21 Sintomas da Dengue (Clássica e Hemorrágica)

A dengue é uma doença viral transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Seus sintomas incluem febre alta, dores musculares e articulares, além de manchas na pele.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Sintomas da dnegue

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Por que a dengue é perigosa?

A dengue é uma doença que não possui uma taxa de mortalidade muito elevada, com aproximadamente 40 óbitos para cada 100.000 casos registrados (0,04%). Os óbitos pela doença ocorrem quase que exclusivamente nos casos mais graves, também chamados de dengue hemorrágica, forma que cursa com complicações, tais como choque circulatório, hemorragia digestiva e comprometimento de órgãos vitais, como fígado, coração e sistema nervoso central.

Ao contrário do que ocorre na dengue simples, que tem baixa taxa de mortalidade, na forma hemorrágica, o número de óbitos é superior a 10% dos casos.

A identificação precoce de casos potencialmente graves é essencial para o tratamento ser iniciado o mais rapidamente possível, o que é capaz de reduzir a taxa de mortalidade da dengue grave para menos de 1%.

Neste artigo, focaremos apenas nos sintomas da dengue e nos seus achados laboratoriais, dando ênfase às diferenças entre os casos simples e os casos graves de dengue (dengue clássico versus dengue hemorrágica).

Se você quiser saber mais detalhes sobre esse assunto, incluindo diagnóstico, tratamento, transmissão, vacinas e questões sobre mosquito Aedes aegypti, acesse os seguintes artigos:

Nota: em português, “dengue” é um substantivo feminino. Portanto, deve ser precedido pelo artigo feminino “a” e os adjetivos devem concordar em gênero. Exemplos: a dengue, a dengue clássica e a dengue hemorrágica.

Sinais e sintomas da dengue clássica

  • Febra alta.
  • Dor de cabeça.
  • Dor retro-orbital (dor atrás dos olhos).
  • Dor muscular.
  • Dor nas articulações e ossos.
  • Perda do apetite.
  • Fraqueza e cansaço.
  • Náuseas e vômitos.
  • Rash de pele (manchas vermelhas).
infográfico: Sinais e sintomas da dengue clássica
Sinais e sintomas da dengue clássica

Sinais e sintomas da dengue hemorrágica

  • Dor abdominal forte e persistente.
  • Vômitos persistentes.
  • Pele úmida, pálida, fria — sinais clínicos de má perfusão dos tecidos.
  • Sangramento pelo nariz, boca ou gengivas.
  • Pontos vermelhos na pele.
  • Sonolência.
  • Agitação psicomotora e confusão mental.
  • Sede excessiva — sinais de desidratação.
  • Frequência cardíaca elevada.
  • Hipotensão arterial.
  • Dificuldade respiratória.
  • Coma.

Quadro clínico

O quadro clínico da dengue pode variar desde casos praticamente assintomáticos até situações catastróficas, com hemorragias e falência de múltiplos órgãos. A dengue hemorrágica pode ocorrer com qualquer um dos 4 sorotipos existentes do vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4.

Na verdade, a forma hemorrágica habitualmente surge quando um paciente previamente infectado por algum sorotipo contrai novamente a doença, desta vez com um novo sorotipo. Acredita-se que a formas graves da dengue ocorram por uma resposta exacerbada do nosso sistema imunológico a esta segunda infecção (explicaremos mais adiante).

Portanto, pacientes que já tiveram dengue em algum momento de suas vidas e apresentam a sua segunda infecção são aqueles que devem ser observados com maior cuidado.

Dengue sem sintomas

Cerca de 15% das pessoas infectadas pelo vírus da dengue não desenvolvem sintomas, ou o fazem de forma tão branda que nem sequer suspeitam ter a doença. A forma assintomática da dengue é mais comum em adolescentes e crianças em idade escolar. Um estudo realizado em mais de 2000 escolas na Tailândia em 2002 demonstrou que cerca de 53% das crianças que se contaminam com o vírus da dengue não desenvolvem doença febril de forma relevante.

