Bexiga Hiperativa: causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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vejiga hiperactiva

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Introdução

A bexiga hiperativa é um problema pouco conhecido, mas extremamente comum. Estima-se que cerca de 15 a 20% da população sofra deste distúrbio, que é provocado por uma redução da capacidade da bexiga de armazenar a urina.

A bexiga hiperativa é uma síndrome caracterizada pelos seguintes sintomas: urgência urinária, que pode vir acompanhada ou não de incontinência urinária, aumento da frequência das micções ao longo do dia e necessidade de levantar à noite para urinar várias vezes.

Caso não tratada adequadamente, a bexiga hiperativa pode provocar grande redução da qualidade de vida do paciente, principalmente naqueles que não conseguem ter uma contínua noite de sono.

Neste artigo explicaremos o que é a bexiga hiperativa, quais são os seus principais sintomas, como se chega ao diagnóstico e quais são as opções de tratamento mais utilizadas no momento.

O que é a bexiga hiperativa?

Para podermos entender o que é a bexiga hiperativa, precisamos antes conhecer como funciona o processo de enchimento e esvaziamento da bexiga. Utilize a ilustração abaixo para acompanhar as explicações.

Como funciona a bexiga

A bexiga é basicamente um órgão oco revestido por uma camada muscular chamada de músculo detrusor. Esse músculo é inervado e controlado por fibras nervosas que vêm da medula espinhal. O músculo detrusor relaxa para acomodar a urina nos momentos em que a bexiga está enchendo, e contrai-se, de forma a expulsar a urina, quando a bexiga está cheia.

O normal enchimento e esvaziamento da bexiga resultam de uma coordenação complexa entre sinais idos e vindos ao e do sistema nervoso central (SNC), e a contração ou relaxamento do músculo detrusor, dos músculos do assoalho pélvico e do esfíncter externo. Vamos explicar melhor.

Quando a bexiga está em processo de enchimento, o sistema nervoso central envia sinais para que o músculo detrusor relaxe e permita acomodar a urina sem que haja relevante aumento de pressão dentro da bexiga. Uma bexiga normal consegue acomodar facilmente cerca de 500 a 600 ml de urina. Porém, por volta dos 350 a 400 ml, o aumento da pressão nas paredes da bexiga estimula o envio de sinais para que o sistema nervoso reconheça um aumento de volume urinário e desencadeie a vontade de urinar.

Neste momento, você sente vontade de urinar, mas, caso deseje, consegue segurar a urina por mais tempo graças a nossa capacidade de contrair os músculos do assoalho pélvico e do esfíncter externo, o que fecha a passagem da urina em direção à uretra. O ato de urinar, portanto, é uma ação voluntária, que, respeitando-se alguns limites, só ocorre quando nós decidimos.

Na hora em que achamos conveniente urinar, o detrusor se contrai e os músculos do assoalho pélvico e do esfíncter externo relaxam, permitindo que a urina seja empurrada em direção à uretra.

A bexiga hiperativa é um problema que surge por mau funcionamento do músculo detrusor, que não relaxa adequadamente durante a fase de enchimento da bexiga. A falta de relaxamento da bexiga faz com que a pressão interna aumente mesmo com pequenos volumes de urina, o que, na prática, significa a ativação da vontade de urinar com frequência muito maior do que o normal.

Muitas vezes, o detrusor não só não relaxa, como começa a se contrair de forma involuntária, tentando expulsar a urina presente dentro da bexiga. O resultado dessa contração involuntária é o que chamamos de urgência urinária, que é uma súbita e urgente necessidade de urinar.

Causas

O quadro de bexiga hiperativa é um problema de origem neuromuscular, no qual o músculo detrusor contrai-se inapropriadamente durante a fase de enchimento da bexiga. Estas contrações ocorrem com frequência e independentemente da quantidade de urina armazenada na bexiga.

Entre os problemas que podem desencadear a hiperatividade do músculo detrusor podemos citar:

A bexiga hiperativa pode também surgir sem que haja um fator desencadeante claro, sendo classificada, nestes casos, como bexiga hiperativa idiopática.

A idade avançada é um dos principais fatores de risco para um quadro de hiperatividade do músculo detrusor, tanto nos homens quanto nas mulheres. Pacientes com quadros de depressão, obesidade, artrite, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), constipação intestinal, imobilidade prolongada, cirurgia prévia da bexiga ou histerectomia (retirada cirúrgica do útero) também têm um maior risco.

Algumas classes de medicamentos podem estar associadas a um quadro de hiperatividade da bexiga. São elas: bloqueadores ou agonistas alfa adrenérgicos, antidepressivos, antipsicóticos, agonistas beta-adrenérgicos, bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos e sedativos.

Sintomas

O sintoma mais típico da bexiga hiperativa é a urgência urinária, que é a vontade súbita e incontrolável de urinar. Quando o paciente apresenta urgência urinária, ele precisa ir ao banheiro rapidamente, pois não é capaz de segurar a urina por muito tempo. Por esse motivo, perdas eventuais de urina na roupa podem ocorrer em alguns pacientes, principalmente naqueles com mobilidade afetada.

A urgência urinária pode surgir mesmo quando a bexiga não está completamente cheia, pois ela é resultado de uma contração precoce e inapropriada do músculo detrusor.

Uma forma de diferenciar a bexiga hiperativa da incontinência urinária de esforço é através da quantidade de urina que se perde de forma involuntária.

