Anticoncepcionais injetáveis: Tipos, como tomar e efeitos adversos

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Injeção anticoncepcional

Tempo de leitura estimado do artigo: 5 minutos

O que é a injeção anticoncepcional?

Os anticoncepcionais injetáveis são, como o próprio nome sugere, a versão da pílula anticoncepcional hormonal que pode ser administrada por via injetável, seja intramuscular ou subcutânea.

Tal como qualquer contraceptivo hormonal, os anticoncepcionais injetáveis são fármacos à base de hormônios cuja ação é impedir a ovulação e prevenir a gravidez.

Além de suprimir a ovulação, a injeção anticoncepcional também dificulta gravidez por aumentar a viscosidade do muco cervical — o que atrapalha a progressão dos espermatozoides — e reduz a espessura do endométrio, parede interior do útero onde o embrião se gruda.

Tipos de contracepção injetável

Existem dois tipos principais de anticoncepção injetável: os contraceptivos injetáveis de progestina pura, administrados a cada três meses, e os contraceptivos combinados, que contêm tanto estrogênio quanto progestina, que devem ser administrados mensalmente.

Nota: progestina é o nome dado às formas sintéticas (produzidas em laboratório) do hormônio progesterona. Existem vários tipos de progestina. Nos anticoncepcionais injetáveis, as progestinas mais comuns são: acetato de medroxiprogesterona, noretisterona e algestona acetofenida.

Ambas opções são altamente eficazes, oferecendo uma das taxas de sucesso mais elevadas entre as opções contraceptivas disponíveis. Quando utilizada corretamente, a taxa de eficácia dos contraceptivos injetáveis é de 99,7%.

Nos dados da vida real, em que consideramos as mulheres que usam a injeção de forma correta e aquelas que nem sempre se lembram de tomar a injeção na data certa, a taxa de gravidez indesejada é de cerca de 6% no primeiro ano de uso desse método contraceptivo.

Explicamos as principais opções de métodos contraceptivos e suas respectivas taxas de sucesso no artigo: 20 opções de métodos anticoncepcionais e suas taxas de êxito.

Os tipos e nomes mais comuns dos contraceptivos injetáveis disponíveis no Brasil incluem:

  • Depo Provera®, Contracep® ou Demedrox® (acetato de medroxiprogesterona 150 mg/mL): o acetato de medroxiprogesterona é o anticoncepcional injetável mais utilizado em todo mundo. É um contraceptivo injetável à base de progestina que deve ser administrado a cada três meses por via intramuscular.
  • Sayana® (acetato de medroxiprogesterona 160 mg/mL): anticoncepcional injetável trimestral também à base de medroxiprogesterona, porém, de administração subcutânea (pode ser administrada pela própria paciente).
  • Mesigyna® ou Noregyna® (valerato de estradiol 50 mg/mL + enantato de noretisterona 5 mg/mL): contraceptivo combinado que contém estrogênio e progestina. Deve ser administrado mensalmente por via intramuscular.
  • Cyclofemina®, LyndavelUno® ou Depomês® (acetato de medroxiprogesterona 25 mg/mL + cipionato de estradiol 5 mg/mL): contraceptivo combinado, também administrado mensalmente por via intramuscular.
  • Perlutan® (algestona acetofenida 150 mg/mL + enantato de estradiol 10 mg/mL): outra opção de contraceptivo hormonal combinado administrado a cada mês por via intramuscular.

Em Portugal, apenas a Depo Provera® (acetato de medroxiprogesterona 150 mg/mL) encontra-se amplamente disponível nas farmácias.

Qual é a melhor injeção anticoncepcional?

Assim como não existe um método anticoncepcional que seja o melhor, também não é possível afirmar qual é o melhor contraceptivo injetável. A escolha do “melhor” contraceptivo injetável deve ser individualizada e depende de uma variedade de fatores, incluindo as doenças que a paciente têm, sua história familiar, necessidades contraceptivas, tolerância a efeitos colaterais e até suas preferências pessoais.

Para ajudar a leitora a decidir qual injeção é a melhor para o seu caso, discutiremos as vantagens e desvantagens das injeções anticoncepcionais de progestina pura e as combinadas com progestina e estrogênio. Ambas opções apresentam elevada e semelhante taxa de eficácia contraceptiva, por isso, esse ponto não precisa ser abordado.

Vantagens e desvantagens do anticoncepcional injetável

Contraceptivos Injetáveis de progestina pura

Vantagens:

  • Conveniência: requer apenas uma injeção a cada três meses.
  • Forma subcutânea: existe forma de administração subcutânea, que é mais simples e pode ser aplicada pela própria paciente.
  • Não contêm estrogênio: são uma boa escolha para mulheres que não podem usar estrogênio por razões médicas, como aquelas com risco elevado de trombose, hipertensão arterial ou com problemas cardiovasculares.
  • Amamentação: seguros para uso durante a amamentação, pois não afetam a produção de leite.
  • Segurança: contraceptivos que contêm apenas progestina são considerados mais seguros para um grupo mais amplo de mulheres.
  • Menos efeitos colaterais: a injeção com progestina pura costumam provocar menos efeitos adversos que a injeção combinada.

