O que é uma bactéria?
Bactérias são organismos microscópicos que pertencem ao reino monera e são formadas apenas por uma única célula procariota, ou seja, não apresenta núcleo nem qualquer outra organela envolvida por membranas, como as mitocôndrias. Nas bactérias, as organelas ficam “flutuando” livres em seu interior, como, por exemplo, o seu DNA.
Existem bactérias por todo o planeta, seja na água, no solo ou em habitats altamente hostis, como lixo radioativo, em áreas profundas da crosta terrestre ou no pH altamente ácido do nosso estômago. A maioria das bactérias não causa doenças, porém, um pequeno número é responsável por infecções comuns na prática clínica.
Neste artigo abordaremos de forma simples as principais características sobre as bactérias, incluindo tipos, forma de transmissão, doenças provocadas e formas de tratamento.
Se quiser ler um artigo semelhante sobre vírus, acesse: DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS.
Onde vivem as bactérias?
Como já dito, existem bactérias por todo o planeta. Em uma gota d’água fresca existem cerca de 1 milhão de bactérias. Em nosso corpo há 10 vezes mais bactérias do que nossas próprias células, grande parte delas localizadas na pele e trato gastrointestinal.
Nosso corpo possui uma flora bacteriana própria que não nos causa doença, muito pelo contrário, ela ajuda na nossa digestão e nos protege contra bactérias invasoras.
Antes de seguir em frente, assista ao vídeo abaixo no qual explicamos quantas células e bactérias existem no nosso corpo.
Existem bactérias em locais extremos da terra, todavia a imensa maioria vive em áreas úmidas e de temperatura moderada.
Algumas bactérias conseguem sobreviver a ambientes hostis devido a sua capacidade de se transformar em endósporo, uma célula inativa com revestimento duro e resistente, mas que mantém o material genético protegido por muitos e muitos anos, em alguns casos séculos.
O revestimento do endósporo resiste a extremos de pH, de temperatura, pressão, a falta de água, a radiação e até a alguns desinfetantes químicos. Quando o ambiente volta a ser habitável, o endósporo torna-se novamente uma bactéria metabolicamente ativa e capaz de se reproduzir.
Como se pega uma infecção bacteriana?
Cada bactéria é transmitida de uma maneira diferente. Doenças como meningite, tuberculose e coqueluche são transmitidas através de secreções respiratórias, como tosse ou perdigotos.
Doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia e a sífilis são, como o próprio nome diz, transmitidas pelo ato sexual.
Há ainda as bactérias adquiridas através de alimentos mal conservados, causando intoxicação alimentar, como nos casos da Salmonela e Shigella.
Existem ainda as infecções causadas por bactérias que vivem habitualmente em nosso corpo. Essas infecções normalmente surgem quando bactérias que habitam um determinado local do organismo conseguem migrar para outro. Por exemplo: a infecção urinária surge normalmente quando bactérias naturais do trato intestinal acidentalmente atingem a região genital das mulheres. A maioria das cepas da bactéria E.coli no intestino não causa problemas, mas na bexiga é capaz de provocar irritação causando cistite.
O mesmo ocorre na pele, que é colonizada por bilhões de bactérias, principalmente do gênero estafilococos e estreptococos. Quando apresentamos uma ferida, expomos a região interna do corpo para essas bactérias, que ao penetrá-la pode causar infecções graves (leia: COMO TRATAR DE FERIDAS E MACHUCADOS).
Para saber como cada bactéria causa determinada doença, acesse os links para os assuntos que são fornecidos ao longo deste texto.
Como se trata uma infecção bacteriana?
Para se combater infecções bacterianas é preciso lançar mãos de antibióticos. Conforme será explicado mais adiante no texto, existem vários tipos de bactérias, algumas delas completamente diferentes umas das outras. Por isso são necessários diferentes tipos de antibióticos para diferentes tipos de bactérias e infecções.
Por exemplo, a infecção urinária é habitualmente causada pela bactéria E.coli, e os antibióticos mais usados nestes casos são o Bactrim ou a ciprofloxacina, fármacos que não servem, por exemplo, para tratar meningite ou pneumonia, que são provocadas por bactérias distintas.
Classificação das bactérias
A maioria das bactérias são heterotróficas, isto é, não conseguem produzir sua própria comida e precisam obtê-la no ambiente ou em outros organismos. Existem também bactérias autotróficas, que conseguem produzir sua própria comida, geralmente por meio da fotossíntese.
O método mais simples de classificação das bactérias é através da sua forma. Existem três grandes grupos:
Cocos:
São bactérias em formato esférico que apresentam tendência a se agrupar. Existem diferentes gêneros de cocos, que são classificados de acordo com a forma na qual se agrupam.
- Quando os cocos se agrupam em pares damos o nome de diplococos;
- os cocos do gênero Estafilococos (Staphylococcus) se agrupam em cachos;
- Estreptococos (Streptococcus) são um gênero de cocos que geralmente se agrupam em fileira.
