Hérnia de disco: sintomas, causas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Hérnia de disco

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Introdução

A hérnia de disco, também chamada de hérnia discal ou protusão discal, é um problema da coluna vertebral que provoca compressão dos nervos, causando dor, fraqueza e perda de sensibilidade em um dos membros. As protusões discais mais comuns são as hérnias lombares e as hérnias cervicais.

Os sintomas mais comuns da hérnia de disco são dor, perda da sensibilidade e fraqueza, que podem variar de leve a grande intensidade, dependendo do grau de lesão da raiz nervosa.

Noções básicas sobre a coluna vertebral e a medula espinhal

Se não explicarmos a anatomia da coluna vertebral e da medula espinhal, fica impossível descrever de forma simples o que é uma hérnia discal. Esta introdução pode parecer um pouco mais complicada, mas sua compreensão tornará muito fácil o entendimento das causas e dos sintomas da hérnia de disco.

Nossa coluna vertebral é composta por vários pequenos ossos empilhados, chamados de vértebras. Temos 24 vértebras articuladas (as vértebras da região sacra são fundidas), sendo 7 na coluna cervical, 12 na coluna torácica e 5 na coluna lombar. Cada vértebra tem um orifício no centro, chamado forame vertebral. Nas laterais de cada par de vértebra forma-se outro orifício, chamado forame intervertebral.

Hérnia de disco

Por dentro do forame vertebral passa a medula espinhal, estrutura responsável pelo transporte de estímulos nervosos do entre o cérebro e o resto do corpo.

A medula espinhal nasce no cérebro e vai até o fim da coluna, possuindo cerca de 45 cm de comprimento. Ao longo do seu trajeto pela coluna, a medula libera vários segmentos, chamados raízes nervosas, que são prolongamentos que servem para inervar as regiões do corpo.  Por exemplo, o nervo que inerva a sua mão tem origem em uma dessas raízes nervosas que saem da medula. Na divisão entre cada duas vértebras, uma raiz nervosa é lançada bilateralmente através dos forames intervertebrais.

No total, a medula libera 31 pares de raízes nervosas ao longo de toda a coluna, que vão ser responsáveis pela inervação de todo o corpo.

As raízes nervosas que saem da coluna cervical vão dar origem aos nervos que inervam o pescoço, ombros e os membros superiores. As raízes nervosas que saem da coluna torácica vão dar origem aos nervos que inervam o tronco. As raízes nervosas que saem da coluna lombar e sacra vão dar origem aos nervos que inervam a pelve e os membros inferiores.

Como já referido, as vértebras formam a coluna ficando empilhadas uma em cima da outra. Entre uma vértebra e outra há uma estrutura cartilaginosa, de consistência borrachosa, em forma de disco, chamada disco intervertebral. O disco intervertebral funciona como uma espécie de amortecedor ou almofada, cujo objetivo é reduzir o atrito entre uma vértebra e outra, facilitando o trabalho da coluna de mover-se e suportar o peso do corpo.

Bom, feitas as devidas explicações sobre a anatomia básica da coluna vertebral, falemos da hérnia de disco propriamente dita.

O que é uma hérnia de disco?

Hérnia é a palavra usada para descrever a projeção ou protusão de determinada estrutura através de um orifício ou canal.

Uma hérnia de disco ocorre quando uma parte do disco intervertebral se projeta através do forame intervertebral ou em direção à medula espinhal, podendo provocar compressão de uma das raízes nervosas (veja a figura abaixo).

Hérnia de disco

O disco intervertebral é composto por uma região mais externa e rígida, chamada anel fibroso, e uma região central, composta por uma material gelatinoso, chamado núcleo pulposo. O disco intervertebral é maleável e funciona como uma mola amortecedora, sendo capaz de se comprimir quando há peso sobre a coluna, e relaxar quando a coluna está em repouso, sem receber peso algum.

Quando o disco intervertebral é exposto a uma crônica postura errada da coluna, a movimentos repetitivos, a excesso de carga ou a traumas, ele pode sofrer desgaste do seu anel fibroso, provocando uma fissura por onde o núcleo pulposo pode herniar, empurrando parte do disco em direção a uma das raízes nervosas. Se o disco hernia o suficiente para comprimir a raiz nervosa, o paciente passará a apresentar os sintomas característicos da hérnia de disco.

A maior parte das hérnias de disco surge na coluna lombar, que é a região da coluna que acaba tendo que suportar mais peso e sofre mais estresses ao longo da vida. Em segundo lugar vêm as hérnias de disco da coluna cervical. Hérnias da coluna torácica são mais raras.

Causas

Conforme envelhecemos, o disco intervertebral vai se tornado cada vez menos flexível e elástico, ficando mais exposto a fissuras e roturas. A maioria das protusões discais ocorre em pessoas com mais de 35 anos.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de uma hernia discal, podemos citar:

  • Trabalhos que demandam carregar pesos excessivos.
  • Fazer musculação sem devida orientação, sobrecarregando a coluna.
  • Levantar pesos do chão forçando a coluna (o correto não é dobrar a coluna para pegar algo do chão, mas sim se agachar para levantá-lo).
  • Traumas nas costas.
  • Má postura.
  • Trabalhos que demandam movimentos repetitivos da coluna.
  • Sedentarismo.
  • Tabagismo.

Na maioria dos casos, a hérnia não surge de forma aguda. Ela costuma ser um processo de estresse e lesão repetitiva do disco. Habitualmente, exceto pelos casos de hérnias que surgem após traumas ou quedas, os pacientes não se recordam de um evento específico que tenha desencadeado os sintomas. A dor pode surgir subitamente em repouso.

