Furosemida: para que serve, como tomar e efeitos colaterais

A furosemida é um diurético. Como tal, age nos rins de forma a aumentar a eliminação de água e sal pela urina. É usada em condições como insuficiência cardíaca, cirrose e diversas doenças renais.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Idoso tomando furosemida

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O que é furosemida?

A furosemida, também conhecida pelo nome comercial Lasix, é um medicamento com potente ação diurética, muito utilizado no tratamento das doenças que provocam retenção de líquidos e edemas, como a insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrótica, insuficiência renal, etc.

A furosemida pode ser administrada por via oral, através de comprimidos de 40 mg, ou por via intravenosa, por meio de solução injetável. Esta última via costuma ser utilizada apenas de forma intra-hospitalar, quando o paciente precisa perder líquidos de modo intenso e relativamente rápido.

Atenção: este texto não aspira ser uma bula completa da furosemida (Lasix). Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações objetivas e em linguagem acessível ao público leigo.

Neste artigo, falamos somente da furosemida. Se você procura informações sobre os diuréticos em geral, acesse o seguinte link: Como funcionam os diuréticos?.

Nomes comerciais

A furosemida é um fármaco já presente no mercado há várias décadas, sendo facilmente encontrado sob a forma de medicamento genérico.

Entre os nomes comerciais, o mais famoso é o Lasix, produzido pelo laboratório Sanofi-Aventis, que é o fármaco de referência para a substância furosemida.

Além do Lasix, a furosemida também pode ser encontrada com os seguintes nomes comerciais:

  • Diflumid.
  • Diretif Tm.
  • Diurit.
  • Diuremida.
  • Fluxil.
  • Furomida.
  • Furosantisa.
  • Furosecord.
  • Furosem.
  • Furosetron.
  • Furozix.
  • Neosemid.

A furosemida é comercializada nas farmácias sob a forma de comprimidos de 40 mg.

Como age

Assim como a maioria dos diuréticos, a furosemida tem como ação básica o aumento da excreção de cloreto de sódio (sal) pelos rins.

Como não podemos urinar sal puro, o rim precisa diluir esse cloreto de sódio para conseguir eliminar o cloreto de sódio não absorvido. O resultado, portanto, é um aumento da quantidade de água perdida pela urina.

Desta forma, o efeito diurético do Lasix ocorre não de forma direta, mas sim como uma resposta ao aumento da excreção de cloreto de sódio. Em doses altas, a furosemida estimula a excreção de até 25% de todo o sódio filtrado nos rins.

A eliminação do cloreto de sódio é muito benéfica nos pacientes com quadros de edema, pois, na maioria dos casos, a retenção de líquidos no corpo ocorre por uma diminuição na excreção de sódio pelos rins. Sendo assim, a furosemida age exatamente de forma contrária às doenças que costumam causar inchaços.

Além do sódio, a furosemida também estimula a excreção de outros eletrólitos, como o potássio, cálcio e magnésio. Em alguns casos, esse efeito pode ser benéfico, como em um paciente com hipercalemia (excesso de potássio no sangue); em outros, porém, ele pode ter um efeito indesejado, como nos pacientes que desenvolvem hipocalemia (deficiência de potássio no sangue).

Para que serve a furosemida

A furosemida está indicada no tratamento de diversas condições, a maioria delas relacionas a estados de edemas, retenção de líquidos ou alterações hidreletrolíticas, como quando há algum eletrólito em excesso no sangue.

Entre os exemplos de doenças e condições que podem ser tratadas com a furosemida, podemos citar:

* Os diuréticos são uma das principais classes utilizadas no tratamento da hipertensão arterial. A furosemida, porém, não é o melhor membro dessa classe para esse fim porque o seu tempo de ação é curto. Nos pacientes hipertensos, a melhor opção de diurético são os da classe dos tiazídicos, como a hidroclorotiazida ou a clortalidona.

Apenas nos pacientes com crise hipertensiva (leia: Crise hipertensiva – Como baixar a pressão arterial alta) ou com insuficiência renal crônica avançada (taxa de filtração glomerular abaixo de 30 ml/min) é que o Lasix torna-se uma boa opção para controlar a hipertensão.