Desvantagens:

  • Demora na retomada da fertilidade: pode haver um atraso, que pode ser de meses, na volta da fertilidade após a interrupção do uso da injeção anticoncepcional só com progestina. Se você planeja engravidar brevemente, o ideal é escolher um método que demore menos para retornar a fertilidade.
  • Irregularidades menstruais: durante os primeiros meses de uso, são comuns episódios de sangramento de escape, que podem durar sete dias ou mais. A frequência e a duração desses sangramentos não programados diminuem com o passar dos meses e de forma alguma interferem na eficácia do método.
  • Amenorreia: a amenorreia (ausência de menstruação) é comum em mulheres que usam a injeção por muito tempo. Aproximadamente 50% das pacientes desenvolvem amenorreia após um ano de uso e mais de 70% relatam amenorreia com uma duração maior de uso. A ausência de sangramento durante o uso da injeção contraceptiva é um fenômeno esperado, reversível e sem graves consequências conhecidas. Nas mulheres com cólicas menstruais intensas, a cessação da menstruação é vista como uma vantagem do método e não como desvantagem (leia: Dismenorreia – Cólica Menstrual).

Contraceptivos injetáveis combinados (progestina + estrogênio)

Vantagens:

  • Ciclo menstrual mais regulado: a presença de estrogênio ajuda a regular o ciclo menstrual, o que pode ser preferível para algumas mulheres. Em geral, a paciente menstrua 1 semana antes da data da nova aplicação.

Desvantagens:

  • Efeitos colaterais da progestina: como as injeções combinadas também contêm progestina, boa parte dos efeitos colaterais descritos da injeção de progestina pura também ocorre na injeção combinada (ver efeitos colaterais mais adiante).
  • Efeitos colaterais do estrogênio: a adição de estrogênio à fórmula da injeção traz consigo vários efeitos colaterais indesejados, sendo o aumento do risco de trombose o principal deles. Hipertensão, agravamento de doença hepática e aumento do risco cardiovascular em pacientes com fatores de risco são outros problemas (leia: 10 possíveis efeitos colaterais dos anticoncepcionais hormonais).
  • Amamentação: contraceptivos contendo estrogênio não devem ser utilizados durante o período de aleitamento materno.
  • Intervalo de administração: os contraceptivos injetáveis combinados requerem injeções mais frequentes (mensais) em comparação aos de progestina pura (trimestral).

A injeção anticoncepcional engorda?

O ganho de peso com uso de anticoncepcionais hormonais, sejam eles injetáveis, por via oral, implantes ou adesivos, em geral, é um tema bastante polêmico e ainda sem resposta definitiva.

Estudos observacionais ou prospectivos apontam para efeitos variáveis dos anticoncepcionais, sejam eles combinados ou só com progestina, sobre o ganho de peso. Esses estudos são difíceis de interpretar porque as pessoas tendem a naturalmente ganhar peso com o tempo, independentemente do uso do contraceptivo. Se pegarmos um grupo de mulheres de 25 anos e seguirmos elas até os 30 ou 35 anos, a maioria terá ganhado peso, tendo utilizado ou não contraceptivos hormonais.

Na média, porém, quando comparado ao placebo, o uso de anticoncepcionais não parece ter efeito relevante no peso das pacientes. O efeito parece ser muito mais individual, havendo mulheres que ganham peso, mulheres que mantém seu peso e até casos de mulheres que perderam o peso mesmo usando anticoncepcionais hormonais.

Explicamos com mais detalhes esse assunto no artigo: Tomar pílula anticoncepcional engorda?

Como tomar

Injeções com progestina pura por via intramuscular

A aplicação do contraceptivo injetável deve ser feita por um profissional de saúde.

As injeções de acetato de medroxiprogesterona (Depo Provera®, Contracep® ou Demedrox®) devem ser administradas por via intramuscular, no deltoide (porção superior do braço) ou no glúteo, em intervalos de 12 a 13 semanas, sendo no máximo a cada 13 semanas (91 dias).

Se o prazo de 91 dias da última aplicação for perdido, a paciente deve excluir gravidez através de um teste no sangue Beta-hCG antes de realizar uma nova aplicação da injeção.

O ideal é sempre ter a próxima administração já agendada para não haver risco de esquecimento.

Injeções com progestina pura por via subcutânea

A forma subcutânea pode ser administrada pela própria paciente, seguindo as orientações da bula.

As injeções de acetato de medroxiprogesterona (Sayana®) deve ser administrada por via subcutânea, seja no abdômen ou na parte anterior da coxa. A área da pele não deve ter cicatrizes e deve estar livre condições de pele como eczema ou psoríase.

O intervalo entre cada administração deve ser, no mínimo, de 12 semanas e, no máximo, de 14 semanas.

