnostica o câncer?

Embora seja uma ferramenta essencial para a detecção precoce, o exame de Papanicolau não é um exame diagnóstico. Ele serve para identificar alterações celulares suspeitas, indicando quais mulheres devem ser submetidas a exames complementares, como colposcopia e biópsia do colo do útero. Somente a biópsia pode confirmar o diagnóstico de câncer.

Quem deve fazer o Papanicolau e com que frequência?

A recomendação geral é que todas as mulheres sexualmente ativas, especialmente entre 25 e 64 anos, realizem o exame de Papanicolau anualmente.

  • Se dois exames consecutivos apresentarem resultados normais, a frequência pode ser reduzida para a cada três anos.
  • Mulheres com fatores de risco, como infecção pelo HIV, imunossupressão ou histórico de NIC, devem manter exames mais frequentes, conforme orientação médica.

Se o exame identificar células com características pré-malignas, a paciente será encaminhada para colposcopia e biópsia, a fim de avaliar a extensão da lesão e determinar a necessidade de tratamento.

O que é NIC (neoplasia intraepitelial cervical)

A neoplasia intraepitelial cervical (NIC) é uma lesão pré-maligna do colo do útero, causada pela infecção persistente pelo HPV de alto risco oncogênico. Embora não seja um câncer, a NIC pode evoluir para um tumor invasivo ao longo dos anos se não for detectada e tratada precocemente.

A classificação da NIC é baseada no grau de alterações celulares e no risco de progressão para o câncer:

  • NIC 1 (displasia leve): lesão de baixo grau. A maioria dos casos regride espontaneamente em até dois anos sem necessidade de tratamento.
  • NIC 2 (displasia moderada): lesão de grau intermediário. Pode regredir espontaneamente, mas o risco de progressão para câncer é maior, exigindo acompanhamento rigoroso.
  • NIC 3 (displasia severa ou carcinoma in situ): lesão de alto grau, com alto risco de progressão para câncer. Geralmente, requer tratamento para remoção da área afetada.

É importante destacar que a remoção da lesão não elimina o HPV do organismo, mas reduz drasticamente o risco de progressão para o câncer.

Se a biópsia confirmar a presença de câncer cervical, o próximo passo é a realização de exames de imagem, como tomografia computadorizada da pelve e abdômen, para avaliar a extensão da doença e a possível presença de metástases.

Se você quiser saber mais sobre o rastreio do câncer de colo uterino, leia também os seguintes artigos:

Vacina para HPV

Atualmente, não existe um tratamento curativo para pessoas que desenvolvem infecção persistente pelo HPV, especialmente pelos subtipos de alto risco oncogênico como HPV-16 e HPV-18. Essas pessoas permanecem infectadas pelo vírus e podem desenvolver lesões pré-malignas e malignas ao longo dos anos.

Por isso, o desenvolvimento da vacina contra o HPV foi um avanço crucial na prevenção do câncer do colo do útero, bem como de outros tipos de câncer relacionados ao vírus, como os de vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe. A vacinação impede a infecção por subtipos específicos do HPV, reduzindo drasticamente a incidência de lesões precursoras do câncer.

Existem atualmente três tipos de vacinas contra o HPV, todas aprovadas por agências regulatórias de saúde:

  1. Vacina bivalente (Cervarix®) – Protege contra os subtipos HPV-16 e HPV-18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero.
  2. Vacina quadrivalente (Gardasil®) – Protege contra os subtipos HPV-6, HPV-11, HPV-16 e HPV-18. Além da proteção contra o câncer cervical, também previne verrugas genitais, que são causadas pelos subtipos HPV-6 e HPV-11.
  3. Vacina nonavalente (Gardasil 9®) – Protege contra nove subtipos do HPV: 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, ampliando a proteção contra o câncer de colo do útero e outros tumores relacionados ao HPV.

Embora as vacinas protejam contra os principais subtipos oncogênicos, não eliminam 100% do risco de câncer cervical, motivo pelo qual o exame de Papanicolau continua sendo essencial para todas as mulheres vacinadas.

A vacinação contra o HPV é mais eficaz quando administrada antes do início da vida sexual, pois a pessoa ainda não teve exposição ao vírus. No Brasil, a vacina é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para:

  • Meninas e meninos de 9 a 14 anos – principal grupo-alvo, pois a resposta imune é mais eficiente quando a vacina é administrada nessa idade.
  • Mulheres imunossuprimidas de 9 a 45 anos e homens imunossuprimidos de 9 a 26 anos (portadores de HIV/AIDS, transplantados e pacientes em tratamento contra o câncer).

O esquema vacinal pode variar de acordo com a idade:

  • Crianças e adolescentes de 9 a 14 anos: duas doses (intervalo de 6 meses entre elas).
  • Pessoas acima de 15 anos: três doses (0, 2 e 6 meses após a primeira dose).

Para mulheres acima de 26 anos, a vacinação ainda pode oferecer benefícios, especialmente para aquelas que não foram expostas a todos os subtipos do HPV incluídos na vacina. Embora o efeito protetor possa ser menor, especialistas argumentam que a vacinação pode fornecer proteção parcial contra novos tipos de HPV aos quais a pessoa ainda não teve contato.

Para informações mais detalhadas sobre a vacina contra HPV, acesse o link: Vacina contra o HPV.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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