Os cocos são responsáveis por uma grande variedade de doenças, algumas delas já abordadas em outros textos deste site, como:
a) Neisseria gonorrhoeae: bactéria causadora da gonorreia.
b) Neisseria meningitidis: bactéria causadora de meningite.
c) Streptococcus pneumoniae: bactéria causadora de pneumonia.
d) Streptococcus pyogenes: bactéria causadora da amigdalite, escarlatina e febre reumática.
e) Streptococcus viridans: bactéria causadora da endocardite infecciosa.
f) Streptococcus agalactiae: bactéria causadora de infecção neonatal (leia: Streptococcus agalactiae).
g) Staphylococcus aureus: bactéria causadora de várias infecções, geralmente iniciadas na pele, como a celulite, terçol e infecções multirresistentes (leia: Staphylococcus aureus | quais os riscos desta bactéria?)
Bacilos ou bastonetes:
São bactérias em formato de bastão. Podem ou não possuir flagelos que as ajudam a se locomover. Exemplos de bacilos patogênicos são o Bacillus anthracis, causador do antrax, Corynebacterium diphteriae causador da difteria e a Salmonella typhi, causadora da febre tifoide.
Espiraladas:
São bactérias em forma de espiral, geralmente divididas em dois grupos: espirilos e espiroquetas.
Entre as espiroquetas, a mais comum é o Treponema pallidum, causador da sífilis.
Essa divisão em formatos não é muito útil, pois existem várias bactérias com formatos diferentes, como de vírgula (vibriões), bactérias em forma de bastão que não são consideradas bacilos, presença ou ausência de flagelos, e ainda bactérias com formas hibridas, tipo cocobacilos.
Basear-se somente na forma pode causar muita confusão. Por isso, existem vários outros modos de se classificar e caracterizar as bactérias; um exemplo é método de Gram.
Método de Gram
O Gram é um corante violeta especial usada nos laboratórios para reconhecer alguns tipos de bactérias. O método de Gram divide as bactérias em dois grandes grupos: aquelas que quando expostas ao corante ficam com a parede celular roxa, chamados de bactérias gram-positivas, e aquelas que ficam com a parede rosa, chamadas de bactérias gram-negativas.
O gram é um exame de grande utilidade na prática clínica devido à rapidez com que se obtém o resultado. Enquanto a cultura demora 48 a 72 horas para identificar uma bactéria, o gram fica pronto em alguns minutos.
Exemplos de bactérias gram positivas que nos causam doenças:
- Bacillus anthracis.
- Clostridium tetani.
- Clostridium botulinum.
- Clostridium difficile.
- Clostridium perfringens.
- Corynebacterium diphtheriae.
- Enterococcus faecalis.
- Listeria monocytogenes.
- Staphylococcus aureus.
- Staphylococcus epidermidis.
- Staphylococcus saprophyticus.
- Streptococcus agalactiae.
- Streptococcus pneumoniae.
- Streptococcus pyogenes.
- Streptococcus viridans.
Exemplos de bactérias gram negativas que nos causam doenças:
- Acinetobacter baumannii.
- Enterobacter cloacae.
- Escherichia coli.
- Haemophilus influenzae.
- Helicobacter pylori.
- Klebsiella pneumoniae.
- Legionella pneumophila.
- Moraxella catarrhalis.
- Neisseria gonorrhoeae.
- Neisseria meningitidis.
- Proteus mirabilis.
- Pseudomonas aeruginosa.
- Salmonella enteritidis.
- Salmonella typhi.
- Serratia marcescens.
- Shigella dysenteriae.
É importante frisar que o método de Gram não identifica exatamente qual é bactéria presente, ele apenas nos diz que há uma bactéria gram-positiva ou gram-negativa causando uma infecção.
Essa informação, todavia, muitas vezes é suficiente para orientar o início de um esquema de antibiótico enquanto a cultura não fica pronta. Por exemplo, se um paciente com febre colhe um exame de urina que aponta a presença de bactérias gram negativas, já podemos escolher um antibiótico para infecção urinária antes da identificação da bactéria pela cultura, pois nós médicos já conhecemos de antemão quais são as bactérias gram negativas que mais causam infecção urinária.
Bactérias aeróbias x anaeróbias
Além do formato e do Gram, podemos também dividir as bactérias entre aeróbias e anaeróbias. O primeiro grupo consiste em bactérias que precisam de oxigênio para viver; o segundo são aquelas que não conseguem sobreviver em ambientes com oxigênio. Há ainda as bactérias anaeróbias facultativas, que podem viver tanto em ambientes oxigenados ou não.
Exemplos de descrição de bactérias:
- Shigella sonnei: bastonete gram negativo, aeróbico, não flagelado, causador de infecções intestinais.
- Streptococcus pneumoniae diplococo gram positivo, anaeróbico facultativo, não flagelado, causador de pneumonia, sinusite, meningite e otite.
- Vibrio cholerae: Vibrião gram negativo, flagelado, anaeróbico facultativo, causador da cólera.
Para quem quiser saber quais são as bactérias mais comuns da prática médica, abaixo temos uma ilustração com as principais doenças e seus germes causadores.
Referências
- Bacterial evolution – Microbiological reviews.
- Chemotherapy of infections – Medical Pharmacology and Therapeutics (Fifth Edition) 2018.
- Bacteria – Microbiology Society.
- Approach to Gram stain and culture results in the microbiology laboratory – UpToDate.
- Gram-negative bacillary bacteremia in adults – UpToDate.
- Madigan, Michael T.; Martinko, John M. (2006). Brock Biology of Microorganisms (11th ed.). Pearson Prentice Hall.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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