Hidroclorotiazida (diurético): para que serve e posologia

A hidroclorotiazida é um medicamento diurético da classe das tiazidas que é muito utilizado no tratamento da hipertensão arterial, seja sozinho ou em terapia conjunta com outros anti-hipertensivos.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Hidroclorotiazida

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O que é a hidroclorotiazida?

A hidroclorotiazida é um medicamento diurético da classe das tiazidas que é muito utilizado no tratamento da hipertensão arterial, seja sozinho ou em terapia conjunta com outros anti-hipertensivos.

Apesar de ter um efeito diurético inferior ao da furosemida (outra classe de diurético), a hidroclorotiazida apresenta um tempo de ação mais longo, o que a torna especialmente eficaz na redução da pressão arterial a longo prazo, conforme veremos mais adiante.

Atenção: este texto não aspira ser uma bula completa da hidroclorotiazida. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações objetivas e em linguagem acessível ao público leigo.

Como age

A hidroclorotiazida é um diurético da classe das tiazidas e apresenta mecanismo de ação semelhante a outros diuréticos dessa classe, tais como a clortalidona, indapamida e a metolazona.

Assim como a maioria dos diuréticos, a hidroclorotiazida tem como ação básica o aumento da excreção de cloreto de sódio (sal) pelos rins. Sempre que a quantidade de sódio urinário aumenta, o rim precisa eliminar mais água para diluí-lo. O resultado, portanto, é um aumento da quantidade de água corporal eliminada pela urina.

Os diuréticos tiazídicos promovem uma diurese menor que a furosemida, porém, por terem um efeito que dura até 12 horas (contra 6 horas da furosemida), a perda de sódio e água acaba sendo mais constante ao longo do dia.

Após o início do tratamento, uma redução da pressão arterial costuma ocorrer após cerca de 1 semana, mas o efeito hipotensor máximo pode só ser alcançado após 12 semanas de uso.

A redução nos valores da pressão arterial costuma estar associada a uma redução no volume de água corporal. Em geral, o paciente perde de 1 a 1,5 kg de água após o início do tratamento.

Um consumo exagerado de sal na dieta impede que o paciente alcance essa perda de peso e acaba por ser uma das causas mais comuns de falta de eficácia da hidroclorotiazida.

Nos pacientes com resposta inadequada, uma restrição ao consumo de sal na dieta e a associação com um anti-hipertensivo da classe dos inibidores da ECA costumam ser bastante eficazes.

A hidroclorotiazida emagrece?

Não, a hidroclorotiazida não deixa ninguém mais magro, pois ela não tem efeito algum sobre a gordura corporal.

Porém, conforme já explicado, no início do tratamento, o paciente pode notar uma perda de cerca de 1 kg no seu peso, que é devido única e exclusivamente a uma maior perda de água pela urina.

Se o paciente, porém, tiver uma dieta rica em sal, essa perda de peso inicial pode não ocorrer.

Indicações

A principal indicação da hidroclorotiazida é para o tratamento da hipertensão arterial.

As atuais guidelines internacionais sugerem que um diurético tiazídico seja a primeira ou, no máximo, a segunda opção de tratamento para o controle da pressão arterial.

A hidroclorotiazida também pode ser usada, associada ou não a outros diuréticos, para tratar os edemas nos pacientes com insuficiência cardíaca, síndrome nefrótica ou cirrose hepática.

Um dos efeitos da hidroclorotiazida é diminuir a eliminação urinária de cálcio. Esse efeito pode ser benéfico nos pacientes que apresentam história de cálculo renal composto por cálcio, já que a diminuição do cálcio na urina diminui o risco de formação de novas pedras.

Também por reduzir a perda urinária de cálcio, a hidroclorotiazida costuma ser o anti-hipertensivo de escolha nos pacientes hipertensos que também apresentam osteoporose. Estudos mostram redução da perda óssea e diminuição de risco de fratura nos idosos tratados com hidroclorotiazida.

A hidroclorotiazida também é útil nos pacientes com diabetes insipidus (não confundir com diabetes mellitus).

Hidroclorotiazida nas farmácias

Nomes comerciais

A hidroclorotiazida é um fármaco já presente no mercado há várias décadas, sendo facilmente encontrado sob a forma de medicamento genérico.

Entre os nomes comerciais mais conhecidos, podemos citar:

  • Clorana.
  • Clorizin.
  • Diureclor.
  • Diuretic.
  • Diurezin.
  • Diurix.
  • Drenol.
  • Hidroflux.
  • Hidroless.
  • Hidromed.
  • Neo Hidroclor.
  • Oltana H.

