O que é o colesterol?
O colesterol é uma substância gordurosa encontrada em todas as células no nosso corpo. Ele é essencial para a formação das membranas das nossas células, para a síntese de hormônios, como testosterona, estrogênio, cortisol e outros, para a produção da bile, para digestão de alimentos gordurosos, para formação da mielina (uma bainha que cobre os nervos), para metabolização de algumas vitaminas (A, D, E e K), etc.
O colesterol do nosso organismo tem duas origens:
- Endógena: o colesterol endógeno é aquele produzido pelo nosso próprio corpo, principalmente pelo fígado.
- Exógena: o colesterol exógeno é adquirido através dos alimentos, especialmente aqueles de origem animal, como carne, laticínios e ovos.
A maior parte do colesterol no nosso organismo é de origem endógena. Estima-se que cerca de 70% a 80% do colesterol total seja produzido pelo fígado e outros órgãos internos. Os restantes 20% a 30% do colesterol são adquiridos através da dieta.
Neste artigo explicaremos os que são as seguintes partículas relacionadas ao colesterol:
- LDL.
- HDL.
- VLDL.
- IDL.
- Apolipoproteína B (apoB).
- Lipoproteína(a) ou Lp(a).
Tipos de lipoproteínas
Como se trata de uma substância gordurosa, o colesterol não se dissolve no sangue, da mesma forma que gotas de óleo não se dissolvem na água. Portanto, para viajar através da corrente sanguínea e alcançar os tecidos periféricos, o colesterol precisa de um transportador. Essa função cabe às lipoproteínas produzidas no fígado.
As principais lipoproteínas são:
- VLDL (Very low-density lipoprotein).
- LDL (Low-density lipoprotein).
- HDL (High-density lipoprotein).
As lipoproteínas são estruturas esféricas compostas por lipídios e proteínas. Elas têm uma camada externa que é solúvel em água e um núcleo interno lipídico (gorduroso). A camada externa é formada por fosfolipídios, colesterol livre (não esterificado) e apolipoproteínas, que são solúveis em água. Esta camada permite que a lipoproteína interaja com o ambiente aquoso do sangue.
O núcleo interno da lipoproteína LDL contém ésteres de colesterol e uma pequena quantidade de triglicerídeos, que são gordurosos e não solúveis em água. A estrutura externa solúvel em água envolve este núcleo lipídico, tornando a lipoproteína como um todo solúvel no sangue.
Portanto, embora o LDL transporte colesterol e outros lipídios, que são insolúveis em água, a estrutura especial das lipoproteínas permite que eles sejam transportados eficientemente no plasma sanguíneo. Essa capacidade de transportar lipídios no sangue é uma função vital das lipoproteínas, permitindo que o colesterol e outras gorduras cheguem a todas as partes do corpo onde são necessários.
Colesterol bom e colesterol ruim
O LDL transporta colesterol e um pouco de triglicerídeos do sangue para os tecidos. O VLDL transporta triglicerídeos e um pouco de colesterol. Já o HDL é um transportador diferente, ele faz o caminho inverso, tira colesterol dos tecidos e devolve para o fígado que vai excretá-lo nos intestinos.
O problema é que, conforme explicaremos a seguir, as lipoproteínas LDL e VLDL são aterogênicas, ou seja, quando em grande quantidade no sangue, elas tendem a se depositar nas paredes das artérias, formando placas de gorduras, chamadas placas de aterosclerose.
Portanto, enquanto o LDL e o VLDL levam colesterol para as células e facilitam a deposição de gordura nos vasos sanguíneos, o HDL faz o inverso, promove a retirada do excesso, inclusive das placas arteriais. Por isso, denominamos o HDL colesterol como “colesterol bom” e o VLDL e o LDL colesterol como “colesterol ruim”.
Na verdade, não existe colesterol bom ou ruim, o colesterol é sempre o mesmo. Ele é apenas uma substância essencial ao bom funcionamento do organismo e das células. O que pode aumentar o risco de doenças é o tipo de lipoproteína que transporta o colesterol pela circulação sanguínea. A gente acaba usando os termos colesterol bom e ruim como uma simplificação para tornar o assunto de mais fácil compreensão pela população leiga.