Ainda não está claro se esse grupo que desenvolve a primeira infecção de forma assintomática apresenta menos riscos de evoluir para formas graves, caso venha a se contaminar futuramente com um novo sorotipo do vírus. O fato é que o quadro de dengue hemorrágica também é mais comum nos pacientes mais jovens, o que nos mostra que este grupo é o mais propenso a desenvolver tanto as formas mais brandas quanto as mais graves da doença.

Nos pacientes que desenvolvem sintomas clínicos, a infecção costuma ter duas formas de apresentação: dengue clássica e dengue grave (também chamada de dengue hemorrágica).

Dengue clássica

A chamada dengue clássica ou sem gravidade é a forma de apresentação mais comum desta virose.

O período de incubação da dengue, ou seja, o tempo de intervalo entre a picada do mosquito Aedes aegypti infectado pelo vírus e o aparecimento dos primeiros sintomas, pode variar de 3 a 15 dias. Na maioria dos casos, porém, os primeiros sinais surgem entre 4 a 7 dias após a picada.

Sintomas iniciais da dengue

A primeira manifestação da dengue costuma ser febre alta, ao redor de 39ºC-40ºC, que surge de forma súbita. Dor de cabeça, dor retro-orbital (dor atrás dos olhos), dor muscular, dor nas articulações, perda do apetite, fraqueza, cansaço, manchas vermelhas na pele, náuseas e vômitos são sintomas que costumam vir logo a seguir. A dor pelo corpo costuma ser tão forte que a dengue também é conhecida como a “febre quebra-ossos”.

O paciente com dengue não terá necessariamente todos os sintomas listados acima, mas boa parte deles costuma estar presente. A febre alta associada a mal-estar, dor de cabeça e dores pelo corpo é a forma de apresentação mais comum, ocorrendo em cerca de 80% dos casos.

A dengue também pode provocar sintomas comuns a outras viroses respiratórias, incluindo dor de garganta, tosse ou nariz entupido. Um terço dos pacientes pode ter um quadro clínico muito parecido com uma gripe mais forte, o que pode dificultar o diagnóstico. Diarreia não é muito comum, mas pode também ocorrer. Fezes pastosas, por outro lado, são frequentes e surgem em quase metade dos pacientes.

Sintomas finais da dengue

A febre alta dura de 3 a 7 dias, e no momento em que ela começa a baixar, os outros sintomas também costumam desaparecer. Um quadro de cansaço pode ainda persistir por algumas semanas após a resolução dos sintomas. Alguns pacientes apresentam um padrão bimodal da febre, ou seja, depois que a febre desaparece, ela volta subitamente por mais 2 dias, para só então desaparecer de vez.

Rash da dengue

O rash ou erupção cutânea é um sinal que ocorre em mais da metade dos pacientes, geralmente após o 3º dia de febre. As manchas na pele são tipicamente avermelhadas, planas e distribuídas por tronco e membros. As manchas podem se coalescer, formando imagens parecidas com mapas geográficos, como pode ser visto na foto abaixo.

Manchas na pele da dengue
Erupção de pele da dengue

Uma das características dessa erupção é que ela evanesce momentaneamente quando pressionamos a pele com os dedos. As manchas da dengue não costumam causar coceira, mas alguns pacientes podem referir esse sintoma.

O rash dura por volta de três dias e desaparece sem descamar ou deixar manchas na pele.

Rash da dengue
Erupção cutânea da dengue

Manifestações hemorrágicas da dengue clássica

Alguns autores preferem a distinção entre dengue grave ou não grave, em vez de dengue clássica ou hemorrágica. Essa preferência faz sentido porque nem toda dengue que apresenta eventos hemorrágicos é necessariamente dengue hemorrágica. Sangramentos nasais, da gengiva, na pele e até nas fezes podem ocorrer na dengue clássica.

Conforme veremos a seguir, o que caracteriza a dengue hemorrágica (forma grave) não é necessariamente a presença de hemorragia. Nem todos os pacientes com sangramento têm a forma mais grave da infecção.

Quadro clínico da dengue hemorrágica

A dengue grave (forma hemorrágica) é uma evolução desfavorável de um quadro de dengue clássica.

