Ginkgo biloba: o que é, efeitos e para que serve

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro & Dra. Renata Campos

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Ginkgo

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Introdução

O Ginkgo biloba é uma substância usada na medicina há mais de 1000 anos, sendo atualmente um dos fitoterápicos mais usados no mundo devido às suas ações antioxidantes e seus alegados benefícios no tratamento de problemas de memória, falta de energia, falta de concentração, impotência sexual, entre outros.

Infelizmente, o fato de uma substância ser amplamente usada durante séculos não garante que a mesma seja realmente eficaz contra tudo que se apregoa, nem que a mesma seja isenta de efeitos colaterais e contraindicações.

O objetivo deste texto é abordar o Ginkgo biloba de forma científica, mostrando aquilo que os estudos comprovaram ser verdade, o que é mito e o que ainda não está totalmente esclarecido do ponto de vista científico.

O que é ginkgo biloba?

O extrato de Ginkgo biloba é uma substância obtida a partir das folhas da árvore do Ginkgo, nativa da Coreia, China e Japão, mas atualmente presente em todo mundo, inclusive nas grandes cidades brasileiras. A árvore do ginkgo pode ultrapassar os 40 metros de altura e viver mais de 1000 anos.

O extrato de Ginkgo biloba é atualmente uma das 10 ervas medicinais mais usadas em todo mundo. Este fitoterápico possui duas substâncias ativas consideradas as responsáveis por seus efeitos no nosso organismo: flavonoides e terpenos.

O Ginkgo biloba é uma substância aclamadamente benéfica para as funções do cérebro, porém, sua real eficácia no tratamento de doenças cognitivas ainda não está totalmente esclarecida. Isso não significa, entretanto, que diversos efeitos e ações cerebrais do extrato já não tenham sido desvendadas.

Estudos em animais e humanos já mostraram que a droga age diretamente nos neurotransmissores e oferece proteção aos neurônios por diversos mecanismos. O Ginkgo biloba tem comprovadamente ação antioxidante, provoca vasodilatação dos vasos sanguíneos cerebrais, aumentando a perfusão de sangue no cérebro, previne a formação de coágulos e otimiza a utilização de glicose pelo cérebro.

Essas e outras ações já reconhecidas da droga fornecem a base teórica para utilização do Ginkgo biloba no tratamento de diversas doenças neurológicas. Todavia, a medicina moderna é baseada em evidências. Não basta haver uma base teórica por trás dos tratamentos, é preciso provar que essas ações são, na prática, eficazes contra as doenças.

Não é porque o Ginkgo biloba aumenta a perfusão de sangue no cérebro e previne coágulos que podemos afirmar que ele é eficaz na prevenção e tratamentos do AVC, por exemplo. Muitas vezes, uma droga possui forte embasamento teórico, mas quando vamos à prática, o seu uso não demonstra nenhum efeito benéfico no tratamento das doenças que supostamente elas seriam eficazes.

Portanto, não basta o Ginkgo biloba ter diversas ações supostamente benéficas no cérebro. Para que o seu uso seja indicado no tratamento e na prevenção de doenças, ele precisa provar que realmente traz benefícios reais ao paciente. Por isso, é importante estudar a droga separadamente para cada tipo de doença.

Para que serve?

Falemos rapidamente sobre algumas doenças para as quais o uso do Ginkgo biloba já foi relativamente bem estudado.

Tratamento do Alzheimer e outras demências

Apesar de alguns estudos isolados que demonstravam pequena melhora cognitiva dos pacientes com Alzheimer que usaram Ginkgo biloba por pelo menos 6 meses, uma grande revisão feita em 2007 com 35 estudos chegou à conclusão que os trabalhos anteriores apresentavam falhas metodológicas e tinham estudados grupos muito pequenos de pacientes.

A conclusão desta revisão sistemática dos principais estudos foi de que não há dados suficientes para afirmar que o Ginkgo biloba seja superior ao placebo no tratamento do Alzheimer. Quando comparada às drogas habitualmente usadas no tratamento da demência, o Ginkgo biloba apresenta resultados inferiores.

Outro estudo publicado em 2008 que acompanhou durante 8 anos mais de 3000 idosos mostrou que o uso diário de Ginkgo biloba não apresentou nenhuma evidência de que a droga seja superior ao placebo na prevenção da demência. Portanto, não há evidências científicas que suportem o uso do ginkgo biloba para tratamento ou prevenção das demências.