O colesterol derivado de gorduras saturadas e gordura trans da dieta favorece a produção de LDL, enquanto o consumo de gorduras insaturadas, encontrada no azeite, peixes e amêndoas, por exemplo, promovem a produção do HDL.
Portanto, ao dosarmos os valores das lipoproteínas transportadoras LDL, VLDL e HDL temos uma avaliação indireta da quantidade e da qualidade do colesterol que circula em nosso sangue. Por isso, o lipidograma, exame usado para dosar as lipoproteínas, é usado para avaliar os níveis de colesterol sanguíneo.
O que é o colesterol IDL?
O IDL (Intermediate low-density lipoprotein) é um tipo de colesterol semelhante ao LDL. Como tem efeitos semelhantes, ele não é normalmente dosado individualmente, mas sim junto com o LDL. Portanto, quando recebemos o valor do LDL, habitualmente estamos falando do valor de LDL + IDL.
O que é aterosclerose?
Elevadas concentrações de VLDL, IDL e LDL estão associadas à deposição de gordura na parede dos vasos sanguíneos, levando à formação de placas de ateroma. Essas lipoproteínas, portanto, são classificadas como aterogênicas.
Quando nosso corpo tem mais colesterol do que precisa, as moléculas de LDL ficam circulando no sangue à procura de algum tecido que esteja precisando de colesterol para o seu funcionamento. Se esse colesterol não for entregue a nenhum tecido, a molécula de LDL acaba se depositando dentro da parede dos vasos sanguíneos, acumulando gordura nos mesmos. Este processo é chamado aterosclerose.
Veja na ilustração acima como essas placas de gordura ocupam espaço e diminuem o diâmetro da luz dos vasos (chamamos de luz a parte oca de dentro dos vasos por onde passa o sangue). A aterosclerose também causa lesão direta na parede, diminuindo a elasticidade das artérias, tornando-as mais duras.
O depósito de gordura e a lesão da parede dos vasos favorecem a obstrução do fluxo de sangue e a redução do aporte de oxigênio e nutrientes aos tecidos. Quando os vasos acometidos pelas placas ateromatosas são as artérias coronárias (artérias do coração), o resultado pode ser um quadro de angina ou de infarto cardíaco. Da mesma forma, quando são acometidos vasos cerebrais, o paciente pode evoluir com um AVC, que é um infarto do cérebro.
Para quem gosta de fisiopatologia, podemos explicar o processo aterosclerose de forma um pouco mais específica:
- O LDL infiltra-se através do endotélio vascular (a camada de células que reveste os vasos sanguíneos) e se acumula na parede arterial.
- Uma vez dentro da parede arterial, o LDL pode sofrer ação pelo oxigênio, um processo chamado de oxidação, transformando-se em LDL oxidada (oxLDL).
- A oxLDL é tóxica para as células endoteliais e provoca uma resposta inflamatória, atraindo macrófagos (um tipo de célula de defesa do sangue).
- Os macrófagos consomem o oxLDL, transformando-se em células espumosas, também chamadas de macrófagos carregados de lipídios.
- A acumulação de células espumosas forma a “placa aterosclerótica”, uma massa de lipídios, células inflamatórias e tecido fibroso.
- A placa aterosclerótica cresce e endurece ao longo do tempo, reduzindo o diâmetro do vaso sanguíneo e restringindo o fluxo sanguíneo.
- Eventualmente, o endotélio sobre a placa pode se romper, expondo o material da placa ao sangue e levando à formação de coágulos sanguíneos (trombose). Deste evento costumam resultar os infartos do miocárdio e os AVC.
Dislipidemia
O aumento dos níveis de colesterol é chamado dislipidemia. Durante muito tempo, os médicos avaliaram o grau de dislipidemia através do valor do colesterol total, que nada mais é do que a soma dos níveis sanguíneos de HDL + LDL + VLDL. Porém, como acabamos de explicar, há o colesterol ruim e o bom, o que torna pouco eficiente a avaliação conjunta deles. Atualmente, o valor total do colesterol sanguíneo é menos valorizado do que os níveis individuais de HDL e LDL.
Veja esses exemplos:
- Paciente 1: LDL 150, HDL 20 e VLDL 20 = colesterol total de 190.
- Paciente 2: LDL 100, HDL 65 e VLDL 25 = colesterol total de 190.
