Prevenção da gripe: 8 dicas cientificamente comprovadas

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Como prevenir a gripe: dicas cientificamente comprovadas

Tempo de leitura estimado do artigo: 5 minutos

Introdução

A gripe é uma doença respiratória aguda que ocorre em surtos, especialmente no inverno, e afeta milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. É uma doença altamente contagiosa que pode se espalhar rapidamente em ambientes fechados e mal ventilados, como escolas, locais de trabalho e casas.

Existem quatro tipos de vírus da gripe: Influenza A, B, C e D. Somente os vírus da Influenza A e B causam epidemias sazonais. Ambos os tipos estão incluídos nas vacinas contra a gripe. Os vírus da Influenza C causam uma doença respiratória leve e não estão incluídas nas vacinas contra influenza. Os vírus da gripe D afetam principalmente o gado e não são conhecidos por infectar ou causar doenças em pessoas.

Embora não haja uma maneira 100% eficaz de evitar o vírus da gripe, há muitas formas de minimizar a exposição, reduzir a propagação do vírus, aumentar a imunidade e reduzir o risco de infecção seu e de outras pessoas.

Neste artigo, exploraremos oito métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de transmissão ou contágio da gripe.

Aqui, falaremos apenas da prevenção da gripe. Para outras informações sobre o vírus Influenza, acesse os seguintes artigos:

Transmissão

Antes de seguirmos com as formas de prevenção da transmissão, precisamos resumir as formas de transmissão do vírus Influenza.

O principal meio de propagação do vírus da gripe é através da transmissão respiratória direta de pessoa para pessoa, que ocorre por contato próximo, ou seja, a menos de 2 metros de distância, via gotículas grandes (≥ 100 microns) ou por aerossóis (< 100 microns).

Quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou simplesmente fala, o vírus presente nas secreções respiratórias, incluindo a saliva, pode infectar outras pessoas, se for inalado ou se entrar em contato com as membranas mucosas (principalmente olhos, boca ou nariz). Essa é a forma de transmissão mais comum por gotículas grandes.

O vírus da gripe também pode ser transmitido a distâncias maiores pelo que chamamos transmissão aérea ou por aerossóis. Aerossóis são partículas muito pequenas de secreções respiratórias que podem permanecer suspensas no ar por mais tempo. Os aerossóis emitidos por pessoas gripadas contêm partículas virais, mas a magnitude deste modo de transmissão ainda é incerta.

A transmissão do vírus da gripe também pode ocorrer se uma pessoa tocar uma superfície contaminada por secreções respiratórias e depois levar as mãos aos olhos, nariz, ou boca.

Uma vez que o paciente se contamine com o vírus Influenza, o período típico de incubação é de um a quatro dias (em média dois dias).

Cerca de 24 horas antes dos sintomas surgirem, o indivíduo contaminado já pode estar contagioso. O pico de transmissão do vírus ocorre 24 a 48 horas após o início dos sintomas da gripe, e depois diminui rapidamente, havendo pouco ou nenhum vírus detectável nas vias respiratórias após 5 a 10 dias de doença. Períodos mais longos de contágio (semanas) podem ocorrer em adultos com mais de 65 anos, indivíduos com doenças crônicas, pessoas com obesidade ou pacientes imunocomprometidos.

Formas de prevenir a gripe

Vacina

A forma mais eficaz para se proteger da gripe é através da vacinação anual contra os vírus Influenza A e B.

A vacina contra gripe pode ser administrada em qualquer pessoa com mais de 6 meses de idade, mas ela é especialmente importante em crianças com menos de 5 anos, grávidas, idosos, profissionais de saúde e pessoas que sofrem com doenças crônicas, principalmente pulmonares, cardiovasculares ou diabéticos.

Os vírus da gripe estão em constante evolução. Pequenas variações genéticas por mutações aleatórias que ocorrem no vírus Influenza A ou B são chamadas deriva antigênica. A deriva antigênica ocorre continuamente e resulta em novas cepas de vírus influenza A e B, que conseguem escapar do sistema imunológico e provocam a epidemias sazonais. É devido à deriva antigênica que não conseguimos desenvolver imunidade duradoura e precisamos de novas vacinas contra gripe a cada ano.

