Acantose nigricans: o que é, causas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Acantose nigricans

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O que é acantose nigricans?

A acantose nigricans é uma lesão de pele caracterizada por áreas escurecidas, espessas e de textura aveludada, que surge com mais frequência nas regiões de dobras ou vincos do corpo, tais como axilas, virilhas e pescoço.

O reconhecimento da acantose nigricans é importante clinicamente porque essas lesões de pele costumam estar associadas a alguma doença metabólica, principalmente àquelas que apresentam resistência à insulina, como obesidade e diabetes mellitus.

Raramente, a acantose nigricans pode surgir devido a algum câncer dos órgãos internos, como estômago ou fígado.

A acantose nigricans é bastante comum e pode afetar homens e mulheres de qualquer idade, incluindo bebês. A lesão é mais frequente e mais escurecida em pessoas de etnia negra ou indígena, mas pode ocorrer também em brancos ou asiáticos.

Causas

A acantose nigricans é uma condição que pode ser adquirida ou herdada. Em praticamente 100% dos casos, o paciente apresenta pelo menos um dos distúrbios listados abaixo:

  • Obesidade.
  • Diabetes mellitus tipo 2.
  • Síndrome do ovário policístico.
  • Outros distúrbios endocrinológicos ou metabólicos, particularmente aqueles associados à resistência à insulina, como acromegalia e síndrome de Cushing.
  • Síndromes genéticas associadas à resistência à insulina, como síndrome de Down, síndrome de Donohue (leprechaunismo), síndrome de Rabson-Mendenhall, lipodistrofia generalizada congênita (síndrome de Berardinelli-Seip), lipodistrofia parcial familiar ou síndrome de Alstrom.
  • Acantose nigricans familiar.
  • Câncer (os adenocarcinomas dos órgãos intra-abdominais, particularmente hepatocarcinoma e os adenocarcinomas gástricos, representam a maioria dos tumores).
  • Efeito colateral de medicamentos, principalmente aqueles que promovem hiperinsulinemia, como glicocorticoides, insulina, anticoncepcionais orais ou niacina.

Sintomas

A acantose nigricans costuma se apresentar como placas hiperpigmentadas (escurecidas) e espessas, com textura aveludadas ou verrucosa.

Acantose nigricans - pescoço
Placas escurecidas, aveludadas na parte lateral do pescoço.

As axilas e pescoço, principalmente nas regiões laterais e nuca, são os locais de envolvimento mais comuns. Outros pontos frequentes são as áreas intertriginosas, que são as regiões de dobras cutâneas, onde duas áreas da pele podem se tocar ou se esfregar. Exemplos de áreas intertriginosas onde a acantose nigricans costuma surgir são as regiões abaixo das mamas, dobras dos cotovelos, virilhas, axilas e região anogenital.

Nos casos graves, com lesões extensas, podem surgir placas em áreas não intertriginosas, como nas costas, aréola, períneo, abdômen, umbigo, lábios ou mucosa da boca.

Acrocórdons e acantose nigricans
Acrocórdons + acantose nigricans na nuca

Nos casos leves ou na fase inicial das lesões, a pele afetada costuma ter uma aparência “suja” e uma textura áspera ou seca com pequena elevação. À medida que as lesões progridem, a pele torna-se mais espessa e demonstra acentuação dos dermatóglifos (as linhas de pele) e projeções em forma de pólipos, chamadas acrocórdons, podem aparecer dentro ou ao redor das áreas afetadas (como na imagem acima).

A acantose nigricans geralmente é assintomática. No entanto, as lesões nas dobras cutâneas podem se tornar maceradas e inflamadas, causando desconforto no local e mau cheiro, principalmente se houver colonização bacteriana da pele lesionada ou infecção por fungos.

Acantose na axila
Acantose na axila

Todos os pacientes com acantose devem ser investigados para diabetes mellitus. Nas mulheres, a investigação de síndrome do ovário policístico também está indicada.

Relação da acantose nigricans com câncer

Raramente, a acantose nigricans pode ser uma manifestação paraneoplásica de um tumor maligno. Chamamos de paraneoplasia o conjunto de sinais e sintomas que antecedem ou que ocorrem concomitantemente à presença de um câncer, mas que não estão relacionados diretamente com a expansão do tumor.

Essa forma de acantose nigricans é mais frequentemente diagnosticada em indivíduos idosos e em pacientes que não são obesos.

As lesões paraneoplásicas na pele podem surgir antes ou depois do descobrimento do tumor. Em alguns casos, o diagnóstico de acantose nigricans antecede o reconhecimento da malignidade em anos.

As características que sugerem a possibilidade de uma malignidade subjacente em um paciente com acantose nigricans são:

  • Evolução rápida das lesões cutâneas.
  • Amplo envolvimento do corpo.
  • Lesões em locais atípicos (por exemplo, mucosas, palmas das mãos ou plantas dos pés).
  • Idosos magros.
  • Pessoas sem fatores de risco para acantose nigricans, nomeadamente doenças que cursam com resistência à insulina.
  • Sintomas sugestivos de malignidade, como anemia, perda de peso inexplicável ou outras síndromes paraneoplásicas.

Tratamento

Dado que a acantose nigricans é uma manifestação benigna na imensa maioria dos casos, geralmente assintomática, as preocupações estéticas são as principais indicações para o tratamento.

O tratamento da causa subjacente, quando viável, é o método preferido de manejo. A acantose nigricans relacionada à obesidade, induzida por medicamentos ou associada à malignidade são as que melhor respondem ao tratamento da doença de base.

Em contraste, a probabilidade de melhora significativa na acantose nigricans após o tratamento de estados de resistência à insulina é mais baixa.

Tratamentos tópicos com pomadas ou cremes podem ser indicados nos seguintes casos:

  • Em pacientes nos quais a reversão da causa subjacente não seja viável.
  • Quando a melhora estética das lesões após o tratamento da doença de base seja insatisfatória.
  • Nos pacientes que desejam uma melhora rápida na aparência das lesões e não querem esperar a melhoria espontânea após controle da doença de base.

As terapias tópicas à base de retinoides ou análogos da vitamina D são as mais utilizadas.

Retinoides sistêmicos por via oral também têm sido utilizados por alguns dermatologistas, mas não são utilizados como primeira linha para o tratamento da maioria dos pacientes pois os efeitos colaterais são comuns e a taxa de reincidência é alta após interrupção do medicamento.

Alguns pacientes com acantose nigricans tentam melhorar a aparência das lesões esfregando excessivamente a pele afetada durante o banho. Tal comportamento deve ser desencorajado, pois pode resultar em liquenificação (espessamento da pele) e agravamento da hiperpigmentação.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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