A hidroclorotiazida é comercializada nas doses de 25 ou 50 mg. A caixa de 30 comprimidos da marca genérica custa entre 2 e 3 reais.

Em Portugal, a hidroclorotiazida só é comercializada em associação com outros fármacos anti-hipertensivos. Não existe medicamento com esta substância isoladamente.

Como tomar

Hipertensão arterial

A dose habitual da hidroclorotiazida na hipertensão é de 12,5 a 25 mg por dia em dose única diária.

A maioria das bulas do medicamento fala em doses de 50 mg e até 100 mg por dia, o que atualmente sabemos ser uma posologia exagerada. A partir de 50 mg por dia, não há nenhum efeito benéfico em relação ao controle da pressão arterial e ainda há um grande aumento na incidência de efeitos colaterais.

Nos idosos, sugerimos iniciar o tratamento com 12,5 mg por dia, aumentando para 25 mg caso não haja resposta. A dose de 50 mg por dia deve ser usada somente em situações específicas e sob orientação médica.

Não aconselhamos a prescrição de doses maiores que 50 mg por dia de hidroclorotiazida para o tratamento da hipertensão.

Edemas

A furosemida costuma ser o diurético de escolha no tratamento dos edemas, principalmente naqueles de origem cardíaca, hepática ou renal.

Porém, nos pacientes que apresentam má resposta ao tratamento, a associação da hidroclorotiazida à furosemida costuma dar bons resultados.

Nesses casos, a dose habitualmente utilizada é de 25 a 50 mg 2 vezes por dia, podendo ser elevada até um total máximo de 200 mg por dia.

Cálculo renal

Nos pacientes que precisam reduzir a excreção de cálcio na urina para prevenir a formação de novos cálculos renais, a dose preconizada é de 50 mg por dia.

Diabetes insipidus

No diabetes insipidus, a dose recomendada da hidroclorotiazida é de 25 a 50 mg por dia.

Efeitos adversos

A hidroclorotiazida age aumentando a eliminação renal de água e alterando a concentração de eletrólitos na urina, alguns deles para mais, como sódio e potássio, outros para menos, como ácido úrico e cálcio.

Desta forma, a maioria dos efeitos colaterais surge quando um ou ambos efeitos acabam sendo mais intensos que o desejado, provocando desidratação e/ou alterações metabólicas.

Os efeitos colaterais da hidroclorotiazida mais comuns são:

  • Hipotensão arterial.
  • Desidratação.
  • Câimbras.
  • Fraqueza.
  • Hipocalemia (baixa concentração de potássio no sangue).
  • Hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue).
  • Hipomagnesemia (baixa concentração de magnésio no sangue).
  • Hiperuricemia (elevação da concentração de ácido úrico no sangue).
  • Hipercalcemia (elevação da concentração de cálcio no sangue).
  • Hiperglicemia (elevação da concentração de glicose no sangue).
  • Elevação do colesterol.
  • Impotência sexual.
  • Náuseas.
  • Distúrbios do sono.

Conforme já referido, os efeitos colaterais são mais comuns quando usamos doses acima de 25 mg por dia.

Doses elevadas de diuréticos podem provocar insuficiência renal ou agravar um quadro de insuficiência renal já existente, principalmente nos pacientes idosos.

Contraindicações e precauções

Por motivos óbvios, a hidroclorotiazida não deve ser prescrita para nenhum paciente com as alterações hidroeletrolíticas descritas anteriormente. Se o paciente tem um potássio sanguíneo baixo, o diurético só irá agravar a situação.

Os diuréticos também não devem ser administrados em pacientes desidratados ou hipotensos.

Nos pacientes com história de gota, diabetes mellitus ou colesterol elevado, a dose máxima de hidroclorotiazida deve ser de 25 mg por dia.

A hidroclorotiazida não é contraindicada na gravidez. O fármaco pode ser prescrito nas grávidas, caso o médico entenda ser necessário. Porém, é importante ressaltar que não se deve utilizar esse diurético para tratar os edemas naturais da gravidez.

Nos pacientes com insuficiência renal crônica e taxa de filtração glomerular abaixo de 30 ml/min, a hidroclorotiazida é um diurético menos eficaz, devendo ser substituída pela furosemida.

Câncer de pele não-melanoma

Nos últimos publicaram-se alguns estudos que relacionam o uso da hidroclorotiazida a longo prazo com um aumento no risco de câncer de pele não-melanoma e carcinoma de células escamosas nos lábios.

Os pacientes que tomam esse medicamento há vários anos devem verificar regularmente a sua pele quanto ao surgimento de novas lesões e a notificar imediatamente o seu médico se notar qualquer lesão cutânea suspeita.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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