Gripe A (H1N1 e H3N2): sintomas, transmissão e tratamento

A gripe A é uma infecção viral causada pelo vírus Influenza A, incluindo subtipos como H1N1 e H3N2. Transmitida por gotículas respiratórias, pode causar febre alta, tosse e complicações graves. A vacinação e medidas de higiene são essenciais para prevenção e controle.
Dr. Pedro Pinheiro
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Gripe A

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O que é a gripe A?

A gripe A é uma infecção respiratória causada pelo vírus Influenza A, um dos principais tipos de vírus da gripe que afeta humanos e animais. Diferente da gripe comum (Influenza sazonal), a gripe A pode ser mais grave e provocar surtos e epidemias.

O vírus Influenza A possui vários subtipos, sendo os mais conhecidos:

  • H1N1: responsável pela pandemia de 2009 e agora parte dos vírus sazonais.
  • H3N2: um subtipo que circula anualmente e tem causado surtos mais recentes.

Ambos os subtipos podem sofrer mutações frequentes, gerando novas cepas que podem causar epidemias. A gripe A é altamente contagiosa e pode ser grave em grupos vulneráveis, como idosos, crianças pequenas, gestantes e pessoas com doenças crônicas.

Diferenças entre gripe A e gripe comum

A gripe é uma infecção causada pelo vírus Influenza, um agente infeccioso que afeta principalmente o sistema respiratório. Existem três tipos principais desse vírus que podem infectar humanos: Influenza A, B e C.

  • Influenza A e B são os principais responsáveis por epidemias sazonais de gripe, que ocorrem todos os anos.
  • Influenza C é um vírus menos comum e causa apenas infecções leves, sem impacto significativo na saúde pública.

A cada ano, o vírus Influenza sofre pequenas mutações, o que exige a atualização constante das vacinas contra a gripe para manter a proteção eficaz da população.

Influenza A

O virus Influenza A é o tipo mais variável e o único capaz de causar pandemias globais, ou seja, surtos de gripe que se espalham rapidamente pelo mundo, como aconteceu em 1918 (Gripe Espanhola), 1957 (Gripe Asiática), 1968 (Gripe de Hong Kong) e 2009 (Gripe H1N1, ou Gripe Suína).

Esse vírus é encontrado não apenas em humanos, mas também em aves, porcos e outros animais, o que aumenta o risco de novas mutações que podem originar variantes mais perigosas.

O vírus Influenza A é classificado em subtipos, que são definidos por duas proteínas presentes em sua superfície:

  • Hemaglutinina (HA ou H): permite que o vírus se ligue às células do trato respiratório para iniciar a infecção. Existem 18 tipos de hemaglutinina (H1 a H18).
  • Neuraminidase (NA ou N): ajuda o vírus a se espalhar de uma célula para outra. Existem 11 tipos de neuraminidase (N1 a N11).

Com essas combinações, existem mais de 130 subtipos possíveis do Influenza A na natureza, principalmente em aves. No entanto, nos humanos, os principais subtipos que circulam são o H1N1 e o H3N2.

Influenza B

O Influenza B também é um vírus causador da gripe, mas tem algumas diferenças em relação ao Influenza A:

  • Circula apenas entre humanos, sem envolvimento de animais.
  • Sofre menos mutações, tornando sua evolução mais lenta.
  • Não causa pandemias globais, mas pode provocar epidemias sazonais graves.

O Influenza B é dividido em duas linhagens principais:

  • B/Victoria.
  • B/Yamagata (esta última praticamente desapareceu nos últimos anos).

A vacina da gripe é reformulada anualmente para oferecer proteção contra as linhagens de Influenza B que estão em circulação.

Falamos especificamente da gripe comum, provocada pelo vírus Influenza B, no artigo: Gripe: sintomas, cepas, tratamento e vacina.

A pandemia de gripe A (H1N1) de 2009 e a circulação atual

Entre 2009 e 2010, o mundo viveu uma pandemia causada pelo vírus Influenza A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína. Esse subtipo do vírus surgiu no México e teve origem em um vírus que circulava entre porcos, sofrendo mutações que o tornaram capaz de infectar humanos.