Os antígenos da vacina anual são selecionados com base na vigilância global dos vírus Influenza que circulam no final da estação anterior; É um constante jogo de gato e rato, com os vírus sofrendo mutações genética e as vacinas tentando acompanhar essas novas cepas.

Em geral, as vacinas cobrem bem as principais cepas circulantes, mas, eventualmente, podem haver desajustes entre as cepas da vacina e as cepas que circulam, levando a uma diminuição da eficácia vacinal.

Como os surtos de gripe ocorrem habitualmente no inverno, as campanhas vacinação são iniciadas no outono, para que a população de maior risco já chegue na época de maior transmissão protegida contra o vírus. Mas se você não tomou vacina no outono, não há prolema nenhum em tomá-la depois, já em pleno inverno.

Em relação à eficácia da vacina contra gripe, podemos citar os seguintes dados:

  • A vacina reduz em cerca de 60% o risco de contaminação.
  • Nos vacinados que se infectaram, o risco de doença grave é 82% menor.
  • Os pacientes graves que foram vacinados têm 30% menos risco de morte, quando comparados a não vacinados.

Temos um artigo dedicado à vacina da gripe: Vacina da gripe – benefícios e efeitos colaterais.

Lave as mãos com frequência

Lavar as mãos com água e sabão ou com produtos à base de álcool é uma das medidas mais importantes para impedir a propagação da gripe. A higienização adequada das mãos pode impedir que você fique doente e também consegue interromper a cadeia de transmissão de infecções virais.

Imagine a seguinte situação: uma pessoa na sua escola ou trabalho está gripada. Ela usa as mãos para proteger a boca ao espirrar ou para limpar as secreções do nariz. Sem lavar as mãos, ela toca no teclado do computador, encosta no telefone, apoia-se na mesa e depois usa o corrimão para descer a escada. Os vírus das vias respiratórias que estão nas mãos contaminadas são transportados para todos os objetos que essa pessoa gripada manuseou ao longo do dia. O vírus da gripe que foi depositado nesses objetos pode sobreviver nos mesmos por várias horas.

Tempos depois, você chega à sala que a pessoa doente esteve utilizando. Você usa o mesmo teclado, fala ao telefone e apoia suas mãos na mesma mesa. De repente, você sente uma leve coceira nos olhos e inocentemente usa a mão para coçá-los. Pronto, você acabou de levar os vírus que estavam no ambiente para dentro do seu corpo.

Se a pessoa gripada ou você tivesse lavado as mãos antes e depois de tocar nos objetos de uso público, essa transmissão não teria ocorrido.

Temos um artigo especificamente sobre a importância da lavagem das mãos: Por que lavar as mãos é importante pra saúde?

Evite tocar nos olhos, nariz e boca

Ter as mãos limpas 100% do tempo é impossível. Ninguém vai ficar lavando as mãos a cada 10 minutos para garantir que elas estejam sempre livres de germes.

Sendo assim, a melhor coisa a se fazer é criar o hábito de não levar as mãos à boca, nariz e olhos sem antes tê-las lavado. Para o vírus te contaminar, ele precisa entrar em contato com alguma área de mucosa. Se ficar só nas suas mãos, ele não vai te contagiar.

Evite contato com pessoas doentes

Se você souber de alguém que apresenta sintomas respiratórios, evite contato próximo, pois a transmissão pode ser dar por gotículas de saliva ou aerossóis produzidos por espirros ou tosse.

Se evitar o contato com a pessoa gripadas for impossível, como no caso de um familiar que vive na mesma casa, utilize máscaras faciais em você e no paciente sempre que for necessário contato mais próximo.

Evite aglomerações de pessoas

Durante os períodos de surto da gripe, evite frequentar locais onde haja aglomeração de pessoas, principalmente se for em local fechado e sem ventilação adequada.

Se você precisa pegar metrô, ônibus ou trabalha em salas cheias de pessoas e sem ventilação adequada, procure utilizar máscaras faciais para reduzir o risco de contaminação.

