Pré-diabetes: sintomas, diagnóstico e tratamento

O pré-diabetes é uma condição onde os níveis de glicose no sangue estão elevados, mas não o suficiente para um diagnóstico de diabetes. É um sinal de alerta para mudar hábitos alimentares e praticar exercícios, prevenindo o diabetes tipo 2.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Pré-Diabetes

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Diabetes tipo 2 e pré-diabetes

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é a forma de diabetes mais comum em todo mundo, sendo responsável por cerca de 90% de todos os casos. Somente no Brasil, estima-se que mais de 7 milhões de pessoas sejam diabéticas, sendo que boa parte delas não sabe que está doente.

Ao contrário do diabetes tipo 1, que tem origem genética e costuma surgir na infância, o diabetes tipo 2 não é uma doença que surge subitamente em pessoas saudáveis. Em geral, ele é um quadro de instalação lenta, que acomete preferencialmente indivíduos com fatores de riscos bem conhecidos, tais como, história familiar, excesso de peso, acúmulo de gordura na região abdominal, idade superior a 45 anos, etc. (leia: Diabetes tipo 2 – Causas e fatores de risco).

Habitualmente, antes de desenvolver o DM2, o paciente passa por um estágio chamado de pré-diabetes, que costuma ser assintomático e pode durar anos. Apesar de ainda não ser a doença diabetes mellitus propriamente dita, o pré-diabetes também pode causar danos à saúde, como um maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Neste artigo vamos explicar o que é o pré-diabetes. Falaremos sobre suas causas, como é feito o seu diagnóstico, qual é o risco de evolução para DM2 e quais são as opções de tratamento.

O que é pré-diabetes?

O pré-diabetes surge quando o processamento da glicose (açúcar) pelo organismo não está sendo feito adequadamente. Em vez de servir como fonte de energia para as células, a glicose permanece circulando no sangue, fazendo com que o seu nível fique acima do normal (falaremos especificamente dos valores da glicose sanguínea mais adiante, na parte sobre diagnóstico do pré-diabetes).

De forma simples, podemos dizer que uma pessoa tem pré-diabetes quando a sua glicemia (nível de glicose no sangue) está acima do normal, mas ainda não é alta o suficiente para ser definida como diabetes.

Para entender como surge o pré-diabetes, vale a pena relembrar como o corpo manuseia o açúcar ingerido na dieta.

A maior parte da glicose presente no nosso organismo vem dos alimentos que consumimos, mais especificamente dos alimentos que contêm carboidratos, tais como pão, massas, arroz, batata, doces, frutas, milho, farinha, bolos, etc.

Durante a digestão, o açúcar presente nos alimentos é absorvido no intestino e entra na corrente sanguínea. Assim que o organismo detecta uma elevação no nível da glicemia, o pâncreas passa a liberar um hormônio chamado insulina. A insulina age como uma chave que abre as portas das células para a glicose poder ingressar. Sem insulina, a glicose não tem como penetrar nas células, e sem glicose, as células não conseguem funcionar adequadamente.

A entrada de glicose nas células faz com que a sua concentração no sangue caia. O nível de insulina no sangue é controlado de forma muito apurada. Se a glicemia eleva-se, o nível de insulina também sobe; se a glicemia cai, a liberação de insulina pelo pâncreas também reduz-se. Desta forma, a concentração de glicose no sangue é sempre mantida dentro de valores considerados adequados para o funcionamento do organismo.

Quando o indivíduo tem pré-diabetes, é porque o processo descrito acima está sendo realizado de forma inadequada. Habitualmente, dois mecanismos são os responsáveis:

  • O pâncreas deixa de ser capaz de produzir quantidades adequadas de insulina, fazendo com que parte da glicose se acumule no sangue.
  • As células se tornam resistentes à ação da insulina. A quantidade de insulina é adequada, mas ela não é eficiente na hora de facilitar a entrada da glicose nas células. Esse efeito é especialmente comum em pessoas com sobrepeso, pois o excesso de gordura está claramente associada a uma menor eficiência da insulina.