Durante o período pandêmico, o H1N1 infectou milhões de pessoas e causou cerca de 20.000 mortes em todo o mundo. Apesar do pânico inicial, a taxa de mortalidade da gripe A (H1N1) foi inferior a 1%, semelhante à da gripe sazonal.

Entre 2009 e 2010, cerca de 99% dos casos de gripe provocados pelo Influenza A (H1N1) foram causados por essa nova estirpe originada dos porcos.

Curiosamente, esse novo H1N1 atacou preferencialmente pessoas jovens, princialmente aquelas com menos de 25 anos. Ao contrário do que ocorre nas outras formas de gripe A, os idosos foram o grupo com menos casos de gripe durante a epidemia de 2009. Isso provavelmente ocorreu porque esse grupo já tinha uma imunidade parcial ao H1N1 adquirida durante as epidemias da década de 50 e 70.

Desde o fim da pandemia, o vírus H1N1 passou a circular anualmente junto com outros subtipos do Influenza A e B, tornando-se um dos causadores da gripe sazonal. A vacina anual contra a gripe inclui proteção contra essa cepa, ajudando a reduzir sua circulação e impacto.

Transmissão

A gripe A é transmitida da mesma forma que qualquer outra gripe, principalmente por meio de gotículas respiratórias expelidas ao falar, tossir ou espirrar. O contato com superfícies e objetos contaminados, seguido de contato com olhos, nariz ou boca, também pode levar à infecção.

O período de incubação — tempo entre o contato com o vírus e o início dos sintomas — varia de 1 a 3 dias. Já o período de infectividade, ou seja, o tempo em que a pessoa infectada pode transmitir o vírus, começa um dia antes do surgimento dos sintomas e dura cerca de 5 a 7 dias. Crianças pequenas e pessoas com o sistema imunológico comprometido podem continuar transmitindo o vírus por mais tempo.

Em geral, a eliminação do vírus pelas secreções respiratórias cessa entre 1 a 2 dias após o fim dos sintomas.

O vírus da gripe pode sobreviver em superfícies inanimadas por até 8 horas, dependendo das condições ambientais. Superfícies como maçanetas, corrimãos, celulares e teclados podem atuar como meios de transmissão se a pessoa tocar essas áreas e, em seguida, levar as mãos ao rosto.

Felizmente, o vírus é facilmente eliminado com produtos de limpeza comuns, como sabão, detergente e álcool 70%. Piscinas tratadas com cloro não transmitem o vírus, pois o cloro inativa o Influenza rapidamente.

Medidas de prevenção

Para reduzir o risco de contágio da gripe A (H1N1 e H3N2), recomenda-se:

  • Evitar contato próximo com pessoas gripadas, mantendo uma distância mínima de 2 metros.
  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou higienizá-las com álcool em gel (leia: Por que lavar as mãos é importante para saúde?).
  • Evitar tocar olhos, nariz e boca sem higienizar as mãos.
  • Manter ambientes bem ventilados e evitar locais fechados e com aglomerações.
  • Cobrir o nariz e a boca com o antebraço ou um lenço descartável ao tossir ou espirrar.
  • Vacinar-se anualmente contra a gripe, já que a imunização inclui cepas dos Influenzas A e B, reduzindo as infecções, os casos graves e as complicações.

Essas medidas, quando seguidas corretamente, ajudam a diminuir a transmissão da gripe e proteger especialmente os grupos mais vulneráveis.

Sintomas

Os sintomas da gripe A são muito semelhantes aos da gripe comum, sendo os mais frequentes:

  • Febre alta (acima de 38°C).
  • Tosse seca.
  • Dor de garganta.
  • Dores musculares e nas articulações.
  • Fadiga intensa.
  • Dor de cabeça.
  • Calafrios.
  • Congestão nasal e coriza.
  • Náusea, vômito e diarreia (mais comuns na gripe A do que na gripe sazonal).

A febre é o sintoma mais importante para o diagnóstico, ocorrendo em mais de 90% dos casos. Tosse é o segundo sintoma mais comum, presente em cerca de 83% dos pacientes.