Na incontinência urinária de esforço, o paciente perde pequenas quantidades de urina quando faz algum esforço que exerça pressão na barriga, tais como tossir, evacuar, pular, espirrar ou correr. Nestes casos, não há a sensação de urgência, o paciente simplesmente perde um pouco de urina de forma involuntária. 

Já na bexiga hiperativa, a quantidade de urina perdida é grande e está relacionada a uma sensação de urgência, que não tem a ver necessariamente com algum esforço que ele tenha feito. O paciente perde urina porque não aguenta segurar a intensa e súbita vontade de urinar (leia: Incontinência urinária – Tipos e Fatores de Risco).

Outro sintoma típico da bexiga hiperativa é o pequeno intervalo de tempo entre as micções. Como o detrusor começa a contrair-se antes da bexiga estar cheia, o paciente acaba precisando ir ao banheiro com grande frequência, geralmente mais de 8 vezes por dia.

A vontade frequente de urinar durante a noite, chamada de nictúria, é outra consequência desta hiperatividade do detrusor. Esse é um dos sintomas que mais causam distúrbios na qualidade de vida do paciente, pois ele provoca uma reiterada interrupção do sono.

Ao contrário da infecção urinária, a bexiga hiperativa não costuma causar dor durante a micção (leia: Dor ao urinar – Principais Causas).

Diagnóstico

O diagnóstico da bexiga hiperativa é habitualmente feito através de uma cuidadosa avaliação da histórica clínica do paciente e do exame físico. Uma análise simples de urina para descartar infecção urinária também costuma ser feita (leia: Exame de urina – Leucócitos, Nitritos, Hemoglobina…).

O teste de urodinâmica, que é um exame feito para avaliar o quão bem o sistema urinário consegue armazenar e eliminar a urina, pode auxiliar no diagnóstico dos casos mais complexos.

Tratamento

O tratamento da bexiga hiperativa é dividido em 3 modalidades:

  1. Terapia comportamental.
  2. Medicamentos.
  3. Cirurgia.

A escolha do modo mais adequado de tratamento para cada paciente depende da intensidade dos seus sintomas e do quanto o quadro interfere na sua qualidade de vida.

A combinação entre medicamentos e terapia comportamental costuma ser eficaz na maioria dos casos, ficando a cirurgia restrita aos poucos casos mais difíceis de serem controlados.

Falemos resumidamente sobre cada uma das 3 modalidades de tratamento:

Terapia comportamental

A terapia comportamental, conforme o próprio nome sugere, visa ensinar o paciente a ter comportamentos em relação aos seus sintomas e ao ambiente que ajudem a melhorar o controle da bexiga.

Eliminar da dieta alimentos que possam estimular o músculo detrusor costuma ser eficaz em alguns casos. Entre as substâncias que devem ser evitadas, podemos citar: cafeína, álcool, alimentos picantes, nozes, chocolate, alimentos ricos em potássio e refrigerantes. O paciente deve ser aconselhado a retirar da dieta um alimento de cada vez, para que ele possa fazer avaliações individuais sobre o que causa melhora e o que não faz diferença.

Um fator importante é orientar o paciente a não fazer grande restrição do consumo de água. Como a frequente vontade de urinar é um transtorno na vida do paciente, a tendência da maioria das pessoas afetadas e reduzir o consumo de líquidos para que a vontade de urinar seja menos frequente. Contudo, esse comportamento pode ter um efeito contrário, já que uma urina concentrada pode atuar como um fator de irritação para a bexiga.

Quem fuma deve parar de fumar e pessoas com sobrepeso ou obesidade devem emagrecer.

O médico urologista costuma indicar treinos para a bexiga, que, se forem bem feitos, costumam ser eficazes em até 75% dos casos. Um dos métodos utilizados consiste em pedir ao paciente que urine em intervalos definidos, como, por exemplo, a cada 30 ou 60 minutos. Conforme o paciente vá se sentindo confortável com o intervalo, ele deve progressivamente aumentar o intervalo em 30 minutos, até que seja capaz de urinar somente a cada 3-4 horas, o que pode levar meses até acontecer.

Outro tratamento muito utilizado são os exercícios para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico, chamados exercícios de Kegel. Esses exercícios ajudam o paciente a conseguir segurar a urina por mais tempo. Eles devem ser executados 30 a 80 vezes por dia durante pelo menos 8 semanas. Sua taxa de sucesso é de 55 a 75%.

Medicamentos

Uma classe de medicamentos chamada agentes anticolinérgico é atualmente o tratamento farmacológico de primeira linha para o tratamento da bexiga hiperativa.

Entre as opções mais usadas estão:

  • Oxibutinina (Retemic®).
  • Tolterodina (Detrusitol®).
  • Solifenacina (Vesicare®).
  • Darifenacina (Enablex®).

Nos casos mais graves, a injeção intravesical (dentro da bexiga) de toxina botulínica (botox) é uma opção possível (leia: Botox – Uso Cosmético e Terapêutico).

Cirurgia

O tratamento cirúrgico da bexiga hiperativa costuma ser reservado para as pessoas com sintomas graves e que não respondem às outras formas de tratamento. São duas as opções:

  • Cirurgia para aumentar a capacidade da bexiga, utilizando segmentos do intestino.
  • Remoção cirúrgica da bexiga.

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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