O que é rubéola?
A rubéola é uma infecção viral, altamente contagiosa, que costuma surgir na infância. A infecção tem habitualmente um curso benigno, mas quando adquirida durante a gravidez pode causar sérias complicações para o feto em formação.
A rubéola costuma causar febre e manchas avermelhadas pelo corpo, chamadas de rash , exantema ou erupção cutânea. O ser humano é o único hospedeiro desse tipo de vírus.
Felizmente, a rubéola vem se tornando cada vez menos comum, principalmente após a intensificação das campanhas de vacinação nos últimos anos. No Brasil, não há casos notificados desde 2009.
Formas de transmissão
A rubéola é transmitida pelas vias aéreas, através de perdigotos (gotículas de saliva), como a maioria das infecções virais de transmissão aérea. O vírus é altamente contagioso e costuma ser transmitido por espirros, tosse, beijos, talheres, ou mesmo através de conversas, caso haja tempo e proximidade suficientes para contato com perdigotos.
O período de incubação, ou seja, o intervalo de tempo entre a contaminação e o aparecimento dos sintomas, é em média de 14 a 18 dias. Entretanto, o individuo contaminado já se torna contagioso entre uma a duas semanas antes da infecção se tornar clinicamente aparente. Isso significa que poucos dias depois de ter sido contaminado, e antes de qualquer sintoma, o paciente já é capaz de passar o vírus para outras pessoas.
Em muitos casos a infecção pela rubéola é tão fraca que passa despercebida, o que não impede, porém, que o paciente contamine outras pessoas. Por este motivo, muitos indivíduos com rubéola não conseguem identificar quem os contaminou.
O vírus habitualmente invade o organismo pelas vias aéreas, mas cinco a sete dias após a contaminação já se encontra espalhado por todo o corpo, podendo ser encontrado no sangue, urina, pulmão, liquor, pele, etc.
Após o aparecimento do rash, a taxa de transmissão começa a cair, deixando o paciente de ser contagioso 5 ou 7 dias depois.
Sintomas
Na maioria das pessoas, a rubéola apresenta poucos ou nenhum sintoma. Isto é particularmente verdadeiro nas crianças, que costumam ter uma infecção bem leve.
Naqueles que desenvolvem sintomas, estes surgem 2 a 3 semanas após terem sido contaminados. Os sintomas iniciais são inespecíficos, semelhantes aos de qualquer virose, com febre, dores pelo corpo, dor de cabeça, dor de garganta, coriza e prostração. Um exame físico mais cuidadoso pode revelar linfonodos (ínguas) na nuca e atrás das orelhas, que são bem característicos da rubéola.
Após 1 a 3 dias de sintomas inespecíficos, surge o rash (exantema), que são pequenas manchas vermelhas difusas, discretamente elevadas, como nas fotos abaixo.
A erupção de pele costuma começar na face e descer para o resto do corpo em questão de horas. Esse exantema dura em média três dias e depois desaparece. Além da pele, o rash também pode surgir no palato (céu da boca). Nesta fase, um quadro de dor nas articulações e conjuntivite também é comum.
O rash desaparece rápido, mas os linfonodos e as dores articulares podem durar ainda alguns dias. Crianças se recuperam mais rápido que adultos, que podem manter dores nas articulações por até um mês.
Como já dito, a maioria das pessoas não desenvolve sintomas após contato com o vírus. Mesmo aqueles que desenvolvem sintomas de rubéola, praticamente todos melhoram espontaneamente. Raramente, em média 1 a cada 6000 casos, o vírus pode acometer o cérebro, levando ao que chamamos de encefalite viral, um quadro gravíssimo e com alta mortalidade.
Crianças com sintomas ativos devem ficar em casa até o rash desaparecer completamente para evitar a contaminação dos colegas.
Como a rubéola é uma doença que está em vias de ser erradicada, todos os casos devem ser notificados à secretaria de saúde.
Diagnóstico
O diagnóstico é habitualmente feito através do quadro clínico.
Quatro dias após o aparecimento do exantema, o corpo já possui anticorpos contra a rubéola, o que permite realizar sorologia para confirmar laboratorialmente a doença. Como nesta fase a maioria das pessoas já está curada ou em processo de cura, e como não há tratamento específico, sua confirmação laboratorial é geralmente desnecessária (exceto na gravidez; explico mais abaixo).
Na sorologia existem dois tipos de anticorpos: anticorpos IgM e anticorpos IgG.
O primeiro a aparecer é o IgM, que é o anticorpo que ataca o vírus. O IgM contra rubéola costuma já ser detectável no 4º dia de rash e permanece positivo por até 8 semanas.