Pelo que foi explicado até agora, não há dúvidas de que o paciente 1 apresenta mais riscos de aterosclerose que o paciente 2, apesar de terem o mesmo nível de colesterol total. O exemplo acima explica o porquê de o valor total não ser o melhor parâmetro para avaliar a dislipidemia.
Valores de colesterol HDL e LDL
Como a dislipidemia é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, a medicina tem tentado estabelecer através de estudos quais são os níveis ideais de colesterol HDL e LDL. Atualmente, classificamos os resultados da seguinte maneira:
LDL-C
- Menor que 100 mg/dL: ótimo.
- Entre 101 e 130 mg/dL: normal.
- Entre 131 e 160 mg/dL: normal/alto.
- Entre 161 e 190 mg/dL: alto.
- Maior que 190 mg/dL: muito alto.
HDL-C
- Menor que 40 mg/dL: baixo (ruim).
- Entre 41 e 60 mg/dL: normal.
- Maior que 60 mg/dL: alto (ótimo).
Os valores acima, especialmente os de LDL-C, estão sendo constantemente atualizados, com reduções nos intervalos que consideramos normais, visto que cada vez mais os estudos têm apontado a existência de vasos com aterosclerose mesmo níveis de LDL-C ao redor de 130 mg/dl.
Apolipoproteína B
A apolipoproteína B (apoB) é uma proteína presente em todas as lipoproteínas do sangue. Existem duas formas principais de apoB: apoB-48 e apoB-100. Cada uma desempenha um papel diferente no transporte de lipídios no corpo. Aqui, falaremos apenas da apoB-100, que é a apolipoproteína presente nas lipoproteínas aterogênicas.
Todas as lipoproteínas aterogênicas (LDL, VLDL e IDL) possuem uma molécula de apoB-100 na sua superfície. A função principal da apoB-100 é permitir que essas lipoproteínas sejam reconhecidas pelos receptores nas células, facilitando assim o transporte de colesterol e outros lipídios para dentro das células.
Dado que cada partícula aterogênica contém uma molécula de apoB-100, a medição da apoB no sangue é um bom indicador da quantidade de partículas aterogênicas circulantes, especialmente de LDL, que é a principal delas. Sendo assim, quanto maior o valor de apoB dosado no sangue, maior é o número de partículas aterogênicas circulantes que o paciente possui.
Por essa razão, a medição dos níveis de apoB no sangue é considerada por muitos especialistas como um marcador mais preciso do risco cardiovascular do que apenas medir o colesterol LDL. Isso ocorre porque a apoB reflete tanto a quantidade quanto o potencial de aterogenicidade das lipoproteínas presentes no sangue.
Os valores normais de apoB no sangue ainda estão sob discussão. Atualmente, consideram-se normais valores até 130 mg/dL. No entanto, já há um grupo grande de lipidologistas que considera que valores abaixo de 90 mg/dL são os mais indicados, especialmente para aqueles com mais de um fator de risco para doença cardiovascular (diabetes, tabagismo, obesidade, hipertensão, etc.).
Lipoproteina(a)
Por último, precisamos falar da lipoproteína(a) ou Lp(a).
Embora as funções exatas da Lp(a) no nosso organismo não sejam totalmente compreendidas, sabe-se que níveis elevados de Lp(a) no sangue estão associados a um risco aumentado de desenvolvimento de placas de ateroma nas artérias e elevado risco de coágulos sanguíneos.
Níveis elevados de Lp(a) são considerados um fator de risco independente para doenças cardiovasculares. Mesmo que o paciente tenha LDL e apoB em níveis normais ou até baixos, se ele tiver Apo(a) aumentada, o seu risco de doença cardiovascular é alto.
Diferentemente do colesterol LDL e da apoB, os níveis de Lp(a) não são modificados por mudanças na dieta, estilo de vida e, até o momento, não há tratamentos específicos para reduzir os níveis de Lp(a).
Os níveis de Lp(a) no sangue são fortemente influenciados pela genética. Se uma pessoa herda genes que levam a níveis baixos de Lp(a), é provável que esses níveis permaneçam baixos ao longo da vida. Da mesma forma, se herda genes que resultam em níveis elevados de Lp(a), esses níveis tendem a ser consistentemente altos.