Como tomar

Nos pacientes com função renal normal ou quase normal, a dose diária da furosemida costuma ficar entre 20 mg e 80 mg, que podem ser divididos entre 1 ou 2 tomas ao dia. Nos pacientes com insuficiência renal crônica, a dose recomendada pode ir até 200 mg por dia.

A dose inicial costuma ser de 40 mg 1 vez por dia, com progressiva elevação, consoante a resposta clínica do paciente.

O objetivo do tratamento com furosemida é encontrar uma dose que seja eficaz para tratar os edemas, sem fazer com que o paciente fique desidratado, tenha algum efeito colateral ou apresente um agravamento da função renal.

Essas doses citadas acima não são as doses máximas, mas sim aquelas que costumam ser necessárias para se atingir o efeito máximo do medicamento. 

Há situações mais graves, porém, que demandam doses ainda maiores de diuréticos para controlar o excesso de líquido no organismo. Em casos de edema grave e resistente, a furosemida deve ser administrada por via intravenosa e a dose pode chegar até 80 a 160 mg por hora.

Como o tempo de ação da furosemida é de apenas 6 horas, esse deve ser o intervalo entre os comprimidos quando o paciente divide o tratamento em duas tomas por dia. Por exemplo, se a primeira dose do dia é às 9h, a segunda deve ser às 15h.

A furosemida deve ser administrada, de preferência, com o estômago vazio.

Efeitos colaterais

Os efeitos colaterais mais relevantes da furosemida podem ser divididos em 3 grupos: efeitos adversos provocados pelo aumento da diurese, reações alérgicas aos componentes da fórmula e ototoxicidade (lesão do ouvido).

Efeitos adversos pelo aumento da diurese

O Lasix age aumentando a eliminação renal de água e sais. A maior parte dos efeitos colaterais surge quando esse efeito acaba sendo mais intenso que o desejado.

Entre os efeitos colaterais que surgem pela perda excessiva de água, podemos citar:

  • Desidratação.
  • Hipotensão arterial.
  • Tonturas.
  • Fraqueza.
  • Câimbras.
  • Agravamento da função renal.
  • Aumento do ácido úrico (a desidratação estimula a absorção renal de ácido úrico).
  • Alcalose metabólica.

Entre os efeitos provocados pela eliminação excessiva de eletrólitos, podemos citar:

  • Hiponatremia (sódio baixo no sangue).
  • Hipocalemia (potássio baixo no sangue).
  • Hipomagnesemia (magnésio baixo no sangue).
  • Hipocalcemia (cálcio baixo no sangue).

Efeitos adversos por reações de hipersensibilidade

A furosemida é uma sulfonamida. Portanto, qualquer paciente que tenha alergia à sulfa, como aqueles que são alérgicos ao antibiótico Bactrim (sulfametoxazol-trimetoprim), podem também ter reações alérgicas ao Lasix.

A sulfa pode provocar quadros de urticária, angioedema ou nefrite intersticial.

Ototoxicidade

A ototoxicidade (lesão do ouvido), que pode levar à surdez transitória ou permanente, é um problema que ocorre quando a furosemida é administrada em doses muito elevadas, geralmente por via intravenosa.

Doses baixas da furosemida também podem causar ototoxicidade se forem administradas conjuntamente com antibióticos da classe dos aminoglicosídeos, como a gentamicina, por exemplo.

Outros efeitos adversos

A furosemida também está associada a um pequeno aumento dos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos no sangue.

Contraindicações

A furosemida não deve ser administrada nos pacientes com níveis baixos de potássio, sódio, cálcio ou magnésio no sangue.

Pacientes hipotensos ou com sinais de desidratação também não devem ser medicados com diuréticos.

Nos pacientes com insuficiência renal aguda e anúria (ausência de urina) ou nos com cirrose e sinais de encefalopatia hepática, a administração do Lasix pode agravar o quadro.

A furosemida pode ser utilizada nas grávidas com sinais de insuficiência cardíaca, mas o seu uso só deve ser indicado se os benefícios previstos forem maiores que os riscos.

Mulheres que estão amamentando devem evitar a furosemida, pois ela pode reduzir a produção de leite.

