Parasitoses (e exame parasitológico de fezes)

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Parasitológico de fezes

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O que são parasitos?

Chamamos de parasito, ou parasita, qualquer ser vivo que se aproveita de outro para conseguir sobreviver. 

Para haver uma relação de parasitismo, o parasito precisa “roubar” do hospedeiro os seus meios de subsistência, sendo essa relação habitualmente vantajosa para o parasito, mas desvantajosa para o hospedeiro.

Quando falamos em parasito, a primeira coisa que vem à mente são os vermes intestinais. Realmente, a maior parte dos parasitos vive dentro do sistema digestivo dos seus hospedeiros. Todavia, há formas de parasitismo nas quais o parasito não precisa penetrar o trato intestinal para conseguir os seus alimentos. O piolho, a pulga, o percevejo e o carrapato são exemplos de parasitos que vivem no exterior do seu hospedeiro alimentando-se do seu sangue.

Existem também formas de parasitismo nas quais o parasito vive dentro da corrente sanguínea, como, por exemplo, são os casos da malária e da doença de Chagas.

Neste texto, porém, falaremos apenas dos parasitos que habitam nosso sistema digestivo, as chamadas parasitoses intestinais, conhecidas popularmente como vermes ou verminoses.

O que é parasitose intestinal?

As parasitoses intestinais são doenças típicas de países e áreas pobres com precárias condições de saneamento básico.

A maioria dos parasitos de intestino são adquiridos por contato acidental com fezes de pessoas infectadas que contaminam água, comida ou objetos.

Existem dois grupos de parasitos intestinais:

Protozoários

São seres unicelulares (compostos por apenas uma única célula). Sua reprodução é feita por divisão celular, dentro do próprio hospedeiro.

Os protozoários causadores de doença mais comuns são:

  • Amebas: os principais são a Entamoeba histolytica e a Dientamoeba fragilis.
  • Flagelados: Giardia lamblia.
  • Coccídios: Cryptosporidium parvum e a Isopora belli.
  • Blastocistos: Blastocystis hominis.

Existem protozoários que não estabelecem uma relação de parasitismo conosco. Eles vivem naturalmente no nosso intestino e não nos causam doenças. São vermes que não precisam ser tratados quando identificados nos exames de fezes, especialmente se não houver sintomas.

Protozoários intestinais que não precisam de tratamento:

  • Entamoeba gingivalis.
  • Entamoeba hartmanni.
  • Entamoeba coli.
  • Entamoeba polecki.
  • Endolimax nana.
  • Iodamoeba bütschlii.
  • Entamoeba dispar.
  • Entamoeba moshkovskii.
  • Trichomonas hominis.
  • Chilomastix mesnili.

Portanto, se você fez um exame parasitológico de fezes e o resultado acusou a presença de Endolimax nana ou Entamoeba coli, por exemplo, não é preciso tratamento algum, pois esses vermes não costumam provocar doença, sua relação conosco não é de parasitismo. Se você tem sintomas, é preciso continuar procurando a causa.

Helmintos

Os helmintos são parasitas mais complexos, compostos por várias células e órgãos internos. Podem medir desde centímetros até alguns metros de comprimento, como é o caso da teníase, conhecida popularmente como solitária.

Ao contrário dos protozoários, que se multiplicam dentro do hospedeiro, os helmintos produzem ovos e larvas que só se desenvolvem ao serem lançados no ambiente junto com as fezes. As pessoas se contaminam ao ingerir esses ovos e larvas presentes no ambiente.

Os helmintos causadores de doença intestinal mais comuns são:

Nematoides:

Trematódeos:

Cestódeos:

  • Taenia sp.
  • Hymenolepis diminuta.
  • Hymenolepis nana.

Sintomas de verminose

Cada parasito apresenta um quadro clínico próprio, muitas vezes bem diferentes uns dos outros. Entretanto, existem alguns sintomas em comum, que costumam sugerir que o paciente possa estar com alguma verminose.

