Piolhos e lêndeas (pediculose da cabeça)

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Piolho

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Introdução

O piolho é um inseto sem asas que mede aproximadamente 4 mm de comprimento, possui uma coloração transparente e acinzentada e pode causar infestação em regiões do corpo onde há pelos ou cabelos.

Os piolhos são ectoparasitas, ou seja, parasitas que vivem no exterior do seu hospedeiro, que incluem aves e mamíferos. Cada animal costuma ser parasitado por apenas uma espécie específica. Isso significa que o piolho humano não passa para os animais de estimação e vice-versa.

Quando um animal, incluindo os seres humanos, está parasitado com piolhos, dizemos que ele tem pediculose. A pediculose é, depois da gripe, a doença mais comum na infância, afetando cerca de 20% das crianças em idade escolar.

Apesar de existirem vários tipos de piolho, nesse texto falaremos apenas sobre o Pediculus humanus capitis, o famoso piolho da cabeça.

O que é o piolho?

Os piolhos são insetos ectoparasitas que se alimentam do sangue dos seus hospedeiros. Existem mais de 5000 espécies, mas apenas 3 delas parasitam o ser humano:

  • Pediculus humanus capitis: subespécie de piolho que infecta o couro cabeludo.
  • Pediculus humanus corporis (ou humanus humanus): subespécie de piolho que infecta os pelos do corpo.
  • Pthirus pubis: é um piolho de família diferente, que infecta os pelos pubianos, provocando uma doença conhecida como chato (leia: Chato – Pediculose púbica).
Tamanho do piolho

O Pediculus humanus capitis é um inseto que vive exclusivamente nos nossos cabelos. O piolho do cabelo não infecta outros animais nem consegue sobreviver por mais de 48 horas fora do couro cabeludo do ser humano.

O Pediculus humanus capitis adulto apresenta cerca de 0,4 cm de comprimento e uma coloração que varia do cinza claro ao marrom. Seu corpo é transparente e quanto mais sangue ele tiver ingerido, mas escuro ele costuma ficar.

O piolho fêmea é mais comum que o macho, pois é capaz de se reproduzir mesmo sem cruzamento. A fêmea possui uma vida média de 30 a 40 dias e pode produzir até dez ovos por dia. Ao longo da sua curta vida, a “piolha” é capaz de depositar em nossos cabelos mais de 200 ovos.

O que é a lêndea?

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, lêndea não é a fêmea do piolho. Lêndea é o nome que damos aos ovos. Portanto, existe o piolho macho, o piolho fêmea e a lêndea.

As lêndeas costumam ficar aderidas próximo à base dos cabelos e, apesar de serem bem pequenas, podem ser vistas a olho nu. Em geral, elas são arrendondadas e claras e ficam muito aderidas, sendo difícil a sua extração sem tratamento. Nos pacientes que têm ao mesmo tempo lêndeas e caspa, a distinção visual entre as duas pode ser difícil. A diferença é que a caspa sai facilmente.

Cada lêndea costuma dar origem a um novo piolho após 8 dias. Após mais 8 dias, o piolho alcança a fase adulta e, se for fêmea, pode começar a produzir novos ovos, reiniciando o ciclo.

Transmissão

A transmissão do piolho é feita por contato pessoal. O modo de interação entre as crianças é muito mais próximo e pessoal do que entre os adultos, o que explica a facilidade de transmissão nesta faixa etária.

Apesar de menos comum, o piolho também pode passar de uma pessoa para outra através de objetos, como roupas, toalhas, chapéus, headfones, arcos de cabelo, pentes, escovas e roupa de cama. Um piolho adulto pode sobreviver por um ou dois dias em um objeto, mantendo-se viável para transmissão.

É importante salientar que o piolho não pula nem voa. Para haver transmissão é preciso contato direto do cabelo de uma pessoa com o de outra.

Animais de estimação não agem como vetores. O piolho humano não tem nenhum interesse em passar para o pelo de outros animais. Portanto, não é preciso tratar o seu cão ou gato de estimação caso alguém na casa esteja contaminado.

Por motivos ainda desconhecidos, crianças de etnia negra apresentam menor risco de transmissão que as brancas, assim como meninos apresentam menos riscos que as meninas. O tamanho do cabelo não influencia na transmissão (exceto nas pessoas carecas).

Ter piolho não é sinal de má higiene capilar. O fato dos cabelos do seu filhos estarem sempre bem lavadinhos não diminui o risco dos mesmos serem acometidos por piolhos.

Sintomas

Ao contrário do que se imagina, a maioria dos casos de piolho é assintomática. Mais que isso, é perfeitamente possível encontrar uma criança com os cabelos infestados de lêndeas e piolhos sem que a mesma relate qualquer queixa. Por esse motivo, é rotina em alguns colégios a inspeção das crianças à procura de piolhos, evitando que o parasita se espalhe por toda a turma.

Nos casos sintomáticos, o principal sintoma é uma intensa coceira na cabeça, que pode surgir no mesmo dia da contaminação ou no máximo no dia seguinte. A coceira ocorre por reação à saliva do piolho, que é liberada enquanto este se alimenta de sangue e restos de pele do couro cabeludo. Comichão na nuca e atrás das orelhas são bastante comuns, pois são áreas mais quentes, que atraem os piolho. Em alguns casos, a coceira é tão intensa que a criança tem dificuldade em dormir; já outras coçam tanto que produzem feridas na pele.

