Pneumotórax: o que é, causas, sintomas e tratamento

O pneumotórax é a presença de ar entre o pulmão e a parede torácica, causando colapso pulmonar. Pode ocorrer espontaneamente ou devido a traumas. Os sintomas incluem dor no peito e falta de ar.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

55 Comentários

neumotórax

Tempo de leitura estimado do artigo: 5 minutos

O que é pneumotórax?

O pneumotórax é uma condição médica relativamente comum, caracterizada pela presença de ar na cavidade pleural, o espaço entre as duas camadas da pleura, a membrana que recobre e protege os pulmões. Esse acúmulo de ar no espaço pleural pode levar ao colapso parcial ou total do pulmão afetado, comprometendo a função respiratória.

O pneumotórax pode ocorrer espontaneamente em pessoas saudáveis, mas ele é mais comum após traumas torácicos, em fumantes ou em pessoas com doenças pulmonares.

O pneumotórax hipertensivo é uma forma grave, que pode levar o paciente à morte em poucas horas, se não for prontamente reconhecido e tratado por uma equipe médica.

Neste artigo explicaremos, entre outras coisas, o que é a pleura, como surge o pneumotórax, quais são os seus sintomas e o que é exatamente pneumotórax hipertensivo.

O que é a pleura?

Todos nós temos dois pulmões que ficam localizados dentro da caixa torácica e são recobertos por uma fina membrana que se chama pleura.

A pleura é uma espécie de capa que isola os pulmões do resto das estruturas do tórax. Ela é composta por duas camadas:

  • Pleura visceral: capa mais interna, aderida diretamente aos pulmões.
  • Pleura parietal: capa externa, que reveste a parede interna da cavidade torácica.
Pleura parietal e pleura visceral
Pleura parietal e visceral

Entre as duas camadas da pleura existe um espaço virtual chamado cavidade pleural, preenchido por uma pequena quantidade de líquido pleural, que atua como lubrificante, permitindo que as camadas deslizem suavemente uma sobre a outra durante a respiração. Esse líquido também ajuda a criar uma pressão negativa na cavidade pleural, mantendo os pulmões expandidos.

Os nossos pulmões são órgãos esponjosos que se mantêm insuflados o tempo todo, mesmo durante a expiração. O pulmão não funciona como um balão que se enche com ar e murcha sem ar. Mesmo quando jogamos todo o ar para fora, o pulmão não fica murcho. Isso ocorre devido à pressão negativa que existe na cavidade pleural, que mantém os pulmões aderidos à parede torácica e expandidos.

Como surge um pneumotórax?

O pneumotórax ocorre quando há uma lesão da pleura, e o ar, que deveria estar apenas dentro do pulmão, começa a vazar para a cavidade pleural. Como o pulmão fica insuflado devido à pressão negativa do tórax, qualquer vazamento de ar para essa região eleva a pressão intrapleural e favorece o colapso do mesmo. O ar que deveria estar expandindo o pulmão está agora do lado de fora dele, comprimindo-o e fazendo-o murchar.

Um pneumotórax (pneumo = ar; tórax = peito) é exatamente o que seu nome diz: “ar no tórax”, mais especificamente, ar na cavidade pleural.

A imagem abaixo ilustra um pneumotórax unilateral. Com a entrada de ar para dentro do tórax, o pulmão não consegue mais se expandir, pois não há mais a pressão negativa necessária para mantê-lo insuflado. Quando isso ocorre, o pulmão funciona como um balão furado: o ar que chega pela traqueia sai imediatamente em direção à cavidade pleural, sem ser capaz de insuflá-lo.

Pneumotórax
Pneumotórax

Tipos de pneumotórax

O pneumotórax pode ser classificado em diferentes tipos, conforme a sua causa:

Pneumotórax espontâneo

O pneumotórax espontâneo é aquele que surge de repente, sem nenhum fator desencadeante óbvio. Na maioria das vezes, este tipo de pneumotórax surge em repouso e de modo súbito.

