Introdução
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum. O seu principal sintoma é uma úlcera indolor, semelhante a uma afta, na região genital.
Se não for tratada, a bactéria pode espalhar-se pelo organismo e, após anos de infecção, levar a complicações graves, como a neurosífilis (sífilis do sistema nervoso central).
A sífilis tem cura, mas é preciso tratá-la com antibióticos apropriados para se livrar do Treponema pallidum. O esquema de tratamento mais adequado é decidido consoante a fase da doença.
Neste artigo vamos nos ater apenas ao tratamento e à cura da sífilis. Se você procura informações mais abrangentes sobre a sífilis, acesse o seguinte link: SÍFILIS – Sintomas, diagnóstico e tratamento.
A sífilis tem cura?
Sim, a sífilis tem cura. O antibiótico com melhores resultados no tratamento da sífilis é a penicilina benzatina (benzetacil), que apresenta uma taxa de cura acima de 95% quando tomada nas doses corretas.
Sempre que possível, a penicilina deve ser a primeira opção de tratamento.
A penicilina é tão superior aos outros antibióticos que em alguns casos, mesmo nos pacientes alérgicos à penicilina, ela permanece sendo a primeiro escolha. É preferível submeter o paciente a um processo de dessensibilização do que indicar outro antibiótico (leia: ALERGIA À PENICILINA).
Tratamento da sífilis com penicilina
Sífilis primária, secundária ou latente precoce (com menos de 1 ano de infecção):
Tratamento mais indicado: Penicilina benzatina (Benzetacil) 2,4 milhões de unidades em dose única por via intramuscular.
Pacientes alérgicos à penicilina: Doxiciclina 100 mg de 12/12 horas por via oral, por 14 dias.
Sífilis com mais de 1 ano, terciária ou de tempo indeterminado:
Tratamento mais indicado: Penicilina benzatina (Benzetacil) 2,4 milhões de unidades em 3 doses por via intramuscular, com uma semana de intervalo entre cada.
Pacientes alérgicos à penicilina: Doxiciclina 100 mg de 12/12 horas por via oral, por 28 dias.
Neurossífilis
Tratamento mais indicado: Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades a cada 4 horas por via intravenosa, por 10 a 14 dias.
Pacientes alérgicos à penicilina devem fazer tratamento de dessensibilização para poderem ser tratados com penicilina cristalina.
O tratamento do paciente HIV positivo é exatamente igual ao da população em geral.
Tratamento na gravidez
O tratamento da sífilis na gravidez é igual ao da população em geral.
No caso de grávidas alérgicas à penicilina, a doxiciclina não é uma opção, pois é um antibiótico contraindicado durante a gestação (leia: ANTIBIÓTICOS NA GRAVIDEZ). Nesses casos, o mais indicado é realizar testes alérgicos para que a alergia à penicilina possa ser comprovada.
A maioria dos pacientes que se diz alérgico à penicilina, na verdade, não é. Alguns deixam de ser alérgicos com o passar dos anos, enquanto outros nunca foram, apenas interpretaram equivocadamente algum efeito colateral com os sinais de alergia.
Se nos testes a paciente não apresentar sinais de alergia grave à penicilina, a gestante deve passar por um processo de dessensibilização para ela poder fazer o esquema completo de benzetacil.
Controle de cura
Após o final do tratamento, o paciente deve repetir o exame de VDRL a cada 6 meses durante 2 anos. Se o tratamento tiver levado à cura da sífilis, os valores do VDRL cairão, no mínimo, 4 vezes (2 titulações) após os primeiros 6 meses, e continuarão caindo ao longo dos anos.
Exemplos:
- Se o VDRL era 1/256 ele deve cair para 1/64.
- Se o VDRL era 1/128 ele deve cair para 1/32.
- Se o VDRL era 1/64 ele deve cair para 1/16.
O VDRL não precisa chegar a zero para se confirmar a cura. Basta que os sintomas desapareçam e o VDRL caia de forma relevante. Os valores do FTA-ABS não servem para serem usados no controle de cura.
Cerca de 15% dos pacientes tratados adequadamente não apresentam essa queda de 4 titulações do VDRL. Nesses casos, se o VDRL se mantiver acima de 1/32, um novo curso de antibiótico está indicado e uma investigação sorológica dos(as) parceiros(as) é necessária.
Nos pacientes com VDRL menor que 1/32 e sem sintomas não é sugerido repetir o tratamento, exceto se os títulos do VDRL voltem a subir.
Pessoas curadas não transmitem sífilis para outras.
Pessoas curadas podem ter sífilis de novo?
Se o paciente realizou o tratamento correto e se curou da sífilis, não há risco da doença voltar. Porém, é importante salientar que ter tido sífilis não gera imunidade, o que significa que uma pessoa pode se contaminar com o Treponema pallidum mais de uma vez na vida.
Portanto, se você teve sífilis, tratou adequadamente e se curou, mas voltou a ter relações sexuais com alguém contaminado, existe um grande risco de ter sífilis novamente.
Referências
- 2014 European Guideline on the Management of Syphilis – The International Union against Sexually Transmitted Infections (IUSTI).
- Syphilis: Treatment and monitoring – UpToDate.
- Sexually transmitted diseases treatment guidelines, 2015 – Centers for Disease Control and Prevention.
- Syphilis – World Health Organization.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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