Uma das complicações da pediculose é a infecção bacteriana destas feridas causadas pela coceira, chamada de pioderma. Esta infecção é causada quando a bactéria estafilococos, que vive na nossa pele, contamina a ferida aberta pelo ato de coçar a cabeça freneticamente.

Diagnóstico

O diagnóstico é quase sempre feito pelos pais, através da visualização de um piolho movendo-se através do couro cabeludo. Quando um piolho é identificado, o mais comum é já existirem vários outros ao redor da cabeça.

As picadas do piolho costumam deixar marcas avermelhadas no couro cabeludo. Às vezes, as picadas são identificadas até antes dos piolhos. Se você vir pontinhos avermelhados que coçam, procure com atenção, pois é frequente encontrar lêndeas e piolhos ao redor.

Tratamento

Existe uma grande variedade de tratamentos e remédios para piolhos. Porém, tão importante quanto o uso de remédios é a inspeção e identificação de pediculose em todas as pessoas ao redor do caso identificado. Se uma criança for tratada para piolhos, mas seus irmãos ou colegas de turma também infectados não, a chance de reinfecção é altíssima.

Como o piolho é nada mais que um inseto, o tratamento é feito preferencialmente com inseticidas especiais. Estes podem ser aplicados em forma de xampu, loções ou cremes.

Algumas das substâncias mais usadas no tratamento da pediculose incluem:

  • Permetrina.
  • Deltametrina.
  • Piretrina.
  • Malatião.
  • Lindano (tem sido cada vez menos usado por ser mais tóxico).

Nos últimos anos, alguns tratamentos sem inseticidas tem se mostrado tão ou mais eficazes que os tratamentos com inseticidas. Duas substâncias que têm apresentado bons resultados nos estudos clínicos são a dimeticona e a ciclometicona, que matam o piolho de forma mecânica, através da sua asfixia e desidratação.

Nos casos mais graves e resistentes à terapia tópica, o tratamento mais indicado costuma ser a ivermectina por via oral em dose única (200 a 400 mcg/kg). O tratamento pode ser repetido uma semana depois.

Nunca use remédios, xampus ou loções que não tenham sido prescritos pelo pediatra. Existem algumas soluções com inseticida agrícola que são tóxicas e podem provocar danos sérios às crianças.

Nas crianças com menos de dois anos, não recomendamos o uso de substâncias que contenham inseticida. Nestes casos ou quando os pais não desejam usar inseticidas na criança, o pente fino molhado para extração mecânica do piolho é uma opção. Mas atenção, é preciso ter muita paciência. O cabelo deve ser penteado quatro vezes por dia, por pelo menos 10 a 14 dias, mesmo que aparentemente não existam mais piolhos ou lêndeas. O objetivo é remover todos os piolhos existentes.

Vinagre ou azeite podem ser utilizados para facilitar o trabalho de remoção com pente fino. Mas atenção: estas substâncias ajudam na remoção mecânica, mas não matam o piolho ou a lêndea. O vinagre pode ser aquecido até ficar morno e depois misturado a um condicionador. Quando aplicado e abafado com uma touca plástica por pelo menos 30 minutos, o vinagre dissolve a camada que envolve o ovo (lêndea), impedindo a fixação do mesmo no fio de cabelo. Passe o pente fino em seguida, que os piolhos e as lêndeas sairão com facilidade. O vinagre pode ser misturado com água também, em uma solução com proporção de 50% para cada um.

Após o tratamento, a identificação de lêndeas não significa necessariamente falha do mesmo. Se não houver mais piolhos, estas podem ser apenas resíduos de ovos velhos que permaneceram grudados ao cabelo.

Tratamentos sem comprovação científica

  • Óleo de coco.
  • Secador de cabelo.
  • Manteiga.
  • Geleia de petróleo.
  • Chá de Arruda.
  • Citronela.

Retorno à escola

Enquanto houver piolhos, a criança deve ficar afastada da escola. Atualmente, porém, os tratamentos eliminam os piolhos em apenas um dia, e a maioria das crianças já não precisa mais perder aulas.

Não se esqueça de avisar a direção do colégio para outras mães poderem ficar atentas à existência de piolhos nos seus filhos.

Prevenção em casa

A roupa de cama deve ser trocada diariamente, lavada com água quente e depois passada a ferro. Os pentes usados devem ser fervidos e lavados com álcool.

Os irmãos que tenham contato próximo devem ser tratados preventivamente, e os pais devem, pelo menos, ter o couro cabeludo observado por outro adulto à procura de lêndeas, piolhos ou sinais de picada.


Referências

  • Head Lice – American Academy of Pediatrics.
  • Lice – Pediatrics in Review.
  • Pediculosis capitis – UpToDate.
  • Pediculosis capitis – BMJ Best practices.
  • Gorkiewicz-Petkow A, et al., eds. Scabicides and pediculicides. In: European Handbook of Dermatological Treatments. Warsaw, Poland: Springer-Verlag Berlin Heidelberg; 2015.
  • Kimberlin DW, et al., eds. Pediculosis capitis. In: Red Book: 2015 Report of the Committee on Infectious Diseases. 30th ed. Elk Grove Village, Ill.: American Academy of Pediatrics; 2015. 

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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