O sinal mais óbvio de parasitose intestinal é a presença de um parasito visível nas fezes. Como já explicado, os protozoários são unicelulares, sendo, portanto, microscópicos. Por outro lado, os helmintos são organismos complexos, que em muitos casos podem ser identificados a olho nu nas fezes. Nos casos de infecção maciça, eles podem aparecer às dezenas nas fezes. E há casos até de eliminação de vermes através da boca.

Os principais sintomas das verminoses são a diarreia, fezes com sangue, anemia, dores abdominais, náuseas, vômitos, emagrecimento e perda do apetite.

O bruxismo, que é o ato de trincar ou ranger os dentes, costuma ser equivocadamente classificado como um sinal da presença de vermes. Crianças com bruxismo são facilmente rotuladas por familiares e conhecidos como portadoras de verminose. A verdade, porém, é que a verminose até pode desencadear um quadro de bruxismo, mas na imensa maioria das vezes, o motivo real é outro. Portanto, a maioria das pessoas com verminose não têm bruxismo e a maioria das pessoas com bruxismo não tem verminose.

O ato de comer terra, pedaços de concreto, carvão, ou outras substâncias não alimentares, também é popularmente atribuído à presença de vermes. Neste caso, até há um fundo de verdade. A presença de anemia, principalmente nas crianças, pode desencadear comportamentos alimentares bizarros. Como alguns parasitas podem causar anemia, este é um achado possível nas verminoses.

Exame Parasitológico de Fezes

O exame parasitológico de fezes (EPF) é uma das formas mais utilizadas para o diagnóstico das verminoses, sejam elas causadas por protozoários ou helmintos.

O EPF é uma análise laboratorial que consiste na avaliação de pequenas amostras de fezes do paciente. Através do exame parasitológico de fezes, o laboratório é capaz de detectar e identificar a presença de parasitos ou seus ovos nas fezes, o que é um sinal inequívoco de verminose.

Nem todas as amostras de fezes contêm ovos ou o próprio parasita. Por isso, para aumentar a sensibilidade do exame, sugere-se que sejam colhidas de 3 a 6 amostras de fezes, uma em cada dia ou em dias alternados. O laboratório costuma entregar recipientes contendo conservante para a preservação das fezes.

O paciente deve evacuar em um pedaço de papel ou plástico limpo. Deve-se ter cuidado para não haver contato das fezes com urina nem com materiais de limpeza do banheiro. Com auxílio de uma pequena colher ou pá, geralmente fornecida junto com os fracos, uma amostra dessas fezes deve ser retirada e colocada dentro do recipiente com o material conservante. A amostra deve ser conservada refrigerada (não congelar) até o dia de ser entregue ao laboratório.

Se os recipientes não contiverem soluções para conservação das fezes, as mesmas devem ser entregues ao laboratório no mesmo dia. O tempo de refrigeração não deve ultrapassar 12 horas.

Não é preciso estar em jejum e não se deve usar laxantes para facilitar a evacuação.

Um único resultado positivo do parasitológico de fezes é suficiente para se fechar o diagnóstico. Em contrapartida, para se descartar verminose são precisos, ao menos, três amostras negativas de EPF.

Em caso de exame positivo, cabe ao médico reconhecer se o verme encontrado é patogênico (capaz de causar doença) ou não. Como já explicado acima, há uma lista grande de protozoários inofensivos, que não precisam ser tratados.

Tratamento

Na maioria dos casos, o tratamento das parasitoses intestinais é simples, porém, só devemos tratar os protozoários reconhecidamente nocivos.

A classe dos Benzimidazóis (albendazol, mebendazol, tiabendazol) é ativa contra a maioria dos helmintos e contra alguns protozoários, motivo pelo qual essas drogas são muitas vezes prescritas no empiricamente, sem a realização de um EPF, para os pacientes com sintomas muito sugestivos de verminose.

O metronidazol é uma boa opção contra os protozoários.

A lista de drogas possíveis para o tratamento das parasitoses é imensa, cabendo ao médico avaliar qual o mais indicado consoante o quadro clínico e os resultados do parasitológico de fezes. Para saber mais sobre as opções de tratamento das verminoses, leia: 12 Opções de remédios para vermes.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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