O pneumotórax espontâneo primário é mais comum em homens, fumantes e pessoas magras e altas. O grupo de maior risco são os adultos jovens, entre 20 e 30 anos. O pneumotórax espontâneo é pouco frequente em pessoas acima dos 40 anos.

Por motivos que ainda não são completamente compreendidos, este é o grupo que apresenta maior risco de desenvolver bolhas subpleurais nos ápices dos pulmões. Essas bolhas, chamadas de blebs, não representam nenhuma doença em si, mas podem se romper, causando um “furo” na pleura, facilitando, assim, a passagem de ar dos pulmões para a cavidade pleural. A analogia que podemos fazer é com um pneu que apresenta uma bolha, estando sob alto risco de se romper.

O cigarro causa inflamação das vias aéreas, facilitando não só a formação de bolhas na pleura, mas também o seu rompimento. Por isso, o cigarro é o principal fator de risco para o pneumotórax espontâneo.

Cabe ressaltar que o vilão do pneumotórax não é só o cigarro. Fumar maconha também está relacionado a episódios de pneumotórax, principalmente o ato de inalar profundamente a fumaça e soltá-la bem lentamente com os lábios semi fechados, mantendo a fumaça mais tempo presa dentro dos pulmões.

Além do fumo, praticar mergulho, montanhismo, pegar peso e viajar de avião podem desencadear um pneumotórax naqueles que já apresentam bolhas na pleura.

Nas mulheres, uma causa rara de pneumotórax é a endometriose do pulmão. Esse diagnóstico deve ser pensado em mulheres que fazem pneumotórax na época da menstruação.

Pneumotórax espontâneo secundário

Pneumotórax secundário é aquele que surge em pacientes que já apresentam alguma doença pulmonar, como enfisema, tuberculose, pneumonia, fibrose cística, asma ou câncer de pulmão. Doentes internados em CTI ligados a ventiladores mecânicos (respiração por aparelhos) também estão sob risco de pneumotórax.

Doenças pulmonares intersticiais, como fibrose pulmonar, sarcoidose e outras, também podem predispor ao pneumotórax secundário.

Pneumotórax traumático

O pneumotórax também pode surgir após acidentes com traumas na região do tórax. Qualquer lesão perfurante ou de alto impacto no tórax pode causar um pneumotórax, incluindo acidentes automobilísticos, facadas, lesões por arma de fogo, fraturas da costela, etc.

Além disso, procedimentos médicos invasivos na região torácica, como punções, biópsias pulmonares, inserção de cateteres centrais ou toracocentese, podem causar um pneumotórax acidental, chamado de pneumotórax iatrogênico.

Sintomas

O principal sintoma do pneumotórax é uma súbita dor torácica de grande intensidade associada à dificuldade para respirar. O paciente costuma estar muito ansioso, pois a dor piora ao inspirar, o que leva a um imenso desconforto.

O pneumotórax pequeno é aquele em que há apenas um pequeno vazamento de ar, não sendo capaz de “murchar” todo o pulmão. Neste caso, o único sintoma pode ser dor ao respirar e uma leve falta de ar.

Nos pneumotórax mais volumosos, pode haver colabamento de um pulmão inteiro, fazendo com que o paciente sinta dor e muita dificuldade para respirar, pois um dos seus pulmões para completamente de funcionar.

Outros sintomas que podem estar presentes incluem:

  • Taquicardia (aumento da frequência cardíaca).
  • Cianose (coloração azulada dos lábios e unhas devido à falta de oxigenação).
  • Tosse seca e irritativa.

Pneumotórax hipertensivo

O pneumotórax hipertensivo é o tipo mais grave e pode levar à parada cardiorrespiratória em pouco tempo, se não reconhecido e tratado rapidamente.

Em alguns casos de pneumotórax, a lesão na pleura funciona como uma válvula unidirecional, que permite a passagem de ar em direção à cavidade pleural durante a inspiração, mas impede a sua saída na expiração. Como resultado, cada vez que o paciente inspira, entra um pouco de ar no tórax, ficando este preso lá dentro. Conforme a quantidade de ar presa no tórax vai aumentando, a pressão intratorácica eleva-se progressivamente, comprimindo órgãos internos, como vasos sanguíneos, o outro pulmão e o coração.

