Alergia alimentar: causas, sintomas e tratamento

Alergia alimentar é uma reação imunológica adversa a certos alimentos, causando sintomas como coceira, inchaço e dificuldades respiratórias. Pode ser grave e requer cuidado para evitar alérgenos.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Alergia à comida

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Introdução

Reações adversas à comida são comuns e podem ser divididas em duas categorias: alergia alimentar e reações não alérgicas a alimentos. Neste texto, abordaremos as causas, sintomas e tratamento da alergia alimentar, além de orientações para a prevenção e o diagnóstico.

A distinção entre os tipos de reação à comida é importante, uma vez que apresentam graus de gravidade e tratamentos diferentes.

a) Alergia a alimentos: é uma reação do sistema imunológico a uma ou mais proteínas de um ou mais tipos de alimentos. A alergia à comida pode, em alguns casos, levar a um quadro grave de anafilaxia.

b) Reações não-alérgicas: são reações que não são causadas por ativação do sistema imune, entre elas podemos citar intolerância a lactose, refluxo gastroesofágico, dor de estômago, intoxicação alimentar, etc.

Alergia alimentar

A alergia alimentar acomete cerca de 8% das crianças pequenas e até 3% dos adultos. Estudos mostram que essa condição possui uma forte componente genética, com até 70% dos pacientes apresentando história familiar positiva.

A alergia alimentar clássica é aquela causada pela ação de um anticorpo chamado IgE (imunoglobulina E).

O nosso sistema imune é programado para combater qualquer substância estranha que invada nosso corpo, porém, há uma certa tolerância quando essas substâncias entram pelo sistema gastrointestinal. Um paciente alérgico a um determinado alimento possui, na verdade, um sistema imunológico que desenvolve uma resposta excessiva a proteínas alimentares inofensivas, interpretando-as como ameaças.

Um paciente com alergia alimentar costuma apresentar outros tipos de alergia, como rinite, asma, dermatite atópica, etc. pois o problema é produção de IgEs direcionadas a alvos inapropriados, ou seja, a proteínas não nocivas ao nosso organismo. Mais de 1/3 das crianças com dermatite atópica também apresentam alergia alimentar a alguma comida.

Por exemplo, um paciente alérgico a frutos-do-mar é, na verdade, alérgico a uma ou mais proteínas presentes nestes alimentos. Por isso, o paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos, dado que as proteínas são muito semelhantes. Seguindo a mesma lógica, pacientes alérgicos a amendoim podem também apresentar reação ao ingerir soja, ervilha ou feijões.

Angioedema e urticária
Angioedema e urticária

Quando uma proteína alergênica é ingerida, os anticorpos do tipo IgE pensam equivocadamente que estas são nocivas ao organismo e desencadeiam uma reação inflamatória na tentativa de destruir este agente invasor.

Quando os anticorpos IgE se ligam a uma proteína, eles ativam outras células do sistema imune como os mastócitos (presentes em grande quantidade no pulmão, garganta, pele, nariz e intestinos) e os basófilos circulantes no sangue. Estas células produzem substâncias químicas, como a histamina, responsáveis pela destruição de agente invasores que, no final das contas, acabam causando os sintomas típicos da alergia. O mecanismo da alergia alimentar é semelhante, por exemplo, ao da rinite alérgica.

Quanto maior for a reação do organismo à presença de determinada proteína, maior é a liberação de produtos químicos pelos mastócitos e basófilos, e maior é a reação alérgica. Em alguns casos a reação é tão desproporcional que coloca a vida do paciente em risco, em um quadro chamado de anafilaxia.

Para entender como as células de defesa agem contra agentes invasores, leia: Leucócitos: o que são, como agem e como são produzidos.

Sintomas

Os sintomas de uma alergia alimentar aparecem dentro de alguns minutos após a ingestão dos alimentos, porém, podem demorar até 4 a 6 horas. Como há grande quantidade de mastócitos no pulmão, garganta, pele, nariz e intestinos, os sintomas alérgicos costumam estar ligados a estes órgãos.

O sintoma mais comum de uma alergia à comida é a urticária, placas vermelhas e pruriginosas (que coçam) localizadas geralmente no tronco. Outro sintoma comum, mas mais perigoso, é o angioedema, um inchaço das mucosas que costuma se manifestar com edema dos lábios. Quando o angioedema é grave pode haver inchaço da língua e das mucosas da garganta, causando obstrução do fluxo de ar para os pulmões. O paciente pode parar de respirar devido a esta obstrução do ar.

Outros sintomas da alergia alimentar incluem a rinite, conjuntivite, asma, diarreia, dor abdominal e vômitos.

Se houver uma ativação maciça dos basófilos e mastócitos, a reação pode ser tão forte que causa uma vasodilatação exagerada, levando o paciente ao estado de choque circulatório, conhecido como choque anafilático.

Síndrome de alergia oral

A síndrome da alergia oral, também conhecida como síndrome da alergia pólen-comida, é um tipo de alergia alimentar que acomete até metade dos pacientes com rinite alérgica ao pólen. Esses pacientes apresentam um quadro de alergia a frutas e vegetais crus que se manifesta imediatamente após a ingestão destes. Os alimentos mais comuns são: banana, melão, melancia, maça, pêssego, ameixa, cenoura, pepino, abobrinha, avelã, aipo entre outros.

Alergia alimentar após exercício físico

Existe um tipo de alergia alimentar que só se manifesta se o paciente praticar alguma atividade física até 4 horas após a ingestão de determinados alimentos. O paciente com este tipo de alergia pode comer camarão e nada sentir, mas se comê-lo e for praticar algum exercício pode até sofrer uma reação anafilática.

Diagnóstico

O diagnóstico envolve a história clínica, onde deve ser dada ênfase aos alimentos ingeridos antes das reações e ao tempo que decorreu para que os sintomas surgissem.

Os testes de pele podem ajudar. Nestes, o médico alergologista inocula vários tipos de proteínas no antebraço do paciente à procura de reações às mesmas. O resultado costuma demorar apenas 15 minutos. O principal valor do teste é quando este é negativo, servindo para descartar a proteína que não causou reação. O teste positivo não dá certeza de que o paciente seja alérgico àquela proteína.

Teste cutâneo
Teste cutâneo

Em alguns casos com alto risco de reação anafilática, o médico pode optar por não fazer este teste pelo risco de reação exagerada.

Atualmente, é possível realizar a dosagem de IgE específicas no sangue para se identificar contra quais alimentos o paciente desenvolve alergia.

Tratamento

O melhor tratamento da alergia a alimentos é a prevenção. Não há um tratamento que cure a alergia alimentar. O mais importante é identificar os alimentos que causam alergia e evitá-los permanentemente.

Quando o paciente ainda não conhece os alimentos que lhe causam alergia ou quando há ingestão acidental de um alimento proibido, o tratamento visa o controle da reação alérgica. As drogas mais usadas são os antialérgicos (anti-histamínicos) e os corticoides. Nos casos de choque anafilático, o tratamento é feito com injeção de adrenalina.

Pacientes com histórico de reação anafilática a alimentos devem portar cartões ou pulseiras explicando sua alergia para que possam ser rapidamente diagnosticados e tratados, caso necessário. Muitos pacientes andam com seringas automáticas de adrenalina caso seja necessário tratamento imediato.

Aproximadamente 85% das crianças deixam espontaneamente de ser alérgicas à maioria dos alimentos (ovos, leite de vaca, trigo e soja) entre os 3-5 anos de idade. O teste cutâneo permanece positivo, apesar de haver tolerância ao alimento. A alergia alimentar ao amendoim, nozes, peixe e camarão raramente desaparece.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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