Tétano: transmissão, sintomas e vacina

Apesar de ser muito grave, o tétano pode ser facilmente prevenido através da vacina. Pessoas com a vacinação em dia não correm risco de contraírem essa infecção.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Tétano

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O que é o tétano?

O tétano é uma doença infecciosa, com mortalidade próxima aos 40%, causada pela contaminação de feridas da pele pela bactéria Clostridium tetani, que vive habitualmente no solo, objetos expostos ao ar livre, plantas ou fezes de mamíferos.

O Clostridium tetani ataca o sistema nervoso central, provocando violentos espasmos musculares.

Apesar de ser muito grave, o tétano pode ser facilmente prevenido através da vacina. Pessoas com a vacinação em dia não correm risco de contraírem essa infecção.

Desde a década de 1940, com o advento da vacina, o tétano tem se tornado cada vez menos comum. Infelizmente, nos países subdesenvolvidos, principalmente na África, a doença ainda ocorre com bastante frequência. No mundo inteiro acontecem cerca de um milhão de casos de tétano por ano.

Como se pega?

O Clostridium tetani é uma bactéria extremamente resistente, podendo hibernar e sobreviver em forma de esporos por anos ao ar livre, independente da temperatura e da umidade. O Clostridium tetani é capaz de resistir até a alguns desinfectantes.

Toda vez que sofremos um corte, expomos nossos tecidos internos para bactérias da pele e do meio ambiente. Se o corte for causado por um objeto contaminado pelo Clostridium tetani, a bactéria consegue se reativar e voltar a se reproduzir dentro da camada interior da pele.

A bactéria é mais ativa em locais de pouco oxigênio, por isso, quanto mais profundo for o corte, maior é o risco de desenvolver tétano. Uma vez ativa, a bactéria passa a produzir uma neurotoxina chamada tetanospasmina, que é responsável pelos sintomas neurológicos que descreveremos mais adiante.

Prego enferrujado transmite tétano?

A relação entre metais enferrujados e o tétano é muito difundida na população, porém, não é de toda real. O fato de um ferro ou prego estarem enferrujados em nada muda o risco dos mesmos estarem contaminados pela bactéria Clostridium tetani. O problema é a perfuração, já que um prego infectado pelo Clostridium tetani consegue inocular as bactérias mais profundamente. E como já referido, quanto mais profundo na pele, menor é a quantidade de oxigênio presente. Portanto, ferir-se com um prego no solo, esteja ele enferrujado ou não, oferece um grande risco de contaminação pelo tétano.

Qualquer objeto ou trauma que perfure ou corte a pele pode inocular o Clostridium tetani, inclusive mordidas de animais, queimaduras, uso de drogas endovenosas e até lesão por arma de fogo (leia: Mordida de cachorro – Cuidados e Tratamento).

Outra maneira de se contaminar com o tétano é manusear ou pisar descalço na terra ou adubo tendo feridas abertas nas mãos ou nos pés. Na verdade, qualquer ferida que entre em contato com objetos ou sujeira pode ser uma porta de entrada para o Clostridium tetani. Por isso, é essencial manter a vacinação contra tétano sempre em dia (explico mais adiante).

Feridas com tecido desvitalizado (morto), como nos casos de queimaduras profundas ou lesões por esmagamento, apresentam elevado risco de tétano. Do mesmo modo, qualquer ferida que apresente detritos, sujeira ou qualquer corpo estranho também são perigosas. Pacientes politraumatizados por atropelamento ou acidente de carro costumam apresentar grandes feridas sujas, com áreas extensas de tecido morto, estando, assim, sob elevado risco de se contaminarem pelo Clostridium tetani.

Sintomas

O período de incubação, ou seja, o intervalo de tempo entre a contaminação e os primeiros sintomas, varia entre 2 dias até vários meses. Todavia, na maioria dos casos, os sintomas surgem dentro de 8 dias. A inoculação da bactéria em locais do corpo distantes do sistema nervoso central, como mãos ou pés, resulta em um período de incubação mais longo do que nas inoculações próximas do sistema nervoso central, por exemplo, na cabeça ou pescoço. Habitualmente, quanto mais curto for o período de incubação, mais agressivo será o tétano.

Após penetrar na pele, o Clostridium tetani deixa a forma de esporos e se torna uma bactéria ativa, passando a se reproduzir e a liberar toxinas. A neurotoxina tetanospasmina viaja pelo corpo até o sistema nervoso central, onde irá agir sobre os neurônios. No cérebro, a tetanospasmina causa uma estimulação exagerada dos neurônios, provocando prolongadas e persistentes contrações musculares.