A gripe A costuma ter início súbito, com febre alta e sintomas intensos nas primeiras 24 horas. Esse quadro ajuda a diferenciá-la dos resfriados, que evoluem mais lentamente e causam sintomas mais leves (leia: Quais são as diferenças entre gripe e resfriado?).

Evolução habitual da gripe A

Na maioria dos casos, a gripe A segue um curso autolimitado, com resolução completa em 7 a 10 dias. A evolução habitual ocorre em três fases:

  1. Início súbito dos sintomas: febre alta, dor de cabeça e dores no corpo aparecem de forma abrupta e atingem o pico nas primeiras 48 horas.
  2. Período sintomático intenso: dura de 3 a 5 dias, com persistência da febre, fadiga intensa e tosse.
  3. Recuperação gradual: a febre desaparece primeiro, enquanto a tosse e o cansaço podem persistir por semanas após a infecção.

Embora a maioria dos pacientes se recupere sem complicações, alguns grupos podem ter sintomas mais prolongados e maior risco de complicações graves.

Complicações da gripe A

Embora a maioria dos casos seja leve, a gripe A pode causar complicações graves, especialmente em pessoas vulneráveis. A principal complicação é a pneumonia, que pode ser viral (pelo próprio Influenza) ou de origem bacteriana, como infecção secundária.

Outras complicações possíveis da gripe A incluem:

  • Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
  • Insuficiência respiratória.
  • Infecção generalizada (sepse).
  • Exacerbação de doenças crônicas, como asma e insuficiência cardíaca.

Os sinais de alerta para complicações incluem:

  • Falta de ar ou dificuldade para respirar.
  • Dor no peito ao respirar.
  • Pressão arterial baixa e tontura.
  • Confusão mental ou desorientação.
  • Vômitos persistentes e desidratação.

Se esses sintomas ocorrerem, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente.

Fatores de risco

Qualquer pessoa pode ser contaminada com o influenza A, mas determinados grupos são susceptíveis a terem doença severa, com maior risco de complicações. São eles:

Nota: os grupos de risco da gripe A são basicamente os mesmos da gripe sazonal.

Tratamento

O tratamento da gripe A depende da gravidade dos sintomas e da presença de fatores de risco. A maioria dos casos evolui de forma leve a moderada, resolvendo-se espontaneamente com cuidados básicos em casa. No entanto, em casos graves ou em pacientes de risco, pode ser necessário o uso de antivirais e até mesmo internação hospitalar.

Tratamento para casos leves e moderados

A maioria das pessoas infectadas com o vírus Influenza A (H1N1 ou H3N2) apresenta sintomas gripais clássicos, que podem ser tratados apenas com medidas de suporte para alívio dos sintomas. Os principais cuidados incluem:

  • Repouso absoluto para permitir que o corpo se recupere.
  • Hidratação adequada (ingerir bastante água, chás e sucos naturais).
  • Alimentação leve e nutritiva.
  • Uso de antitérmicos e analgésicos para controle da febre, dor no corpo e dor de cabeça. Os mais indicados são paracetamol e dipirona.
  • Descongestionantes nasais e antialérgicos, se houver coriza intensa ou congestão nasal.
  • Gargarejos com água morna e sal podem ajudar a aliviar a dor de garganta.

O uso de antibióticos NÃO é indicado, pois a gripe é causada por um vírus, e antibióticos só são eficazes contra infecções bacterianas. Eles só devem ser prescritos se houver uma infecção bacteriana secundária, como sinusite bacteriana ou pneumonia.

Na maioria dos casos, os sintomas começam a melhorar em 5 a 7 dias, com resolução completa da doença em até 10 dias. No entanto, a tosse e o cansaço podem persistir por semanas.

Uso de antivirais (Tamiflu® e Relenza®)

Em alguns casos, o médico pode indicar o uso de antivirais específicos contra a gripe, como:

  • Oseltamivir (Tamiflu®) → Medicamento antiviral oral mais utilizado para tratar Influenza A.
  • Zanamivir (Relenza®) → Versão inalatória do antiviral, usada em alguns casos específicos.