Quando o defeito em um dos dois mecanismos descritos acima é brando, o paciente desenvolve pré-diabetes; quando o defeito é grave, o paciente desenvolve DM2.

Sintomas

O pré-diabetes não provoca sintoma algum. O nível de glicose ainda não é alto o suficiente para causar nenhum dos sintomas comuns do DM2.

Diagnóstico

Os métodos laboratoriais para diagnosticar o pré-diabetes são os mesmos utilizados para o diagnóstico diabetes, o que mudam são apenas os valores.

Glicemia de jejum

O método mais utilizado para o diagnóstico tanto do DM2 quanto do pré-diabetes é a chamada glicemia de jejum, que é a dosagem do nível de glicose no sangue após um jejum de pelo menos 8 horas.

  • O normal é ter uma glicemia de jejum de no máximo 99 mg/dl.
  • Indivíduos com glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com glicemia de jejum igual ou acima de 126 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados diabéticos.

Dizer que o paciente tem uma glicemia de jejum alterada é outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

Hemoglobina glicada (HbA1C)

A hemoglobina glicada é um exame que avalia a quantidade de glicose presente na hemoglobina. Quanto maior for a glicemia ao longo do tempo, maior é o valor da hemoglobina glicada. Esse teste é muito útil, pois ele estima o valor médio da glicemia nos últimos 3 meses. Se a HbA1C vier alta, isso significa que a glicemia esteve descontrolada nos últimos 3 meses, no mínimo.

  • O normal é ter uma hemoglobina glicada abaixo de 5,7%.
  • Indivíduos com hemoglobina glicada entre 5,7% e 6,4% são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com hemoglobina glicada acima de 6,5% são considerados diabéticos.
Valores de pré-diabetes

Para saber mais sobre a hemoglobina glicada, leia: Hemoglobina glicada – O que é, valores normais e como baixar.

Teste de tolerância oral à glicose (TTOG)

O teste de tolerância oral à glicose é um exame no qual o paciente dosa a sua glicemia em jejum e novamente 2 horas após beber uma solução rica em açúcar. Esse teste serve para ver como o organismo processa a glicose logo após a sua ingestão. Exceto nas grávidas, o TTOG é raramente usado para o diagnóstico do pré-diabetes ou do diabetes (leia: Diabetes gestacional – Riscos, sintomas e diagnóstico).

  • O normal é ter um teste de tolerância oral à glicose abaixo de 140 ml/dl.
  • Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose entre 140 e 199 mg/dl são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose acima de 200 mg/dl são considerados diabéticos.

Dizer que o paciente tem intolerância à glicose é outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

Fatores de risco

Como o pré-diabetes é basicamente um estágio antes do surgimento do DM2, os seus fatores de risco acabam sendo praticamente os mesmos. Os mais importantes são:

Evolução para diabetes

O pré-diabetes tem basicamente dois problemas. O primeiro é o fato dele estar habitualmente associado a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente o sobrepeso e o colesterol elevado. O segundo, e mais importante, é o fato do pré-diabetes ser um estágio logo antes do aparecimento do DM2, sendo essa transição muito comum no período de poucos anos.

Se nada for feito, cerca de 1/3 dos pacientes com pré-diabetes irá progredir para DM2 no prazo de 3 a 5 anos. Se considerarmos apenas os indivíduos com múltiplos fatores de risco, a taxa de progressão é ainda mais alta.

O fato é que nem todo mundo com pré-diabetes irá obrigatoriamente evoluir para diabetes, mas praticamente todos os pacientes portadores de diabetes tipo 2 em algum momento da vida passaram pela fase de pré-diabetes.

Portanto, como o risco de progressão para o diabetes tipo 2 é bem alto e não há como saber de antemão que irá progredir ou não, medidas preventivas devem ser instituídas quanto antes possível.