Sintomas

A hérnia de disco propriamente dita não dói. Se o disco intervertebral estiver herniando, mas não houver compressão relevante da raiz nervosa adjacente, o paciente pode não apresentar sintoma algum.

Do mesmo modo, quando há sintomas, eles podem ser leves, moderados ou intensos e incapacitantes, dependendo do grau de lesão da raiz nervosa. A compressão e lesão da raiz nervosa recebe o nome de radiculopatia.

Os sintomas mais comuns da hérnia de disco são dor, perda da sensibilidade, formigamento e fraqueza em um dos membros.

A localização dos sintomas depende da região da coluna vertebral que apresenta a hérnia de disco. Vamos citar algumas das apresentações mais comuns.

Sintomas da hérnia lombar e sacral

A hérnia de disco mais comum ocorre na 5ª vértebra lombar (L5). O seu quadro clínico costuma ser de dor lombar, com irradiação por toda região lateral de uma das pernas. Fraqueza nos pés também é muito característico. O paciente pode ter dificuldade de realizar movimentos, como dorsiflexão dos pés, extensão dos dedos, inversão e eversão dos pés. Perda de sensibilidade na porção lateral da perna e do pé também podem ocorrer.

A hérnia de disco das vértebras L2, L3 ou L4 também são comuns e apresentam sintomas semelhantes entre si. O quadro é de dor lombar com irradiação para parte anterior da coxa, até o joelho.  Pode haver fraqueza para extensão do joelho ou flexão do quadril. A perda de sensibilidade costuma ocorrer na porção anterior da coxa e na face interna da panturrilha, descendo até o arco do pé.

A hernia da primeira vértebra sacral (S1) pode causar dor ciática (este tipo de dor também pode ocorrer com compressão de L5 ou L4), que se caracteriza por dor lombar e no quadril, que irradia pela porção posterior e/ou lateral da coxa, podendo ir até o calcanhar. Fraqueza para extensão da perna e flexão dos dedos podem estar presentes, assim como perda de sensibilidade na região posterior do membro inferior.

Sintomas da hérnia cervical

As hernias cervicais mais comuns ocorrem entre as 5ª, 6ª e 7ª vértebras (C5, C6 e C7).

As hérnias de C5 costumam causar fraqueza e dor na musculatura do pescoço, ombro e início do braço. Pode ocorrer também perda de sensibilidade na região da axila.

As hérnias de C6 é a hernia cervical mais frequente, podendo causar fraqueza e dor na musculatura do pescoço, ombro e braço, acometendo bíceps e antebraço. Pode ocorrer também perda de sensibilidade na região lateral do antebraço até o polegar e dedo indicador.

As hérnias de C7 podem causar dor na musculatura do pescoço, ombro, dedo médio e mão. A fraqueza costuma ocorrer no músculo tríceps. Pode surgir também perda de sensibilidade na região do tríceps, irradiando para mão e dedos indicador e médio.

Diagnóstico

Na maioria dos casos, o exame físico e a história clínica são suficientes para o diagnóstico de uma hernia discal. Se o neurologista quiser comprovar a existência da hérnia ou descartar outras causas de radiculopatia, alguns exames podem ser solicitados. Entre os mais comuns estão a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.

Tratamento

O tratamento conservador, com repouso, fisioterapia, compressas mornas, educação postural e/ou acupuntura, alivia os sintomas em mais de 90% dos pacientes com hérnia de disco. A maioria se recupera, tornando-se aptos a retornar para as suas atividades habituais em um ou dois meses. Exames de imagem, como tomografia ou ressonância mostram que, com tratamento adequado,  a protusão discal encolhe-se ao longo do tempo, diminuindo a compressão da raiz nervosa e provocando melhora dos sintomas.

Medicamentos

Em geral, analgésicos comuns e anti-inflamatórios aliviam bem os sintomas da radiculopatia. Em alguns casos mais graves, medicamentos mais fortes podem ser necessários, como tramadol. Medicamentos que agem sobre dor de origem neurológicas também podem ser úteis, como gabapentina, pregabalina, duloxetina ou amitriptilina. Relaxantes musculares ou diazepam também ajudam a aliviar a dor. Em alguns pacientes, o neurologista pode indicar a injeção local com corticoides para diminuir a inflamação do nervo.

Leia também: Melhores remédios para diferentes tipos dor.

Cirurgia

Atualmente apenas uma minoria dos pacientes com hérnia de disco precisa de cirurgia. O tratamento cirúrgico das hérnias discais está indicado nos casos em que o tratamento conservador não oferece melhora após 6 semanas, quando o quadro de fraqueza muscular torna-se progressivamente pior ou quando a dor e a fraqueza são incapacitantes.

A cirurgia mais comum consiste na remoção da parte herniada do disco, aliviando a compressão do nervo. Em alguns casos o disco intervertebral inteiro precisa ser removido e as duas vértebras são fundidas. Outra opção é remoção do disco avariado e substituição por um disco artificial.

Técnicas minimamente invasivas

Existem várias técnicas cirúrgicas para hérnia de disco que são consideradas minimamente invasivas. Entre elas, a discectomia percutânea, discectomia endoscópica, discectomia a Laser e nucleoplastia com radiofrequência.

As técnicas minimamente invasivas envolvem incisões menores e cirurgia com o auxílio de visualização indireta. Alguns desses procedimentos empregam laser ou radiofrequência para dissolver partes do disco.

As cirurgias minimamente invasivas têm a vantagem potencial de uma recuperação mais rápida quando comparadas com a discectomia aberta, que é a técnica cirúrgica clássica.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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