O que é BI-RADS?
O termo BI-RADS, um acrônimo em inglês para Breast Image Reporting and Data System, é uma classificação desenvolvida em 1993 pelo Colégio Americano de Radiologia (ACR) com intuito de padronizar os relatórios mamográficos, de forma a minimizar os riscos de má interpretação dos laudos da mamografia e facilitar a comparação de resultados para futuros estudos clínicos.
O ACR BI-RADS, portanto, é uma forma padronizada de relatar os achados radiológicos da mamografia, o que reduz em muito o risco de interpretações subjetivas de laudos puramente descritivos e impede que um mesmo achado seja interpretado de forma diferente entre o médico radiologista que realizou o exame e o médico assistente da paciente que solicitou o exame.
A classificação também ajuda o médico assistente a saber quando a investigação de um nódulo suspeito deve ser complementada com outros métodos e quando ela pode ser satisfatoriamente interrompida apenas com o resultado da mamografia. Ele ajuda também a padronizar as condutas médicas.
Inicialmente proposta como uma classificação para os relatórios da mamografia, o BI-RADS atualmente também tem sido usado para descrever laudos de ultrassonografia mamária e de ressonância magnética das mamas.
Classificação ACR BI-RADS
Se você faz uma mamografia e apresenta alguma lesão suspeita, seja ela um nódulo na mama, um cisto, uma calcificação ou uma lesão claramente maligna, é importante que o laudo desta mamografia seja o mais direto e compreensível o possível.
Para que todos os médicos, independentemente das suas especialidades, possam entender e interpretar os resultados da sua mamografia de modo uniforme, o radiologista precisa sintetizar os achados mamográficos usando uma das 6 categorias da classificação de BI-RADS. Através desta classificação, o seu médico poderá facilmente distinguir a probabilidade da sua lesão ser maligna ou benigna.
O que descrevemos a seguir são as 6 categorias de classificação do Colégio Americano de Radiologia.
BI-RADS categoria 0 – Exame inconclusivo
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 0, isso significa que ele considerou o exame inconclusivo ou incompleto.
As causas para uma categoria 0 incluem fatores técnicos, tais como imagens de baixa qualidade, que podem ser devidos ao posicionamento inadequado da mama ou à movimentação da paciente durante o exame.
A categoria 0 também pode ser atribuída quando há dúvida sobre a existência ou não de uma lesão, havendo necessidade de realizar outro exame de imagem para tirar a prova, como ultrassonografia ou ressonância magnética.
A disponibilização de laudos de mamografia anteriores para que o médico radiologista possa comparar imagens antigas com as imagens atuais diminui o risco de a mamografia ser classificada como BI-RADS 0. Por exemplo, uma lesão de difícil avaliação, mas que existe há vários anos e nunca mudou de aspecto, fala claramente a favor de uma lesão benigna. Com o auxílio de resultados anteriores, o médico pode mudar a classificação de categoria 0 para categoria 2 (ver mais adiante).
Portanto, um BI-RADS 0 não indica nem que a lesão é provavelmente benigna, nem que é provavelmente maligna. A categoria 0 indica um exame inconclusivo que deve ser repetido.
BI-RADS categoria 1 – Exame normal ou exame negativo
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 1, isso significa que a mamografia não apresenta nenhuma alteração. O exame é completamente normal. As mamas são simétricas e não foram visualizadas massas, distorções de arquitetura ou calcificações suspeitas.
O risco de lesão maligna em um exame classificado como categoria 1 é de 0%.
BI-RADS categoria 2 – Exame com achados certamente benignos
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 2, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, mas que as características da lesão permitem afirmar que ela é benigna.
Entre as lesões que costumam ser encontradas em exames com classificação BI-RADS 2, podemos citar:
- Fibroadenomas calcificados.
- Cistos simples da mama.
- Linfonodos intra-mamários.
- Calcificações vasculares.
- Lipomas.
- Hamartomas.
- Calcificações de origem secretória.
- Implantes de silicone.
- Cicatriz cirúrgica.
Para ser classificado como categoria 2, o médico precisa ter segurança para afirmar que a lesão é de origem benigna. Se o médico tiver dúvidas, o resultado não pode ser classificado como BI-RADS 2, mas sim como BI-RADS 3.
Portanto, na prática, um resultado BI-RADS 2 tem o mesmo valor clínico de um BI-RADS 1. O risco de lesão maligna é de 0%.
BI-RADS categoria 3 – Exame com achados provavelmente benignos
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 3, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que provavelmente é benigna, mas que ele não tem 100% de segurança. Por mais que o médico tenha quase certeza que a lesão é benigna, se ele tiver a mínima dúvida, a classificação deve ser categoria 3.
Quando o exame é classificado como BI-RADS 3, a conduta sugerida é repetir a mamografia após 6 meses. Se o novo exame também for categoria 3, uma nova mamografia é repetida após mais 6 meses (12 meses após a primeira). Se nessa mamografia o resultado for o mesmo, uma última reavaliação mamográfica deve ser realizada após mais 1 ano (2 anos após o resultado inicial). Se após 2 anos, a lesão permanecer igual, o radiologista pode considerá-la um BI-RADS 2.