Após a cura, surge o segundo tipo de anticorpo, o IgG contra rubéola. O IgG é um anticorpo que indica que o paciente teve a doença e agora encontra-se curado e imunizado. Portanto, quem está com rubéola apresenta IgM positivo. Quem já teve a doença ou foi vacinado apresenta IgG reagente e IgM negativo.
Após a cura, os anticorpos IgG proporcionam uma imunização contra novos episódios de rubéola. Portanto, rubéola só se pega uma vez na vida. São raros e brandos os casos de reinfecção. O paciente pode ter contato novamente com o vírus, mas os títulos de IgG se elevam rapidamente, impedindo que o paciente desenvolva a doença uma segunda vez.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com parvovirose e escarlatina, que apresentam um rash muito parecido.
Explicamos a interpretação da sorologia da rubéola com mais detalhes neste artigo: Diagnóstico da rubéola na gravidez (IgG e IgM).
Tratamento
Não existe tratamento para rubéola. Mas isso não é um problema já que mais de 99% dos pacientes se curam espontaneamente. Em geral, prescrevemos antitérmicos e analgésicos para aliviar os sintomas até que o paciente esteja totalmente recuperado.
Síndrome da rubéola congênita
A grande preocupação em relação à rubéola está na contaminação de mulheres grávidas. Se em crianças e adultos a doença é branda, no feto em desenvolvimento ela pode ser catastrófica.
Se o vírus for adquirido durante o primeiro trimestre, o risco de má-formações é maior que 80%. Além dos defeitos morfológicos, 1 em cada 5 mulheres infectadas sofre aborto nesta fase.
A síndrome da rubéola congênita se caracteriza por catarata, surdez, defeitos cardíacos, alterações no fígado e lesão neurológica, inclusive com retardo do desenvolvimento mental. Em vários países do mundo, o aborto é permitido em casos de rubéola no primeiro trimestre.
Recém-nascidos com rubéola congênita podem transmitir o vírus por até um ano, sendo necessário evitar o seu contato com outras grávidas não imunizadas.
Infecções contraídas após a 20ª semana trazem pouco risco de má-formações, porém ainda existe a chance de transmissão da virose para o feto. Normalmente estas crianças nascem com baixo peso, mas sem defeitos na formação.
Nas grávidas a sorologia ganha muita importância. Toda gestante deve ser testada para rubéola; caso seja IgG negativo, deve-se dobrar os cuidados em relação a contatos com pessoas com sintomas de virose.
Mulheres que sejam IgG reagente não correm risco de pegar rubéola durante a gravidez.
Vacina
A vacina contra rubéola é composta de vírus vivo atenuado, e, portanto, é contraindicada na gravidez. Porém, em 2006 um trabalho do ministério da saúde mostrou que em 26000 mulheres vacinadas inadvertidamente por desconhecerem o fato de estarem grávidas, nenhuma apresentou caso de rubéola congênita. Logo, não se vacina mulheres sabidamente grávidas, mas se ocorrer a vacinação por engano, o risco de complicações é baixo (leia: Vacinas na gravidez).
Toda mulher em idade fértil deve realizar uma sorologia para saber seu estado imunológico contra rubéola. Naquelas com resultado negativo (IgG negativo), deve-se aplicar a vacina. Pacientes que tenham IgG positivo estão imunizadas e não correm risco de terem rubéola. Não é preciso vacinar pessoas que já tenham anticorpos IgG.
Não há problemas em receber a vacina durante a amamentação. Também não há problema em ser revacinado. Se durante uma campanha de vacinação a pessoa não lembra se já recebeu a vacina alguma vez na vida, ou se não sabe seu estado imunológico, ela pode ser vacinada. Esta orientação vale para homens e mulheres entre 20 e 39 anos.
Uma única dose da vacina é eficaz para criar imunização permanente em mais de 95% dos casos.
Como toda vacina com vírus vivo, ela também não deve ser tomada por pessoas imunodeprimidas ou com doença febril ativa.
Vale lembrar que a rubéola faz parte do atual calendário oficial de vacinação nas crianças (leia: Vacinas – Calendário, efeitos colaterais e contraindicações).
Referências
- Rubella – UpToDate.
- Rubella (German Measles, Three-Day Measles) – National Center for Immunization and Respiratory Diseases (NCIRD), Division of Viral Diseases.
- Pediatric Rubella – Medscape.
- Zitelli BJ, et al. Rubella. In: Zitelli and Davis’ Atlas of Pediatric Physical Diagnosis. 7th ed. Philadelphia, Pa.: Elsevier; 2018.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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