Todo indivíduo deve dosar pelo menos uma vez na vida a sua lipoproteína(a). Como não há ainda tratamento eficaz para reduzir a Lp(a), aqueles indivíduos com valores altos devem ter cuidado dobrado com os outros fatores de risco para doença cardiovascular e devem procurar ter valores de LDL e apoB bem baixos para contrabalancear o risco próprio da Lp(a).
A faixa desejável e ideal de resultados do teste de Lp(a) é <14 mg/dL. A faixa de maior risco é >50 mg/dl. Os pacientes com Lp(a) entre 14 e 30 mg/dl são considerados de risco limítrofe, e os que se encontram na faixa de 31 a 50 mg/dl são de alto risco.
O que fazer quando o colesterol está alto?
Uma dieta rica em gorduras insaturadas e pobre em gorduras saturadas está indicada para todas as pessoas, independentemente do valor do seu colesterol LDL ou apoB. Porém, se você tem dislipidemia, seguir essa dieta é ainda mais importante.
Entretanto, nem sempre a dieta sozinha resolve o problema do colesterol alto, isto porque o aumento do LDL está relacionado a fatores genéticos e alimentares. Como já referido no início do texto, 70 a 80% do nosso colesterol é de origem endógena (produzido pelo fígado) e apenas 20 a 30% vem da alimentação. Logo, se os valores do LDL forem muito elevados, somente a dieta não será suficiente para normalizar os valores do colesterol ruim. Falamos um pouco mais sobre a dieta para quem tem dislipidemia neste link: Dieta para quem tem colesterol alto.
Exercícios físicos ajudam a elevar o HDL e a diminuir o LDL, sendo outra opção para o controle da dislipidemia. Porém, assim como na dieta, a redução também não é grande. A dieta e os exercícios físicos são suficientes para aqueles pacientes com LDL até 160 mg/dl. Este é o grupo que pode conseguir bons resultados sem ter que recorrer a medicamentos.
A decisão de quando começar os remédios depende não só dos valores de LDL e HDL, mas também da presença de outros fatores de risco para doença cardiovascular, nomeadamente:
- Tabagismo.
- Hipertensão.
- Diabetes.
- Insuficiência renal crônica.
- Obesidade e Síndrome metabólica.
- Idade maior que 45 anos.
Quanto mais fatores de risco você tiver, mais baixos devem ser os valores do colesterol. Grosso modo, podemos resumir da seguinte maneira os alvos:
- Paciente com apenas um fator de risco: colesterol LDL deve ser menor que 160 mg/dL.
- Paciente com dois ou mais fatores de risco: colesterol LDL deve ser menor que 130 mg/dL.
- Pacientes com alto risco cardiovascular, principalmente se tiver tido um infarto ou AVC: colesterol LDL deve ser menor que 100 mg/dL.
Desde 2013, porém, existem novos consensos sobre o tratamento do colesterol alto, que já não dão tanta relevância aos valores de LDL. Em vez de focar num valor alvo de LDL, o tratamento é indicado nos pacientes com risco cardiovascular elevado, mesmo que os valores do LDL não sejam muito elevados.
Explicamos em detalhes a nova forma de tratar a dislipidemia no seguinte artigo: Preciso Tomar Remédios Para Baixar o Colesterol?
HDL alto é prejudicial?
Não, pelo contrário. Algumas pessoas, normalmente mulheres, têm HDL muito elevados, às vezes acima de 100 mg/dL. Isso não indica nenhuma doença. Na verdade, são pessoas afortunadas, pois apresentam baixo risco de doença cardíaca, principalmente se o LDL for baixo.
Portanto, ter HDL alto é bom, pois esta é uma forma de colesterol que nos protege contra a aterosclerose.
O que é colesterol não-HDL?
Colesterol não-HDL é a soma de todos os tipos de colesterol considerados ruins: IDL+LDL+VLDL. Supõe-se que o colesterol não-HDL seja um marcador mais sensível de risco de aterosclerose do que o LDL isoladamente.
O colesterol não-HDL costuma ser um indicador indireto dos níveis de apoB.
Valores do colesterol não-HDL:
- Menor que 130 mg/dL: ótimo.
- Entre 131 e 160 mg/dL: normal.
- Entre 161 e 190 mg/dL: normal/alto.
- Entre 191 e 220 mg/dL: alto.
- Maior que 220 mg/dL: muito alto.
Quais são os sintomas do colesterol alto?
Nenhum! Colesterol alto não provoca sintomas.