Inicialmente, o quadro clínico é exatamente igual, não sendo possível distinguir quem evoluirá de forma favorável ou desfavorável.

As complicações da dengue hemorrágica costumam surgir entre o 3º e 7º dia de doença, geralmente no mesmo momento em que a febre costuma melhorar. Na forma clássica, o desaparecimento da febre indica que a doença está acabando. Já na forma hemorrágica, o final da febre costuma marcar o início das complicações.

fases da dengue

É por esse motivo que a evolução da dengue pode ser dividida em fase febril (comum às formas graves e não graves), fase crítica (momento em que as complicações da dengue surgem) e fase de recuperação, que é quando a doença cura-se.

Como já referido, apesar do nome dengue hemorrágica, o que define a existência de gravidade não é a presença de eventos hemorrágicos, mas sim a ocorrência do que chamamos de síndrome do extravasamento plasmático.

Síndrome do extravasamento plasmático

Acredita-se que a dengue hemorrágica ocorra não por atuação direta do vírus da dengue, mas sim por uma resposta exacerbada do nosso sistema imunológico, que acaba por criar uma resposta inflamatória por todo o organismo de forma mais intensa do que a necessária para combater o vírus invasor.

Uma das consequências mais graves é a disfunção endotelial, que é uma alteração das células que revestem os vasos sanguíneos, fazendo com que os mesmos fiquem mais permeáveis à água. O aumento de permeabilidade, que ocorre principalmente nos capilares (vasos de pequeníssimo calibre), faz com que haja extravasamento de plasma do sangue para os tecidos ao seu redor (o plasma é a parte do sangue que não contém células, ele é basicamente água, proteínas e sais minerais).

Quando o extravasamento plasmático é relevante, uma grande quantidade de água sai dos vasos sanguíneos e se deposita nos órgãos e tecidos.

Esse fato gera duas consequências graves: a primeira é uma grande redução do volume efetivo de sangue circulante, que pode levar o paciente ao que chamamos de choque circulatório. A segunda consequência é a mobilização de grandes volumes de água para o pulmão, ocupando o espaço que deveria ser reservado para a absorção de oxigênio. O resultado é a falência respiratória, tal como se o paciente estivesse se afogando.

Outro local onde a água costuma acumular-se é a cavidade abdominal, provocando um quadro chamado de ascite.

O grau de extravasamento plasmático é quem define a gravidade da dengue. Se o quadro for brando, o paciente costuma passar bem por essa fase. Por outro lado, se disfunção endotelial for severa, o paciente pode evoluir para o óbito em apenas 24 horas.

O extravasamento plasmático é o evento definidor da dengue grave. Porém, eventos hemorrágicos são muito mais comuns na dengue grave do que na clássica, motivo pelo qual esta forma mais severa de doença também é chamada de dengue hemorrágica.

Como já referido, até o fim da fase febril, os pacientes com dengue grave e clássica apresentam mais ou menos o mesmo espectro de sinais e sintomas. É somente na fase crítica que conseguimos identificar quem evoluirá bem e quem corre risco de ter complicações.

Enquanto o paciente com dengue clássica melhora com o fim da febre, o paciente com as formas mais graves começa a apresentar os primeiros sinais de que algo não está correndo bem. Dor abdominal intensa, vômitos persistentes, queda da pressão arterial, sonolência, desorientação, dificuldade respiratória, pele pálida e fria, diminuição do volume urinário e hemorragias espontâneas, principalmente do trato gastrointestinal, são sinais de alarme.

Durante a fase mais grave, vários órgãos podem ser diretamente acometidos, como coração, fígado e sistema nervoso central.

Uma vez que o extravasamento plasmático tenha começado a ocorrer de forma intensa, o quadro evolui muito rapidamente. A dengue grave tem que ser imediatamente reconhecida, pois a reposição de líquidos por via intravenosa precisa ser iniciada o mais rapidamente possível para evitar que o paciente evolua para o choque circulatório.