Mantenha seu sistema imunológico forte

Ter um sistema imunológico forte é uma das principais formas de defesa contra qualquer tipo de doença, incluindo a gripe.

Alguns hábitos simples ajudam a manter o sistema imunológico em bom estado, como, por exemplo, dormir de 7 a 9 horas todas as noites (8 a 10 horas por noite no caso das crianças), ter uma dieta bem balanceada, rica de frutas, vegetais e proteínas, praticar atividades físicas pelo menos 3 vezes por semana, manter-se hidratado e evitar um estilo de vida estressante.

Não há evidências de que tomar vitamina C ou qualquer outro tipo de vitamina ou suplemento alimentar tenha qualquer efeito protetor contra a gripe.

Pare de fumar

Fumantes tem maior risco de contraírem infecções respiratórias, incluindo a gripe, e maior risco de terem complicações da gripe.

Crianças, especialmente, mas também adultos, expostos ao fumo passivo também apresentam maior risco de terem gripe e complicações da gripe.

Deixar de fumar ajuda você e seus familiares a não pegar gripe ou qualquer outra infecção respiratória.

Antivirais

Antivirais podem ser utilizados para tratar os casos de gripe, especialmente nos pacientes com elevado risco de complicações.

No entanto, existem alguns casos particulares em que os antivirais podem ser prescritos não como tratamento, mas de forma precoce para prevenir o aparecimento da gripe.

Os pacientes com elevado risco de complicação da gripe, e que se encontram em uma das seguintes situações listadas abaixo, podem ser candidatos ao uso de antivirais de forma profilática:

  • Paciente apresenta contraindicação à vacinação.
  • Pacientes que não foram vacinados.
  • Quando há um surto com uma cepa de Influenza que não é adequadamente coberta pela vacina anual.

Portanto, se um paciente de alto risco, que se enquadra em uma das três situações acima, tiver contato próximo com alguém gripado, ele pode ser candidato ao tratamento profilático com os antivirais oseltamivir, zanamivir, peramivir ou baloxavir. O tratamento deve ser iniciado nas primeiras 48 horas após o contato de risco.

O tratamento profilático também pode ser oferecido a um paciente de baixo risco, mas que more junto com alguém de alto risco, para reduzir o risco de este trazer a doença para dentro de casa.

O tratamento profilático não deve nunca substituir a vacinação. Ele está indicado apenas quando a vacinação não for possível ou eficaz.

São considerados pacientes de alto risco para gripe:

  • Crianças com menos de 2 anos.
  • Adultos com 65 anos ou mais.
  • Pessoas com problemas pulmonares crônicos (incluindo asma), cardiovasculares, renais, hepáticos, hematológicos (incluindo anemia falciforme), diabetes mellitus, ou condições neurológicas (incluindo distúrbios do cérebro, medula espinhal, nervo periférico e músculo, tais como paralisia cerebral, epilepsia, derrame cerebral, deficiência intelectual, atraso de desenvolvimento moderado a severo, distrofia muscular, ou lesão da medula espinhal).
  • Pessoas com imunossupressão, incluindo as causadas por medicamentos ou HIV.
  • Grávidas ou mulheres no início do puerpério (duas primeiras semanas após o parto).
  • Obesidade mórbida: IMC maior que 40 kg/m².
  • Residentes de lares de idosos ou outras instalações de cuidados crônicos.

Como você pode prevenir a contaminação de outros

Se você está com sintomas de gripe, deve tomar os devidos cuidados para interromper a cadeia de transmissão e não contaminar outras pessoas.

Alguns cuidados que todas as pessoas gripadas devem ter são:

  • Lave as mãos frequentemente, especialmente antes de tocar em objetos que possam ser tocados por outros.
  • Fique em um quarto isolado dos outros moradores.
  • Se possível, não vá trabalhar ou à escola até os sintomas desaparecerem.
  • Se não for possível evitar contato com outras pessoas, use máscara.
  • Cubra a boca sempre que for tossir ou espirrar.
  • Não fale com outros a menos de 2 metros de distância.
  • Não prepare comida para outros.

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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