Atenção: colesterol alto não dá cansaço, dor de cabeça, falta de ar, prostração ou qualquer outro sintoma. A dislipidemia é uma doença silenciosa. A única maneira de saber os níveis de colesterol é através do lipidograma, que é um exame de sangue.
Triglicerídeos
A hipertrigliceridemia, nome que se dá ao aumento dos triglicerídeos no sangue, também é fator de risco para aterosclerose, principalmente se associada a níveis baixos de HDL.
Os triglicerídeos estão intimamente ligados ao VLDL e seu valor costuma ser 5 vezes maior. Por exemplo, um indivíduo com VLDL de 30 mg/dL terá níveis de triglicerídeos ao redor de 150 mg/dL.
Os valores normais de triglicerídeos são:
- Até 150 mg/dL: normal.
- Entre 150 e 199 mg/dL: limítrofe.
- Entre 200 e 500 mg/dL: elevado.
- Maior que 500 mg/dL: muito elevado.
A elevação do colesterol e, principalmente, dos triglicerídeos estão associados a uma maior incidência de acúmulo de gordura no fígado, chamado de esteatose hepática (leia: O que é a esteatose hepática?).
Para saber mais detalhes sobre os triglicerídeos, leia: O que são os triglicerídeos?
tratamento do colesterol alto
Todo paciente com colesterol e/ou triglicerídeo elevado deve se submeter à dieta com restrição de gorduras saturadas e gorduras trans, praticar exercícios físicos regulares, controlar a pressão arterial e, se estiver acima do peso, emagrecer. Não fumar também é essencial.
No entanto, para a maioria dos pacientes, mudanças no estilo de vida não são suficientes para reduzir o LDL-c a níveis adequados, especialmente se o alvo for um valor abaixo de 100 mg/dL. Nesses casos, o tratamento farmacológico torna-se essencial.
A seguir, resumimos as principais opções de tratamento medicamentoso da dislipidemia.
Estatinas
Os medicamentos de escolha para redução do LDL e aumento do HDL são as estatinas, também chamadas de inibidores da enzima HMG-coA reductase (enzima do fígado responsável pela produção de colesterol). As estatinas também agem na redução dos triglicerídeos.
As estatinas mais prescritas são:
- Sinvastatina.
- Atorvastatina.
- Fluvastatina.
- Pravastatina.
- Rosuvastatina.
- Lovastatina.
- Pitavastatina.
A rosuvastatina, pitavastatina e a atorvastatina são as mais fortes e conseguem reduções do colesterol com menores doses.
Os principais efeitos colaterais destes medicamentos são a dor muscular e as câimbras. Em alguns casos, a lesão muscular pode ser séria e indicar a interrupção do tratamento. Hepatite medicamentosa também pode ocorrer. Em doses elevadas, as estatinas podem aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Para saber mais sobre as estatinas, leia: Estatinas – Remédios para colesterol alto.
Fibratos
Apesar de as estatinas agirem nos níveis de triglicerídeos, os fibratos são uma classe com ação mais intensa para esse fim. Os fibratos reduzem os triglicerídeos, mas praticamente não interferem no colesterol LDL.
Os fibratos mais usados são:
- Fenofibrato.
- Bezafibrato.
- Genfibrozila.
- Clofibrato.
- Ciprofibrato.
A associação entre fibratos e estatinas deve ser feita com cautela, uma vez que há aumento do risco de lesão muscular com o uso concomitante dessas drogas.
Os fibratos devem ser evitados em pacientes com insuficiência renal crônica.
Ezetimiba
A ezetimiba é um medicamento usado para reduzir os níveis de colesterol que atua de uma maneira diferente das estatinas.
A ezetimiba funciona inibindo a absorção de colesterol no intestino delgado. Ela atua especificamente no transportador de colesterol da borda em escova das células intestinais, reduzindo assim a quantidade de colesterol que entra na corrente sanguínea.
Ao diminuir a absorção de colesterol no intestino, a ezetimiba reduz os níveis de colesterol LDL no sangue. Ela também pode ter efeitos modestos na redução dos triglicerídeos e no aumento do HDL.