Interações medicamentosas

As principais interações medicamentosas da furosemida ocorrem com os seguintes fármacos:

  • Alopurinol: aumenta o risco de efeitos colaterais do alopurinol.
  • Anti-inflamatórios: aumento do risco de lesão renal e redução da ação da furosemida.
  • Antibióticos da classe dos aminoglicosídeos: aumento do risco de ototoxicidade.
  • Aspirina: reduz o efeito da furosemida.
  • Ciclosporina: aumento do risco de hiperuricemia e gota.
  • Cisplatina: aumento do risco de lesão renal.
  • Contrastes iodados para exames radiológicos: aumenta o risco de lesão renal.
  • Lítio: aumento do risco de toxicidade pelo lítio.
  • Metotrexato: reduz o efeito da furosemida e aumenta o risco de efeitos colaterais pelo metotrexato.
  • Risperidona: aumento do risco de efeitos colaterais da risperidona.
  • Sucralfato: reduz o efeito da furosemida.

O Lasix não interfere com o efeito dos anticoncepcionais hormonais.

Dúvidas comuns

Furosemida emagrece?

Ao contrário do que dizem várias fontes da Internet que utilizam pouco rigor científico, a furosemida não provoca emagrecimento.

É preciso destacar que perder peso e emagrecer são situações distintas. Se o paciente estiver inchado, a furosemida pode provocar redução do peso, mas isso se dará por perdas de água, nunca por redução da gordura corporal.

Muitas fórmulas para emagrecer vendidas no mercado possuem furosemida na sua composição como forma de enganar o paciente. O uso do diurético faz com que o paciente perca até 1 ou 2 quilos na primeira semana, levando à falsa impressão de que o medicamento está provocando emagrecimento, quando, na verdade, ele está apenas causando uma desidratação.

Furosemida serve para tratar retenção de líquidos?

Depende do que você considera retenção de líquidos. Algumas doenças, tais como insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou síndrome nefrótica, podem realmente fazer com que o paciente retenha mais água. Nestes casos, a furosemida está indicada.

Todavia, o termo retenção de líquido é utilizado de forma muito subjetiva, como nos períodos pré-menstruais, nos pacientes que têm varizes ou após o início da pílula anticoncepcional. Nesses casos, a furosemida não deve ser utilizada, pois, a longo prazo, ela pode criar dependência e agravar os edemas.

Se o paciente acha que tem retenção de líquidos, mas não tem nenhuma doença diagnosticada que justifique o quadro, a melhor forma de agir é através da redução drástica do consumo de sal na dieta (leia: Perigos do consumo excessivo de sal).

Tenho urinado pouco, posso tomar furosemida?

Se você não tem nenhuma doença renal, a sua produção de urina é controlada pela quantidade de água corporal. Se você urina pouco, é porque está desidratado(a). Neste caso, a furosemida pode agravar a situação e provocar lesão renal.

Pessoas saudáveis que urinam pouco devem aumentar a ingestão de líquidos, e não tomar diuréticos.

Furosemida dá sono?

A furosemida geralmente não causa sonolência. Os efeitos colaterais mais comuns incluem desidratação, desequilíbrio eletrolítico (especialmente perda de potássio e sódio), cãibras e, em alguns casos, tontura, especialmente se houver queda rápida da pressão arterial. Se um paciente sentir sonolência ao usar furosemida, é importante avaliar se não há outra causa ou interação medicamentosa, pois a sonolência não é um efeito típico do medicamento.

O que é um diurético?

Um diurético é um tipo de medicamento que ajuda o corpo a eliminar o excesso de água e sal através da urina. Ele “estimula” os rins a produzirem mais urina, o que ajuda a reduzir o acúmulo de líquidos no corpo. Isso é especialmente útil para pessoas que têm problemas como pressão alta, inchaço nas pernas ou insuficiência cardíaca, pois o excesso de líquido pode piorar esses quadros.

Existe furosemida injetável?

Sim, a furosemida também está disponível na forma injetável, geralmente em ampolas de 20 mg.

A apresentação injetável é utilizada principalmente em ambiente hospitalar para casos em que é necessário um efeito rápido e eficaz, como em situações de edema grave, crise hipertensiva ou insuficiência cardíaca aguda. A administração intravenosa permite que o medicamento atue de forma mais imediata, sendo útil quando o paciente não pode ingerir medicamentos via oral, quando há edema nas alças intestinais que prejudicam a absorção do medicamento por via oral ou quando é necessária uma resposta mais rápida no tratamento do acúmulo excessivo de líquidos.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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