Surdez no idoso (presbiacusia): causas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Surdez idoso

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O que é a presbiacusia?

A famosa surdez do idoso é causada pela perda de audição natural que ocorre com o envelhecimento; esta alteração é chamada em medicina de presbiacusia. A Presbiacusia é uma doença multifatorial, caracterizada pela perda progressiva da audição em ambos os ouvidos ao longo da vida. Esta deficiência auditiva geralmente afeta as altas frequências da audição (explicarei melhor ao longo do texto).

A perda auditiva tem um enorme impacto sobre a qualidade de vida de milhões de indivíduos idosos, e está se tornando um transtorno cada vez mais comum com o envelhecimento da população.

Causas de perda aditiva no idoso

A perda de audição torna-se mais comum conforme o indivíduo vai envelhecendo. Cerca de 11% dos pacientes entre 44 e 54 anos já apresentam alguma perda auditiva. Este percentual sobe para 25% entre as pessoas de 55 e 65 anos e chega a quase 50% da população com mais de 70 anos.

Acredita-se que a hereditariedade e a exposição crônica a ruídos altos são os principais fatores que contribuem para a perda de audição ao longo do tempo.

Outros fatores também podem acelerar a perda de audição ao longo da vida, entre eles:

Sintomas

A principal característica de presbiacusia é a perda progressiva e simétrica da audição de alta frequência ao longo dos anos. Esta perda de audição também pode ser acompanhada de zumbido, vertigem e desequilíbrio.

O ser humano é capaz de ouvir frequências entre 20 Hz e 20000 Hz (20 kHz). Muitos adultos já não conseguem ouvir frequências acima de 15000 Hz (15 kHz). Na presbiacusia, a perda auditiva é ainda maior e as frequências mais afetadas são aqueles acima de 2000 Hz (2 kHz).

Com o passar dos anos, a capacidade de ouvir frequências altas continua a cair, e as frequências médias e baixas (0,5 a 2 kHz), associadas à fala humana, também tornam-se progressivamente envolvidas.

Em média, usamos sons com frequências que variam entre 250 Hz até 4000 Hz (4 kHz). No discurso humano, as vogais costumam ser de média e baixa frequência enquanto as consoantes são de alta frequência. Algumas consoantes com o som de “Z”, por exemplo, podem ter frequências até 8000 Hz (8 kHz). Como resultado, os pacientes com perda auditiva da alta frequência muitas vezes relatam serem capazes de ouvir quando alguém está falando, mas não de entender o que está sendo dito devido à perda de informação dos sons das consoantes.

A dificuldade auditiva é exacerbada na presença de ruído de fundo. Pacientes com deficiência auditiva pela idade costumam se sair razoavelmente bem em conversas privadas em uma sala silenciosa, mas passam por dificuldades em ambientes sociais. Os pacientes também se queixam de ter mais dificuldades em ouvir as mulheres do que homens, já que estas têm naturalmente um discurso com frequência mais elevada (não confunda frequência do som com a altura do mesmo).

Um achado comum em pacientes com perda de audição é uma hipersensibilidade paradoxal a sons altos. Os idosos podem se queixar de que os sons tornam-se muito altos quando estão, na verdade, em níveis que são facilmente tolerados por pessoas com audição normal.

Esta alteração explica o motivo pelo qual gritar com pacientes com presbiacusia pode muitas vezes ser bastante contraproducente. As pessoas imaginam que precisam falar muito alto para que idosos com algum grau de surdez possam ouvi-las. Ao gritarmos, as vogais de frequências baixas são amplificadas, enquanto as consoantes permanecem inaudíveis, o que pode ser muito desconfortável para o ouvinte.

Na presbiacusia o problema é muito mais em relação às frequências do som do que propriamente à intensidade do mesmo. Gritar só funciona se o paciente tiver outras causas para a perda auditiva, como, por exemplo, uma rolha de cerúmen (cera no ouvido) obstruindo a passagem do som.

A imensa maioria dos pacientes demora vários anos para procurar ajuda médica para sua perda de audição. Este fato ocorre em parte devido ao início insidioso da doença, bem como ao estigma negativo associado ao uso de aparelho auditivo.

A maioria dos idosos encara algum grau de perda auditiva como inevitável e não tratável. Entretanto, a presbiacusia quando não reconhecida e tratada pode levar a isolamento social progressivo e depressão, principalmente se o paciente também tiver outras limitações funcionais, como dificuldade para andar ou déficits visuais.

O zumbido também pode ser um problema importante na presbiacusia. O som é geralmente descrito como um zumbido afetando ambos os ouvidos ou difusamente “dentro da cabeça”.

Explicamos o zumbido com detalhes no artigo: Zumbido no ouvido (tinido ou acufeno).

Qualquer pessoa que sinta algum grau de perda auditiva deve procurar um otorrinolaringologista. Este médico é capaz de diagnosticar a deficiência auditiva e de identificar sua(s) causa(s). Com um exame chamado audiograma, o médico consegue identificar as perdas auditivas. Durante este teste, com fones de ouvido, você irá ouvir sons direcionados para um ouvido de cada vez. O otorrinolaringologista apresentará uma gama de sons, frequências e também várias palavras para determinar a sua capacidade auditiva.

Tratamento

Não existe um tratamento que previna ou que cure a perda de audição nos idosos. Porém, já existem várias opções para se atenuar e compensar a perda auditiva.

Aparelhos auditivos

Os aparelhos auditivos podem melhorar a função auditiva na maioria dos casos de presbiacusia. A perda auditiva raramente se torna tão grave que os aparelhos auditivos não são eficazes em restaurar a capacidade de se comunicar.

Os avanços tecnológicos dos aparelhos auditivos nos últimos anos melhoraram significativamente o desempenho dos mesmos, minimizando as más experiências que eram comuns antigamente. Entretanto, como existem vários modelos no mercado, é possível que você tenha que experimentar algumas opções antes de encontrar aquele aparelho auditivo que melhor se adapta ao seu caso.

Os aparelhos auditivos também ajudam a melhorar o zumbido experimentado por muitos pacientes com presbiacusia.

Implante coclear

Para os pacientes com grave perda auditiva na qual o aparelho auditivo não é eficaz, existe a opção pelo implante coclear. O implante coclear envolve a colocação de um conjunto de eletrodos dentro do ouvido interno para estimular diretamente os neurônios responsáveis pela interpretação dos sons. Este procedimento pode ser realizado com segurança mesmo em pessoas acima dos 80 anos.

Os implantes cocleares são indicados para pessoas com perda auditiva bilateral severa que não melhora significativamente com aparelhos auditivos.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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