A fase crítica dura apenas 24 a 48 horas. Depois deste período, o plasma extravasado começa a ser lentamente reabsorvido para a corrente sanguínea, fazendo com que o paciente melhore progressivamente ao longo das próximas 72 horas.

Alterações laboratoriais da dengue

Além do quadro clínico, composto pelos sinais e sintomas, as alterações laboratoriais também são muito importantes na investigação da dengue, seja ela clássica ou hemorrágica.

O hemograma é o exame laboratorial mais útil. Na fase febril, o achado mais comum é a leucopenia, que é uma queda no número de leucócitos, uma das principais células de defesa do nosso sangue. Outra alteração laboratorial típica é a trombocitopenia, que é a queda no número de plaquetas, as células responsáveis pelo início do processo de coagulação do sangue.

Em geral, na dengue clássica o número de plaquetas reduz-se, mas não cai abaixo das 100.000 células por m³. Já na forma hemorrágica, a trombocitopenia costuma ser mais intensa, frequentemente abaixo das 50.000 células por m³. É importante destacar que somente o valor das plaquetas não é suficiente para distinguir uma dengue clássica da forma hemorrágica.

Como na dengue grave há grande extravasamento de líquidos para fora do sangue, o resultado é um aumento da concentração das células que lá permanecem. Como as hemácias são as células mais abundantes no sangue, um aumento súbito na sua concentração sanguínea é um sinal muito forte de que o sangue está perdendo água rapidamente. Portanto, um aumento de pelo menos 20% no valor do hematócrito costuma ocorrer horas antes do paciente começar a apresentar sinais de choque circulatório.

Se você não entende bem o que significam os resultados do hemograma, sugerimos a leitura do seguinte artigo: Hemograma – Entenda os seus resultados.

Além do hemograma, outras análises sanguíneas podem ser úteis na investigação dessa infecção. Alterações nas enzimas do fígado (TGO e TGP) são comuns e indicam hepatite pelo vírus da dengue.

Nos pacientes com manifestações hemorrágicas, as análises que avaliam a coagulação, como o INR e a PTT, costumam estar alteradas.

Perguntas frequentes

Quanto tempo depois de picado aparecem os sintomas da dengue​?

Os sintomas da dengue geralmente aparecem de 3 a 15 dias após a picada do mosquito infectado. Na maioria dos casos, os primeiros sinais surgem entre 4 a 7 dias após a picada. Esse intervalo pode variar ligeiramente de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como a resposta imunológica do indivíduo e a quantidade de vírus transmitido durante a picada.

Como começam os sintomas de dengue?

Os sintomas da dengue geralmente começam de forma abrupta. A primeira manifestação da dengue costuma ser febre alta, ao redor de 40ºC. Logo após, surgem dor de cabeça, dor retro-orbital, dor muscular, dor nas articulações, fraqueza, cansaço e manchas vermelhas na pele.

Quanto tempo duram os sintomas de dengue?

Os sintomas da dengue costumam durar entre 5 e 7 dias na maioria dos casos. No entanto, o período total de recuperação pode variar dependendo da gravidade da infecção e da resposta imunológica de cada pessoa. Além disso, a sensação de cansaço, fraqueza e indisposição pode persistir por semanas após o desaparecimento dos sintomas agudos.

O que tomar para sintomas de dengue?

No caso da dengue, o tratamento é sintomático, pois não há antiviral específico contra o vírus. O principal é se manter bem hidratado e usar analgésicos comuns para dores e febre. Os melhores são paracetamol ou dipirona.

Qual é o primeiro sintoma de dengue?

Habitualmente, febre alta, que surge abruptamente, sem sinais prévios.

Com quantos dias de sintomas posso fazer exame de dengue​?

Depende do exame. Em resumo:
» Do 1º ao 5º dia de sintomas: exames como RT-PCR e NS1 (o RT-PCR detecta diretamente o material genético do vírus, enquanto o teste NS1 identifica uma proteína viral presente na fase inicial da doença).
» Após o 6º dia de sintomas: sorologia IgM e IgG (esses testes detectam os anticorpos produzidos pelo organismo contra o vírus).


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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