O pneumotórax hipertensivo é uma emergência médica e deve ser tratado de imediato.

Os sinais clínicos de um pneumotórax hipertensivo incluem:

  • Desvio da traqueia para o lado oposto ao do pneumotórax.
  • Hipotensão arterial (queda da pressão sanguínea).
  • Distensão das veias do pescoço (ingurgitamento jugular).
  • Ausência de sons respiratórios no lado afetado.

Diagnóstico

O diagnóstico do pneumotórax deve ser suspeitado a partir da história clínica e dos sintomas do paciente. Se o pneumotórax for volumoso, é possível detectá-lo apenas com um exame físico bem feito. Isso é importante nos casos de pneumotórax hipertensivo que ocorrem fora do ambiente hospitalar, como após acidentes automobilísticos. Neste caso, o médico pode fazer o diagnóstico através da auscultação do pulmão do paciente e iniciar os procedimentos de emergência para descompressão do pulmão sem a necessidade de exames complementares.

Nos casos de um pneumotórax de pequeno volume, pode ser difícil fazer o diagnóstico com certeza apenas pelo exame físico. Nestes casos, o diagnóstico costuma ser confirmado através de exames de imagens, como a radiografia simples do tórax ou uma tomografia computadorizada do tórax.

Pneumotórax  ao raio-X
Pneumotórax ao raio-x

A radiografia de tórax é o exame inicial mais utilizado e pode mostrar a presença de ar na cavidade pleural e o colapso pulmonar. A tomografia computadorizada é mais sensível e pode ser útil em casos duvidosos ou para avaliar melhor a extensão do pneumotórax.

Tratamento

Se o pneumotórax for pequeno (cerca de 2 ou 3 cm) e o paciente estiver clinicamente estável, o tratamento pode ser apenas expectante. Basta manter o paciente em observação, pois o pneumotórax costuma regredir sozinho, com o ar sendo reabsorvido pelo organismo em alguns dias.

Nos casos de pneumotórax volumoso, está indicada a colocação de um tubo através do tórax para aspiração do ar e expansão do pulmão. Quando a pleura cicatriza após alguns dias, o tubo é retirado.

Nos casos de pneumotórax hipertensivo, a colocação do tubo deve ser feita o mais rápido possível. Se a drenagem por tubo torácico não estiver imediatamente disponível, a equipe de urgência pode perfurar o tórax com uma agulha calibrosa, provocando a saída do ar pela mesma.

Esse procedimento mantém o pneumotórax, mas ele agora não é mais um pneumotórax hipertensivo. O pulmão continua colapsado, mas já não há aumento de pressão dentro do tórax para comprimir o coração, uma vez que o ar consegue sair facilmente pela agulha. O paciente permanece capaz de respirar como pulmão não afetado.

A inserção da agulha na pleura transforma um pneumotórax hipertensivo em um pneumotórax não hipertensivo e é suficiente para salvar a vida do paciente enquanto se aguarda a chegada do material e da equipe para introdução do tubo torácico.

Em casos recorrentes de pneumotórax ou quando há persistência do vazamento de ar, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica chamada pleurodese, que consiste em provocar a aderência entre as camadas da pleura, impedindo novos acúmulos de ar. Essa técnica pode ser realizada por videotoracoscopia (cirurgia minimamente invasiva).

Prevenção e prognóstico

Para prevenir novos episódios de pneumotórax, é recomendado que os pacientes evitem fumar e praticar atividades que possam aumentar o risco de recidiva, como mergulho em apneia ou viagens aéreas sem autorização médica.

O prognóstico do pneumotórax depende do tipo, tamanho e causa. Em geral, com o tratamento adequado, a maioria dos pacientes se recupera completamente. No entanto, há risco de recidiva, especialmente em pacientes fumantes ou com doenças pulmonares subjacentes.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Saiba mais

Artigos semelhantes

Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas

Leave a Comment