Tratamento

O tratamento do pré-diabetes é, na verdade, apenas um conjunto de medidas de prevenção contra o DM2. O alvo é atacar os fatores de risco que podem ser modificados. Obviamente, ninguém pode fazer nada em relação à história familiar ou à própria idade, no entanto, muito pode ser feito em relação à dieta, ao tabagismo, ao sedentarismo e ao excesso de peso.

Todos os indivíduos com pré-diabetes devem ter como objetivo principal emagrecer e alcançar um IMC abaixo de 25 kg/m². Porém, mesmo perdas pequenas de peso, como algo em torno de 5% do peso corporal, já são suficientes para reduzir de forma relevante o valor da glicemia em jejum.

Outro fator importante é a prática regular de atividade física. O sedentarismo e o excesso de gordura diminuem a eficácia da insulina, enquanto o aumento da massa muscular e a prática regular de exercícios fazem o efeito contrário, tornando a insulina circulante no sangue mais eficaz.

O importante não é necessariamente a intensidade do exercício, mas sim a frequência com que ele é feito durante a semana. O ideal são 30 minutos de atividade, 5 vezes por semana, para haver efeitos relevantes, porém, mesmo uma frequência menor ainda é melhor do que o sedentarismo.

Um excelente exercício é a musculação, mesmo que o paciente não consiga levantar grandes pesos. Os pacientes que conseguem associar musculação com exercício aeróbico são aqueles que obtêm os melhores resultados na prevenção do diabetes tipo 2.

Quem é fumante deve largar o cigarro imediatamente. Não só o cigarro é responsável por uma extensa lista de doenças graves, como ele também aumenta o risco de DM2 em quase 40%.

Medicamentos para o pré-diabetes

Na maioria dos casos, não há necessidade de indicar tratamento medicamentoso para a prevenção do diabetes, pois as mudanças de hábitos alimentares e de vida costumam ser suficientes para controlar os níveis de glicose. Além disso, são muito limitadas as opções de drogas que realmente retardam a progressão para o DM2 sem provocar uma gama de efeitos colaterais indesejados.

Contudo, a terapia medicamentosa pode ser útil na prevenção da diabetes tipo 2 em pacientes com alto risco e que não conseguem pôr em prática as mudanças de estilo de vida necessárias. Geralmente, o uso de fármacos acaba sendo indicado para pessoas com menos de 60 anos, IMC acima de 35 kg/m² ou mulheres com histórico de diabetes gestacional, que não conseguem ou não podem ter um estilo de vida mais saudável.

Para estes casos, o uso da metformina, um antidiabético oral, pode ser indicado. A metformina ajuda a reduzir os níveis de glicose e diminui o risco de progressão para o diabetes, principalmente em pessoas jovens e obesas. É importante destacar, porém, que esta droga é menos efetiva que as mudanças de estilo de vida, devendo, portanto, ficar restrita apenas àqueles que não conseguem emagrecer nem praticar exercícios.

Em indivíduos com pré-diabetes e excesso de peso ou obesidade, a semaglutida, um novo antidiabético, pode ajudar a retardar ou prevenir o aparecimento do DM2 quando usado como farmacoterapia da obesidade (falamos da semaglutida em detalhes no artigo: Informações sobre Semaglutida (Ozempic, Wegovy e Rybelsus)).

Além da metformina, e da semaglutida em casos selecionados, nenhuma outra droga costuma ser indicada para a prevenção do diabetes.

Cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica é uma medida mais radical, que pode ser indicada nos pacientes com obesidade mórbida (IMC maior que 40 kg/m²), que não conseguem emagrecer de outra forma. Pacientes submetidos a esta cirurgia emagrecem rapidamente e apresentam grande melhoria do seu metabolismo da glicose.

Vídeo: sintomas do diabetes

Para finalizar, assista a esse curto vídeo sobre os primeiros sintomas do diabetes.

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Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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