A pintura acima é uma imagem típica de um opistótono, um dos sinais clássicos do tétano, uma violenta contração dos músculos do pescoço e do tronco, que forçam o paciente a ficar em uma posição arqueada. Outro quadro característico é o trismo, uma contração dos músculos maxilares, impedindo o paciente de abrir a boca, o que provoca o chamado riso sardônico.

As contrações são extremamente dolorosas e podem impedir o paciente de se alimentar e respirar. Muitas vezes os doentes permanecem conscientes, o que torna o quadro ainda mais dramático. Os espasmos tetânicos são desencadeados por estímulos externos, como luz e barulho. Por isso, os pacientes com tétano devem ficar alocados em quartos isolados e silenciosos.

Epistótono
Epistótono

O acometimento dos neurônios pelo tétano também provoca sudorese intensa, palpitações, febre alta, alterações da pressão arterial (episódios de hipertensão alternados com hipotensão), dor de cabeça e agitação psicomotora.

O tétano costuma durar de 4 a 6 semanas.

Existe também o tétano neonatal, causado geralmente por partos fora de ambiente hospitalar e em locais de pouca higiene. O recém-nascido é contaminado pelo manuseio pouco higiênico do coto umbilical, principalmente através de fórmulas caseiras ou produtos não esterilizados, como manteiga, sucos ou moedas.

Tratamento

O tétano é uma doença amplamente prevenível através de vacinação. Porém, muitas pessoas não mantêm sua vacina em dia e se colocam em risco de contaminação pelo Clostridium tetani.

A vacina só serve para prevenir o tétano. Nos pacientes já contaminados e com sintomas, ela não apresenta utilidade. De qualquer modo, todo paciente com tétano curado deve ser vacinado, pois a infecção não confere imunidade e não protege o paciente de se contaminar novamente no futuro.

Para tratar o tétano, o primeiro passo é limpar bem a ferida que deu origem à contaminação, pois se ainda houver tecido morto ou corpo estranho, a bactéria pode permanecer ali alojada, produzindo toxinas indefinidamente.

Os antibióticos não agem diretamente na doença, pois eles não têm ação direta sobre os efeitos neurológicos das toxinas. Porém, o seu uso está indicado para eliminar o Clostridium tetani, interrompendo, assim, a produção de toxinas. Os antibióticos mais usados são o Metronidazol ou a Penicilina G.

A imunoglobulina contra o tétano é uma espécie de antídoto, que serve para inativar as toxinas circulantes no sangue que ainda não chegaram ao sistema nervoso central. Quanto mais cedo ela for administrada, mais eficaz no controle da doença ela será.

As toxinas já ligadas aos neurônios não são possíveis de serem removidas pela imunoglobulina, por isso, uma vez iniciados os sintomas, o único jeito é controlar os espasmos musculares com sedativos e relaxantes musculares até que o efeito da tetanospasmina se dissipe. Muitas vezes é preciso induzir os pacientes ao coma (leia: O que é coma induzido?).

Vacina antitetânica

O tétano tem vacina e faz parte do calendário básico de vacinação. A imunização primária é obtida após 3 doses da vacina tríplice contra tétano, coqueluche e difteria, habitualmente administrada durante a infância.

Após essa imunização primária, devemos repetir a vacinação a cada 10 anos com a vacina dupla (tétano/difteria). A vacina não contém a bactéria viva e pode ser administrada em gestantes.

Quando o indivíduo se fere, é importante confirmar a data da última dose da vacina contra o tétano para saber se é necessário fazer um reforço. Para feridas pequenas, limpas e superficiais, o intervalo seguro é de 10 anos. Porém, em caso de feridas penetrantes, sujas (que tenham tido contato com o solo, fezes, saliva ou sujeira) ou nas lesões extensas, como acidentes automobilísticos, esmagamentos e queimaduras, o intervalo de segurança da vacina do tétano é de apenas 5 anos.

É importante lembrar que se a ferida for de alto risco e a última vacinação tiver sido há mais de 5 anos, a vacina por si só não basta, é preciso também administrar a imunoglobulina para evitar o aparecimento do tétano.

Nas feridas limpas e superficiais, basta o reforço da vacina, não sendo necessário fazer imunoglobulina, mesmo que a última vacinação tenha sido há mais de 10 anos.

A vacina contra o tétano deve ser aplicada o mais rápido possível, mas os pacientes que só procuram ajuda médica vários dias depois da lesão podem recebê-la também, pois o período de incubação pode ser de meses, apesar do habitual ser apenas 8 dias.

Fluxograma da profilaxia do tétano

O fluxograma abaixo resume quando a vacina e a imunoglobulina contra o tétano devem ser administradas.

Fluxograma da profilaxia do tétano (vacina e imunoglobulina)

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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