Aplicação da injeção anticoncepcional por via subcutânea.
Aplicação da injeção anticoncepcional por via subcutânea

Injeções com progestina e estrogênio

A aplicação do contraceptivo injetável combinado também deve ser feita por um profissional de saúde, seguindo as mesmas orientações descritas para as injeções com progestina pura. No caso dos contraceptivos injetáveis combinados, só existe a versão para administração intramuscular.

As injeções devem ser administradas mensalmente, independentemente do padrão de ciclo menstrual, em intervalos de no mínimo 27 dias e no máximo 33 dias após a última aplicação.

Em que momento deve ser iniciado o contraceptivo injetável?

O momento ideal para iniciar o contraceptivo injetável é dentro de sete dias após o início da menstruação. Essa abordagem aumenta a certeza de que a paciente não está grávida no momento da injeção e evita a ovulação durante o primeiro mês de uso, de modo que a contracepção alternativa é desnecessária.

A maioria das mulheres apresenta níveis de droga farmacologicamente ativa e muco cervical relativamente impermeável dentro de 24 horas após a injeção. Portanto, se a anticoncepção for iniciada nos primeiros dias após a descida da menstruação, a paciente em 24 horas já pode ter relações sexuais sem risco de engravidar.

Se a injeção for iniciada mais de sete dias após o primeiro dia do período menstrual, sugerimos que essas mulheres recebam uma contracepção alternativa por sete dias após a injeção contraceptiva se tiverem intenção de ter relações sexuais nesse período. Após 7 dias, o efeito contraceptivo da injeção já estará ativo.

Se a injeção for iniciada após 7 dias da menstruação, há um risco de haver ovulação dentro das 24 horas após a primeira injeção. Se a paciente tiver tido relações desprotegidas alguns dias antes, aconselhamos repetir o teste de gravidez em duas ou três semanas, pois no momento da ovulação pode ainda haver espermatozoides viáveis no sistema reprodutor da paciente.

Efeitos colaterais

Conforme já explicado acima, o principal efeito colateral nas injeções com progestina pura é a irregularidade menstrual e a ocorrência de sangramentos de escape. A adição de estrogênio à fórmula ameniza esse efeito adverso.

Náuseas, sensibilidade mamária e dores de cabeça são queixas geralmente leves e pouco frequentes (menos de 10% das mulheres) após o início do contraceptivo injetável. Normalmente, esses sintomas desaparecem nos primeiros meses de uso. Nas injeções com acetato de medroxiprogesterona, como Depo Provera®, esses efeitos são menos comuns.

Embora o anticoncepcional seja injetado no tecido muscular ou subcutâneo, a ocorrência de reações no local da injeção é baixa.

Outros possíveis efeitos colaterais incluem alterações de humor, especialmente naquelas com TPM intensa, tontura (ocorre em cerca de 5% das mulheres) e dor de cabeça.

A perda da densidade mineral óssea pode ocorrer em mulheres na pré-menopausa, mas a relevância clínica desse efeito ainda não está totalmente elucidado.

Dúvidas comuns

Como proceder ao trocar um método contraceptivo pela injeção anticoncepcional?

Ao trocar de método contraceptivo, a injeção anticoncepcional deve ser iniciada enquanto a mulher ainda estiver usando outra forma de contracepção hormonal (pílula, adesivo, anel, DIU). O método antigo só deve ser interrompido após 7 dias da primeira injeção.

Qual é o preço da injeção anticoncepcional?

No Brasil, o preço do contraceptivo injetável varia entre 25 e 45 reais, dependendo da marca. Em Portugal, a Depo Provera, custa cerca de 3 euros com receita médica. Cada caixa vem com apenas 1 seringa pré-preenchida.

Depois de quanto tempo tomando anticoncepcional estou protegida?

O anticoncepcional injetável faz efeito em 24 horas se for iniciado nos primeiros 7 dias após a descida da menstruação. Se esse prazo de 7 dias não for respeitado, é preciso esperar 1 semana após a primeira injeção para poder ter relações desprotegidas.

Posso eu mesma aplicar a injeção anticoncepcional?

Até pode se você souber aplicar injeções intramusculares. Mas esta forma está longe de ser a mais segura. O ideal é que outra pessoa faça a aplicação. Farmácias, centros de saúde e o consultório médico são os locais mais indicados.

O anticoncepcional injetável pela via subcutânea (Sayana® – acetato de medroxiprogesterona 160 mg/mL) é a única forma na qual a autoaplicação é recomendada, pois a seringa e a agulha são feitas para que a administração seja bem simples. Atenção: não utilize as formas feitas para administração intramuscular pela via subcutânea.

Antibióticos cortam o efeito da injeção anticoncepcional?

Em geral, não. O único antibiótico que realmente interfere na eficácia dos anticoncepcionais hormonais é a rifampina, droga usada habitualmente no tratamento da tuberculose.

Falamos mais sobre esse assunto no artigo: Antibióticos Cortam o Efeito do Anticoncepcional?


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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