Para ler sobre a doença de Alzheimer, acesse: 10 Sintomas da doença de Alzheimer.

Perda de memória e problemas de concentração

Historicamente, o Ginkgo biloba sempre foi indicado como um bom tratamento para melhorar a memória, a concentração e o grau de atenção, principalmente nos idosos. Infelizmente, os estudos também têm demonstrado que a droga não é superior ao placebo nestes casos. Não há, portanto, nenhum embasamento científico para se indicar o Ginkgo biloba para melhorar a memória dos pacientes idosos.

Doenças que talvez respondam ao uso do Ginkgo biloba

Apesar das decepções com a falta de eficácia do Ginkgo biloba no tratamento da demência, das falhas de memória e de outras funções cognitivas dos idosos, há uma série de problemas que podem melhorar com o uso do extrato.

Entre aqueles que possuem pelo menos um estudo científico atestando resultados positivos, podemos citar:

A questão é que os poucos estudos científicos positivos para esses casos são habitualmente de baixa qualidade e com poucos pacientes. O grau de evidência para a eficácia do Ginkgo biloba para as doenças listadas acima é muito baixo.

Em geral, o Ginkgo biloba não se mostrou, à luz dos estudos científicos, como uma droga com grande eficácia no tratamento de nenhuma doença importante. Na maioria dos casos, a eficácia é apenas um pouco superior a do placebo e os estudos são de baixa qualidade.

Efeitos colaterais e contraindicações

O Ginkgo biloba é uma droga com baixíssima taxa de efeitos adversos. Quando estes ocorrem são geralmente náuseas, dor abdominal, diarreia ou dor de cabeça.

Entretanto, a ação inibitória sobre as plaquetas pode aumentar o risco de sangramento em algumas situações. A droga não deve ser usada em pacientes com elevado risco de hemorragias. Seguindo a mesma lógica, em pacientes que serão submetidos a atos cirúrgicos, sugere-se a suspensão do Ginkgo biloba pelo menos 36 horas antes da operação.

O Ginkgo biloba pode aumentar o risco de sangramento se usado concomitantemente com outras drogas que atuam sobre as plaquetas ou outros fatores da coagulação, como aspirina, anti-inflamatórios não esteroides, heparina ou varfarina.

Associação do Ginkgo biloba com o goji berry também parece aumentar o risco de sangramento.

Devido à falta de estudos clínicos em grávidas comprovando sua segurança, atualmente não se recomenda a utilização do Ginkgo biloba durante a gravidez ou aleitamento.

Pacientes com história de crise convulsiva ou epilepsia também devem evitar o uso de Ginkgo biloba, pois há esporádicos relatos de que a droga possa facilitar a ocorrência de crises epilépticas. Há também a possibilidade de interação e diminuição dos efeitos dos medicamentos anticonvulsivantes.

Não evidências de que o Ginkgo biloba interaja com os efeitos da pílula anticoncepcional.

Interações medicamentosas

O uso de ginkgo pode interferir com alguns medicamentos. As interações mais reportadas são:

  • Alprazolam: ginkgo reduz a eficácia do medicamento.
  • Anticoagulantes e medicamentos antiplaquetários: ginkgo pode aumentar o risco de sangramento.
  • Anticonvulsivantes: grandes quantidades de ginkgo toxina podem causar convulsões. A ginkgo toxina é encontrada em sementes e folhas de ginkgo. É possível que tomar ginkgo reduza a eficácia dos anticonvulsivantes.
  • Antidepressivos: tomar ginkgo com certos antidepressivos, como fluoxetina e imipramina, pode diminuir sua eficácia.
  • Estatinas: tomar ginkgo com sinvastatina ou atorvastatina pode reduzir os efeitos do medicamento.
  • Antidiabéticos orais: ginkgo pode alterar a eficácia dessas drogas.
  • Ibuprofeno: é possível que a combinação com ibuprofeno aumente o risco de sangramento.

Como tomar

A maioria dos estudos sobre o extrato de ginkgo utilizou a forma padronizada de Ginkgo biloba EGb 761, que contém 24% de flavonoides e 6% de terpenoides. As dosagens típicas utilizadas em estudos e recomendadas pelos fabricantes são 40 mg três vezes por dia ou 60 a 80 mg duas vezes por dia.

Estudos mostram que o uso diário por mais de um ano não está associado a nenhum problema grave de segurança.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade do Porto. Nefrologista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pelo Colégio de Nefrologia de Portugal.

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