Esses medicamentos não matam o vírus, mas reduzem sua multiplicação, diminuindo a intensidade dos sintomas e o risco de complicações.

Os antivirais são mais eficazes se iniciados dentro das primeiras 48 horas após o início dos sintomas. Depois desse período, sua eficácia diminui, mas ainda podem ser benéficos em casos graves.

O uso de antivirais é especialmente recomendado para:

  • Pacientes hospitalizados com gripe grave.
  • Pessoas do grupo de risco (idosos, gestantes, crianças pequenas, imunossuprimidos).
  • Pacientes com sinais de complicação, como dificuldade respiratória ou piora dos sintomas.

O uso indiscriminado de antivirais deve ser evitado, pois pode favorecer o desenvolvimento de resistência viral.

Vacina

Embora a vacina contra a gripe não seja um tratamento, ela é a principal forma de prevenção e redução da gravidade da doença. Pessoas vacinadas que contraem o vírus geralmente apresentam sintomas mais leves e menor risco de complicações.

A vacina anual contra Influenza protege contra os principais subtipos do vírus, incluindo H1N1, H3N2 e Influenza B, sendo recomendada especialmente para grupos de risco.

Para saber mais sobre a vacina da gripe, leia: Vacina da gripe (versão 2024-2025): benefícios e indicações.

Perguntas frequentes

  1. As máscaras protegem contra a gripe?

    As máscaras podem ajudar a reduzir a transmissão do vírus Influenza, mas não são a principal estratégia de prevenção. Elas são mais eficazes quando usadas corretamente e em situações específicas. Diferente da COVID-19, que tem transmissão significativa por aerossóis (partículas que ficam suspensas no ar por longos períodos), a gripe é transmitida principalmente por gotículas respiratórias, que tendem a cair rapidamente.

  2. Quando a gripe A exige internação hospitalar?

    Na maioria dos casos, a gripe A pode ser tratada em casa, mas algumas situações exigem hospitalização. Casos graves podem evoluir rapidamente para insuficiência respiratória, tornando necessário suporte médico intensivo.

    Os principais motivos para internação incluem:
    1. Dificuldade respiratória ou queda da oxigenação do sangue.
    2. Pneumonia viral ou bacteriana secundária.
    3. Sinais de desidratação severa (confusão mental, tontura, queda da pressão arterial).
    4. Piora dos sintomas após melhora inicial (indicando complicações).
    5. Pacientes de alto risco com evolução desfavorável.

    Pacientes hospitalizados podem precisar de oxigenoterapia e, nos casos mais graves, suporte ventilatório em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

  3. A gripe A e a gripe sazonal são a mesma doença?

    Basicamente, sim, a gripe sazonal e a gripe A são causadas pelo mesmo tipo de vírus, mas com algumas diferenças.

    A gripe sazonal refere-se à gripe que ocorre todos os anos, principalmente nos meses mais frios, sendo causada pelo vírus Influenza A ou B.

    Já a gripe A é um termo usado especificamente quando a infecção é provocada pelo vírus Influenza A, que possui diferentes subtipos, como H1N1 e H3N2.

    Portanto, toda gripe A é uma gripe sazonal, mas nem toda gripe sazonal é causada pelo Influenza A, já que o Influenza B também pode ser responsável por surtos anuais da doença.

  4. Como acabar com a gripe A em minutos?

    Não é possível acabar com a gripe em minutos. A gripe é causada pelo vírus Influenza e o corpo precisa de tempo para combatê-la. Os sintomas costumam aparecer de 1 a 3 dias após o contato com o vírus e a doença pode durar de 7 a 10 dias.

    Embora antivirais, como o oseltamivir (Tamiflu®), possam reduzir a gravidade e a duração da gripe, eles não eliminam o vírus instantaneamente. Para alívio mais rápido dos sintomas, recomenda-se repouso, hidratação, uso de antitérmicos e analgésicos, além da inalação para melhorar a respiração.

  5. Existe vacina para a gripe A?

    Sim, a vacina anual contra gripe é eficaz contra Influenza A e B.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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