A ezetimiba pode ser usada como monoterapia para pacientes que não toleram estatinas ou em combinação com uma das estatinas para aqueles que não atingem os níveis desejados de LDL apenas com um fármaco. Ela é particularmente útil em pacientes com hipercolesterolemia familiar ou aqueles com alto risco cardiovascular que necessitam de redução intensiva do LDL.
Ácido bempedoico
O ácido bempedoico é um medicamento relativamente novo usado para tratar o colesterol alto, especialmente em pacientes que não podem usar estatinas ou que precisam de redução adicional do colesterol LDL, apesar do uso de estatinas em doses elevadas.
O ácido bempedoico atua inibindo a enzima ATP citrato liase, que é um passo importante na via de síntese do colesterol no fígado. Isso difere das estatinas, que inibem a enzima HMG-CoA redutase, outra enzima crucial na síntese de colesterol. Ao inibir a síntese de colesterol no fígado, o ácido bempedoico reduz os níveis de colesterol LDL no sangue.
O ácido bempedoico pode causar efeitos colaterais, como dor muscular, hiperuricemia (níveis elevados de ácido úrico no sangue), e um aumento nas enzimas hepáticas. A dor muscular é um efeito colateral particularmente relevante para pacientes que já são intolerantes às estatinas devido a mialgias.
Além de reduzir o colesterol LDL, o ácido bempedoico também mostrou reduzir os níveis de proteína C-reativa, um marcador de inflamação que está associado ao risco de eventos cardiovasculares.
Inibidores da PCSK9
Os inibidores da PCSK9, como o evolocumab e o alirocumab, são uma classe relativamente nova de medicamentos usados para reduzir os níveis de colesterol LDL no sangue. Eles têm um mecanismo de ação único e são especialmente úteis para pacientes com hipercolesterolemia que não atingem seus alvos de LDL com as terapias tradicionais.
Os inibidores da PCSK9 funcionam ligando-se à proteína PCSK9 no sangue. A PCSK9 normalmente se liga aos receptores de LDL nas células hepáticas, levando à degradação desses receptores. Ao inibir a PCSK9, esses medicamentos aumentam o número de receptores de LDL disponíveis nas células do fígado, resultando na remoção mais eficiente do LDL da corrente sanguínea.
Os inibidores da PCSK9 são indicados principalmente para pacientes com hipercolesterolemia familiar (uma condição genética que causa colesterol alto), para aqueles que não conseguem tolerar estatinas ou para pacientes que não conseguem atingir as metas de LDL com estatinas e/ou outros tratamentos redutores de lipídios.
Tanto o evolocumab quanto o alirocumab são administrados por injeção subcutânea 1 ou 2 vezes por mês. Eles são geralmente usados em combinação com outras terapias redutoras de lipídios, incluindo estatinas e/ou ezetimiba.
Estes medicamentos podem reduzir significativamente os níveis de LDL, frequentemente em 50% ou mais, além da redução alcançada com as estatinas sozinhas.
Os inibidores da PCSK9 são geralmente muito bem tolerados, com baixa taxa de efeitos adversos. Os efeitos colaterais mais comuns incluem reações no local da injeção, sintomas gripais e, raramente, reações alérgicas.
Um aspecto importante dos inibidores da PCSK9 é o seu custo, que tende a ser significativamente mais alto em comparação com outras terapias redutoras de lipídios. Por isso, o uso desses medicamentos costuma ser reservado para pacientes com alto risco cardiovascular ou aqueles com hipercolesterolemia grave.
É possível, porém, que com o passar dos anos, os inibidores da PCSK9 tornem-se mais baratos e acessíveis, passando a ser uma opção de primeira linha para o tratamento da dislipidemia.
Referências
- Guideline on the management of blood cholesterol – American Heart Association (AHA).
- Guidelines for management of dyslipidemia and prevention of cardiovascular disease – American Association of Clinical Endocrinologists (AACE) and American College of Endocrinology (ACE).
- National Lipid Association Recommendations for Patient-Centered Management of Dyslipidemia: Part 1—Full Report – Journal of Clinical Lipidology
- National Lipid Association Recommendations for Patient-Centered Management of Dyslipidemia: Part 2 – Journal of Clinical Lipidology
- Lipoprotein classification, metabolism, and role in atherosclerosis – UpToDate.
- Hypertriglyceridemia – UpToDate.
- Management of elevated low density lipoprotein-cholesterol (LDL-C) in primary prevention of cardiovascular disease – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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