Por outro lado, se em algum momento do seguimento a lesão mudar de características e se tornar mais suspeita, a classificação deve ser mudada para BI-RADS 4 e a lesão deve ser biopsiada. Vários estudos já mostraram que esse seguimento semestral não acarreta risco para a paciente. Mesmo nos raros casos em que a lesão muda de característica e passa a haver a suspeita de malignidade, a espera não traz prejuízos à saúde da paciente.
Portanto, um resultado na categoria 3 indica uma lesão com baixíssimo risco de malignidade, que não precisa ser inicialmente biopsiada, mas que, por prudência, deve ser seguida de perto ao longo dos próximos 2 anos.
O risco de lesão maligna do BI-RADS 3 é de apenas 2%, ou seja, 98% dos casos são mesmo lesões benignas.
BI-RADS categoria 4 – Exame com achados suspeitos
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 4, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que pode ser um câncer, mas que não necessariamente é um câncer. Todas as pacientes com um resultado BI-RADS 4 devem ser submetidas à biópsia da lesão para que o diagnóstico correto possa ser estabelecido.
A categoria 4 costuma ser dividida em 3 sub-categorias conforme o risco de câncer:
- BI-RADS 4A: lesão com baixa suspeita de malignidade: 2 a 10% de risco de câncer.
- BI-RADS 4B: lesão com moderada suspeita de malignidade: 11 a 50% de risco de câncer.
- BI-RADS 4C: lesão com elevada suspeita de malignidade: 51 a 95% de risco de câncer.
Independentemente da sub-categoria de BI-RADS 4, todos os casos devem ser submetidos à biópsia. A diferença é que na paciente com BI-RADS 4A, o esperado é que a biópsia confirme uma lesão benigna, enquanto no BI-RADS 4C, o esperado é que a biópsia confirme o diagnóstico de câncer.
BI-RADS categoria 5 – Exame com elevado risco de câncer
Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 5, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que quase com certeza é derivada de um câncer da mama.
Lesões das mamas com típicas características de câncer incluem nódulos densos e espiculados, calcificações pleomórficas, lesões com retração da pele ou distorções da arquitetura da mama, ou calcificações lineares finas dispostas num segmento da mama.
Todas as lesões com categoria 5 devem ser biopsiadas.
O risco de lesão maligna em um exame classificado como BI-RADS 5 é maior que 95%.
BI-RADS categoria 6 – Exame com lesão maligna previamente conhecida
A classificação BI-RADS 6 é utilizada apenas nas pacientes que já têm o diagnóstico de câncer de mama estabelecido e acabam por fazer uma mamografia para acompanhamento da doença, como, por exemplo, após início da quimioterapia. Essa classificação serve apenas para confirmar ao médico que a lesão maligna identificada na mamografia é a mesma já conhecida anteriormente.
Classificação ACR para densidade das mamas
Conforme a última atualização do Colégio Americano de Radiologia, as classificações BI-RADS também deve descrever as mamas da paciente, classificando-as de A a D conforme a sua densidade:
- Mamas tipo A: as mamas são quase inteiramente compostas por gordura. Cerca de 1 em cada 10 mulheres tem esse resultado.
- Mamas tipo B: existem áreas dispersas de densidade fibroglandular. Indica haver maior densidade em algumas regiões da mama, mas a maior parte do tecido mamário é composto por gordura. Cerca de 4 em cada 10 mulheres têm esse resultado.
- Mamas tipo C: as mamas são heterogeneamente densas. Indica haver algumas áreas de tecido com gordura, mas a maioria do tecido mamário é denso. Cerca de 4 em cada 10 mulheres têm esse resultado.
- Mamas tipo D: os seios são extremamente densos. Indica que quase todo o tecido mamário é composto por tecido fibroglandular e quase nada por gordura. Cerca de 1 em cada 10 mulheres tem esse resultado.
Por que a densidade das mamas importa?
Além do câncer de mama ser mais comum em mulheres com mamas densas, um tecido mamário denso (ACR tipo C ou D) torna mais difícil a interpretação de uma mamografia, pois tanto o câncer quanto o tecido mamário denso aparecem brancos na mamografia.
Mamas muito densas podem aumentar o risco de exame falso-negativo, ou seja, de que um câncer presente não seja detectado na mamografia.
Tendo em conta as dificuldades na detecção precoce de lesões suspeitas quando os seios são densos, o médico pode solicitar estudos complementares de imagem, tais como ultrassom bilateral de mamas, tomossíntese mamária (mamografia-3D) ou ressonância magnética.
Referências
- Diagnostic evaluation of women with suspected breast cancer – UpToDate.
- BI-RADS classification in mammography – European Journal of Radiology.
- BI-RADS Classification for Management of Abnormal Mammograms – The American Board of Family Medicine.
- Breast imaging-reporting and data system (BI-RADS)– Radiopaedia.org.
- BI-RADS categorization as a predictor of malignancy – Radiology.
- Understanding Your Mammogram Report – American Cancer Society.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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